mi voz, entrelazada a tu corona de espinas sólo puede sangrar por tus heridas.
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O mais cruel dos dias começou com uma tempestade.
Era a manhã de seu décimo terceiro aniversário, e ela estava sentada junto a janela da sala, ouvindo Cressida descrever sua última viagem para Arbo. Era comum que a marquesa passasse seus dias na casa de Consuelo, renegando todas as suas atribuições enquanto preenchia as horas de Alma com suas aventuras, dentro e fora de Sarin. A filha mais velha da duquesa era uma exímia contadora de histórias, e a jovem González era o mais fiel dos públicos, sempre disposta a ouvi-la com a atenção. Exceto naquele dia.
Talvez, se tivesse se atentado aos detalhes, poderia ao menos ter se livrado da culpa. Poderia ter antecipado. Poderia ter evitado. Mas aquele era seu décimo terceiro aniversário, e para as mulheres González isso significava apenas uma coisa: Era o ciclo no qual o rumo de suas vidas era profetizado. Como uma enfermidade passageira poderia ser tão importante quanto a profecia que guiaria sua existência?. A ansiedade era tamanha que Alma mal conseguiu se atentar a meia dúzia de palavras, e Cressida - acostumada a ter a atenção toda para si - não se conteve em esperar a tempestade passar para voltar a propriedade dos Hemlock.
Embora seus dons da jovem vidente não fossem notáveis, a despedida lhe deixou com a pior das sensações. Como se o mundo estivesse prestes a acabar e nada pudesse ser feito para impedir, e se teve alguma esperança de que a sensação desapareceria, estava muito enganada. Mas aquele ainda era seu décimo terceiro aniversário, e havia uma profecia a ser realizada.
Uma profecia que veio cedo demais, sem qualquer preparo ou apresentação grandiosa. As palavras foram ditas sobre seu ombro enquanto observava a chuva torrencial engolir a figura de Cressida. Sem versos ou rimas, e sem qualquer comemoração. Não que as profecias tenham sido grandiosas para as outras, mas de Alma não era apenas normal. Era cruel.
O amor e a morte andam lado a lado com você. Consuelo explicou após ver a confusão de Alma diante das palavras pronunciadas. Seu coração jamais deve abrir as portas para forasteiros, mi cariño. Onde seu amor fizer morada, a morte o acompanhará. E embora houvesse muito a ser pensado, tudo que sua mente foi capaz de constatar era que seu coração sempre esteve de portas abertas, mesmo que com a mais inocente das intenções.
Com o passar dos dias, Alma descobriu que nenhuma reza a livraria de seu destino. A confirmação se dando através do anúncio da Duquesa de que sua filha mais velha havia falecido prematuramente, acometida por uma terrível doença imunológica. Não foi difícil para ela ligar os pontos: a pior das crises havia acontecido após a tempestade. Cressida havia lhe contado sobre a piora, mas Alma estava tão absorta no próprio drama - e com tanto medo do destino de Cressida - que não a visitou uma única vez.
Mais tarde ela se recordaria de seu último abraço com tristeza, e da sensação que ele lhe trouxe com temor, mas principalmente... Se recordaria de que a morte de Cressida não foi o fim de seu martírio, foi apenas o início dele. Porque a profecia dos treze era uma profecia para a vida, e o destino de Alma carregava apenas solidão.
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