PIctured above, the library borrowing card given by the Bibliothèque National, Paris to Walter Benjamin (born 15 July 1892; died 27 September 1940), who would die before the term of the card expired
‘The book borrower… proves himself to be an inveterate collector of books not so much by the fervor with which he guards his borrowed treasures… as by his failure to read these books.’
—from “Unpacking My Library: A Talk about Book Collecting,” in Illuminations (translated from the German by Harry Zohn)
Benjamin’s advice to writers here
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A impossível experiência da morte é a autorização da literatura, e não existe nenhum escritor preocupado com a sua essência que não esteja, desde sempre, já morto. De outro modo, que teria ele a dizer de importante? Escrever é dizer como se está morto. E isso é o próprio pensamento, que não consiste em espantar-se pelo motivo de que “eu sou”, mas sim em ser agitado pelo motivo de que “eu já não fui”. A morte é algo como o imperativo categórico do pensamento, da literatura. Hegel transformou essa necessidade num sistema. Mas Artaud proferiu-a na mais extrema dor, e isso tem o nome de poesia. (
Philippe Lacoue-Labarthe sobre a condição da morte para a literatura e o pensamento, em Duas paixões.
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Cléber Teixeira
"Tudo, no mundo, existe para ser colocado em um livro", Mallarmé.
Morreu hoje, aos 74 anos de idade, o bibliófilo, fazedor manual de livros e poeta Cléber Teixeira. Uma vida lenta, dedicada, letra por letra, a sua poesia e à literatura de outros tantos. Escreveu para O Estado e Jornal de Santa Catarina. Deixou de legado, obras importantes que editou nos anos da Noa Noa que ainda perduram.
http://issuu.com/culturabarbarie/docs/sopro72
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14 de julho de 2013
"A República de Platão mostra diretamente que os artesãos não têm tempo de fazer outra coisa que seu trabalho: sua ocupação, seu emprego do tempo e as capacidades que desenvolvem lhes impedem aceder a esse suplemento que constitui a atividade política. Pois a política começa precisamente quando esse feito impossível volta à razão, quando esses e essas que não têm tempo de fazer outra coisa que seu trabalho se tomam esse tempo que não possuem para provar que sim, são seres falantes, que participam de um mundo comum, e não são animais furiosos ou doloridos." (Jacques Rancière em Política de la literatura)
"Nunca houve um documento da cultura que não fosse simultaneamente um documento da barbárie. E, assim como o próprio bem cultural que não é isento de barbárie, tampouco o é o processo de transmissão em que foi passado adiante. Por isso, o materialista histórico se desvia desse processo, na medida do possível. Ele considera sua tarefa escovar a história a contrapelo." (Walter Benjamin em Sobre o conceito de história; tese 7)
"A tradição dos oprimidos nos ensina que o "estado de exceção" em que vivemos é a regra. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no século XX “ainda” sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual emana semelhante assombro é insustentável." (Walter Benjamin em Sobre o conceito de história; tese 8)
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O cavalo de Turim, 2011, Béla Tarr.
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Richard Ellmann conta que Joyce nunca quis admitir que sua filha Lucia estava psicótica. Adaptava-se às manias da garota e tentava entendê-la e a seguia durante horas em estranhas conversas nas quais pareciam usar uma língua desconhecida. Animava-a desenhar e a escrever. Mas não podia suportar que Lucia não o reconhecesse e que o insultasse e o chamasse de Mister Shit. Por isso pediu uma entrevista a Carl Jung, que admirava sua obra e que escrevera um artigo exaltando o "Ulisses". Joyce, que nesse momento escrevia "Finnegan's Wake", mostrou-lhe vários textos de Lucia. "Ela usa a linguagem como eu, disse. "Sim", respondeu-lhe Jung, "mas ali onde você nada, ela se afoga".
Ricardo Piglia em O laboratório do escritor.
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É um fato sobre o qual nunca se refletirá o suficiente que nenhuma definição do verso é perfeitamente satisfatória, exceto aquela que assegura a sua identidade em relação à prosa através da possibilidade do enjambement. Nem a quantidade, nem o ritmo, nem o número de sílabas - todos eles elementos que podem também ocorrer na prosa - fornecem, deste ponto de vista, uma distinção suficiente: mas é, sem mais, poesia aquele discurso em que é possível opor um limite métrico a um limite sintático (todo verso em que o enjambement não está efetivamente presente será então um verso com enjambement zero), e prosa aquele discurso no qual isso não é possível. (...) O que há então nele de tão particular, para que lhe seja conferido tal poder na condução do metro do poema? O enjambement exibe uma não coincidência e uma desconexão entre o elemento métrico e o elemento sintático, entre o ritmo sonoro e o sentido, como se, contrariamente a um preconceito muito generalizado, que vê nela o lugar de um encontro, de uma perfeita consonância entre som e sentido, a poesia vivesse, pelo contrário, apenas da sua íntima discórdia.
(2012, p.29-31)
Giorgio Agamben em Ideia da prosa
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serendipity
"- Quando eu leio uma coisa que me deixa tão fria que eu acho que nenhum fogo jamais vai me esquentar, eu sei que é poesia. Quando eu sinto que o topo da minha cabeça foi fisicamente arrancado, eu sei que é poesia."
(Emily Dickson definindo poesia para seu editor, citada por Paulo Henriques Britto)
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"Luanda começou por ser um pobre cais sem majestade cujos armazéns ondulavam na humidade e no calor (...) Negros desfocados no excesso de claridade trémula acocoravam-se em pequenos grupos, observando-nos com a distracção intemporal, ao mesmo tempo aguda e cega, que se encontra nas fotografias que mostram os olhos voltados para dentro de John Coltrane quando sopra no saxofone a sua doce amargura de anjo bêbedo, e eu imaginava adiante dos beiços grossos de cada um daqueles homens um trompete invisível pronto a subir verticalmente no ar denso como as cordas dos faquires."
(Os cus de Judas, Lobo Antunes)
(John Coltrane)
(Elefante se alimentando)
(Chet Baker)
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Eu não sei o que fazer da minha vida
Por isso eu estou triste
E fico vendo tudo em cima da minha cabeça
Em cima do meu corpo
Toda hora me procurando me procurando
E eu já carregada de relação sexual
Já fodida
Botando o mundo inteiro pra gozar e sem gozo nenhum
Stela do Patrocínio, interna do mesmo hospital psiquiátrico de Arthur Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro.
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"Fala para dentro. E poderás circular entre os homens sem que te metam num manicômio."
Escrever, Vergílio Ferreira
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»stufen (steps)« by hermann hesse
listen to hermann hesse reading his poem in german
as every blossom fades
and all youth sinks into old age,
so every life’s design, each flower of wisdom,
attains its prime and cannot last forever.
the heart must submit itself courageously
to life’s call without a hint of grief,
a magic dwells in each beginning,
protecting us, telling us how to live.
high purposed we shall traverse realm on realm,
cleaving to none as to a home,
the world of spirit wishes not to fetter us
but raise us higher, step by step.
scarce in some safe accustomed sphere of life
have we establish a house, then we grow lax;
only he who is ready to journey forth
can throw old habits off.
maybe death’s hour too will send us out new-born
towards undreamed-lands, maybe life’s call to us will never find an end…
courage my heart, take leave and fare thee well!
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Man Ray, Anatomies (1929)
"A dialética da imagem só pode ser uma dialética sem síntese."(Didi-Huberman, La ressemblance informe.)
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(a páscoa, o útero e o ovo)
II.
os churrascos são de marte
e as saladas são de vênus
me dizia uma amiga que os churrascos
cabem aos homens porque são feitos
fora de casa
às mulheres as alfaces
às alfaces as mulheres
que alguém se rebele e diga
pela imediata mudança de hábitos
assar uma carne no forno
seria um paliativo não seria uma solução
que suem as lindas na frente da churrasqueira
e que piquem eles as folhas verdes
IN: FREITAS, Angélica. “Um útero é do tamanho de um punho”.
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(René Magritte, 1948, ilustração para Les Chants de Maldoror)
"É um homem ou uma pedra ou uma árvore que vai começar o quarto canto".
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Having a coke with you, Frank O'Hara
is even more fun than going to San Sebastian, Irún, Hendaye, Biarritz, Bayonne
or being sick to my stomach on the Travesera de Gracia in Barcelona
partly because in your orange shirt you look like a better happier St. Sebastian
partly because of my love for you, partly because of your love for yoghurt
partly because of the fluorescent orange tulips around the birches
partly because of the secrecy our smiles take on before people and statuary
it is hard to believe when I’m with you that there can be anything as still
as solemn as unpleasantly definitive as statuary when right in front of it
in the warm New York 4 o’clock light we are drifting back and forth
between each other like a tree breathing through its spectacles
and the portrait show seems to have no faces in it at all, just paint
you suddenly wonder why in the world anyone ever did them
I look
at you and I would rather look at you than all the portraits in the world
except possibly for the Polish Rider occasionally and anyway it’s in the Frick
which thank heavens you haven’t gone to yet so we can go together the first time
and the fact that you move so beautifully more or less takes care of Futurism
just as at home I never think of the Nude Descending a Staircase or
at a rehearsal a single drawing of Leonardo or Michelangelo that used to wow me
and what good does all the research of the Impressionists do them
when they never got the right person to stand near the tree when the sun sank
or for that matter Marino Marini when he didn’t pick the rider as carefully
as the horse
it seems they were all cheated of some marvellous experience
which is not going to go wasted on me which is why I’m telling you about it
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da pororoca que é Poesia Toda, do Leminski
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