comecosinuteis
começos inúteis
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Pensamentos ariscos e(ou) atrozes a respeito de blocos de imagem e som.
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comecosinuteis · 8 years ago
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Landscape Suicide - parte um
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 Junho de 1984, morte perturba o sono pesado dos subúrbios californianos (de manhã), enquanto alguém pratica tênis sozinho;
1- A jogadora existe em uma quadra. 2- A quadra se manifesta a partir de duas partes separadas pela rede. Uma onde a jogadora está, e outra onde a jogadora não está. 3- Se um observador no lugar da rede percebe a jogadora de frente, a vê enquanto símbolo de persistência, sacando sem parar. Uma espécie de Rocky, o lutador, subindo escadas. 4- Se o observador ficar de costas para a figura humana dentro da quadra, se depara com o chão repleto de bolas.
Monotonia adere á atividade, como plástico derretendo. 
5- Tudo que a jogadora vê durante seu treino é o espaço vazio,  o espaço enchendo e depois repleto de bolas. Ela jamais pode ver a si mesma, sem a condição de tornar-se um outro 6- Talvez pudesse. Se fosse uma quadra de squash com espelhos, onde executivos se exercitam. 7- O observador poderia estar atrás dela, ou em condições de ver as duas partes da quadra ao mesmo tempo. 8- Poderia, após o treino, encontrar a quadra sem jogadora e bagunçada, ou arrumada, ou a jogadora em processo de guardar os equipamentos, quem sabe na porta? Saindo, Entrando? 9- Ou 30 anos depois. 10- Nenhuma destas perspectivas altera o que se dá na quadra, mas re-significa radicalmente a narrativa. 11- Agora o observador encara Bernadette Protti enquanto ela confessa ter assassinado Kirsten Costas. Não os enxerga, mas ouve um datilógrafo, e as perguntas do policial.  12-  Há dificuldade em relatar o acontecido,  as lembranças parecem ter sido bloqueadas por Protti.  12.2- O observador pisca muito, ou parece ter se esquecido de certos momentos do interrogatório. 13- O esquecimento se revela uma excelente ferramenta de defesa para resistir a situações traumáticas. 14-” -Como podemos mostrar napalm em ação? E como podemos mostrar ferimentos causados por napalm?  -Se te mostrarmos imagens de queimaduras por napalm, você fechará seus olhos. Primeiro fechará seus olhos para as imagens. Depois fechará seus olhos para a memória. Então fechará seus olhos para os fatos, e fechará seus olhos para todo o contexto. Se te mostrarmos uma pessoa queimada por napalm, feriria os seus sentimentos. Se ferirmos seus sentimentos, você pensaria que estamos testando napalm em você, às suas custas. Podemos dar apenas uma impressão de como Napalm funciona.” (A câmera se desloca para capturar o locutor queimando sua própria mão com um cigarro. O som é aparentemente substituído por uma narração posterior, talvez para esconder expressões de dor.)
“ -Um cigarro queima a 400° C. Napalm queima a 3000° C.”
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15- Após assistir a longa e laboriosa entrevista, o observador resolve voltar sua atenção para as ruas de Orinda, CA. Ruas onde Bernadette Protti caminhou antes e depois de esfaquear Costas. Ruas onde um espírito ronda colorido de violência.
16- A monotonia das imagens me entedia. Eu perco a concentração. Pauso o filme no Youtube, abro um jogo. 17- Tento me lembrar onde já havia experimentado a sensação que tive em uma das primeiras cenas do filme: A câmera filma pela janela de um carro em movimento, e toca uma transmissão de rádio onde um pastor discursa calorosamente. 18- Lembro de jogar Fallout 3, e ouvir os sermões do Presidente John Henry Eden enquanto caminho sobre os escombros de Washington. Aquilo engatilhava uma sensação de mundo vivo, um mundo que não dependia de mim para existir. 19- É preciso levar em conta que se trata de um jogo, e a interatividade proporciona uma cisão irreconciliável com o cinema. Como produzir esse efeito em um filme? 20- Fukei-ron 21- 1969, dezessete anos antes de Landscape Suicide, Masao Adachi montou um documentário apenas com paisagens, e esparsas células de narração em off. O documentário é a respeito de Norio Nakagayama, um jovem de dezenove anos que assassinou quatro pessoas em um período de menos de dois meses. 22- As ideias por trás do filme podem ser traduzidas como “Teoria da paisagem”; A aparência física do espaço denuncia  a natureza das relações sociais que se desenrolam nele, e das estruturas de poder que as regulam. 23- Basicamente, um filme composto de dados objetivos da biografia do sujeito investigado (som), e de paisagens por onde ele e outros com quem teve contato passaram (imagem).
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24- O Japão e seus edifícios nos contam a história com seus próprio corpos, ou melhor, nós mesmos a extraímos (já que são corpos mudos).
25- A experiência tangencia a interatividade dos video-games, quase toda a narrativa se baseia exclusivamente em observar o espaço. Não por associação do lugar a outros elementos para dar conta do que acontece nele, e sim uma afirmação de que o lugar é a história. 26- Acima de todo meu entusiasmo, me senti entediado assistindo o “AKA Serial Killer”. A interação com a paisagem no filme a faz parecer impossível de mudar, tanto quanto a vida. E  por isso mesmo a teoria da paisagem é tão essencial para encontrar novas maneiras de olhar. 27- Por que a paisagem parece imutável?  28- Por que ela não parece tão imutável assim enquanto abriga um personagem? 29-Resolvi voltar a assistir o Landscape Suicide. 30- Comecei a espiar os frames na timeline do Youtube, para ver o que acontecia adiante. 31- Poder fazer isso altera o papel do espectador de maneira crucial, o coloca em uma posição parecida com a do editor em sua mesa.  A narrativa toma formato horizontal; de paisagem. 32- Encarando o filme como um túnel que se atravessa na ordem estabelecida pela montagem, poder ver os frames dessa maneira é como se a passagem tivesse paredes feitas de vidro, e fosse possível vê-lo de fora a qualquer momento da travessia. Me lembro do Túnel de Ernesto Sábato.
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33- As pessoas acessam mais o Youtube do que vão ao cinema.
34- Os olhos são os mesmos órgãos que foram no século 20, mas a maneira como eles se movem dentro do crânio teve de se reestruturar radicalmente, devido quantidades crescentes de dados. A visão está mais adequada agora nas interfaces, do que na tela de projeção.
35- Atenção despretensiosa, olhar através da janela. Isto parece se modificar intensamente nas gerações que nasceram com internet (como a minha), e curiosamente dar mais destaque às paisagens compostas de narrativas, do que à narrativa através de paisagens.
35.1- O tempo parece tender a zero.
36- Instantâneo: inerente, ou não, a realidade? Ambas respostas levam a um questionamento mais vital, que é: o modo como a percebemos muda a realidade automaticamente?
37- Um desconforto surge. O mundo se dá como “cena do crime” de criar o mundo.
38- O filme de Benning é um lembrete de que as coisas se dão em algum lugar, e o mais terrível: este lugar se vê com mais clareza pela janela de casa. No espaço.
Paisagens compostas de narrativas, como um bloco de apartamentos composto de janelas.
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comecosinuteis · 8 years ago
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manifesto do cinema beatbox
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