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O ouro na África
 Durante o século VIII, e seguintes, houve um esboço de crescimento econômico contínuo, muito em razão do afluxo de metais preciosos nas regiões centrais do Oriente Próximo. Os primeiros dinares de ouro foram cunhados ao final do século VII pelos omíadas, eles circulavam essencialmente nas antigas províncias bizantinas. Durante o século IX a oferta do metal deturpa o sistema econômico e leva moedas douradas para regiões onde até então só se usava prata como importância. 
 A mineração de ouro é uma das mais antigas e importantes indústrias na região da África Ocidental. Cronistas árabes do século oito já nos davam detalhes sobre a produção aurífera dessa sub-região. A indústria do ouro foi pilar fundamental dos impérios ancestrais que se consolidaram na região, como Gana, Mali e Songhai. Ironicamente a atração por esse ofício acabou sendo a causa primária da queda desses impérios.
 O ouro ganhou reputação de ser abundante na região e as formas de extração não ganharam muito detalhamento, infelizmente. Ele podia ser literalmente catado no chão, assim como nos leitos de rios. Talvez tenha sido esse o motivo para a pouca importância dada para formas de extração nesse primeiro momento, gerando poucas informações sobre esse processo nos seus anos iniciais. A fabulosa abundância do recurso e a facilidade para sua obtenção levaram a esse território a possibilidade da criação de grandes impérios e poderosos estados.
 A mineração de ouro tem uma longa história na África, sendo o continente o maior produtor mundial e dono de cerca de 30% da reserva mundial. Gana é o segundo maior produtor de ouro da África, atrás apenas da África do Sul. Conhecida como “Costa do Ouro” durante o domínio colonial britânico, o país é ricamente dotado desse metal precioso. O enorme interesse europeu pelo ouro de Gana, entre outros recursos naturais, culminou na colonização do território pelas potências imperiais britânicas no século XIX.
 Muitos historiadores contemporâneos buscam fazer conexões entre a mineração introduzida nas Américas com a praticada em África, antecessora. O ganês Emmanuel Ofosu-Mensah é um deles, em seu artigo “Mining in Ghana and its connections with mining in the Brazilian diaspora” ele trata sobre a disseminação de técnicas Asantes para extração de ouro, que teriam sido levadas pelos escravizados provenientes de Abuasi, hoje no território de Gana.
 ● Os escravos africanos de Obuasi ensinaram os brasileiros a garimpar ouro em córregos e rios no Brasil. 
● As técnicas de mineração de ouro na região aurífera dos Asantes, em Gana, eram amplamente difundidas em Minas Gerais.
 ● Os escravos africanos introduziram aos portugueses e brasileiros um processo de amálgama diferente, mais eficiente, do método europeu.
 ● A mineração ainda é a principal atividade econômica em Obuasi e Sabará.
 A transferência de tecnologia e conhecimento, ocorrendo mesmo que indiretamente, foram um dos efeitos do tráfico transatlântico de escravizados. Essa longa tradição africana na extração do ouro ajudou a transformar comunidades fora da África e essas interações trouxeram afinidades entre os povos de Gana e Brasil.
 Referencias: 
OFOSU-MENSAH, Emmanuel. Mining in Ghana and its connections with mining in the Brazilian diaspora. Elsevier, 2017.
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Situação Brasileira
Nos dois primeiros séculos de colonização no Brasil, a economia local era basicamente baseada no plantation (tipo de sistema agrícola que utilizava da mão de obra escrava) com um grande foco no cultivo da cana-de-açúcar. Acontece que, diferentemente dos espanhóis que encontravam outras fontes de riqueza com menor dificuldade, tais como os metais preciosos (outro, prata e etc.), aqui no Brasil apenas com a entrada ao interior do território nacional, no século XVII, que passamos a obter estes mesmos tipos de lucro. 
Para que estas expedições acontecessem foram necessárias as Entradas e Bandeiras, que eram tropas armadas saídas de São Paulo em direção ao sertão, com objetivo não apenas de encontrar metais preciosos como também prender indios e acabar com possíveis quilombos. 
Foi então, em uma destas expedições que, em 1696, foram encontradas jazidas de ouro nas montanhas de Minas Gerais, dando assim Inicio a exploração no Vale do Ouro Preto.
 A exploração de minérios em Minas Gerais, já com avançados procedimentos tais como escavação de encostas, ventilação e drenagem, acabou por atrair muita atenção de Portugueses e outras pessoas da colonia que desejavam enriquecer. Com isto houve um grande fluxo migratório no século XVII.
 Por conta do grande numero de pessoas que migraram, a densidade populacional da região aumentou muito e aumentaria mais ainda com a incessante chegada de escravos que compunham a base da sociedade mineradora como mão de obra.
Referência: FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. p. 89.
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Essa imagem feita por John Mawe, um mineralogista britânico, mostra os capatazes responsáveis pelos mineradores de diamantes nas Minas Gerais 
Referências: 
"Diamond Washing, Minas Gerais, Brazil, 1812 ", Slavery Images: A Visual Record of the African Slave Trade and Slave Life in the Early African Diaspora, accessed September 24, 2020, http://www.slaveryimages.org/s/slaveryimages/item/904
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Essa imagem feita por Alcide d’Orbigny, paleontólogo francês que viajou pelas américas fazendo gravuras de situações de mineiração como seu trabalho, ilustra a mineiração por diamantes num rio em Minas Gerais, e também descreve como eram as recompensas por achados e as punições severas por roubos.
Referência:
"River Mining of Diamonds, Minas Gerais, Brazil, 1826", Slavery Images: A Visual Record of the African Slave Trade and Slave Life in the Early African Diaspora, accessed September 24, 2020, http://www.slaveryimages.org/s/slaveryimages/item/920
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Clarificação: a imagem acima é uma representação da quebra de rocha, sendo que essa imagem foi feita por Carlos Juliao, um soldado e artista luso-italiano que passou anos no Brasil e cometeu ao papel várias iluminuras sobre a vida de negros e indígenas, além de cidades que viu em suas viagens como soldado.
Conforme afirma Chirikure(2015), africanos haviam técnicas de mineração que envolviam o uso de ferramentas simples como enxadas, picaretas e pás, e quando se encontravam pedras duras demais para apenas as ferramentas poder quebrar-las, ateavam fogo em cima delas para esquentar a pedra e então se jogava água para esfriar a pedra, deixando ela mais quebradiça, possibilitando a continuação da mineiração.
Após a esgotação do minério fácil na superfície, os africanos utilizaram de técnicas de mineiração verticais ou horizontais, seguindo as veias de metais seja de ouro, cobre, ferro ou estanho, faziam minas abertas para explorar o máximo possível dos minérios. No entanto, essas minas abertas não seriam propensas para veias longas horizontais.
Nesse caso se usaria das técnicas de minas fechadas, que seriam formadas quando as minas abertas atingissem uma certa profundidade e as veias de minérios começassem a expandir em várias direções, criando vários bolsos e caminhos nas minas.
Essas técnicas de minas deixaram rastros que são encontrados até hoje, embora os depósitos novamente começaram a ser explorados na modernidade e assim se perdeu alguns sítios arqueológicos que poderiam ser feitos nessas minas antigas.
Referência:
"Diamond Mining, Serro Frio, Brazil, ca. 1770s", Slavery Images: A Visual Record of the African Slave Trade and Slave Life in the Early African Diaspora, accessed September 24, 2020, http://www.slaveryimages.org/s/slaveryimages/item/874
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“Bateia (garimp.): Bacia de ferro ou madeira em formato cônico e de distintos tamanhos, usada no processo de apuração de metais pesados, como o ouro.” (GOMIDE,2018) 
Ferramenta básica para a extração de minérios, a bateia já era usada por muitos povos em África e é incorporada ao cenário colonial brasileiro para assim servir como instrumento de trabalho para milhares de africanos escravizados na região das Minas Gerais dezoitista.
 Segundo Eduardo França Paiva, em seu artigo “BATEIAS, CAMBURES, TABULEIROS, MINERAÇÃO AFRICANA E MESTIÇAGEM NO NOVO MUNDO” as técnicas mineratórias coloniais portuguesas tiveram uma mudança significativa após a inserção dos africanos escravizados provenientes da Costa da Mina.
 “No início dos trabalhos de mineração do ouro, dos diamantes e das pedras preciosas, no século XVIII, segundo relatos de viajantes e de técnicos que visitaram o Brasil no século posterior, eram usados pratos de estanho, nos rios e córregos, para separar-se areia e seixos do material precioso. Não demorou muito e o instrumento foi considerado pouco adequado ao bom desempenho das atividades. Escravos(as) africanos(as) teriam, então, introduzido gamelas feitas com madeira específica, resistente ao sol e à água, para separar o ouro e os diamantes do material indesejado. Além do tipo de madeira e da técnica de manipulação das gamelas, esses homens e mulheres introduziram, ainda, práticas associadas que facilitavam o trabalho.” (PAIVA,2012)
 O Barão Wilhelm Ludwig von ESCHWEGE, que esteve no Brasil entre 1810 e 1821 relata sobre o aperfeiçoamento das técnicas extrativistas em razão do conhecimento vindo dos escravizados.
 “Somente mais tarde, aprendendo com a prática, principalmente depois da introdução dos primeiros escravos africanos, que já na sua pátria se tinha ocupado com lavagem do ouro, e de cuja experiência o natural espírito inventivo e esclarecido dos portugueses e brasileiros logo tirou proveito, foi que os mineiros aperfeiçoaram esses processos de extração. Deve-se principalmente ao negros a adoção das bateias de madeira, redondas e de pouco fundo, de dois a três palmos de diâmetro, que permitem a separação rápida do ouro da terra, quando o cascalho é bastante rico. A eles se devem, também, as chamadas canoas, nas quais se estende um couro peludo de boi, ou uma flanela, cuja função é reter o ouro, que se apura depois em Bateias.” (PAIVA,2012)
 Dessa maneira podemos compreender o uso dessas ferramentas dentro daquele contexto e a importância dessa mão de obra especializada proveniente de África, peça chave dentro do cenário colonial da mineração e como o seu conhecimento trazido de experiências passadas em sua terra natal pode contribuir para o sucesso do empreendimento das minas em território lusitano.
 Referencias: 
GOMIDE, Caroline Siqueira ...et al (Orgs). DICIONÁRIO CRÍTICO DE MINERAÇÃO. Marabá: iGuana, 2018. 
PAIVA, Eduardo França. Bateias, carumbés, tabuleiros: mineração africana e mestiçagem no Novo Mundo. In: PAIVA, Eduardo França & ANASTASIA, Carla Maria Junho. (orgs.) O TRABALHO MESTIÇO; MANEIRAS DE PENSAR E FORMAS DE VIVER - SÉCULOS XVI A XIX. São Paulo/Belo Horizonte: Annablume/PPGH-UFMG, 2002.
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Apesar de nunca ter saído da Holanda, Olfert Dapper nos traz sua visão baseada em relatos produzidos por jesuítas e exploradores conterrâneos. Dapper, que é cientista e escritor, publica seu livro Descrição da África em 1668, obra que é de extrema valia até hoje para os estudos sobre o continente, com descrições que vão desde povos e nações, até animais e plantas. 
Na gravura “Negros lavando ouro em um rio”, Dapper nos traz o mineradores africanos do século XVII em um garimpo, apresentando suas técnicas e conhecimentos sobre a extração. É pouco provável que tenha sido efetivamente testemunhada por um europeu tal cena, tendo em vista o alto controle que os estados africanos tinham com suas áreas de exploração mineral, a mínima penetração, continente adentro, dos europeus nesse período, se restringia ao comércio na costa e regiões litorâneas.
 Na imagem aparece a extração do ouro de aluvião, onde os trabalhadores descem até essa camada de sedimentos para recolher o material que vai ser posteriormente separado dentro das panelas, na margem. Interessante pontuar o aparecimento de uma pessoa melhor vestida ao centro, como que supervisionando os demais, talvez escravos, podendo ser esse talvez um representante do poder estatal.
 “A panela usada era normalmente um recipiente de fundo plano com uma boca larga, e uma mistura de areia com ouro ou cascalho e água girava dentro dele. Usando uma ação de rotação e inclinação, o garimpeiro separa gradualmente os materiais mais leves, como a areia e o grão, do ouro mais pesado. Esses materiais são despejados na borda da panela e, em cada estágio, a mistura restante é transferida para panelas cada vez menores à medida que o processo de separação continua. Normalmente, um garimpeiro tinha um conjunto de quatro ou seis dessas tigelas de madeira de tamanhos graduados variando de cerca de 60 cm a 15 cm de diâmetro.” (AYENSU, 1997)
 O doutor ganês Edward Solomun Ayensu, especializado em Ciências Biológicas, nos dá uma breve descrição da técnica usada pelos povos Ashantis na exploração do ouro em seus territórios, essa mesma forma de extração será vista em outras partes do mundo posteriormente.
 Na colônia portuguesa das Américas essa panela levará o nome de batéia e será encontrada em diversos relatos e imagens, registrados principalmente no século XVIII na região das Minas Gerais. 
Referências: 
http://www.manuherbstein.com/menu5/gold.htm, acessado em 03/09/2020, às 10h45min.
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Conclusão
Esperamos que as conversas introduzidas por esse blog tenham sido de proveito para todos, e que o conhecimento que aqui apresentamos possa explicar o por que da importância de reconhecermos de onde vêm as tecnologias que deixam-nos levar as vidas que levamos.
Grande parte das tecnologias que tomamos como garantido vem de civilizações que não recebem o reconhecimento que merecem, e esperamos que talvez um dia possamos poder mostrar gratidão para ancestrais que nos deram tanto e receberam tão pouco.
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Introdução
Bom dia, boa tarde ou boa noite! Nesse blog apresentaremos imagens importantes para o ensino sobre a mineiração que ocorreu no Brasil e como africanos construíram os métodos utilizados aqui.
Conforme somos ensinados na escola, sabemos que foram os escravos que fizeram a garimpação por ouro no Brasil. Esses trouxeram para o Brasil Colonial Técnicas africanas de exploração mineral.
No decorrer da lição, esperamos sua participação seja na frente do computador ou na sala de aula, para interpretarmos juntos as imagens apresentadas e poder achar o por que da importância de tal atividade, pensando em um contexto de relações raciais que se extende centenas de anos e afeta nós até hoje.
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