Christopher Messina D'amato Rizzo, 29 anos, advogado e cantor de bar nas horas vagas
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[FLASHBACK]
A maneira como as sobrancelhas dela se arqueavam, quase imperceptivelmente, sempre que parecia formular uma resposta malcriada, provocava nele uma vontade contida de rir — um sorriso que se insinuava nos lábios, mas morria antes de nascer. Ao mesmo tempo, havia algo mais ali, algo que o distraía do próprio riso e o puxava para uma consciência nova: desde quando ele a observava com tanta atenção, a ponto de reconhecer os pequenos sinais, os gestos mínimos que precediam seus pensamentos? As possíveis respostas atrevidas, a hesitação passageira, o lampejo de compreensão… tudo isso ele já sabia decifrar. E era justamente esse silêncio carregado, onde ela se demorava entre pensar e dizer, que fazia o coração dele acelerar. Como se cada segundo calado fosse um fio esticado no ar, pronto a vibrar ao menor som da voz dela. Ele estava preso ali, no instante antes da palavra — e desejava, mais do que tudo, ouvi-la romper aquele silêncio.
“Não, eu não faço.” A resposta veio com uma sinceridade crua, sem artifícios, como se arrancada de um lugar fundo e incômodo dentro dele. Assim como ela, ele também não fazia ideia do que, exatamente, havia se passado naquele dia.
A fala seguinte dela arrancou-lhe um sorriso discreto — não de humor, ao menos não do tipo que costumava acompanhar seu rosto nos momentos aleatórios do dia-a-dia. Era um sorriso atravessado por algo mais denso, quase melancólico. A verdade é que, nos últimos dias, Christopher vinha se descobrindo capaz de atitudes que jamais associaria a si mesmo. Sentia-se como um animal acuado: prestes a perder a única pessoa que realmente importava, e incapaz de impedir isso. A impotência pesava sobre ele como uma pedra atada ao peito, tornando cada dia mais difícil de suportar.
“Talvez eu até falasse,” disse por fim, com um tom entre o cansaço e a ironia, “você sempre teve um talento estranho para provocar o meu temperamento.” O sorriso que se formou em seus lábios dessa vez era mais familiar — não inteiramente leve, mas carregando a intenção habitual de suavizar tensões. “Sim, você é difícil pra caralho,” continuou, os olhos fixos nos dela, “e eu também... não sou exatamente o ser mais fácil de lidar.” Pausou brevemente, como se ponderasse sobre o que viria a seguir. “Acho que deixei bem claro o quão imbecil eu consigo ser.”
Suas sobrancelhas se ergueram num gesto reflexivo, e logo ele se viu assentindo levemente, como quem aceita um pensamento que não pode mais negar. Em outra ocasião, talvez duvidasse da sinceridade dela, talvez resistisse à ideia de entregar-se à compreensão. Mas depois de vê-la no palco naquele dia, algo havia mudado. Sentia como se, de alguma forma, agora pudesse não apenas compreendê-la — mas confiar nela também. E essa ideia, estranhamente, o acalmava. "Eu sei que não. Quer dizer, agora, depois de pensar como gente novamente, eu sei que não."
O silêncio que se formou em seguida foi espesso, quase palpável — mas, para Christopher, não era incômodo. Pelo contrário, foi tempo mais do que suficiente para que seus olhos voltassem a se prender aos dela, buscando, uma vez mais, pela imagem da verdadeira Olívia. A Olívia que sorria sem reservas, que iluminava uma sala com uma simples presença, que cativava uma plateia inteira apenas com o carisma natural... e que, a algumas noites atrás, o havia feito atravessar todo um salão a sua procura. A verdadeira Olívia.
O leve pigarro dela o arrancou de seus devaneios, revelando o quanto estava mais imerso nela do que percebera. Endireitou-se com discrição, como quem recolhe pensamentos soltos antes que escapem pela boca. Revirou os olhos suavemente diante do comentário dela sobre o cabelo — e, num gesto que beirava a ousadia, mas que lhe pareceu inevitável, levou delicadamente uma mecha para trás de cada orelha da mulher. Os dedos, ao deslizarem, contornaram o maxilar dela com uma lentidão involuntária, como se quisessem guardar a forma, a textura, o instante. Suas mãos então recuaram, repousando de novo à lateral do corpo.
“Quarenta minutos arrumando o cabelo pra ele ficar melhor todo bagunçado,” disse com um sorriso insinuante. “Que desperdício de tempo.” Permaneceram assim por um breve momento, os olhos ainda presos um no outro, até que ele suspirou lentamente — não por tédio, mas como quem alivia o peso de algo que não foi dito. Ele então deu um passo para o lado, permitindo que ela passasse. E ainda assim, algo dentro dele gritava que não era o momento de deixá-la ir.
“Ou talvez,” disse, a voz um pouco mais alta, chamando-a de volta enquanto se virava, “eu possa te acompanhar. Sabe... terminar esse pedido de desculpas fazendo algo que você goste, por um tempo.” Sabia o quão tolo soava — aquela tentativa desajeitada de prolongar a presença dela, de caber mais um pouco em seu tempo. Mas, pela primeira vez em muito tempo, não se importava com o ridículo da frase, com a aparência do gesto. Afinal, aquele não era o dia para deixar que o orgulho falasse mais alto.
Usou cada gota do seu carisma para se manter naquele palco e conter a vontade de chorar ou gritar — ou os dois. Parecia imperceptível para o público que os dois estavam num clima tenso, especialmente quando, em raros momentos, Olivia fazia a graça de virar seu rosto para Christopher e encará-lo como se quisesse que cada letra cantada tivesse algum significado romântico sobre ele. Não tinha. E ela já quis tanto que tivesse. Mas, naquele momento, só queria que aquela música acabasse. Quando percebeu que estava no fim, com cautela teatral, colocou o microfone no pedestal, como se fosse parte da apresentação, apenas para facilitar a sua fuga. Mal esperou os aplausos, momento que tanto adorava, esqueceu até mesmo da sua boa educação ao agradecer os outros. Simplesmente segurou o vestido, pulou do palco e caminhou com tanta pressa pelo jardim que levou segundos para estar dentro da mansão.
Ela percebeu o movimento dele antes mesmo de ouvir qualquer coisa. Sentiu o peso da presença de Christopher se aproximando por trás, e continuou andando, desviando das pessoas como se estivesse fugindo de um incêndio. Mas era tarde. A voz dele a alcançou primeiro. "Sabe... acho que estou começando a me acostumar a correr atrás de você." A sutil menção ao momento da festa a fez arrepiar a nuca, e não de uma forma boa. Bufou pelo nariz como um touro enraivecido. Maldita hora em que decidiu ter classe e não discutir em público... Então, sentiu os dedos dele tocarem seu braço. Leves, cuidadosos, e num gesto inesperado, puxá-la para um canto escondido entre as pilastras. Tentou se desvencilhar sem causar alarde ou chamar atenção — eles já chamavam naturalmente por ser quem eram — mas ele era mais rápido, mais forte, e ela realmente não achou que ele teria a audácia de segurá-la e, pior, puxá-la para um canto quase a sós. O lugar era estreito, escuro, e mesmo com gente passando ali perto, parecia que estavam sozinhos — ou ao menos, presos numa bolha incômoda de tensão.
Ela abriu um sorriso debochado, mesmo sem graça. Considerando os últimos dias que teve, abraçar o capeta parecia um consolo. Mas a resposta não saiu verbalmente. Ela apenas ergueu uma sobrancelha, como se desse permissão para ele continuar a falar. Não queria ouvi-lo. Não queria ficar na presença dele e lembrar de como se sentiu exposta e miserável naquele dia no hospital. Mas, aparentemente, ele sabia ser tão insistente quanto ela — karma, alguns diriam. Então era melhor que acabasse logo com aquilo. E ela parecia irredutível. Queria escutar as palavras vazias e sair andando com classe, mas o toque das mãos dele a desarmou. Pousando com delicadeza nas laterais da cabeça dela, como se aquilo pudesse de fato impedir o mundo de entrar. Como se ele estivesse tentando protegê-la — ou proteger o momento. O calor do toque era desconcertante, e Olivia quis se afastar, mas seu corpo permaneceu ali, tenso, parado, ouvindo. Fosse pela surpresa, ou porque queria estar naquele toque.
O pedido de desculpas começou. Ela pensou em diversas respostas malcriadas, comentários dolorosos ou piadinhas de mal gosto. Mas a fala dele era tão cruamente sincera que ela não teve coragem de interromper. Queria dizer que odiava que ele a enxergasse como uma vilã, que deixa vítimas por onde passa. Mas poderia culpá-lo? Ela havia se empenhado em construir aquela imagem nos últimos anos. Na época, não imaginava que um dia se arrependeria ou que colher os frutos de suas próprias escolhas seria tão doloroso. Olivia sentiu o peito se apertar. Uma parte dela queria virar o rosto, evitar o contato visual, não se deixar afetar. Mas ele continuava. As palavras fizeram algo estremecer dentro dela. Ela não sabia exatamente o que ele ouvira, nem por quê, mas ao olhar para os olhos dele — aqueles olhos azuis que ela tanto odiava lembrar que achava lindos — sentiu-se menos certa de sua raiva.
Pensou na mãe dele, tão debilitada no hospital, e na forma como a encarava com ternura e acolhimento, tudo ao mesmo tempo. Olivia não compreendia aquela relação — nunca compreendeu, na verdade. A mãe dela sempre fora uma sombra afiada, uma cobrança fria, uma relação quebrada que só ela tentava consertar. Mas ao ver a mãe dele tão frágil e o modo como ele reagia a isso... aquilo ficou dentro dela. Talvez isso explicasse parte da frieza, da grosseria naquele dia. Ela respirou fundo, querendo manter o controle. — Você não faz ideia de como eu me senti naquele dia. — disse, num tom mais contido, mas firme. Quase vulnerável, quase como se permitisse que ele a conhecesse um pouco mais. "Ninguém vai a um hospital a passeio", ele relembrou a fala dela. Ela quis perguntar o que mais ele viu, se notou em qual porta ela havia entrado, mas algo a impediu. Talvez o medo da resposta. Talvez o medo de ser obrigada a se abrir demais.
— Mas, assim como eu estava em um momento sensível, você também. Sei que não falaria assim comigo se estivesse num dia bom. — Olivia reconhecia que o rapaz tivera diversas oportunidades de tratá-la com frieza e grosseria, mas nunca o fez. Parecia muito paciente com as paranoias dela, as insistências em momentos inoportunos. As lembranças quase arrancaram um riso dela, mas estava focada demais na conversa daquele momento. — E eu também não sou uma pessoa muito fácil de lidar, não posso te culpar por achar que eu faria algo horrível. Mas só para você saber... eu jamais faria isso. — Tão honesta quanto ele, a morena fez questão de manter os olhos bem firmes no olhar dele, como se quisesse garantir que ele acreditasse nas suas intenções. — A vida foi cruel comigo, e eu aprendi a devolver. Mas eu sei ser má com quem merece, e quando a pessoa merece.
Olívia olhou para ele por um longo tempo, sem dizer nada. Os olhos dela analisando cada traço, cada mínima contração do rosto dele, como se buscasse alguma mentira, algum sinal de teatro. Mas não encontrou. Era arrependimento de verdade. Era... outra coisa também. Algo mais suave, mais humano. E ela se surpreendeu ao gostar. Gostava de ser olhada daquele jeito. Havia tanto tempo que ninguém a olhava com aquele misto de ternura, curiosidade e um afeto que ela não conseguia nomear. Aquele não era o mesmo olhar do baile, quando os olhos dele estavam cheios de luxúria e desejo — ah, ela também adorava aquele olhar. Mas agora era outro. E ainda assim, causava um tumulto em seu peito. Ela se esqueceu da mágoa que carregava, e foi um alívio.
Se perdeu um pouco no olhar dele. Só alguns segundos. Mas foi o suficiente para precisar pigarrear, tentando se recompor. — Agora pode tirar a mão do meu cabelo antes que você bagunce o penteado que eu levei quarenta minutos pra deixar do jeito que eu queria? — disse com seriedade, mas com um leve brilho nos olhos. Mordeu o lábio para conter o riso que ameaçava escapar, ainda tentando manter a sua pose de inabalável.
Silêncio entre eles. E no silêncio, um milhão de pensamentos cruzando sua mente. O que significava aquele pedido de desculpas? E aquela aproximação? Ele só queria tirar o peso da culpa? Não sabia. Ainda doía um pouco. Mas também era verdade que ele, entre todos, sempre suportou dele mais do que devia. Tolerou suas crises de paranoia, seus jogos, suas provocações. Foi paciente. Até demais. Talvez ele merecesse aquele desconto. Talvez. — Bom... desculpas ditas, desculpas aceitas... — ela disse, ajeitando os cabelos com um gesto leve e elegante, o colo subindo e descendo com a respiração tensa. — Agora eu vou voltar a explorar o evento. Mal cheguei no segundo andar. — Começou a se virar para se retirar, mas não deu mais que dois passos. Como se esperasse que ele confirmasse que ela podia ir, que não tinha mais nada a dizer. Uma parte dela queria que ele a seguisse. A outra parte torcia para que não. Não agora. Ainda não sabia lidar com o turbilhão de sensações que Christopher lhe causava.
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[FLASHBACK]
A presença de Alek, costumeiramente, era tida por ele como confortável, afinal, Alek era uma das poucas pessoas que Christopher tinha o sentimento de poder ser quem era. Mas naquele dia, o olhar do amigo pesava sobre ele como nunca antes. Era um desconforto estranho, vindo de alguém cuja companhia costumava ser sinônimo de paz. Eram distintos em essência, tão diferentes que muitos ainda se surpreendiam com a força daquele vínculo. E, apesar disso, raramente brigavam — e quando o faziam, as mágoas não costumavam durar. Mas agora, algo havia se quebrado de um jeito que Christopher ainda não sabia nomear.
Um riso baixo e amargo lhe escapou dos lábios ao ouvir o comentário. As discussões entre eles eram tão escassas que Christopher esquecia o quão ruim o outro era com diálogos que não lhe favoreciam. No entanto, o riso logo cessou com o que veio em seguida. "Drama? Quer dizer que quando alguém não age da forma que você espera é drama? Puta merda, seu ego realmente consegue ser maior do que você." Respondeu não de modo irritado, mas sim incrédulo, sem olhar na direção do outro enquanto terminava de dobrar as mangas, escondendo a região ainda suja. Estava decidido a sair dali o quanto antes. Já não via sentido em prolongar aquilo. Mas bastou ouvir o nome de Helena escapar dos lábios de Alek para que parasse, erguendo a cabeça de súbito, como se a palavra tivesse atravessado a barreira do cansaço. Seu olhar, até então fugidio, finalmente encontrou o do outro — e ali, por um instante, havia mais de uma emoção retida: surpresa, irritação, mas principalmente, uma mágoa antiga, sedimentada demais para ser apenas sobre ela. No início, a confusão que sentia vinha mesmo do envolvimento entre os dois. Era o que parecia mais óbvio, mais fácil de nomear. Mas com o tempo, e os silêncios que se seguiram, Christopher percebeu que aquilo era só a superfície.
"Será mesmo que você sabe?" retrucou com ironia, a voz tingida por um sarcasmo que não fazia questão de disfarçar o incômodo. Os olhos estreitados, o canto da boca se curvando numa expressão amarga, deixavam evidente que ele não acreditava nem por um segundo na ideia de que Alek compreendia o que estava em jogo. "Qual foi a última vez que você falou comigo sobre algo além de você mesmo? Alguma conversa nossa girou em torno de outra coisa que não fosse "cara, eu tô na merda, preciso beber"?" a pergunta saiu num tom ríspido, mas havia algo por trás da dureza: um cansaço acumulado, uma frustração que já vinha de longe. " Porra, a maior parte do tempo eu nem sei em que merda você se meteu!" Ele ergueu os braços num gesto exasperado, como quem já não espera ser compreendido, apenas ouvido — e mesmo isso parecia improvável. O suspiro que escapou era denso, carregado de tudo que ele vinha evitando dizer. Em seguida, deixou os braços caírem, pesados, ao lado do corpo. "Eu me chateei sim por você ter ficado com a Helena," — continuou, mais contido, o olhar enfim se desfazendo da rigidez —" mas não foi o motivo principal."
A voz perdeu a aspereza aos poucos, substituída por algo mais próximo da frustração do que da raiva. "Não sou dono dela, nem pretendo ser. Ela faz o que quiser, assim como eu. Como você também." Havia uma tentativa de maturidade ali, sincera, mas ainda atravessada pelo desconforto de quem se sentiu deixado para trás. Pela primeira vez, o olhar de Christopher suavizou de verdade — não em perdão, mas em esgotamento. "Minha maior chateação... "— murmurou, passando a mão pelo rosto como quem tenta reorganizar os próprios sentimentos — "...foi perceber que o cara que me chama de melhor amigo há anos só parece me ver como isso porque acha que eu sou tão fodido da cabeça quanto ele." Fez uma careta quase cômica, amarga, como quem reconhece uma verdade, afinal, ambos eram igualmente fodidos da cabeça, ainda que de maneiras diferentes. "E não porque confia em mim como tal."
Alek se sentia estranho naquele dia. Era como se uma pulga estivesse atrás da orelha, mas ele não conseguia identificar de onde tinha vindo. Estava sendo constantemente atormentado por uma sensação de confusão, e isso o deixava ainda mais inquieto do que o habitual. Tentava se distrair, se deixar levar pelas atividades do evento, mas, no fundo, sabia que precisava de um momento para colocar os pensamentos em ordem. Foi quando o avistou. Chris estava ali, alheio, imerso nas suas próprias coisas. Normalmente, Alek não teria hesitado em ir até ele, mas sabia que as coisas não estavam nada bem entre os dois. Ele ainda não sabia por que havia contado a Chris sobre o episódio com Helena no baile. Achava que não seria grande coisa, que o amigo não se importaria, mas quando viu a reação de Chris, percebeu que tinha subestimado a situação. Alek sabia que não era bom com desculpas, e isso, por si só, já complicava as coisas. A verdade era que Chris estava levando isso mais longe do que Alek esperava, e a distância que ele estava colocando entre eles o estava sufocando.
A cena se desenrolava diante dele enquanto Chris tentava se livrar da tinta colorida que a criança havia derramado. Alek se segurou para não rir, mas, logo após o amigo se encaminhar para o banheiro, não perdeu tempo em segui-lo. Quando entrou no banheiro, não falou nada de imediato. Apenas o observou pelo espelho, vendo-o se concentrar em tentar limpar as manchas. "Tem certeza? Parece que você esqueceu uns lugares aí," Alek comentou, com um tom casual, tentando esconder a tensão que realmente sentia. Era aquele humor irônico que ele usava para mascarar o desconforto. Ele se aproximou do lavabo, apoiando a mão na pia enquanto observava Chris se arrumar, mantendo uma distância respeitosa, mas sem esconder a intenção de se aproximar. Ele sabia que precisava quebrar o gelo, e não tinha mais tempo para esperar. "Olha, esse teu drama já foi longe demais, ok?" Alek falou, tentando soar mais direto do que realmente estava se sentindo. "Eu entendo que você está passando por várias coisas, mas usar isso como desculpa para me ignorar não é justo. Eu sou teu amigo, Chris. E, se soubesse que a Helena estava naquele baile, nunca teria feito nada." Alek suspirou, sentindo a frustração subir. Não era fácil para ele dizer aquelas palavras, especialmente quando sabia que as desculpas não eram o ponto forte dele. Mas ele estava tentando.
Ele deu um passo à frente, agora com mais urgência em sua voz. "Eu já falei, cara, se você me der uma chance de tentar consertar as coisas, eu… E se a gente fosse na oficina de tatuagem da Cana Comune? Pode ser uma distração boa. E, convenhamos, você e eu, precisamos de um pouco de alívio. Uma tatuagem não vai fazer mal, certo?" Alek tentou sorrir, mas o sorriso não tinha a mesma facilidade de antes. Ele estava oferecendo uma saída, mas também se colocando vulnerável. Não sabia se Chris aceitaria, mas sentia que tinha que tentar.
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Vestido inteiramente de preto, dos pés à cabeça, com apenas os acessórios prateados rompendo a monotonia escura de suas roupas, Christopher permanecia encostado em uma cerca, um pouco afastado dos demais, à espera de Catarina. Ele era como um ponto de contraste entre uma multidão de pessoas trajando roupas coloridas e vibrantes, mas a diferença gritante não o incomodava, especialmente quando nenhumas daquelas outras pessoas lhe importavam naquele momento.
Não esperava realmente que ela aparecesse. Fora o impulso quase obstinado de sempre querer prová-lo errado, ela jamais demonstrara qualquer interesse genuíno por ele. A única exceção fora o baile de máscaras — um evento que ainda o deixava intrigado. Não sabia se o que houve ali se devia ao anonimato proporcionado pelas máscaras ou à liberdade momentânea de agir sem temer consequências, como se tudo fosse permitido quando ninguém sabia quem eram de verdade.
Fosse como fosse, quanto mais se aproximava dela — ou ao menos pensava fazê-lo —, mais se via envolto em curiosidade. Catarina era uma presença inquietante, feita de tensão e graça, como uma tempestade silenciosa prestes à acontecer. Havia algo em seu modo de existir que o desconcertava, e ele se perguntava, não pela primeira vez, o que exatamente o atraía com tanta força. Talvez fosse o mistério que a envolvia, ou a resistência que tornava qualquer aproximação um esforço merecido. Ela não se entregava ao encanto fácil das palavras — era inteligente, desconfiada, e possuía um tipo raro de sarcasmo que, longe de afastá-lo, o divertia profundamente. Estar perto dela era como andar na beira de um precipício: exigia cuidado, mas também despertava nele algo visceralmente vivo. E, por mais irônico que pudesse parecer, aquele caos que ela trazia consigo era um alívio bem-vindo. Ao lado dela, não sentia a necessidade de disfarces ou máscaras; não precisava moldar-se em persona alguma para agradá-la. Pelo contrário — era justamente sendo ele mesmo, com todas as suas imperfeições expostas, que se sentia mais livre.
Christopher deslizava um anel entre os dedos, distraidamente, enquanto os olhos — ocultos por um par de óculos escuros — observavam seu redor. Quando enfim a encontrou, quase deixou a jóia cair no chão, devido a surpresa em constatar que Catarina realmente havia vindo. Limitou-se a observá-la enquanto ela andava em sua direção. Podia sentir os olhos dela sobre si quando um sorriso curvou seus lábios ao ouvir a voz dela soar, carregada do sarcamos que ele já aprendera a reconhecer. "Confesso que me surpreende muito mais o fato de você estar aqui. Bom saber que um simples desafio já é o bastante pra te tirar de casa" comentou ele, em tom bem-humorado, enquanto devolvia o anel ao dedo médio e avançava os passos que ainda os separavam. Devagar, ele retirou os óculos."Belas pernas, inclusive" acrescentou, num misto de sarcasmo e sinceridade, deixando que o olhar percorresse o corpo feminino com uma contenção quase calculada enquanto a mesma rodopiava pelo gramado — como quem sabia que ousar demais poderia render-lhe desde um xingamento até um tapa. Ainda assim, ofereceu-lhe o braço, cavalheiro e provocador, para que ela se apoiasse enquanto atravessavam a grama. "Espero que a possibilidade de acabar com o vestido sujo não te faça mudar de ideia."
com @christopherd-amato em dueto surpresa
Ela não entendia — não de verdade — que tipo de obsessão ele tinha com ela. Se fosse pelo fato de não dar a atenção que ele queria, bem, havia muitas outras que dariam. Com mais facilidade, com mais doçura, com menos espinhos. Mas não. Ele continuava voltando. Como se aquela indiferença calculada fosse algum tipo de convite. Como se cada olhar atravessado dela dissesse “tente de novo”. Catarina ajeitou os óculos escuros no rosto e caminhou pelo caminho de pedras cercado por lavandas, como se estivesse cruzando um campo minado. A luz do sol refletia no mármore da mansão e nas taças de espumante e vinho que desfilavam por mãos impecavelmente cuidadas. Tudo era bonito demais, perfeito demais, incômodo demais para ela.
Aquela cena de jardim requintado — com mesas cobertas de linho branco, convidados sorridentes e crianças correndo sorridente — contrastava violentamente com o humor dela. Não era um lugar onde se sentia à vontade. Era claro demais. Aberto demais. Exposto demais. Ela odiava a exposição. E odiava ainda mais estar ali para ele. Mas havia ido. Contra sua vontade, contra seu bom senso, contra a promessa que tinha feito de não se meter com homens como ele. Homens que sabiam brincar com a tensão. Homens que liam os silêncios como convites. Homens que sabiam que ela estava atraída mesmo quando fingia não estar. Ela havia dito que iria provar à ele de uma ver por todas que não estava ali para ele.
Parou a poucos metros da entrada do jardim e olhou em volta com um certo desprezo entediado. Já podia sentir o olhar dele. Sabia que ele estava observando, esperando, quase vitorioso por ela ter aparecido. Mas ela não daria esse gosto. “Aqui estamos, Christopher,” ela disse, abrindo os braços para o evento como se apresentasse uma peça que não tinha pedido para estrelar. Rodopiou no jardim com um gesto leve, carregado de sarcasmo. “Você tem seu encontro. Espero que saiba fazer o melhor proveito dele.” Ela podia até ter aceitado estar ali com ele, mas não iria facilitar nada para ele.
Se ele queria um sorriso doce, teria ironia. Se esperava conversa mole, teria silêncios calculados. Estava ali porque decidira encarar aquilo de frente, não porque queria. E certamente não para agradá-lo. O salto afundava levemente na grama a cada passo — uma lembrança de que aquele cenário não combinava com ela. Estava deslocada. Mas isso nunca a intimidou. Ela sabia se portar mesmo nos lugares onde não pertencia. Seguiu em frente, os olhos atentos a tudo, menos a ele. Não precisava olhar para saber onde ele estava. Sentia. Como se o corpo soubesse antes da mente. Cada passo mais perto deixava a pele mais viva, os sentidos mais aguçados.
@khdpontos
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Foi impossível não notar a mudança sutil na expressão de Olívia — ao menos para ele, que mantinha os olhos fixos nela. Uma parte sua sentiu-se aliviada ao perceber que ela permaneceria ali, ao menos até o final da música; a outra, no entanto, afundava-se ainda mais na culpa pela maneira como havia agido. Era desconcertante encarar, depois de tanto tempo, a constatação de que tudo aquilo que sempre criticara nela com tanta veemência não passava de uma construção meticulosa, uma encenação pensada para ocultar justamente a parte mais autêntica de sua personalidade. E o mais irônico, pensava Christopher, é que aquilo que ela tanto tentava esconder era, na verdade, o que havia de mais fascinante sobre ela.
Mas, afinal, quem era ele para julgá-la? Havia anos desde a última vez que fizera algo movido por paixão ou simples prazer. Até mesmo a música — aquela que um dia fora seu refúgio e essência — havia sido deixada de lado, sufocada pela sensação constante de falsidade que pairava sobre tudo que fazia. Já não reconhecia a própria voz, tampouco a figura que apresentava ao mundo. No fundo, sabia que o incômodo que sentia em relação a Olívia tinha pouco a ver com ela de fato, e sim com o reflexo de si mesmo. Ambos viviam uma mentira, essa era a verdade. A diferença é que ela, de algum modo, havia aprendido a conviver com essa dissonância. Ele, por outro lado, sentia-se cada dia mais próximo de ser tragado por ela — como se andasse à beira de um abismo, e cada passo fosse uma tentativa desesperada de se lembrar por que ainda não havia se deixado cair.
Quando suas vozes se entrelaçavam, Christopher fazia o possível para manter o tom firme e afinado — o completo oposto de como se sentia de fato. Assumia a posição de segunda voz sempre que a letra lhe escapava, o que acontecia mais do que ele gostaria de admitir. Era quase cômico o quanto se sentia exposto sob o olhar magoado de Olívia e os constantes erros de continuidade que arrancou alguns poucos risos da platéia. Logo ele, que sempre sempre desprezara qualquer resquício da atenção dela, agora se via ferido diante de sua indiferença. O pensamento era tão ridículo que, se não estivesse cercado por tantos olhares, teria soltado uma risada amarga.
De tempos em tempos, lançava um olhar breve em direção a ela, tentando sustentar a aparência de sintonia entre os dois. Por fora, a cena era de harmonia; por dentro, tudo nele implorava para que a música acabasse logo — não por impaciência, mas por urgência. Precisava falar com ela.
Assim que o último acorde silenciou, Christopher percebeu Olívia deixando o palco quase às pressas. Não era difícil entender: ela queria escapar. Mas ele já havia deixado passar oportunidades demais. Desta vez, não permitiria que ela desaparecesse tão facilmente. Entregou o microfone a um dos rapazes do coral, agradeceu com um aceno breve ao outro que o havia guiado até ali e, sem perder tempo, partiu atrás dela. Ela atravessava o salão com pressa, desviando das pessoas como se buscasse uma saída. Ele acelerou o passo.
"Sabe..." disse quando estava próximo de alcançá-la, com um leve sarcasmo que mal escondia a tensão na voz "acho que estou começando a me acostumar a correr atrás de você."
Acelerou o passo, alcançando-a rápido o suficiente para segurá-la com delicadeza pelo braço e puxá-la para um dos vãos entre as pilastras — um espaço estreito e escuro, onde teriam pelo menos a ilusão de privacidade. Estavam parcialmente escondidos, mas ainda ao alcance de olhares mais atentos. Mesmo assim, naquele momento, Christopher não se importava. Tudo o que queria era que ela o escutasse. "Por favor, me escuta" pediu, a voz mais baixa, um pouco urgente. "Eu sei que você prefere abraçar o capeta a ter que me olhar na cara, então não precisa dizer nada. Só... me ouve."
Enquanto falava, pousou as mãos nas laterais da cabeça dela, como se, naquele gesto, criasse uma bolha ao redor deles. A proximidade era íntima demais para o momento em que se encontravam, mas ainda assim necessária. "Eu quero te pedir desculpa, Olívia. Eu não devia ter agido como agi, e muito menos ter dito o que disse." Fez uma pausa, os olhos buscando os dela como se tentassem se firmar em algo real. " Naquele dia, eu ouvi coisas que... " engoliu seco, o ar escapando dos pulmões com um som mais áspero do que gostaria. "Que me deixaram cego."
Christopher já havia se desculpado com outras pessoas em outros momentos, e sempre havia sido como ter uma conversa qualquer, no máximo precisava ignorar seu orgulho, mas ainda assim as sensações eram bastantes comuns. Entretanto, o que sentiu quando seus olhos cruzaram com os dela foi algo diferente. Sentiu-se vulnerável, ansioso para ouvir o que ela diria em seguida ou se simplesmente viraria as costas para ele. Ele afastou o pensamento, lidaria com aquilo depois. "Ninguém vai a um hospital a passeio" repetiu, agora com a gravidade que a frase merecia. "E eu sei disso. Sempre soube." Respirou fundo. "Eu devia ter respeitado o seu momento. E não respeitei. Me desculpa por isso." Ele não sabia o que viria a seguir — um tapa, um passo para longe, ou talvez... nada. Mas, pela primeira vez em muito tempo, falou com honestidade. E, por ora, isso era tudo o que podia oferecer.
Olívia foi pega de surpresa quando alguém a abordou dizendo que ela havia sido selecionada para o "Dueto Surpresa". Ela não tinha ouvido falar ainda sobre a dinâmica, mas qualquer coisa que a colocasse num palco, no centro das atenções, era de seu interesse. Ela fingiu hesitar por um segundo — por puro charme — antes de soltar uma risadinha e deixar-se conduzir. No pequeno palco improvisado, sob a luz natural do sol, ela ajeitou o microfone com familiaridade e lançou um sorriso para o público que já a aplaudia sem ela mesmo começar. Então, viu sua dupla e acenou com a cabeça, um desconhecido simpático que parecia nervoso. Começaram. Reconheceu os acordes de Teenage Dream, um clássico da cultura pop, e o sotaque que misturava italiano com hispânico, começou a soar na voz melodiosa. Era afinada o suficiente para que não doesse os ouvidos dos outros — embora fosse admirada o suficiente para receber elogios mesmo que a voz fosse horrorosa.
Amava a atenção, é verdade, mas não era só esse o motivo do seu sorriso. Estar em um palco era uma das poucas coisas que a faziam se sentir leve, inteira, viva. Olivia interagia com sua dupla na tentativa de deixá-lo menos tenso, sem deixar de dar atenção ao seu cativo público. O corpo balançava num ritmo quase sensual, mas não de maneira provocativa. Era natural, era simples, divertido. Ria quando errava, jogava o cabelo com graça, e seus olhos brilhavam com a plateia reagindo calorosa. A música acabou. Pediram mais dela. Os organizadores tinham a regra de uma dupla por vez, mas era Olivia Boscarino, além de já popular por si só, era uma das reencarnadas, e eles sempre tinham algum tipo de privilégio. Ela olhou para a moça que a levou até ali, uma pequena cantora do coral da igreja da cidade, que assentiu com a cabeça, dando permissão para ela continuar. — Acho que vocês vão ter que me aguentar mais um pouquinho, hein? — brincou, com a voz musical e um sorriso de estrela. O público aplaudia, pedia bis. Ela girou nos próprios pés com leveza, como se fosse a protagonista de um musical, e acenou para as crianças da primeira fileira com charme maternal. O peito vibrava com aquele tipo de alegria rara, quase genuína. — Então, quem vai ser minha próxima dupla? — perguntou, no microfone, sempre uma mestre em manter a atenção para si, em entreter o público.
Até que avistou. O homem atravessando a lateral do palco com um microfone na mão. O sorriso dela congelou. Christopher. Ela não disfarçou o choque, nem tentou manter o sorriso quando o sentiu murchar em câmera lenta. Seu corpo enrijeceu, como se um vento gelado tivesse cortado o calor do sol. A plateia se animava com a possibilidade de um dueto entre os dois, mas Olivia sentia o estômago despencar. Quis descer dali. Sair antes da primeira nota. Mas todos se perguntariam o que houve, e ela não fazia esse tipo de cena. Respirou fundo, ergueu o queixo, e manteve a pose — como sempre. Pensou em dizer que cederia a oportunidade de alguém estar ali com o melhor cantor da cidade — sim, ela era dissimulada a esse ponto — mas os primeiros acordes começaram. O impacto foi imediato. Os olhos se arregalaram por um segundo, antes que ela os cerrasse sutilmente. A boca se entreabriu sem emitir som. A música. A música. Postada há dias no seu Instagram, comentada com entusiasmo, com direito a legenda nostálgica e tudo. Uma parte dela gelou. Foi coincidência? Alguém soprou isso pra ele? Será que ele… viu o vídeo? Quase riu da última pergunta. Não. Claro que não. Christopher não acompanhava nada dela. Não se importava com ela. Queria mantê-la longe tamanha ojeriza que tinha do que ela era. A memória do hospital era um lembrete amargo. Mais ainda quando se lembrava que, dias antes de ouvir aquelas palavras cruéis, havia se entregado demais para ele na noite do baile.
Mas a música seguia, e ele começou a cantar. Queria rir da sua pronúncia do idioma, da melodia torta, apenas por deboche e rancor. Mas ela não fazia esse tipo de cena. Ainda travada, sentiu o olhar do público sobre os dois. Tinha que entrar no ritmo. Fechou os olhos por um instante, recolhendo os sentimentos para os bastidores do peito, e começou a cantar também. — ¿Cómo sanar este profundo dolor? Siento correr por mis venas tu respiración. — Abriu os olhos, encarando ele. A voz saiu doce, aveludada. Como se nada estivesse fora do lugar. Mas por dentro, havia caos. — Estoy tan conectada a ti... — Ela tentou, mas não conseguia encará-lo por muito tempo. Desviou o olhar para o público, ainda que aquele trecho pedisse conexão entre os cantantes. — Que hasta en mis sueños te veo, sin ti yo me muero. — As vozes se cruzaram no refrão, a harmonia era desconcertante. Intimidadora. Havia algo de cruel em cantar Este corazón enquanto o coração ainda sangrava por dentro, não por amor, mas pela ferida do desprezo. Por todas as verdades dolorosas que ouviu num momento de tanta fragilidade. Nem ela seria capaz de tamanha frieza. E, depois do baile, ela quase chegou a acreditar que, no mínimo, os dois estariam em termos civilizados.
Olivia tentava não demonstrar tamanha insegurança e, vez ou outra, olhava para Chris com o seu sorriso mais falso que só ele saberia o quão fingido era. Todo o público só via beleza, química, sintonia. A maior parte do tempo ela se dedicava em ignorá-lo e olhar para o público, torcendo para que aquele pequeno tormento terminasse. Odiava Christopher por estar estragando sua experiência e, principalmente, por arruinar a música para ela. Este Corazón não seria mais o mesmo por um bom tempo...
@khdpontos
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Naturalmente, Christopher era alguém de pensamentos acelerados e por vezes exagerados — uma mente que, ao tentar compreender o mundo ao seu redor, acabava mergulhando fundo demais em labirintos de possibilidades. No entanto, ali, durante o festival, suas ideias pareciam adquirir contornos ainda mais complexos, como se cada sensação evocasse uma cadeia intricada de reflexões. Suas emoções, por sua vez, surgiam com uma intensidade quase desconcertante — tão densas e imprecisas que, por momentos, ele já não sabia nomeá-las. Talvez fosse o ambiente, a atmosfera carregada de simbolismos, ou talvez o próprio festival estivesse à altura do nome que carregava. Ele não sabia ao certo. Mas algo naquela experiência mexia com ele de forma sutil e profunda, despertando uma curiosidade que há tempos parecia adormecida.
Ele caminhava entre as pessoas, procurando algo que ocupasse seus pensamentos, quando uma voz conhecida rompeu suavemente o fluxo do ambiente ao seu redor. Não precisou de esforço para encontrar os olhos de Helena — era como se eles sempre soubessem onde se encontrar. E, no instante seguinte, um sorriso se formou em seus lábios, aquele que só ela parecia ser capaz de despertar. Mesmo em meio à confusão que ainda sentia sobre o que, de fato, existia entre eles — especialmente depois do baile de máscaras e da história com Alek —, havia algo em Helena que escapava à razão. Ela já ocupava um lugar tão firme em sua vida que, por mais que o tempo passasse ou as circunstâncias mudassem, parecia impossível que fosse apagada dali.
“Minha carreira musical teve uma aposentadoria precoce, mas… se souber pedir, talvez eu faça um show particular.” Respondeu com leveza, embora cada passo em direção a ela parecesse provocar um pequeno tumulto em sua mente. Christopher ainda custava a acreditar na ideia de uma maldição. Para ele, as pessoas se conheciam, se apaixonavam e então escolhiam, dia após dia, continuar. Almas gêmeas não faziam parte da sua lógica — e se existissem, como explicar o fato de ela talvez não ser a dele? Ainda assim, havia uma parte silenciosa dentro de si que, vez ou outra, sussurrava se não seria justamente essa a razão de tantos desencontros entre eles. Mas ele preferia não escutar. No fim das contas, era ele — e apenas ele — que decidiria quem amar. “E o que encontrou por aí?” perguntou, sentando-se ao lado dela, com um meio sorriso nos lábios. “Confesso que estou curioso com a seleção musical desse lugar.”
STARTER TO @christopherd-amato
Com os olhos fechados Helena buscava na musica alguma coisa. Algum sentimento diferente, algo talvez que ela sentira mas fora apagado pelo amargor em seus lábios. Amor... Muito complexo para entender racionalmente, mas era isso que ela tentava fazer ouvindo aquela musica: descobrir como era sentir aquele sentimento. Tantos romances que estreitou, tantos beijos apaixonados foram feitos em cena, choros de sofrimento após traições, mas nunca o sentimento real encheu o peito de Helena... Ela suspirou cansada, apoiando a mão sobre a mesa e abrindo os olhos para poder passar a musica, novamente nada surgia em seu peito. Nem uma borboleta farfalhando, ou até mesmo um enjoo de nervoso! Ela só queria sentir!
A atriz suspirou desistindo da playlist romântica, finalmente tirando os fones e olhando em volta. Estava rodeada de gente, mas ninguém realmente parecia se importar com ela, já não era mais novidade andando pelas ruas. O problema era aquela sensação horrenda de que alguém a olhava. Helena, vestindo um macacão preto de seda e mangas fluidas, com o cabelo preso de forma despretensiosa, tinha um ar elegante, mas despretensioso. Não sorria como normalmente faria, pelo menos não da forma expansiva, mas foi só seus olhos baterem em Christopher para que algo neles se iluminasse. "Ora se não é meu cantor favorito, ainda estou procurando suas musicas nas playlists" brincou tirando os fones para poder falar com ele. Fazia um tempinho desde que não conversavam e tudo que rolou não ajudava em nada na vergonha que sentia. A festa de aniversário provando que ainda tinham química, o ritual que dizia que eles não eram um par, o dia em que ela fugiu para casa dele... Eram mil e um sentimentos que ressoavam no peito dela no momento. "Er... Achei uma ou duas musicas minhas por aqui, mas você sempre foi melhor que eu nisso..."
@khdpontos
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his arms,his back, his everything.
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closed to @oliviafb.
Christopher não era do tipo que voltava atrás com facilidade — muito menos alguém que se desculpava com frequência. No entanto, desde a conversa que tivera com Annelize, não conseguia tirar da cabeça o quanto havia sido insensível com Olívia na última vez em que se encontraram. Sim, eles tinham suas pendências, e não eram poucas. Mas, por maiores que fossem, nada justificava o modo como ele havia agido. Não quando ela claramente também enfrentava um momento difícil. Afinal, como a própria Olívia fizera questão de lembrar naquele dia, ninguém vai a um hospital por diversão. Nos dias que se seguiram, ele até tentou entrar em contato com ela — mais de uma vez, inclusive —, mas quase sempre foi ignorado ou contornado com uma habilidade impressionante. E, para cada tentativa frustrada, seu arrependimento só aumentava. Ainda assim, por mais que soubesse o quão teimosa Olívia podia ser, Christopher também não era alguém que desistia com facilidade. Continuava pensando em como encontrá-la em um momento em que ela, ao menos, aceitasse ouvi-lo.
Por mais que desejasse resolver de uma vez a situação, havia decidido não pensar nos problemas ao menos durante a feira, e assim estava sendo até que uma melodia conhecida acompanhada de um timbre familiar fizeram com que ele olhasse para o palco onde aconteciam os duetos improvisados. Olívia estava acompanhada de alguém cujo o rosto Christopher não fez muita questão de focalizar.
Os olhos claros se fixaram nela, e, aos poucos, Christopher começou a notar detalhes que normalmente passavam despercebidos — ou que talvez ele nunca tivesse se permitido realmente enxergar. Havia uma felicidade genuína estampada no rosto de Olívia enquanto ela cantava, entregue à melodia de uma música que, pelo brilho em seu olhar, claramente gostava. Ela se movimentava com leveza, sem se importar com o entorno, deixando escapar passos de dança desajeitados e espontâneos que pareciam mais dela do que qualquer pose ensaiada. Era uma vulnerabilidade desconcertante — e encantadora. A forma como ria de si mesma, sem constrangimento, a maneira como seus ombros relaxavam e como o cabelo acompanhava os giros descompassados... Tudo nela, naquele instante, parecia leve, livre.
E aquilo o desarmou.
A Olívia que ele via ali não era a mesma de sempre — não era a mulher contida, afiada, por vezes defensiva, que ele conhecia tão bem. Aquela era uma versão rara, quase secreta, da qual ele tivera vislumbres em momentos inesperados. Era a mesma que, tempos atrás, o instigara com uma única dança a ponto de fazê-lo atravessar um baile de máscaras só para encontrá-la novamente. A mesma que o confundia sempre que deixava cair a armadura por um breve instante, e que o fazia se perguntar, vez ou outra, qual delas era a verdadeira. Sem perceber, seus lábios se curvaram em um sorriso — um daqueles sinceros, que nascem antes mesmo de qualquer pensamento. Mas ele não durou muito. A realidade o alcançou como um lembrete silencioso: talvez aquela fosse a chance perfeita de, enfim, tentar consertar o que havia se quebrado entre eles.
Dias antes, Christopher havia visto, por acaso, um vídeo de Olívia no Instagram. No vídeo, ela comentava com entusiasmo sobre sua paixão por uma banda mexicana chamada Rebelde e, em seguida, listava algumas de suas músicas favoritas. O único nome que ele conseguiu guardar foi Este Corazón. Não fazia a menor ideia do contexto da canção, tampouco conhecia a banda em questão. Mas havia aprendido, desde cedo, que quanto maior o erro, maior precisava ser o pedido de desculpas. E naquele caso... valia a tentativa.
Entre as fileiras do coral, Christopher começou a procurar por um dos garotos que ele próprio havia ensinado a tocar violão meses atrás, a pedido de Pasqualina. Quando o encontrou, se esgueirou até ele e o puxou discretamente para longe dos demais. A negociação não foi exatamente simples — envolveu a cobrança de um antigo favor para convencer o menino a manter Olívia no palco por mais um número e permitir que Christopher subisse em seguida, além de uma nota de cem dólares para garantir que a próxima música fosse a que ele havia escolhido. "É o que você merece por ter sido um imbecil" murmurou para si mesmo, enquanto abria apressadamente o navegador do celular e buscava a letra de Este Corazón.
Conseguiu decorar alguns trechos às pressas quando, de repente, foi puxado por uma das meninas do coral em direção ao palco e um microfone foi colocado em sua mão antes que pudesse sequer pensar. Palcos não o intimidavam, e multidões tampouco o deixavam nervoso — mas, ao encontrar o olhar de Olívia, sentiu o estômago revirar. A simples ideia de ela virar as costas e deixá-lo ali, sozinho, fez seu peito apertar. A introdução da música começou a tocar, preenchendo o salão, e sem muito tempo para pensar, ele começou: "¿Cómo poder recuperar tu amor? ¿Cómo sacar la tristeza de mi corazón? Mi mundo solo gira por ti..." A melodia escapou dos seus lábios com certa hesitação, um pouco fora do ritmo, fruto da insegurança de quem nem sabia se havia começado no ponto certo.
@khdpontos
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closed to @alekmoretti.
Definitivamente, aquele não era um dos seus melhores períodos — os dias pareciam arrastados, pesados, e a disposição para interações sociais praticamente inexistia. Ainda assim, Christopher se forçava a ir a eventos como aquele, não apenas por si mesmo, mas também para aliviar a preocupação constante da mãe, que vinha reclamando cada vez mais sobre o quanto ele vinha se afastando da convivência com as pessoas.
O evento estava bonito. Tudo bem organizado, com atrações cuidadosamente pensadas e uma decoração caprichada. As pessoas pareciam felizes, envolvidas nas atividades, e até mesmo a mansão Von Bleicken — que antes carregava uma atmosfera um tanto mórbida — ganhara um ar mais leve após a recente reforma. Tudo, ao que parecia, contribuía para que o dia seguisse bem. Ou pelo menos o suficiente para que ele pudesse se distrair, ainda que por algumas horas, dos problemas que o aguardavam do lado de fora.
Enquanto ponderava sobre qual das atividades musicais tentaria, foi atingido de súbito por aquela onda familiar de introspecção — a mesma que o havia mantido afastado do convívio social nos últimos tempos. Por um instante, sentiu o impulso de simplesmente ceder, virar as costas e ir embora, porém, forçou-se a ficar. Reuniu o que ainda restava de força de vontade e tentou focar em algo, qualquer coisa, que o mantivesse presente. Mas a batalha interna o deixou disperso, e sua distração acabou deixando-o disperso: em um descuido, trombou com uma criança que carregava potes de tinta colorida. O impacto foi o suficiente para espalhar manchas vibrantes pelas mangas de sua camisa, o que arrancou risos das pessoas ao redor e um suspiro resignado dele. Após ajudar a limpar a bagunça e garantir que a criança estava bem, Christopher subiu até o banheiro do segundo andar, determinado a remover os resquícios da tinta antes que secassem. Lavou cuidadosamente os braços e esfregou as manchas mais difíceis. Quando percebeu que algumas delas não sairiam de jeito nenhum, resolveu dobrar as mangas para escondê-las.
Estava terminando de ajustar a dobra quando ouviu o som da porta se abrindo. Instintivamente, voltou sua atenção para o espelho, mas no reflexo, viu Alek cruzar o batente. Seu olhar desviou de imediato, voltando-se para a camisa, como se o simples ato de focar nas dobras pudesse afastar seu incômodo. A briga entre eles ainda era recente, e embora Christopher soubesse que em algum momento precisariam conversar, não se sentia pronto. Conhecia bem demais o temperamento do outro para arriscar uma conversa despreparado — ainda mais em um momento em que ele próprio não estava inteiro.
Em silêncio, lavou as mãos mais uma vez, mais por necessidade de ocupar-se do que por higiene. Pegou algumas folhas de papel e começou a secá-las com calma, evitando qualquer contato visual. "Já estou de saída" disse enfim, num tom seco.
@khdpontos
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Sentado em frente ao piano, os dedos deslizavam sobre as teclas. Não tocava nenhuma canção em específico, apenas deixava que seus dígitos apertassem as conhecidas teclas de modo a deixar que seus sentimentos fluíssem, como um desabafo. Talvez realmente tivesse agido de forma excessiva no hospital e se deixado levar pela simples hipótese do que alguém que gostava tanto de fofoca podia significar em sua vida, e, principalmente, na da mãe, que cada dia parecia contar com menos forças. Mas como ele poderia ter agido diferente? Uma coisa era Olívia espalhar fofocas sobre ele, mas sobre sua mãe? Não, ele jamais permitiria que isso acontecesse.
Um suspiro frustrado ecoou junto das notas e ele pôde finalmente ouvir a respiração pesada de alguém que ele não sabia que estava presente no local, porém sabia perfeitamente a quem aquela respiração pertencia. “Se eu bem me lembro, o médico disse que a senhora deveria descansar depois da medicação de hoje” disse com a voz suave, mesmo que não quisesse que ela de fato o deixasse sozinho. “E desde quando uma simples médico vai me impedir de ver meu filho talentoso mostrar seus talentos?” A resposta veio quase que instantânea, assim como o som dos pés se arrastando levemente pelo piso antes que a mulher se acomodasse junto dele no banco. “O que era essa coisa feia que você estava tocando, inclusive? Quase me fez repensar sobre ter um filho talentoso. Conheço suas músicas e sei bem que essa não está na lista, pois se estivesse, eu já teria te feito tirar.”
Uma risada ecoou por seus lábios enquanto a cabeça se virava na direção da mãe, para que pudesse vê-la. O rosto estava mais fino, sua pele pálida de tal modo que ele sabia que segundos antes de fugir da enfermaria e aparecer no batente, ela devia estar passando mal por conta da medicação, mas ainda era possível notar um certo viço, que remetia a beleza única de Annelize. No entanto, o que mais chamava a atenção eram os olhos, olhos que tinham exatamente o mesmo tom de azul que os dele, mas diferente de Christopher, Annelize carregava um olhar carinhoso e aconchegante, que transmitia calma e tranquilidade na mesma intensidade que transmitia segurança. “Não era nada em específico, eu apenas estava me deixando levar.” Seus ombros se ergueram levemente antes de um sorriso pequeno e brincalhão adornar seus lábios. “Se eu soubesse que estava diante de uma audiência tão exigente, teria me esforçado mais para agradar.”
Agora foi a vez dela rir. Um riso baixo, mas contagiante, que tinha o incomum poder de aquecer seu coração de tal modo que ninguém mais conseguia. No entanto, dessa vez, aquele som agradável trazia junto de si um sentimento de tristeza dada às palavras do médico naquela manhã; o corpo dela não estava respondendo como deveria ao tratamento do câncer e talvez devesse ser considerado o tratamento paliativo, já que suas opções já haviam se esgotado. Para Christopher, foi o mesmo que dizer que ele estava prestes a perdê-la e que ele deveria começar a se despedir, porém ele não conseguia. Não era capaz de sequer pensar em não tê-la mais por perto. Annelize, como se lesse os pensamentos de Christopher, envolveu seus ombros com o braço, acariciando devagar a área, como se tentasse confortá-lo. “Você tem muito do seu pai em você, e isso não é um elogio, eu sei” ela sorriu enquanto Christopher fez uma careta de desgosto “mas em contrapartida, tem muito de mim também, e é justamente por isso que eu sei que essa coisa horrorosa que você estava tocando agora pouco era sua forma de externar tudo o que está passando bem aqui.” Ela esticou um dedo, tocando a cabeça dele com suavidade. “E por isso que eu sei, inclusive, que a sua reação desproporcional com a Olívia no hospital foi por conta do caos que está aí dentro.”
“Não é bem assim, mãe, a Olívia…” Começou a argumentar, mas bastou um gesto da mais velha para que ele se calasse. “Eu ainda não acabei, meu bem.” Disse ela com doçura enquanto acariciava os ombros do filho. “Eu sei muito bem da fama que essa moça carrega, assim como a mãe dela. Mas ali, naquele momento, ela não estava sendo nada além de gentil, e você não precisava ter tratado ela daquela forma, pois você pode não ter percebido, querido, mas ela também era uma paciente lá, só que de outro setor da medicina.” Os lábios do rapaz se apertaram em uma linha fina enquanto sentimentos de compreensão e vergonha o invadiam. Como se percebesse a mudança dentro dele, Annelize apertou levemente seus ombros. “Quando foi a última vez que você conversou com alguém sobre como você se sente, querido?” Christopher não respondeu, apenas a observou, em silêncio. Um sorriso emoldurou os lábios da mais velha. “Viu? São essas as partes que eu digo serem parecidas com seu pai.” Ela depositou um beijo casto sobre o ombro dele. “Você está passando por uma situação complicada, meu filho. Está assumindo responsabilidades com o meu tratamento que nem mesmo deveriam ser suas e é claro que isso vai gerar alguma resposta em você, sentimentos mal compreendidos e ignorá-las não vai fazer com nada disso desapareça.”
Por um curto momento, Christopher fechou os olhos e suspirou. “Não é só isso. A Olívia… gosta de atenção. Gosta que todos prestem atenção no que ela fala e a sigam como se fossem parte de um culto ou coisa assim. E eu tenho certeza que, se eu não tivesse falado nada, ela teria usado o fato de ter visto você lá para se promover de alguma forma e eu não quero ver as pessoas te olhando com olhos de pena como se você fosse…” Christopher não teve tempo de finalizar sua fala, visto que logo foi cortado por Annelize “Uma mulher doente? Mas, il mio angelo, eu sou uma mulher enfrentando uma doença, e eu jamais me veria como digna de pena, afinal, eu estou lutando para ficar melhor, dia após dia, e, como você bem diz, sigo teimosa o suficiente para levantar da cama e ver o que está motivando meu filho a tocar uma música tão feia como a que você estava tocando.” Ela deslizou a mão pelo rosto dele, de forma carinhosa, e o virou em sua direção. Os olhos azulados fixos aos dele pareciam ler cada minúcia daquilo que se passava em sua mente e que sua boca era incapaz de verbalizar. “Eu sei que ter a minha doença falada além das paredes dessa casa vai tornar mais real a situação, e sei o quanto isso te assusta, meu filho. Mas acontece que não falar não vai fazer com que a minha doença seja menos real e muito menos que ela vá embora.” Um nó se formou na garganta dele e ele engoliu seco, lutando silenciosamente contra as lágrimas que ameaçavam se formar em seus olhos ardidos. “E, sabe, me assusta também pensar que eu posso não estar aqui para o dia em que você encontrar o amor, para o dia em que você se tornar pai ou para acalmá-lo nos dias em que essa cabeça loira fica caótica, mas ainda assim eu não ligo que falem, porque a minha maior motivação para continuar viva não está lá fora e sim sentada no meu piano tocando uma das coisas mais horrendas que eu ouvi desde o período em que você estava apenas aprendendo.” Ela acariciou a bochecha de Christopher com carinho, sorrindo para ele novamente. “E, se eu não ligo, francamente, meu querido, você não deveria ligar também.”
Com um aceno breve de concordância, Christopher a abraçou de modo que seu rosto se escondesse na curvatura delicada do pescoço de Annelize. De fato, toda a situação o apavorava de tal modo que ele se via incapaz de mensurar. A idéia de perdê-la era desesperadora, visto que a mãe era seu único ponto de calma em meio a todo o tumulto que era sua mente, era sua base e alicerce, e não tê-la mais por perto era o mesmo que ter que aprender a viver sem ter um chão para pisar. Porém, andava tão focado em sua própria tristeza que havia esquecido que ele não era o único que perderia algo. “Por isso, mocinho,” disse ela enquanto se afastava levemente, fazendo com que Christopher a olhasse novamente enquanto ela limpava uma lágrima que escorria pelo rosto dele “eu espero que amanhã, antes de você vir novamente pra cá, você já tenha encontrado aquela moça e se desculpado com ela. Dizer que eu estou doente, tudo bem, agora que eu criei um filho mal educado e grosseiro? Jamais.” Um riso fraco escapou da boca dele, fazendo-o perceber que muito mais lágrimas escorriam por sua face. Devagar, ele a soltou e passou as mãos pelo rosto. “Fora que, ainda é desconhecido, mas essa moça pode ser a minha futura nora, e não quero que você a afaste por bobeira.” No mesmo instante o rosto do loiro se franziu em uma careta de desgosto. “A ex do Alek? Francamente, mãe, os remédios claramente estão te fazendo alucinar.” Annelize deu um tapa no braço do filho que riu perante sua reação. “Você me respeite que eu ainda sou sua mãe. Agora me leve até o jardim, quero ver minhas flores e saber tudo sobre sua viagem para Portugal.”
@khdpontos
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A princípio, ele não compreendeu exatamente ao que ela se referia, mas assim que a palavra stalker foi mencionada, seus olhos se arregalaram levemente. "Stalker...? Como assim um stalker? Desde quando...?" As perguntas se acumularam em sua mente, prontas para escapar, mas o leve tremor que percorreu o corpo dela foi o bastante para fazê-lo silenciar. Em vez de pressioná-la, ele se sentou ao seu lado e a puxou delicadamente para mais perto, envolvendo-a em um abraço acolhedor. Por mais que certos pontos da história o deixassem confuso — como ela havia conseguido se livrar de alguém que parecia tão próximo? —, ver Helena tão abalada despertou nele algo mais forte do que a curiosidade: o desejo genuíno de protegê-la.
Ele não disse nada de imediato. Apenas permaneceu ali, ao lado dela. Passou a mão com suavidade por seus cabelos, como se, através dele, pudesse transmitir alguma sensação de segurança. Não queria apressá-la, nem forçá-la a reviver aquilo que claramente ainda a abalava. "Você está segura agora" murmurou, depois de algum tempo, com a voz baixa, firme e gentil. Era o máximo que podia oferecer naquele momento: a certeza de que ela não estava sozinha. E, mesmo sem todas as respostas, ele sabia que elas podiam esperar. O mais importante era Helena.
Com delicadeza, Christopher levou o indicador e o médio até o queixo dela, guiando suavemente seu rosto para que o encarasse. "Você não precisa se desculpar" disse, os olhos azuis a encarando atentamente. "Eu te disse uma vez que sempre estaria aqui quando você precisasse. E, olha, não costumo mentir... pelo menos não sobre esse tipo de coisa." Tentou suavizar o momento com um pequeno sorriso. Com o polegar, acariciou levemente a bochecha dela, um gesto simples, mas cheio de ternura. Ainda havia algo que não se encaixava na história — aqueles vultos, por exemplo, pareciam fugir à lógica de um simples stalker —, mas ele preferiu deixar isso de lado por ora. "Esse prédio é seguro" continuou, em tom calmo. " Você só entra aqui porque avisei o porteiro, lembra? Quanto ao stalker... ele teria que ser o próprio Mestre dos Magos pra conseguir chegar até aqui. E, se conseguir... digamos que ele vai se arrepender de verdade." Apesar do tom descontraído, havia firmeza nas últimas palavras. Em seguida, Christopher estalou a língua no céu da boca, como quem encerrava o assunto, e a apertou suavemente contra si. "Agora me diz " falou, com carinho "o que eu posso fazer pra te deixar mais tranquila?"
Helena não falou de imediato. Nem mesmo tentou. Apenas deixou o corpo ser conduzido por Christopher para dentro da casa. Estava encolhida dentro do próprio casaco, com os olhos marejados e visivelmente abalada, tanto que sentou-se no sofá, com os braços ainda cruzados sobre o peito, como se estivesse tentando manter o coração no lugar. Só então olhou pra ele. "Eu..." começou, mas a voz saiu pequena demais, trêmula demais. Ela engoliu em seco e tentou de novo. "Está acontecendo de novo, Chris." As palavras pareciam pesar cada vez que saíam, como se ela estivesse confessando uma loucura. "Eu... Por muito tempo um cara me seguia. Um stalker. Eu... Por Deus! Está acontecendo de novo" disse a beira do colapso soltando uma risada nervosa que mais parecia um soluço. "Estavam no quarto. Eu apaguei a luz e... Aquela sensação de estar sendo observada voltou. Eu sei que parece absurdo, mas eu juro... eu juro por tudo que você quiser que não é imaginação." Helena passou a mão pelo rosto, os dedos tremendo quando puxaram o cabelo para trás. Aquilo era visceral demais, só quem tinha sido perseguido por um stalker saberia o que era aquela sensação de insegurança. Principalmente ela que tivera sua intimidade violada de tantas formas antes de finalmente conseguirem prender o imbecil... "Eu não sabia pra onde ir. Não ficar em casa.. Mas ai eu lembrei de você. Sempre foi o único lugar onde eu consegui respirar quando tudo ficou pesado demais." Ela abaixou o olhar, encarando as próprias mãos, evergonhada por fugir de volta para os braços dele quando as coisas apertavam. Mas era assim, quase que involuntário. "Desculpa vir assim... sem avisar. Sem me explicar. Mas... eu precisava de um lugar onde eles não pudessem me alcançar. Nem os vultos... nem as lembranças." Ela não era uma pessoa de dar o braço a torcer, não era de admitir fraqueza, mas aquilo era basicamente ela gritando um: "Eu tô com medo e você é a única pessoa que eu confio o bastante pra não fingir que não tá acontecendo."
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⚠️ TW: Crise de ansiedade.
Mesmo que a conversa houvesse sido breve, seu conteúdo havia sido mais do que suficiente para deixar Christopher sentindo como se o chão houvesse sido retirado debaixo de seus pés. "A doença não está respondendo da forma que esperávamos e esse tratamento é nossa última alternativa, senhor Rizzo. Se não surtir o efeito esperado, sinto muito mas não terá mais nada a fazer além de oferecer conforto à ela." As palavras, ainda que ditas de modo cauteloso, ecoavam em sua mente como um lembrete constante do quão impotente ele era perante aquela situação. Não importava o quanto quisesse a mãe curada, não importava que fosse atrás dos melhores médicos, dos melhores e mais modernos tratamentos, ainda não teria como controlar todas as variáveis que a doença podia trazer consigo, e era isso o que mais o assustava.
Ainda imóvel ao lado de fora da sala da médica, aproveitou o fato de que estava sozinho e se apoiou na parede, em busca de algo sólido que pudesse trazê-lo novamente para a realidade. Devagar, o corpo deslizou em direção ao chão até que ele se encontrasse sentado sobre a cerâmica clara. As íris claras miravam um ponto distante enquanto ele respirava lentamente; a respiração lenta sendo um contraste gigante se comparada aos batimentos que traziam a impressão do coração estar prestes a explodir a caixa toraxica. Como poderia voltar para o lado da mãe e agir normalmente? Fingir que o medo não o estava consumindo por completo naquele momento? Como manter a esperanças após a pessoa que devia cura-la praticamente dizer que ele não deveria ter tantas esperanças assim?
Seus olhos ardiam mas ele não conseguia chorar, apenas ecarava um local fixo na parede. Era como se sentisse tudo e nada ao mesmo tempo, e era justamente essa sensação de vazio que mais o assustava. Ele a sentia desde o dia em que havia sido informado sobre a doença da mãe, como se o vazio apenas esperasse pelo momento em que o enguliria por completo.
Haviam se passado alguns minutos até que finalmente se viu apto a levantar e seguir até onde havia deixado a mãe anteriormente e, enquanto andava, fazia uma prece silenciosa a qualquer deídade que pudesse ouvi-lo para que ela não notasse a forma com a qual se encontrava. Chegando perto, teve um pequeno vislumbre da mais velha sorrindo, e ele teria sorrido junto se não fosse pela pessoa que estava ao lado dela na sequência de cadeiras.
Momentos onde Olívia havia o havia ameaçado com fofocas e até mesmo o início de todo aquele boato sobre a maldição inundaram sua mente e ele então acelerou o passo, parando ao lado do local onde a mãe estava sentada. "As vezes eu acho que preciso te deixar com instruções quando a senhora fica sozinha, já que aparentemente não sabe escolher as melhores pessoas para conversar, mãe." Disse em um tom mais ameno para a mais velha e então voltou-se para Olívia, seu semblante se endurecendo no mesmo instante. "Eu sei que princípios e empatia com o próximo não são exatamente a sua praia, e que você ama receber todo tipo de atenção pra satisfazer esse seu ego, mas pensa bem que se você abrir a boca agora, não é somente eu que vou ser perturbado por você, e sim alguém que não merece ser uma vítima sua."
A sala de espera do quinto andar era gelada demais. As paredes em tons de bege tentavam passar uma calma que não alcançava ninguém ali. Olivia ajeitou o casaco sobre os ombros, mas era outro tipo de frio que incomodava. A clínica atendia especialidades sensíveis: obstetrícia de alto risco, endocrinologia reprodutiva, ginecologia cirúrgica. Um lugar onde se via mais silêncio do que sorrisos — olhares baixos, mãos dadas apertadas, mulheres com a alma suspensa entre diagnósticos e possibilidades. Olivia estava entre elas, sentada em uma das poltronas cinza da sala de espera, balançando a perna direita com impaciência.
Aos 16 anos, ela passou por uma lipoaspiração feita às pressas — em um consultório improvisado — resultou em perfuração uterina, infecção generalizada e, por fim, numa laparoscopia de emergência que retirou uma das trompas e deixou severas aderências na outra. Os laudos falavam em “baixa reserva ovariana” e “aderências pélvicas graves”: tecnicamente, suas chances de engravidar naturalmente eram tão baixas que ela precisaria acreditar em milagres. A luz fria refletia em sua pele levemente pálida, e o estômago, sempre tão controlado, andava instável há dias. Tonturas matinais, cólicas leves, enjoos esporádicos e um atraso que, em qualquer outra mulher, poderia parecer comum — mas nela era quase impensável. As chances de engravidar, segundo os médicos, eram "extremamente reduzidas", mas não nulas. Nunca nulas. E era essa brecha de 1% que a fizera marcar a consulta.
Ela jurava que era só para tirar a dúvida, descartar qualquer hipótese. Mas a verdade é que o coração batia mais rápido a cada segundo. Estava assustada, claro. Ter um filho mudaria tudo. Mas… e se fosse possível? E se, contra todas as estatísticas, tivesse acontecido? Foi nesse estado — as mãos úmidas, a perna trêmula, os olhos tentando não encarar ninguém por muito tempo — que ela sentou-se ao lado de uma senhora de olhar doce, sem perceber quem era. A mulher, após alguns minutos de silêncio, virou-se com cuidado e perguntou com gentileza:
— Está tudo bem, querida?
Olivia hesitou. Engoliu seco, olhos arregalados. Quase riu. Como explicar o turbilhão que misturava medo de estar grávida com o medo ainda maior de não estar?
— Eu… tô esperando um exame. — respondeu com um meio sorriso. — A gente sempre espera mais do que o resultado, né?
A senhora assentiu, sem fazer perguntas. O silêncio voltou. E Olivia continuou ali, no meio do desconhecido, apertando os dedos no colo, como quem tentava segurar o tempo. Pressionou os olhos ao fitar a mulher novamente, com a sensação de familiaridade. O hospital era fora de Khadel, a cidade pequena que tinha apenas uma clínica simples para emergências e casos menos graves. Escolheu aquele hospital justamente por ser afastado. Não queria encontrar desconhecidos. Mas então, ela olhou demais, e reconheceu. Apesar da tensão, retirou os óculos escuros e sorriu, simpática.
— A senhora é... a senhora Rizzo? De Khadel? Mãe do Chris, não é?
— Sim, querida. E você é a Olivia.
— Ah, a senhora me conhece. — as duas concordaram com a cabeça, sorrisos doces e com um toque entristecido. — Espero que esteja bem.
— Vamos ficar. — ela segurou a mão de Olivia, que tremia e balançava junto com as próprias pernas. O corpo pareceu se acalmar rapidamente com o toque gentil.
A confirmação muito segura da mulher fez a musa forçar um sorriso. Sentiu a garganta doer com a tentativa de segurar o choro, os olhos quase marejando, mas ela estava acostumada demais a fingir ser forte.
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Abaixo estão algumas músicas compostas pelo Christopher e a história de cada composição, visto que por conta da maldição, acabava sendo mais fácil para ele escrever sobre coisas que ele vivenciou, pessoas conhecidas ou história que ouviu de terceiros. As cinco músicas são também as cinco primeiras que fizeram seu canal secreto viralizar. Essa é a parte um.
1 - Goddamn.
Uma de suas primeiras composições quando chegou na Inglaterra, tem como inspiração uma história de romance trágica vivida por um de seus melhores amigos da faculdade, que por sua vez gostava de música assim como ele. Fato engraçado que, a "musa" da música tentou processar ambos por difamação, mas o processo caiu após ela ser flagrada fazendo uso de entorpecentes em diferentes festas.
2 - I've known you forever.
O melhor exemplo de talaricagem em grande estilo. Christopher havia se interessado por uma garota que, por sua vez, acabou dando início a um relacionamento antes que ele pudesse fazer algo a respeito, porém, o relacionamento ao invés de afastá-lo fez com que ficasse ainda mais empenhado em conquista-la, e foi assim que a música surgiu. Christopher conseguiu se envolver com a menina, no entanto, o relacionamento não passou de dois dias, visto que ele acabou percebendo que diferentemente do que havia pensado, não estava apaixonado.
3 - She's the kinda song you could play forever.
Como nem só de talaricagem vive o homem, essa música foi composta para a ex-namorada Helena, logo após ela deixa-lo em Londres e aparecer na capa de uma revista como affair de um outro famoso. ( @sorrentinosmuse)
4 - We don't have to prove nothing.
As primeiras semanas longe de casa e de tudo o que conhecia trouxeram para Christopher um sentimento melancólico, especialmente no que era referente a saudade; não sentia saudade de casa, mas sim de pessoas específicas, e claro, o melhor amigo estava no top três de sua lista, o que facilitou o surgimento da música. ( @alekmoretti )
5 - A poisonous kiss.
Sem uma história específica, essa música apenas o fez perceber que ler sobre e observar as vivências das pessoas a sua volta podiam sim lhe render boas inspirações.
ps: os nomes trocados nas músicas são, justamente, para indicar paródia já que a player não saberia compor música NUNCA na vida.
@khdpontos
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closed to @oliviafb.
O corredor do hospital parecia mais longo do que de costume. O som abafado dos passos, o cheiro do desinfetante, a luz branca demais. Tudo parecia parte de um cenário montado para amplificar o desconforto. Christopher andava ao lado da mãe, o braço enlaçado ao dela com uma força disfarçada. Não era apoio, era apego. Um gesto quase infantil, desesperado. Seus olhos, fixos à frente, denunciavam um esforço constante para manter as emoções sob controle — e falhavam miseravelmente. A voz da médica ainda martelava em sua cabeça: "Ramificações no pulmão... possível avanço para as trompas... nova etapa do tratamento."
Palavras que o perfuravam.
"Meu filho... ainda bem que você nunca foi pro teatro. Ia falir no primeiro mês", disse Annelize, com um sorriso torto, o tom de voz irônico e doce como sempre — mesmo agora, mesmo assim. "Já pensou que talvez você só perceba porque... bom, eu literalmente vim de você?" Ela bufou uma risada, sacudindo levemente a cabeça. "Pensei sim. E não, não é isso. Você só não serve pra disfarçar nada."
Christopher soltou um riso breve, quase inaudível, e parou por um instante apenas para observar o rosto da mãe. Era impossível não notar os sinais da doença — a falta cabelo, as olheiras profundas como sombras fixas sob os olhos, a palidez que tomava conta da pele outrora vibrante. E, ainda assim, havia algo que resistia. O brilho no olhar dela permanecia. Um brilho firme, sereno, que parecia sempre saber o que dizer, o que fazer, mesmo no meio do caos. Aquela força silenciosa que ela carregava era o que confortava todos ao redor. Mas, para Christopher, não era suficiente. Ela ainda era sua mãe, e ele ainda era só um filho tentando esconder o pânico.
"Não é errado ter medo, meu filho..." disse ela, com aquela voz doce e firme que parecia não ter espaço para fragilidade "Eu também tenho. Também fico assustada com as possibilidades."
Mas, para ele, era errado. Ou pelo menos sentia que era. Estar assustado daquela forma parecia uma fraqueza que não podia se permitir. Ele não era quem lutava contra o câncer. Ele era o apoio. O alicerce. E, nesse papel, não havia espaço para medo. O medo era um luxo que ele achava que não podia ter. Mas como explicar isso a ela? Como contar que, desde o dia em que ela recebeu o diagnóstico, ele vinha engolindo a própria angústia para não desabar? Que todas as vezes que sorria e dizia que tudo ficaria bem, era só pra que ela acreditasse um pouco mais do que ele?
Antes que precisasse encontrar palavras para isso, uma voz cortou o silêncio: "Senhor Rizzo?" disse uma enfermeira, num misto de gentileza e polidez. "Perdão pelo incômodo, mas a doutora pediu para que o senhor retornasse à sala dela."
Christopher virou o rosto em direção à voz, mas antes de responder, olhou para a mãe. Ela lhe deu um breve aceno com a cabeça, como quem compreende e ao mesmo tempo autoriza, sem dizer uma palavra. Ele a observou por mais alguns segundos — os ombros levemente curvados, os passos lentos enquanto ela se dirigia a uma das cadeiras do corredor — e então seguiu a enfermeira em silêncio, o peito pesado com tudo aquilo que ainda não tinha conseguido dizer e a atenção toda voltada para o que a médica iria falar, de modo que sequer percebeu que mais alguém havia presenciado aquele momento.
@khdpontos
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Encostado no batente da porta de correr, Christopher observava Khadel de um dos pontos mais altos da cidade — uma vista privilegiada. Era inegável a beleza da pequena cidade, especialmente naquela hora do dia. No entanto, Khadel poderia ser o lugar mais encantador do mundo e, ainda assim, ele se sentiria aprisionado apenas por estar ali. A convivência com o pai, que ele acreditava já ter atingido o fundo do poço, parecia piorar a cada dia. A saúde da mãe, por sua vez, se esvaía lentamente, apesar de todos os esforços para restaurá-la. Como se não bastasse, o espetáculo criado em torno da maldição abrira espaço para que até desconhecidos o cobrassem por ainda não ter encontrado sua alma gêmea — como se isso tivesse qualquer relevância diante da realidade sufocante que vivia. Ainda que não demonstrasse, ele estava exausto, tanto físico quanto mentalmente. Mas não se importava, não quando alguém que ele amava estava em uma situação de saúde tão delicada.
Demorou a notar as batidas na porta. Não era comum receber visitas tão tarde, a menos que tivesse convidado alguém — o que não era o caso. Deixou o copo de uísque, ainda pela metade, sobre a mesa e se levantou com certa lentidão, caminhando até a porta com passos arrastados. Quem poderia ser àquela hora? Provavelmente alguém conhecido, já que a portaria não havia anunciado ninguém. Digitou a senha do painel com agilidade mecânica e puxou a maçaneta, apenas para ser surpreendido pela figura que encontrou do outro lado. "Lena...?" começou a dizer, mas calou-se ao notar a expressão da mulher — o olhar vazio, o rosto pálido, a respiração irregular. Sem hesitar, Christopher segurou suavemente o punho dela e a puxou para perto, fechando a porta atrás de si com um leve estalo. "Calma, está tudo bem. Você está segura aqui", disse, com a voz baixa e firme, tentando passar o mínimo de segurança a ela enquanto passava o braço ao redor dos ombros dela, guiando-a com cuidado até o sofá. Não fazia ideia do que havia acontecido, mas fosse o que fosse, havia deixado Lena profundamente abalada. Algo em sua postura, na forma como tremia, disparou um alarme dentro dele — o tipo de alarme que ignorava lógica ou cautela. "Você está tremendo..." murmurou, ajoelhando-se à frente dela, o olhar atento e cheio de preocupação. "Lena, o que aconteceu com você?"
STARTER TO @christopherd-amato
Desde o dia em que Helena foi ver aquela maluca da Zafira só houve arrependimento. Não só pelas revelações que punham a prova tudo que ela achava que poderia ser real e que desejava para si quanto por aquele preço absurdo que a mulher falou que iria pagar. No inicio a negra nem notara, a verdade era que depois daquela revelação ela passou a duvidar ainda mais da cigana. Mas pouco a pouco as sombras começaram a se mexer e aquela sensação horrenda de se sentir observada novamente surgiu. Não importava que silêncio da sua casa, que normalmente era um alívio, lhe dissessem que não havia mais ninguém ali. Os vultos… eles estavam lá. Nos cantos, refletidos nas janelas, movendo-se rápido demais para que ela pudesse focar. Não podia ficar ali... O coração de Helena martelava contra o peito enquanto ela dirigia pelas ruas escuras. Não deveria estar ali, indo até a casa de Chris. Ela ficou ali por alguns segundos parada, respirando fundo, tentando encontrar alguma lógica no que estava prestes a fazer. Mas então um arrepio subiu por sua nuca, e a sensação de que algo a observava fez seu estômago revirar. Ela não esperou mais: Saiu do carro, subiu os degraus de dois em dois e bateu na porta com mais força do que o necessário. "Chris! Abre essa droga de porta!" pediu praticamente chorando. Ela estava tremendo. De frio? De medo? De exaustão? Talvez de tudo ao mesmo tempo. Quando finalmente a porta se abriu, e ela viu o rosto dele ela soltou o ar em um suspiro trêmulo. "Eu sei que isso é uma péssima ideia," mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa ela continuou "Mas… eu preciso ficar aqui essa noite. Por favor... Eu... Não posso ficar lá."
@khdpontos
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Se precisasse fazer uma lista sobre o que menos gostava em si, o fluxo intenso de pensamentos, sem dúvida, estaria entre os primeiros itens. Era como se sua mente nunca lhe concedesse um momento de silêncio, uma pausa sequer para respirar. Ele passava boa parte do tempo tentando organizar essa avalanche de ideias, buscando um jeito de processá-las sem se sentir sufocado. Mas havia dias—como aquele—em que seus esforços pareciam completamente inúteis. E era justamente por isso que, naquela noite, ele atravessava a Piazza Montaldi, deixando que o murmúrio da cidade e o farfalhar do vento tentassem, ao menos por um instante, silenciar o caos dentro de si.
A princípio ele não havia reconhecido Helena, mas soube se tratar dela no exato momento em que seus olhos avistaram a curva de seu sorriso por trás do livro. "Talvez você devesse considerar isso como algo bom, meus pensamentos nem sempre são bons para serem ouvidos." Seus lábios se curvaram de forma similar conforme os olhos baixaram até a capa do livro. Sem conseguir decifrar, Christopher franziu o cenho. "O que está lendo? Não parece ser nada que eu já tenha lido. E por que as roupas de detetive? Está se escondendo ou observando alguém?"
STARTER TO @christopherd-amato LOCAL: PIAZZA MONTALDI
Naquele dia agradável de sol o som das crianças brincando, da fonte jorrando ou até mesmo o burburinho dos turistas passando não conseguiam distrair Helena Sorrentino. Sentada em baixo de uma árvore se mergulhava em um livro que parecia gostar bastante, a julgar pelo sorriso discreto que iluminava seu rosto. Estava com um disfarce digno de um herói de quadrinho: roupas casuais, um boné e seu óculos de leitura, mas o suficiente para conseguir esconder a identidade e não parecia ser notada pelo olhar dos passantes. A paz do momento era tão boa que ela parecia até uma jovem normal, sem tantas preocupações ou expectativas... "Sabe que precisa falar para eu saber o que tá pensando né?" cantarolou levantando o olhar do livro para Christopher
@khdpontos
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"Aquela... louca, quer que eu roube algo, de outra pessoa. Ou dê um jeito de que essa pessoa aceite um suborno para vender o objeto, o que não torna nada melhor, principalmente porque a aceitação do suborno é algo quase impossível." Impregou o adjetivo louca para não denegrir a si mesmo fazendo uso de palavras de baixo calão para se referir a uma figura feminina cujo a familiaridade com ele era tão baixa quanto a dele e Aaron. Mas pudera, orquestrar um roubo? Que diabos ela estava pensando?
Um suspiro frustrado se fez audível enquanto ele ouvia o outro falar. Podia perceber que a sensação amarga e frustrante não estava restrita a ele, o que, de certa forma, trouxe um pouco de conforto para si. "Não, não faz sentido." Ele concordou, sorvendo um grande gole do líquido escuro para conter um novo suspiro frustrado que ameaçava sair por seus lábios. O café, por sua vez, desceu queimando boa parte de sua garganta, mas o desconforto se mostrou irônicamente bem-vindo naquele momento. "Assim como não faz sentido encarar essa palhaçada com tanta responsabilidade." Ele deixou a xícara sobre a mesa, virando-se levemente para Aaron. "Eu não acredito nessa maldição. Sei que toda a cidade fala sobre ela e o tempo que somos assombrados por essa maldição e bla bla" ele revirou os olhos e passou a mão pelo rosto "mas pra mim isso é mais uma história que inventaram um século atrás pra usar de justificativa comportamentos imbecis." Ele voltou a se ajeitar na cadeira. "A crença pode fazer com que as pessoas vivenciem coisas inexplicáveis. Tem até estudos sobre isso." Ele ergueu os ombros. "Mas me diz, você realmente acredita que isso é real?"
flashback.
Aaron levantou os olhos do próprio café, analisando Christopher com a expressão de quem já estava cansado desse assunto antes mesmo de começar. Girou a xícara sobre o pires, sem pressa, antes de finalmente responder. "Se fosse só maluquice, já seria um avanço," disse, a voz carregada de ironia. "O problema é que é maluquice misturada com grande irresponsabilidade." Blackwell balançou a cabeça, pensando em todo o esforço que teria que fazer, ao lado de Nes, para recuperar um maldito broche. "Não faz nem sentido", resmungou, sem saber bem se para Christopher ou para si mesmo. Tomou um gole do café, deixando o amargor se espalhar na boca antes de continuar. "Sabe o que eu não entendo? É...", deu de ombros, balançando a cabeça, tentando achar as melhores palavras. "Por que você? E por que eu? Por que esse grupo? Não faz sentido. Se eu pudesse passar essa responsabilidade para outra pessoa, passaria sem nem pensar duas vezes".
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