Blog criado para discutir tópicos relevantes para a disciplina de Introdução à Cibercultura, no curso de Sistemas e Mídias Digitais. Sou Gabriel Cunha, aluno de Design na Universidade Federal do Ceará. Seja bem-vindo!
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Cibercultura, Hackers e o Cenário Político Brasileiro
Foto: Twitter de Carla Zambelli
A cibercultura, conforme Pierre Lévy em 1997, está intrinsecamente ligada à forma como a tecnologia molda as interações sociais e políticas contemporâneas.
No Brasil, a realidade é evidenciada pelo crescente envolvimento de plataformas digitais em disputas políticas, o que demonstra a potência das tecnologias para mobilização social quanto o grande número de conflitos que nelas emergem - em alguns casos fomentada por seus próprios financiadores.
O ambiente digital nacional tem sido marcado por comportamentos hostis, especialmente no contexto de "polarização" política acentuada, onde a Ética Hacker se apresenta como um conceito relevante para entender essa dinâmicas.
Leia: Entenda as acusações contra Carla Zambelli e hacker, que o STF tornou réus
Em A Ética dos Hackers, Himanen menciona que a ética hacker se caracteriza pela valorização da criatividade, da colaboração e do acesso à informação, promovendo um espírito de inovação e liberdade. No entanto, essa ética pode ser corrompida em um contexto de polarização política, como é o caso do cenário brasileiro, onde o acesso e a manipulação de dados são utilizados para fins de ataque e deslegitimação do outro.
Essa transformação da ética hacker em ferramentas de hostilidade se manifesta por meio de práticas como o cracking, que no contexto busca principalmente corroer a confiança no processo eleitoral e distanciar ainda mais a sociedade de discussões politicamente relevantes, criando um exército de mentes alienadas capaz de entregar à obscuridão sua própria democracia.
Um exemplo emblemático desse fenômeno é o caso do cracker contratado por Carla Zambelli, deputada federal ainda em atividade que, em 2022, teve sua participação exposta na tentativa de desestabilizar adversários políticos.
Sua intenção ainda não foi esclarecida, no entanto, sabe-se que Carla Zambelli tentou, por meio de invasão, de descobrir o endereço residencial do ministro do STF Alexandre de Moraes, que recentemente foi um dos nomes revelados em operação da Polícia Federal como alvos em uma tentativa de Golpe de Estado ocorrida em 2022.
O incidente não só ilustra a instrumentalização dessas habilidades digitais na política, o que foge totalmente à Ética Hacker, mas também evidencia a moral ambígua que pode emergir na cibercultura. Embora os crackers possam ver a si mesmos como agentes de mudança ou protesto, as ações de Zambelli revelam como a ética hacker pode ser também subvertida.
Dicionário: Crackers não se diferenciam de Hackers no que diz respeito às habilidades: seu conhecimento pode ser exatamente o mesmo. O que muda é a intenção de suas ações.
A desinformação na política não é algo recente na história brasileira. No entanto, campanhas de difamação na internet e ataques massivos também têm se tornado comuns, utilizando-se de estratégias como bots que amplificam essas narrativas polarizantes ao simular trending topics e espalhar de forma massiva conteúdo falso nas redes sociais.
Esse fenômeno prejudica a qualidade do debate democrático, e perpetua um ciclo de hostilidade que dificulta a construção de consensos. A ética hacker, nesse sentido, é pervertida, pois suas potencialidades criativas são manipuladas para ataques pessoais e deslegitimação do outro.
Além das práticas de cracking, a análise do papel das redes sociais e das plataformas digitais neste contexto é crucial.
As ferramentas certamente poderiam servir para a promoção de diálogo entre diferentes visões políticas, convergindo para um bem comum, mas a programação do algoritmo, que prioriza o engajamento acima da veracidade, contribui para a criação de uma "bolha", onde os usuários se cercam de informações que reforçam suas crenças e alimentam a tolerância a seus opositores.
Se fortalece, então, o apelo para que os hackers sirvam de pilar fundamental da democracia, uma vez que a manutenção da liberdade individual só é possível quando esta democracia é prioridade. Um cenário onde a soberania se enfraquece é desfavorável para toda a nação, e o hacker pode ser a chave para manter o equilíbrio entre a tecnologia e a democracia.
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