❝ And we fall together In M E S S Y piles upon the floor But we're made of feathers Delicate and vulnerable Scared to fly and scared to F A L L❞
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thegodschosen:
Com as mãos cruzadas sobre a mesa, esperou pela resposta da mulher enquanto analisava cuidadosamente as mudanças mais tênues em seu semblante. Tomaria aquele momento como uma oportunidade para tentar aprender a ler um pouco melhor seu rosto, se possível. Os homens ao seu redor continuavam inquietos; não era necessário desviar o olhar para sentir as miradas que queimavam sua pele, inquisitivas, como se ele pudesse oferecer qualquer veredito para o assunto antes de que Maeve se pronunciasse. Faryan, porém, não tinha pressa. Possuía completa ciência do que acabara de propor e respeitava o tempo que ela necessitasse para ponderar sobre o assunto.
Então, a resposta. Faryan ergueu os lábios sutilmente em um sorriso educado enquanto assentia, desconsiderando as novas cortesias sempre tão vazias. Então, silêncio. Silêncio que encobriu o salão de repente, como uma respiração detida. Insolência? Ah, sim, muitos decerto veriam similar desafio daquela forma. Era uma pergunta corajosa, havia de reconhecer. Não só, mas inteligente. Quiçá houvesse subestimado a mulher como política, não? No entanto, não tomava aquilo como ofensa, nem a reprimiria. Poderia simplesmente afirmar o óbvio: ela não tinha escolha. Poderia buscar por apoio de outros líderes, mas, se alguém optasse por acolhê-la e ouvi-la, nenhum estaria tão preparado como Hidayat. Maeve deveria ter plena ciência daquilo ╾ mas, por isso mesmo, por que reforçá-lo? Seria melhor apresentar-lhe as vantagens, apresentar seu império como um aliado.
╾ Acredito que está fazendo as perguntas corretas ╾ reconheceu. ╾ Não obstante, eu a asseguro de que a política de Hidayat não é, de maneira alguma, comparável à de Verania. Pelas informações que me passa, seu reino foi devastado, pilhado e anexado pelo exército veranês. Não é nossa intenção. Abrimo-nos respeitavelmente a negociações quanto à posição de Galedda após uma possível vitória: se será declarada província, reino vassalo ou protetorado dependerá também de seu aval, Vossa Alteza. No entanto, garanto-lhe que buscamos somente acordos diplomáticos e econômicos. Galedda permanecerá intacta, com suas práticas e suas culturas, e Vossa Alteza tomará seu posto como soberana do local. Sem dúvida, esperaríamos colaboração de sua parte para com Hidayat, mas prometo-lhe que não permitirei forma alguma de opressão. Além de quê, podem contar com a proteção permanente do império. A meu ver, é um acordo mutualmente benéfico.
Maeve temia que se clima que se instalara no aposento fosse um pouco maior, ela conseguiria cortá-lo com uma faca cega. Sentia como se cada ranger de cadeiras e tintalhar dos cálices desejassem tirar sua concentração e a sensação do vestido estrangeiro contra sua pele era parecida com areia, até mesmo a infinitude de cheiros que ela nunca sentira que se misturavam em um caos de perfumes e incensos que deixavam seu nariz ardendo. Pensava se mais uma pessoa além dela e Ciáran também quisesse sair andando pela porta.
Afastando fantasias de ter um banho normal e dormir em uma cama normal, Maeve afastou os olhos do rosto de sua majestade para encarar o cálice de vinho que estava a frente de si. Precisava de alguns segundos para pensar em palavras diplomáticas e algo mais complexo que um “não”. Erguendo o cálice como se estivesse apreciando o trabalho do artesão, Maeve tomou bebeu uma parte do líquido e apesar de não ter feito uma careta, ela mesma havia percebido que sua mão tinha tremido um pouco mais do que o normal. Não podia ficar sensível e perder o controle de suas emoções ou acabaria cometendo um erro que custaria a vida um reino.
╾ Obviamente haveria a abertura de negociações caso Hidayat se propusesse formalmente a defender Galedda do exército veranês e eu posso prometer acesso facilitado ao rio Alyth. ╾ com a voz levemente rouca que foi rapidamente e vergonhosamente corrigida com uma rápida e discreta tossida, Maeve teve que virar novamente o rosto para fitar a face do imperador, algo que ela estava rapidamente aprendendo a desgostar, sabendo que cada reação sua seria analisada. Ela não era uma pessoa, mas sim um objeto que poderia trazer oportunidades. ╾ Porém, eu não considero sábio colocar tais condições em um reino que irá ter sido invadido e salvo sem antes esperar um período de tempo para que haja oportunidade de organização e ordem serem instauradas. ╾ fazendo uma pausa tanto para controlar o nervosismo que aumentava a cada palavra quanto para trazer firmeza na voz, Maeve continuou. ╾ Já se tratando de Alyth, não vejo razão para que isentar Hidayat das taxas para ter acesso à suas costas quando os próprios cidadãos de Galedda pagam para ter o mesmo benefício. Uma considerável diminuição das taxa análoga com a de um cidadão nascido em Galedda é uma alternativa que agradaria Vossa Majestade Imperial?
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thegodschosen:
Mais uma vez era recordado da prevalência das cortesias vagas na corte. As palavras tão deslocadas dificilmente seriam genuínas, em vez disso denotando uma temerosidade com a qual se acostumara vinda de seus súditos. Maeve parecia-lhe tão vulnerável que facilmente poderia esquecer que, dadas as circunstâncias corretas, ela poderia agora ser a governante do país vizinho. No entanto, Faryan não fez mais do que assentir. Podia dar o assunto referente aos rumores como encerrado.
Permitiu que os cantos dos lábios se erguessem em um simulacro débil de um sorriso compassivo. Era verdade, Galedda havia tempos estava em uma posição frágil e ele tinha ciência da situação. Independência e autossuficiência eram conquistas invejáveis para muitas nações, mas mantê-las sem um exército preparado era impossível sem alianças. Mesmo conquistar novos territórios era tarefa difícil para alguém que não tivesse disposição à diplomacia, Faryan aprendera, e Galedda era um território que poderia facilmente passar despercebido em seu tamanho, mas não era isento de atrativos. Era uma região a se cobiçar.
Os motivos logo foram verbalizados pela própria princesa. Notou movimentos em sua visão periférica, fazendo-o varrer as cadeiras a seus lados com o olhar. Sobretudo os comerciantes de seu Conselho estavam inquietos, trocando miradas igualmente ambiciosas e curiosas. O rio Alyth. Claro, que nação com comerciantes não se interessaria pelo mesmo? Era uma rota formidável para mercadorias, abrindo ainda caminho para o mar, mas, para ter acesso aos trechos dele dentro dos territórios de Galedda, era necessário pagar impostos. Ter acesso livre a ele significaria ter um fluxo comercial livre de barreiras, ao menos por uma extensão. Como ele próprio poderia negligenciar algo assim? Seus homens permaneceriam em polvorosa até o fim daquela negociação.
╾ O rio Alyth, é claro ╾ conservou o tom neutro e objetivo. ╾ Necessitaremos que seu ceridwen depois nos revele todas as informações possíveis sobre o aparato militar e dos pontos estratégicos de Galedda ╾ ergueu os olhos brevemente para o homem atrás de Maeve, perguntando se ele também não se sentaria. Então, lembrou-se do dever que ele possuía para com ela. ╾ No entanto, permaneçamos em questões civis por ora. Acesso ao rio Alyth sem barreiras alfandegárias é de grande interesse ao império. Em realidade, a possibilidade de livre comércio entre Hidayat e Galedda seria vantajosa para ambos, mas proporia ainda que os hidayati pudessem usar livremente das rotas do Alyth também ╾ ouviu murmúrios de satisfação a seu lado. ╾ Um acordo similar seria possível?
Sentindo a garganta seca devido a pressão que sentia em sua nuca que era apenas uma consequência de seu nervosismo que aumentava cada vez mais. Maeve não era tola em não perceber que havia sido afastada de políticas e afazeres de um futuro monarca por um mero erro de seu padrasto. Seu conhecimento sobre políticas e afins eram teóricos e se limitavam apenas o que seu tutor havia lhe ensinado sobre as ordens secretas de sua mãe.
Palavras doces e repletas de uma cordialidade vazia eram algo que ela sabia fazer com maestria, afinal, Maeve fora criada para ser apenas uma decoração e não uma rainha. Ver os homens ao seu redor tão nobres e ricos transformando-se em cães apenas com a menção de algo valioso lhe fazia lembrar dos tempos em que era convidada para a corte de seu padrasto e era admirada como um pedaço de carne da realeza. Observar Galedda transformando-se num mero pedaço de alimento para ser dado para aquele que oferecesse o melhor truque foi capaz de fazer sua máscara de submissão quebrar por míseros segundos.
Claro que Maeve, sendo uma criatura dualista e contraditória, também sentiu medo por debaixo do asco e raiva. Um medo que lhe fez rapidamente criar um cenário onde ela poderia simplesmente entrar nos aposentos que lhe foram dados e enrolar-se numa das capas de Cíaran que ainda tinham o cheiro de casa. Talvez ela estivesse tremendo naquele momento, Maeve não teria como saber já que seus olhos estavam fixamente pousados na face de uma salvação que poderia vir numa gaiola dourada.
╾ Vossa Majestade me parece ser extremamente sábio. ╾ começou com um sorriso rígido como aço e uma voz trêmula de tanta raiva quanto medo. ╾ Verania claramente invadiu minhas terras na busca das mesmas vantagens sobre o meu povo. ╾ com marcas de meia lua vermelhas nas costas da mão que segurava sobre o colo, Maeve gelou sua voz ao ponto que até ela pôde sentir Cíaran claramente enrije-ser pronto para uma luta. ╾ Seria extrema insolência de minha parte indagar sobre quais seriam as diferenças meu povo sentiria sob a conquista de Hidayat ou Verania?
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thegodschosen:
Os olhos claros estreitaram-se ante novas palavras do guardião que permaneciam sem tradução; daquela vez, porém, tais palavras pareciam carregar uma dureza que não deixava de levantar suspeitas. Quiçá ele estivesse meramente aconselhando-a, o que era de seu direito, e, de qualquer forma, não podia culpá-lo por desconfianças e aversões direcionadas a um grupo de pessoas que nunca vira antes. Dificilmente respeitaria um guerreiro que adotasse postura diferente. Ainda assim, sua própria natureza era igualmente suspeitosa e pouco sabia quanto a quais venenos escondiam-se na língua daquele homem que simbolizava mais ameaça física para si do que Maeve jamais poderia. Ora, quem haveria de jurar por suas intenções, seus planos? Ademais, Faryan nunca gostara de ser mantido na ignorância do que quer que fosse, muito embora houvesse aprendido a lidar com tal inescapável situação pelo bem de seu império. De qualquer maneira, eles não tinham escolha que não colaborar, disse a si mesmo; se não com Hidayat, então com outro império, dificilmente tão capacitado. Era a verdade; desafortunada, mas a verdade.
A seu lado, o aristocrata Davud iniciou uma pergunta murmurada. Faryan deu-lhe um breve aceno de mão em sinal para que se detivesse e esperasse. Paciência, decerto uma virtude rara. No entanto, logo a voz feminina da princesa voltou a fazer-se ouvir e seu Conselho caiu no silêncio. Faryan assentiu em acordo com ela; ao menos a hesitação em aceitar quaisquer rumores denunciava bom-senso e cautela em lugar de qualquer pânico irracional. ╾ Uma medida sábia, sem dúvida ╾ o tom era, ao mesmo tempo, aprovador e reflexivo. ╾ Os rumores poderiam ser úteis, mas somente até certa extensão ╾ já não saberia dizer a quem falava, exatamente, ou se apenas pensava em voz alta. Era verdade que boatos tendiam a pautar-se em certa verdade, mas tendiam a distorcê-la e aumentá-la gravemente, e de que utilidade seriam se era impossível dizer onde uma acabava e o outro começava?
A concordância de Maeve surpreendeu-o por sua vagueza. Talvez ela ainda se aferrasse a formalidades cuja suspota necessidade Faryan esquecia. Endireitou-se em sua cadeira e fez um gesto indicando aquelas que restavam logo em frente a ele. ╾ Por favor, sentem-se ╾ orientou. Agora, aquilo tomaria o corpo de uma reunião de verdade. ╾ Precisamos saber quais seus planos para o futuro, se e como pretende tomar novamente seu território. Conhecemos as táticas de Verania, mas ninguém conhece o território de Galedda como os senhores. Também é de nosso interesse, é claro, saber o que estão dispostos a oferecer em retorno.
Sentindo a costumeira sensação de calafrios que subiam por sua coluna e pequenos dedos frios que comprimiam seus pulmões ao observar os olhos gelados do imperador estreitarem-se de desconfiança. A reação de Cíaran fora completamente oposta da sua que seria sorrir meigamente e esgueirar-se quietamente para o conforto de suas câmaras, ela não fora tola em não perceber a sutil aproximação de seu guardião.
Pelo menos ela tinha recebido a incontestável prova que o imperador de Hidayat não era nenhum tolo e tal pensamento a fizera indagar para onde o pêndulo de sua moralidade permanecia. Do que adiantaria, ela salvar Galedda de um invasor para jogar seu reino nas garras de um império?
Maeve não estava acostumada com os vários olhares sentados naquelas cadeiras, a sensação era de que cada ação e palavras trouxessem consequências que ela não poderia saber se seriam boas ou não. A única maneira de não se abater era focar seus olhos no homem diante de si e era bem provável que essa decisão fora um erro por Maeve ter impressão que o imperador era capaz de ler suas intenções e emoções melhor do que qualquer um naquela sala exceto Cíaran.
╾ Alegra meu coração em ouvir tais palavras, vossa majestade. ╾ aceitou o elogio enquanto tentava não contorcer o próprio rosto ao perceber como as suas palavras saíram com conotação totalmente errada. ╾ Isso se eles pudessem possuir qualquer utilidade. ╾ inclinando o rosto para baixo em sinal de concordância, Maeve decidiu manter em segredo que os rumores que ouvira eram extremamente desencorajadores no mínimo.
Ao ouvir as palavras do imperador, Maeve não pôde deixar de sentir uma estranha mistura de alívio de vê-lo sendo direto, ela não estava acostumada com a vida numa corte. Andando e colocando toda graça possível em seus movimentos com medo que seu nervosismo não fosse aparente, Maeve sentou na cadeira que Cíaran afastara. Ela também não pôde evitar de ficar feliz em saber que não teria que sentar no chão novamente.
╾ Em momentos como esse, eu não posso deixar de pensar o quanto a insistente isolação de Galedda acabou sendo mais prejudicial do que benéfica. ╾ com a presença reconfortante de Cíaran atrás de sua cadeira, Maeve sentiu a rigidez séria de seu rosto dar lugar a um dos sorrisos que ela aprendera a dar nos raros momentos que ela era permitida ter voz. ╾ Enquanto eu mesma não possuo grande conhecimento militar, meu ceridwen ficaria mais do que feliz em compartilhar seus próprios conhecimentos sobre o assunto. Galedda floresceu numa terra que oferece tanto fertilidade quanto boas posições estratégicas, porém, o objeto geográfico mais interessante de Galedda seria o rio Alyth.
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thegodschosen:
A voz masculina do exótico guardião se fez ouvir, um eco alto no profundo silêncio que se apossara do local, e Faryan esperou pela tradução encargada a Maeve. Ela nunca veio. De fato, o mesmo silêncio repetiu-se com uma frequência quase incômoda, deixando comentários se esvaírem para a eterna ignorância naquela língua estranha ╾ ou era o que lhe parecia, ao menos, dentro de seu conhecimento limitado da estrutura do idioma. Em seu lugar, os lábios da princesa estremeciam e ela os cobria como se tivesse tentando conter algo. Não parecia ser lágrimas, porém, ao contrário do que se poderia esperar da retomada de um evento que antes a deixara tão fragilizada.
A certa altura, em observar a dinâmica alheia, Faryan arqueou as sobrancelhas, um gesto ao mesmo tempo questionar e repreensivo. Tomavam aquilo como uma piada? No entanto, abdicou de qualquer expressão verbal de descontentamento. Supunha que Maeve estivesse lhe relatando tudo que fosse de qualquer importância real; era do interesse dela também, afinal, e ela sem dúvida possuía ciência daquilo. Então, focou-se apenas em anotar o que ela optava por lhe traduzir, o ruído da pena a escorrer com rapidez no papel o único a ser ouvido além das vozes dos asilados. Quando essas se findaram, Faryan permaneceu a encará-los, olhos claros penetrantes em espera de algo mais. Então, estavam terminados, concluiu.
Esquadrinhou rapidamente suas próprias anotações antes de se endireitar em sua cadeira e erguer a cabeça. ╾ Isso é tudo? ╾ ainda cuidou de indagar. ╾ Por acaso receberam qualquer notícia ou ouviram qualquer rumor do estado de suas terras desde sua fuga? Ou têm qualquer conhecido com quem estabelecer contato seria possivelmente exequível? ╾ eram perguntas vazias, pleonásticas, ele sabia. A resposta mais provável estava clara. Contudo, havia de averiguar qualquer mínima possibilidade; deixar qualquer uma escapar não era uma opção. ╾ Acrescento também que qualquer pedido ou exigência no que tange a sua estadia aqui ou a qualquer auxílio por parte de Hidayat pode e deve ser feito aqui. Caso nada seja acordado, nós tomaremos a liberdade de agir segundo os interesses do império nessa questão.
Tendo os olhos do imperador sobre si, Maeve sentiu seu corpo gelar. As sobrancelhas arqueadas eram um lembrete que ela não estava entre amigos. Cíaran havia tentado ajudá-la com as piadas, porém ela não estava mais na presença reconfortante dos jardins e alas de sua mãe. As laranjeiras que eram as únicas árvores que ela conseguia escalar com a ajuda de Cíaran haviam sido queimadas, as oliveiras que sua mãe passara tanto tempo cuidando haviam servido como sinal que o palácio fora conquistado.
Retornando rapidamente ao ouvir o som das palavras do imperador, Maeve ainda não estava acostumada com aquela língua estrangeira e acabou não entendendo algumas palavras. Substituindo sua expressão atual por uma diplomática e séria, Maeve percebeu que havia sido óbvia sobre seus pensamentos dolorosos de seu lar.
╾ Dizem que ele matou o próprio irmão pelo trono, minha senhora. ╾ as palavras de Cíaran soaram frias o suficiente para Maeve ter de lutar contra um arrepio que se esgueirava em suas costas como uma serpente. Ela não precisou olhar a expressão de Cíaran para saber que ele considerava o imperador uma ameaça. Os olhos frios e sérios, ela era capaz de ver os pensamentos, as vantagens e desvantagens, aquele homem a estava analisando desde o momento que se colocara em sua presença. ╾ A rainha mãe iria me exilar por permitir que a sua criança tivesse de mendigar como ratos com um fratricida. ╾ sentindo o sangue esvair-se de seu rosto devido as palavras perigosas de Cíaran, Maeve percebeu que as palavras de Cíaran não eram menos verdadeiras apenas por terem sido ditas em tons maldosos. Era do costume dos homens vestir uma armadura de hostilidade assim como animais quando feridos.
╾ Não, majestade imperial, nada além dos típicos rumores de refugiados e mercantes. Mesmo que eu pudesse repetir todos estes, não acho possível saber diferenciar palavras verdadeiras de mentiras nos tempos atuais. Assim, uma medida que eu considero razoável é receber todas com suspeita e cautela. ╾ as palavras surgiram da sua boca impulsivamente, ela não estava em nenhuma posição de dizer ameaças e avisos. Sua posição era inegavelmente como as palavras de Cíaran, ela era uma rata pedindo esmolas para felinos. ╾ Obviamente, majestade, é o meu profundo desejo que ambos possamos concordar em um acordo que favoreça e recompense ambos os reinos
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hailtheemperor:
Paciência era uma dádiva, diziam. Em momentos como aquele, Faryan começava a questionar se teria sido agraciada com ela ou não. Já enfrentara diversas perguntas sobre os mais recentes hóspedes do palácio, muitas repetidas à exaustão, mas, naquele dia em particular, a curiosidade dos membros de seu Conselho parecia ter entrado em um alvoroço impossível de acalmar. Lembrava-os de novo e de novo que as questões mais essenciais seriam respondidas ali, dentro de pouco tempo. Então, decisões de peso similar poderiam ser tomadas. Era o preço a pagar por haver tomado uma decisão sem consultá-los previamente, ele supunha, ainda que a mesma não houvesse em nada afetado os negócios do Estado. Não de maneira que não fosse facilmente irreparável, ao menos.
Eventualmente, conseguiu silenciar o salão, deixando no ar a pesada espera ╾ uma que não perdurou por muito tempo. Logo, o som das portas a se arrastar ecoou e, quase de imediato, a de diversas cadeiras arrastadas enquanto ele e seus conselheiros colocavam-se de pé para receber os convidados. Recebidos os cumprimentos, tornaram a se sentar sem mais do que alguns acenos de cabeça, com a exceção de Faryan. Permaneceu de pé.
╾ Senhores ╾ começou em um gesto de reconhecimento, fitando-os de forma fixa. Seus olhos gravitaram para o servo, Cíaran, com seus cabelos ruivos e marcas azuladas pelo corpo que invariavelmente o faziam se destacar em meio ao restante dos cortesãos. Maeve lhe era acessível até certo ponto, mundana, mas Cíaran permanecia-lhe como uma incógnita, um cão de guarda de quem nada sabia e sequer estava certo sobre o que opinar, nem tinha a possibilidade de começar um diálogo em busca de formar opiniões mais sólidas. Ele não falava sua língua, afinal. A única ponte entre ambos era a princesa.
Com um aceno de sua mão, indicou que se acercassem. ╾ Por favor, aproximem-se ╾ seu olhar varreu as cadeiras ocupadas, os rostos familiares, os dois espaços vagos logo ao outro lado da mesa, na linha de seus olhos. Estavam reservados aos hóspedes, mas como mera formalidade até o momento. Não haviam de se sentar, não ainda. O relatório era demasiado formal para tanto. ╾ Declaro iniciada a reunião extraordinária do Conselho, declarando claro o objetivo de averiguar o relato sobre recente expedição miltar do reino de Verania ╾ tomou seu assento. Uma mirada a Maeve, como um pedido silente por sua colaboração. Outra a Cíaran. ╾ Quando deseje.
Maeve não acreditava na existência de deuses, ela achava interessante como a forma que os cidadãos ao seu redor aparentavam acreditar fielmente nas explicações dadas por sacerdotes. Em sua terra natal, havia uma divisão entre aqueles que aderiram aos ensinamentos de filósofos e anciãos do antigo rei e os outros que acreditavam nas figuras elementais que provavelmente seriam chamadas de “deuses” por outras culturas.
No entanto, momentos como aquele a faziam duvidar da não-existência de deuses que estes provavelmente estavam conspirando contra sua pessoa. Cíaran havia chegado no palácio quando era apenas um garoto como ela era na época, após impressionar seu rei, ele havia sido contratado para treinar e servir como seu ceridwen. Se ela era uma garotinha doente tão frágil quanto era séria e temperamental, Cíaran poderia ser considerado o exato oposto de sua pessoa se não fosse por ele também compartilhar de seu temperamento explosivo.
Ela certamente o teria odiado se não fosse por essa pequena semelhança.
Cíaran estava sob estresse fazia semanas, sua responsabilidade e honra logo haviam se transformado em algo muito próximo de uma paranoia que havia salvado a vida de ambos várias vezes. Maeve que estava muitas vezes submersa em seu próprio luto se esquecia que Cíaran não havia matado propositalmente alguém até aquela noite.
╾ Senhora, você está sentindo esse cheiro de carne cozida?. ╾ Cíaran disse mudando seu tom de voz sério para um com ma pequena dose de escárnio que fez Maeve se preparar mentalmente e fisicamente para o que ouviria a seguir. Após ambos perceberem o sutil, mas evidente insulto com os assentos vazios, Cíaran se comprometeu a explorar qualquer tipo de piada e zombaria que existisse na língua dos dois. ╾ Eu não estou surpreso, esses nobres devem estar cozinhando diariamente nessa quantidade de panos que eles usam.
Maeve também deveria dizer que após meia hora as piadas de Cíaran já estavam ficando terríveis e assim mesmo elas eram capazes de fazê-la dar risada, algo que era extremamente inapropriado naquele momento e portanto algo que deveria ser evitado. Assim, Maeve tinha certeza que estava deixando todos curiosos do porquê estar ficando vermelha e estar cobrindo a boca quando não estava traduzindo o relatório de Cíaran e tentando controlar a sua risada.
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Sentindo a presença mal-humorada de Cíaran meros passos atrás de si, Maeve decidiu que resignação seria o melhor caminho. Ela o havia ofendido, não de forma irreparável, mas de uma forma que seu orgulho fora ferido e isso talvez fosse pior do que uma ofensa mais grave.
Ceidwads acabavam por ser guerreiros, não importando quantas poesias e contos aprendessem, e apenas poucos guerreiros não eram acometidos por orgulho. Servindo como uma espécie de representação de seus senhores e senhoras, ter um ceidwad que mostrasse medo acabava por manchar tanto a figura do senhor quanto a do ceidwad. Ela estaria se humilhando diante daqueles homens através de Cíaran.
Endireitando os ombros, erguendo a cabeça, Maeve lamentou sua própria fraqueza já que preferia mil vezes esconder-se nas cobertas do quarto que lhe fora entregue. Apesar de que ela estranhara os aposentos, mal conseguia deitar a cabeça nos travesseiros devido os perfumes. Com um pensamento mesquinho, Maeve percebeu que até mesmo a comida era diferente.
Passando pelas enormes portas duplas que foram rapidamente abertas, Maeve deparou-se com a visão do que ela esperava ser o conselho inteiro. Empalidecendo ligeiramente, Maeve percebeu que a comparação de ela seria uma gata de rua no meio de cães famintos não seria grande exagero, apesar de que Cíaran provavelmente faria melhores comparações.
╾ Senhores. ╾ inclinando a cabeça respeitosamente, Maeve sentiu um profundo alívio em perceber que sua voz não saíra trêmula ou fraca. ╾ Vossa majestade imperial. ╾ fazendo uma reverência, Maeve procurou por uma oportunidade para não ter de fitar o homem nos olhos, ela duvidava que conseguiria não gaguejar com aquela presença.
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hailtheemperor:
Manteve oculto seu descontentamento com a falta de novas informações ━ poderia questionar o “ceidwad”, quem supunha ser o servo que viera em companhia dela, mais tarde, ou acabariam por descobrir o que houvesse a descobrir da maneira clássica. Era a maneira difícil, mas nada para que não tivesse homens com prática sob seu mando. Em lugar de demonstrar suas reflexões, deu um novo assentir contido, bebericando outro gole de vinho. Não lhe escapara a percepção de que a moça não havia sequer tocado em nada que lá havia disposto, nem mesmo na água. Quiçá houvesse criado um hábito de interpretar além do necessário as ações das pessoas, mas se perguntava se haveria uma razão para tanto, uma razão além de simples falta de desejo. ━ Pois bem. Gostaria de lhe pedir que mande seu ceidwad a meu encontro, quando lhes for possível e conveniente.
O novo sorriso ofertado foi mecânico, acompanhado de um leve tombar de sua cabeça em um agradecimento silencioso. Formalidades. Cortesias. Como as adorava! Mesmo reconhecendo o elogio como nada mais do que aquilo ━ as frivolidades da corte ━, parte de si ainda anelava por poder acreditar nas palavras de Maeve.
Então, ela repetiu “deuses” e Faryan não pôde conter um olhar intrigado a ela, como uma pergunta não dita. Intrigava-o sua confusão, levantando indagações sobre as crenças de Galedda, das quais permanecia ignorante. Conhecera tantas fés distintas em sua vida, distintas da defendida pelos sacerdotes que o cercavam. Deuses de nomes diferentes, em maior ou menor número; um só deus; nenhum deus. Quase quis questioná-la quanto àquilo. Talvez então pudesse ser guiado a uma conclusão sobre o que era realmente a verdade e o que não, em que deveria acreditar ━ questões que o perseguiam havia tanto tempo que pareciam haver estado sempre ali━, ou apenas teria suas dúvidas aumentadas. No entanto, não era um assunto relevante para que ele ousasse ocupar mais do tempo dela. Ademais, não estava diante de uma amiga para filosofias.
Seu foco logo retornou a o que era, de fato, o tema daquela reunião. ━ Não esperaria o contrário ━ concordou. ━ Mas seu começo sempre nos tem no ápice da vulnerabilidade e decisões mal-tomadas são algo que nós dois desejamos evitar. Esperançosamente, ainda não terá de esperar por muito tempo mesmo assim. Isso também é de interesse mútuo ━ respondeu. Faryan sabia ser paciente, empenhava-se para sê-lo, mas não podia negar que preferia resolver assuntos pendentes e suprimir possíveis ameaças o mais rápido possível. Por alguns instantes, fitou a mesa ante si sem nada ver, reflexivo, até tornar a mirar a mulher. ━ Acredito já havermos tratado do necessário, então. Está livre para fazer o que desejar.
Paralisando momentaneamente, Maeve percebeu que havia cometido um erro ao mencionar Cíaran. O homem certamente não estava acostumado com a cultura de Galedda e esta seria a provável explicação para o seu erro, afinal, Cíaran apenas se afastaria se Maeve pedisse e isso acabaria por ofender tanto sua honra quanto sua capacidade. Além do mais, Cíaran não dominava a língua de hidayat, apesar de conhecer muitos xingamentos, como ele adquirira o conhecimento Maeve não gostaria de saber.
━ Um relatório poderia ser suficiente, não? ━ mentalmente, Maeve estava se autoflagelando por sua estupidez. Se mencionasse que Cíaran não dominava a língua, ela o ofenderia, porém se não falasse isso, Maeve poderia ofender o imperador. ━ Ele ficaria demasiadamente desconfortável se tivesse que deixar a minha presença. ━ unindo ambas as mãos sobre suas pernas que começavam a formigar devido sua falta de costume em sentar-se sobre estas. Ela apenas esperava que ele não soubesse da presença de Cíaran logo atrás da porta.
Com o sorriso educado que lhe fora dado, Maeve pensou que talvez cometera um erro. Formalidade era uma forma de demonstrar respeito em Galedda e apesar dela saber que essa frieza não fosse condizente com seu ser, Maeve estava exausta de todas as maneiras para forçar sorrisos e ser uma convidada graciosa.
━ Meu coração se alegra com suas palavras, vossa majestade. ━ seu repertório de palavras e frases diplomáticas já estava ficando extremamente curto. Olhando para a taça do que deveria ser suco à sua frente, Maeve pensou que talvez um pequeno sinal de respeito não fosse ferir ninguém. Tomando um pequeno gole, Maeve ficou chocada quando o líquido queimou sua garganta e desceu até o seu estômago vazio como uma bola de chumbo. Afastando a taça rapidamente e ao mesmo tempo que tentava controlar as tosses que surgiam de sua garganta, Maeve desejou morrer de vergonha. Vinho era apenas bebido por homens e mulheres casados ou que tinham filhos. Virando o rosto para esconder as feições vermelhas de constrangimento, Maeve percebeu que algumas mexas douradas de seu cabelo haviam saído do delicado penteado e que caíam sobre seu rosto. ━ Bem, se a vossa majestade não requere nada mais de minha pessoa, eu gostaria de me retirar e descansar. ━ desesperada para sair do recinto, Maeve também reparou que seu sotaque que ela custava tanto esconder acabara por revelar-se. Aquele dia certamente iria ficar para a história.
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Sorrindo amargamente, Maeve inclinou a cabeça sutilmente para o lado como se as próprias memórias daquela noite tivessem um peso físico. O que ela poderia lhe contar que seria útil? O cheiro aterrador de carne queimada, os gritos de mulheres e homens pelo palácio, corpos de crianças espalhados pelas ruas. O choro de Fírban que a seguiria até os fins de sua vida, a cabeça de seu pai e rei pregada nos portões. Sua língua cortada e a maxilar quebrado de modo que sua boca ficasse anormalmente aberta.
A memória dos soldados se uivando como bestas sobre as servas, os mais ambiciosos estavam se deliciando com as jóias nos aposentados antigos de sua mãe. Cíaran recebera a ordem de assassinar a todos e como um cão leal de caça, ele voltara banhado em sangue e as cabeças dos inimigos aos seus pés.
- Eu não tive acesso aos relatórios das batalhas, talvez meu ceidwad possa ter mais conhecimento. - explicou sem querer admitir que estava trancada num quarto escuro, chorando de medo e após saírem à cavalo do castelo, ela escondera o rosto nas vestes de Cíaran como uma criança com medo do escuro. - Fico feliz que compartilhe essas crenças. Hidayat é um império belo devido sua capacidade. - agradeceu de certa forma formal, não gostando de como um elogio tão belo em sua língua acabara por se transformar numa frase supérflua devido a língua que não dominava. - Deuses? - Maeve repetiu a palavra com o cenho levemente franzido. Ela havia ouvido que nos restos dos reinos era comum atribuírem explicações divinas para características de indivíduos, porém ela nunca acreditara que aquilo fosse verdade. - Talvez. - assentiu diplomaticamente, não querendo ofender à religião do imperador. - Vossa majestade, eu temo que o fim do meu luto apenas ocorrerá com a expulsão de Verania de meu reino. No entanto, pressa é muitas vezes inimiga da perfeição e me entristeceria se a possibilidade de um acordo com Hidayat fosse danificado devido a algo como impaciência. - arrumando a posição mais uma vez, Maeve sentiu a terrível vontade de levantar e sair correndo pois sua própria impaciência estava ficando cada vez mais forte ao passo que tinha que ficar naquela posição desconfortável em frente à aquelas comidas que apenas faltavam fazer sua cabeça rodar.
birdofglass:
Terminando o seu relato, Maeve sentiu uma estranha leveza no peito. Não a típica leveza que uma pessoa pudesse sentir ao desabafar todos os sentimentos do coração, mas sim uma calmaria que nublava seu luto e tristeza, uma leveza que fez Maeve perceber o quanto sua situação era frágil e perigosa. Era a típica frieza que ela fora ensinada a ter, tanto pelo pai quanto pela mãe quando se tratava de política.
A responsabilidade por seu reino fora inserida em sua mente e alma de uma maneira tão violenta e eficiente que Maeve se odiou por seu egoísmo. O homem que estava à sua frente não seria um amigo ou inimigo, mas sim o homem que tinha todas as oportunidades de manipulá-la como um fantoche. Se ela permitisse que seu luto e tristeza continuassem soltos desta maneira, ela seria uma vítima da própria burrice.
- Infelizmente, eu não seria capaz de compartilhar informações importantes. Era noite quando o castelo foi atacado. - omitindo a parte em que ela não pudera ler os relatórios de seu pai, que com o nascimento de um filho, começara a diminuir seu poder e influência. - Eu devo admitir que estou surpresa com a sua honestidade. - pasma por alguns segundos, Maeve estava esperando um comportamento totalmente diferente do homem. - Me perdoe, mas fui avisada para me preparar contra promessas vazias e palavras açucaradas, pois Galedda é valiosa em sua própria maneira e possuo a crença que todo homem ou mulher possa ser convencido se lhe for dado um desejo ou vantagem. - a situação poderia complicar terrivelmente, o homem estava lidando com intrigas e política quando Maeve ainda estava aprendendo a bordar. Ela estava com todas as desvantagens possíveis.
- Posso ser uma tola ingênua, mas acredito que todo monarca ama a terra que governa. Que ela é uma extensão de sua alma e que por consequência um governante que abandona sua pátria não é diferente de uma mãe que abandona sua criança à mercê de bestas. - ousando erguer os olhos e fitar o colarinho do imperador, Maeve decidiu que seria melhor continuar antes que fosse tarde demais. - O que eu gostaria de dizer, vossa majestade, é que eu esperava que seu coração fosse tomado por oportunismo para que eu pudesse dizer que não há limites nos preços que eu pagaria para ver meu reino livre de Verania - sabendo que seu rosto estava pintado com sorriso igualmente amargurado e cansado, Maeve fitou os olhos azuis daquele homem. Tendo uma estranha vontade de rir, Maeve percebeu que estava morrendo de medo de morrer, não que isso importasse, mas os contos épicos que lera estavam certamente errados sobre a inexistência do medo.
Assentiu contidamente em compreensão. Noite. Outro aspecto daquele ataque que quiçá devesse ser previsível ━ não havia momento de maior vulnerabilidade do que a noite, quando se podia chegar inesperado e implacável como a morte, sem pretensões de poupar ninguém, sem pretensões de justiça. Sim, parecia adequado… e igualmente inconveniente para si em seus intentos de conseguir o quadro mais claro possível do que acontecera. ━ Ignore importância, então. Qualquer pequeno detalhe que nos possa oferecer pode ser útil de maneiras antes imprevistas ━ insistiu.
A sombra de um sorriso algo divertido surgiu em seus lábios. Aquela surpresa, por sua vez, era um tanto esperada. Já supunha que a outra, se de fato da realeza e educada como tal, estivesse preparada para promessas vazias e palavras açucaradas. Quantas vezes ele próprio já as ouvira em sua vida? Os homens usavam-nas como se fossem sua arma mais poderosa, mas, para Faryan, sempre parecera mais como areia movediça. Qualquer quebra de confiança, já planejada inicialmente, era o necessário para que se afundassem. Faltava-lhe paciência para iniciar jogos similares. Comprometera-se a manter seu trono não por convencer seu povo de que lhes podia oferecer o céu, mas por lhes dar provas irrevogáveis do que lhes podia oferecer na Terra. ━ Seus avisos estão corretos; Galedda é uma riqueza única e muitos não teriam escrúpulos em tirar proveito de sua situação para consegui-la, mas não espere o mesmo de mim. É claro, não lhe ofereço uma aliança para que Hidayat não obtenha qualquer vantagem em um acordo, mas não pretendo ocultar minhas intenções. Acesso a seus rios, por exemplo ━ colocou. Se já lhe prometera honestidade quanto àquelas mesmas intenções, não as adiaria ou ocultaria por mais tempo.
Encarou-a como que intrigado por suas palavras ao mesmo tempo em que um novo sorriso, tão discreto quanto o primeiro, florescia em seu semblante, enfim a sustentar os olhos alheios. Não era sua disposição a fazer o que fosse em prol de Galedda, o que abria amplo caminho para os interesses de Hidayat, que despertava em si alguma forma de contentamento transbordante de ambição. Não só. A própria filosofia da moça era uma que Faryan mantinha próxima de seu coração e tentava fazer como guia de todas as suas ações. Se aquelas palavras originavam do dela, então poderia afirmar que detinha o potencial de ser uma líder.
━ Não a chamaria de ingênua, apenas correta. É minha crença que um governante que não ama aquilo que governa deixa de ser um governante e se torna um tirano ━ retificou-a. Uma crença fundamentada, em sua opinião. Através do mundo e através dos tempos, quantas vezes aquilo não acontecera? Um governante indisposto a governar só sabia amar seu poder, não o que lhe garantia tê-lo. A memória de seu irmão ecoou em sua mente. Havia poucas coisas que temia mais do que acordar certo dia e perceber que se tornara como ele. ━ Os deuses foram sábios em declará-la herdeira. Era-o, não era? ━ um pequeno sulco em seu sonho. Acordava-se de, em esparsas ocasiões, ouvir sobre a filha mais velha do rei de Galedda ou a princesa herdeira. Deduzira que se tratava dela diante de si. Desviou o olhar por um breve instante enquanto refletia quanto a como prosseguir. Qual seria o passo a tomar ao final daquela semana? ━ Pois bem, de qualquer forma… entendo que ainda não tem nada pré-estabelecido? Se estiver de acordo, reunirei-me com meu conselho e estabeleceremos um acordo para lhe oferecer. Poderemos nos reunir ao final de seu período de luto, para o qual poderá requerer o que seja necessário. Então, poderemos negociar e tomar a ação mais benéfico para ambos os nossos domínios.
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Terminando o seu relato, Maeve sentiu uma estranha leveza no peito. Não a típica leveza que uma pessoa pudesse sentir ao desabafar todos os sentimentos do coração, mas sim uma calmaria que nublava seu luto e tristeza, uma leveza que fez Maeve perceber o quanto sua situação era frágil e perigosa. Era a típica frieza que ela fora ensinada a ter, tanto pelo pai quanto pela mãe quando se tratava de política.
A responsabilidade por seu reino fora inserida em sua mente e alma de uma maneira tão violenta e eficiente que Maeve se odiou por seu egoísmo. O homem que estava à sua frente não seria um amigo ou inimigo, mas sim o homem que tinha todas as oportunidades de manipulá-la como um fantoche. Se ela permitisse que seu luto e tristeza continuassem soltos desta maneira, ela seria uma vítima da própria burrice.
- Infelizmente, eu não seria capaz de compartilhar informações importantes. Era noite quando o castelo foi atacado. - omitindo a parte em que ela não pudera ler os relatórios de seu pai, que com o nascimento de um filho, começara a diminuir seu poder e influência. - Eu devo admitir que estou surpresa com a sua honestidade. - pasma por alguns segundos, Maeve estava esperando um comportamento totalmente diferente do homem. - Me perdoe, mas fui avisada para me preparar contra promessas vazias e palavras açucaradas, pois Galedda é valiosa em sua própria maneira e possuo a crença que todo homem ou mulher possa ser convencido se lhe for dado um desejo ou vantagem. - a situação poderia complicar terrivelmente, o homem estava lidando com intrigas e política quando Maeve ainda estava aprendendo a bordar. Ela estava com todas as desvantagens possíveis.
- Posso ser uma tola ingênua, mas acredito que todo monarca ama a terra que governa. Que ela é uma extensão de sua alma e que por consequência um governante que abandona sua pátria não é diferente de uma mãe que abandona sua criança à mercê de bestas. - ousando erguer os olhos e fitar o colarinho do imperador, Maeve decidiu que seria melhor continuar antes que fosse tarde demais. - O que eu gostaria de dizer, vossa majestade, é que eu esperava que seu coração fosse tomado por oportunismo para que eu pudesse dizer que não há limites nos preços que eu pagaria para ver meu reino livre de Verania - sabendo que seu rosto estava pintado com sorriso igualmente amargurado e cansado, Maeve fitou os olhos azuis daquele homem. Tendo uma estranha vontade de rir, Maeve percebeu que estava morrendo de medo de morrer, não que isso importasse, mas os contos épicos que lera estavam certamente errados sobre a inexistência do medo.
birdofglass:
Logo após terminar o seu banho, Maeve decidiu que tirar um pequeno cochilo não lhe mataria. O único empecilho fora que devido sua ansiedade e medo, Maeve demorara horas até finalmente conseguir dormir e apenas conseguira isso com a ajuda de um dos poemas de Cíaran. Dormir enquanto chorava não deveria ser algo saudável, já que quando fora chamada, Maeve estava mais exausta do que antes.
Sendo vestida pelas mãos habilidosas e ágeis de Cíaran, Maeve rapidamente seguiu o criado que lhe fora enviada com o companheiro meros passos atrás de si. Passando por um pequeno grupo de nobres, Maeve teve a oportunidade de perceber as vestimentas que estas usavam e não pode evitar de ficar curiosa do porquê elas se esconderem sob aquela quantidade de roupas.
Entrando no recinto, Maeve teve que rapidamente controlar sua expressão ao ver o imperador sentado no chão. Costumes e uma cultura totalmente diferentes, ela pensou enquanto sentava também ligeiramente afastada e do lado oposto. Não aceitou o vinho ou comida, apesar de sua fome e ela teve de agradecer, relutantemente, das punições de seu pai que lhe permitiram manter-se impassível diante das comidas exóticas que lhe faziam salivar.
━ Eu agradeço por sua gentileza e generosidade. ━ inclinando a cabeça, Maeve decidiu que seguiria a etiqueta da Galedda e prender seus olhos no tapete. Em seu reino, ela se sentaria numa mesa que permitiria uma certa e confortável distância, aqui ela já começava a sofrer dificuldades em manter a coluna ereta e postura imóvel. ━ Minha história não é épica e sim simples. Nós ouvimos rumores de ataques nas fronteiras que começavam a ficar frequentes. Quando nós perdemos contato com o governador da região, meu rei e pai mandou um mensageiro. ━ parando de contar a história por alguns momentos para respirar e não lembrar do cheiro, Maeve continuou. ━ Meu reino não é agressivo, vossa majestade imperial, nós não vimos os frutos de uma verdadeira guerra por gerações. Quando as cabeças do mensageiro e do governador são entregues costuradas juntas, nós não soubemos como reagir. Com os ataques aumentando, meu pai juntou um pequeno exército e foi lutar contra as forças de Verania. ━ engolindo algumas vezes na tentativa de engolir a pequena bola de choro que se formava, Maeve percebeu que estava tremendo ligeiramente. ━ Poucos dias depois, eu estava dormindo quando fui acordada pelo meu ceidwad. A capital estava em chamas, o portão principal decorado com a cabeça de meu rei. Juntando algumas jóias, meu ceidwad e eu fugimos com alguns cavalos que morreram de exaustão e sede. O resto você já conhece. ━ dando um fraco sorriso, Maeve coçou rapidamente os olhos que estavam cheios de água. Omitindo o paradeiro de seu irmão mais novo devido a culpa, Maeve decidiu que o destino de seu irmão não interessaria o imperador.
Um novo aceno breve de sua mão foi a resposta ao agradecimento da mulher; uma dispensa silenciosa de tais formalidades. Então, voltou sua atenção às palavras dela, sem intento de perder qualquer detalhe. Aprendera que muito podia ser revelado por uma sutil alteração no tom de voz, pela maneira com que as frases eram construídas, pela postura, por uma troca de olhares. E buscava pelos olhos dela, tarefa que não se provava lograda com naturalidade. O mesmo notara mais cedo, em seu breve diálogo, como se ela temesse ou hesitasse em encará-lo. Curioso. Suspeito, poderia mesmo dizer; assim seria considerado de um típico hidayati. Contudo, lembrava-se de visitas a reinos onde aquela era a ordem quando perante autoridades de Estado ━ um costume existente mesmo dentro de algumas províncias do império. Uma diferença que o deixava desconcertado, mas, ele supunha, nada mais.
Notou seus próprios olhos se desviarem brevemente conforme a ouvia, preocupado em digerir cada informação com o cuidado de um estudioso. Que Galedda era um reino de paz, era desnecessário dizer. Eram um povo quase inacessível mesmo para a iniciativa de um conflito, não obstante os pontos estratégicos que a natureza lhes ofertara. Facilmente ignorável, Faryan chegaria a afirmar. Mesmo assim, agora encontrava-se com um interesse inaudito sobre ele. Seus lábios se franziram em reação à exposição das ações de Verania. Bárbaros, pensou. Não guerreiros, não conquistadores, mas bárbaros. Que respeito poderia conceder a inimigo similar? E quiçá devesse haver imaginado antes que não tardaria até que alguém colocasse seus olhos em Galedda, sobretudo quando sua posse colocaria-os cara a cara com Hidayat. Com seu novo domínio ━ ou o que quer que houvessem decidido fazer do reino ━, apresentavam-se como um competidor à altura. Assustava-o que tivera os olhos fechados para aquilo em um sono ingênuo até aquele momento.
Novamente, a mulher ante si parecia instável, abalada. Algo em sua postura, algo em sua voz. Não podia culpá-la. De fato, admirava-a por haver se disposto a se reunir com ele naquele mesmo dia ━ talvez em partes por aparentar ser feita de porcelana, frágil e danificada. De maneira ou outra, pelo que compreendia de seu relato, perdera tudo. Seu lar, sua família. A dor de perder todos a quem amasse era uma que Faryan conhecia bem e, se existisse pior, preferia continuar ignorante quanto a qualquer que fosse. Não podia postergar assuntos tão urgentes para um futuro que agora se provava incerto, aberto a diversas possibilidades, mas, a julgar pela jornada da outra, também tinha como dever levar aquela reunião a uma conclusão tão rápida como pudesse.
━ Aceite meus sinceros pêsames por seus pesares. Logo terá tempo para o luto que merece, assim espero ━ começou, tornando a encará-la. ━ Por ora, porém, sinto que irei obrigá-la a um questionário inconveniente. Gostaria de saber o quanto pôde identificar de Verania. O estado de suas tropas, seus armamentos. Ademais das barbaridades cometidas em seu território; sinto que elas já são evidentes. Também gostaria de saber dos planos da senhorita, se os tem ━ os dedos passaram a girar impensadamente a taça sobre a mesa. ━ Galedda pode contar com o apoio seguro de Hidayat para qualquer luta contra seu invasor, na medida do possível para nós. Ao mesmo tempo, sinto não poder abrigá-la para sempre nesse palácio. A senhorita e seu servo poderão decidir um lugar a que serem realocados, se assim desejarem, mas agora suas decisões políticas são de nosso interesse ━ uma breve pausa, pensativa. ━ É claro, terão tempo para apresentarem um veredito definitivo, mas parece-me justo já apresentar sua necessidade.
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Logo após terminar o seu banho, Maeve decidiu que tirar um pequeno cochilo não lhe mataria. O único empecilho fora que devido sua ansiedade e medo, Maeve demorara horas até finalmente conseguir dormir e apenas conseguira isso com a ajuda de um dos poemas de Cíaran. Dormir enquanto chorava não deveria ser algo saudável, já que quando fora chamada, Maeve estava mais exausta do que antes.
Sendo vestida pelas mãos habilidosas e ágeis de Cíaran, Maeve rapidamente seguiu o criado que lhe fora enviada com o companheiro meros passos atrás de si. Passando por um pequeno grupo de nobres, Maeve teve a oportunidade de perceber as vestimentas que estas usavam e não pode evitar de ficar curiosa do porquê elas se esconderem sob aquela quantidade de roupas.
Entrando no recinto, Maeve teve que rapidamente controlar sua expressão ao ver o imperador sentado no chão. Costumes e uma cultura totalmente diferentes, ela pensou enquanto sentava também ligeiramente afastada e do lado oposto. Não aceitou o vinho ou comida, apesar de sua fome e ela teve de agradecer, relutantemente, das punições de seu pai que lhe permitiram manter-se impassível diante das comidas exóticas que lhe faziam salivar.
━ Eu agradeço por sua gentileza e generosidade. ━ inclinando a cabeça, Maeve decidiu que seguiria a etiqueta da Galedda e prender seus olhos no tapete. Em seu reino, ela se sentaria numa mesa que permitiria uma certa e confortável distância, aqui ela já começava a sofrer dificuldades em manter a coluna ereta e postura imóvel. ━ Minha história não é épica e sim simples. Nós ouvimos rumores de ataques nas fronteiras que começavam a ficar frequentes. Quando nós perdemos contato com o governador da região, meu rei e pai mandou um mensageiro. ━ parando de contar a história por alguns momentos para respirar e não lembrar do cheiro, Maeve continuou. ━ Meu reino não é agressivo, vossa majestade imperial, nós não vimos os frutos de uma verdadeira guerra por gerações. Quando as cabeças do mensageiro e do governador são entregues costuradas juntas, nós não soubemos como reagir. Com os ataques aumentando, meu pai juntou um pequeno exército e foi lutar contra as forças de Verania. ━ engolindo algumas vezes na tentativa de engolir a pequena bola de choro que se formava, Maeve percebeu que estava tremendo ligeiramente. ━ Poucos dias depois, eu estava dormindo quando fui acordada pelo meu ceidwad. A capital estava em chamas, o portão principal decorado com a cabeça de meu rei. Juntando algumas jóias, meu ceidwad e eu fugimos com alguns cavalos que morreram de exaustão e sede. O resto você já conhece. ━ dando um fraco sorriso, Maeve coçou rapidamente os olhos que estavam cheios de água. Omitindo o paradeiro de seu irmão mais novo devido a culpa, Maeve decidiu que o destino de seu irmão não interessaria o imperador.
Adentrou o recinto para encontrá-lo organizado como ordenara. Uma sala próxima ao Salão do Conselho, de porta cuja cor se mesclava à da parede, intencionalmente discreta, adequada para abrigar um encontro particular como o que logo se daria. Em seu interior, os bancos haviam sido afastados em prol de abrirem espaço para que um tapete ricamente bordado fosse estendido no centro. Sobre ele, uma mesa fora preparada com abundância de aperitivos e duas taças já jaziam cheias de vinho. Ainda que a hora de jantar se aproximasse, como anunciavam os raios dourados de pôr-do-sol que se derramavam pelas longas janelas, Faryan não sentia fome — ou, ao menos, ainda não tomara consciência dela. Suportava sua espera em pé, com uma inquietação que ardia como a chama de uma fogueira em seu peito. O tempo lhe ensinara a duras penas como não deixar seus sentimentos, suas dúvidas, lhe consumirem, mas aquilo não significava que era imune a eles, sobretudo com o peso da revelação que recebera mais cedo. Tinha pressa em tomar decisões. Não tardaria até que o restante da corte tomasse conhecimento da presença da estrangeira ali e de seus motivos e, quando o momento chegasse, o imperador queria ter o controle que podia sobre a situação.
Apenas quando as portas começaram a se abrir foi que ele se permitiu o luxo de se desfazer de seus sapatos e se sentar sobre o tapete. Finalmente, pensou. Finalmente teria respostas cuja magnitude da importância ainda havia de se fazer conhecer. Não estava em lugar de apressar sua convidada, não em sua posição de refugiada, mas não podia negar seu alívio, embora o salvaguardasse por trás de uma expressão que beirava o impassível. Ergueu os olhos para ela — Maeve, segundo lhe haviam informado — e ergueu uma mão, sinalizando para que ela se aproximasse.
— Maeve, estou correto? Por favor, sente-se — começou com um rápido gesto ao espaço diante de si, seguido por um à mesa. — Sirva-se como queira; está tudo à sua disposição. Espero que tenha conseguido algum descanso e que seus aposentos lhe estejam confortáveis. Pode considerar a si e a seu servo como meus protegidos pelo tempo em que permanecerem aqui. Qualquer necessidade ou ameaça percebida podem ser informados a mim e as devidas providências serão tomadas de imediato — assegurou-a. Um discurso pronto, decerto, mas também preciso. Havia poucos no palácio em que confiava integralmente. Quanto ao restante, podiam encontrar maneiras de levar vantagem nas situações mais inesperadas ou tentar condená-lo por quaisquer motivos. Não podia deixar à deriva e vulnerável alguém que provavelmente pouco sabia sobre o local, tanto por simples ética quanto porque um ataque bem-sucedido a ela também o seria contra a autoridade imperial, podendo enfraquecer a ambos de formas que não haviam previsto. O inimigo havia conquistado o reino dela, afinal, e agora batia às portas de Hidayat. Qualquer fragilidade podia, na melhor das hipóteses, trazer-lhe imensas dores de cabeça, ao mesmo tempo que poderiam ser aproveitadas por outros.
Um suspiro lhe escapou. — Mas suponho que saiba que não é para isso que a chamei aqui. Afirmou mais cedo que era da realeza de Galedda, reino vizinho, e que ele foi invadido. O que acontece nas fronteiras de Hidayat é de interesse do império. Preciso proteger meu povo inclusive de invasões externas — tomou um gole do vinho. — Por esse motivo, preciso que me conte exatamente o que aconteceu. Quem os invadiu e o que agora controlam. Qualquer informação que julgue útil.
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hailtheemperor:
Com a palma aberta, ergueu a mão em sinal de dispensa do pedido de perdão alheio. Mesmo com tão poucas palavras, podia identificar traços de um sotaque que embargava sua fluidez. Nenhum obstáculo definitivo para que a compreendesse, porém; felizmente, ao que tudo indicava, não seria necessária a intervenção de um intérprete.
O anel entregue despertou uma indagação em sua mente. Analisou a peça com cuidado, tomando a liberdade de girá-la entre seus dedos enquanto seus olhos perscrutavam toda a circunferência, externa e internamente. Ao mesmo tempo, parte de suas dúvidas foram esclarecidas pela voz da mulher. Faryan ergueu a cabeça em um gesto quase abrupto, alarmado. Um olhar foi trocado com o mordomo do palácio, o qual o acompanhava no salão, prostrado ao seu lado. Ela vinha de Galedda, então; reino adjacente às fronteiras de Hidayat. Pelo que observara do anel, tinha motivos para crer que ela falava a verdade, embora não fosse suficiente especialista em joias para dar um veredito confiante, nem pudesse excluir de sua mente outras possibilidades quanto ao passado da mulher. Ainda deixaria-o para o diagnóstico de um joalheiro mais experiente, de qualquer forma. Não havia por que deixar pontas desatadas. Não com o que ela acabara de implicar.
Podia ver nos olhos de Serhan agha que ele tivera o mesmo pensamento que lhe ocorrera. Se Galedda caíra, o mais provável era que fosse para as mãos de Verania. Uma potência agora às suas portas e que podia vir a ameaçá-los também. Se era verdade, se os rumores enfim confirmavam-se de maneira inquestionável, medidas haveriam de ser tomadas para fortalecer Hidayat contra possíveis ataques, ainda mais quando os veraneses agora possuíam acesso a uma diversidade de postos estratégicos.
Afastou de si as divagações para voltar sua atenção à mulher. O que quer que ela tivesse a dizer merecia atenção; o que quer que pudesse ser extraído dela depois, em algum questionário, possuía valor. Ademais, tratava-se de uma refugiada. Faryan conhecia os mandamentos milenares sobre os mesmos. Não seria aceito que lhes virasse as costas, deixasse-os desamparados. Poderia proceder com cautela, mas, até então, não tinha motivos para negar que ela fosse tratada com dignidade.
Pôde notar que ela tremia; se por frio, cansaço ou coisa além, ele não saberia dizer. Naquele instante, parecia frágil. Um quadro preocupante. Voltou-se ao agha, ordenando-lhe que supervisionasse o preparo de dois aposentos com roupas limpas para ela e seu servo, tal como uma mesa com comida e água. Então, voltou sua atenção para a mulher.
— Ambos poderão permanecer aqui por sete dias e sete noites indiscutivelmente, sob proteção do Estado, contanto que não rompam com nenhuma das leis do império nem se revelem como fora-da-lei — assegurou-a. Sua mão fechou-se ao redor do anel ainda sob sua posse. — Se me permite, gostaria de deixar sua joia para análise de um dos joalheiros de confiança do Estado. Será manuseado com todo o cuidado de uma peça nobre e o terá de volta em breve, tem minha palavra. Igualmente, gostaria de lhe fazer alguns questionamentos sobre a atual de situação de Galedda, o que se deu e quem tem seu controle agora. Qualquer acontecimento às fronteiras de Hidayat é de nosso interesse — um novo olhar para o estado dela. Tinha indagações urgentes, era verdade, mas não lhe parecia adequado fazê-las com uma interlocutora em similar debilidade. Exigir demasiado dela poderia prejudicar a ambos no final. — O que quer que possa nos dizer será útil. Poderá descansar em breve, se assim preferir fazê-lo antes de uma longa discussão. Então, convocarei-a mais tarde.
Sentindo uma onda de alívio passar por seu corpo, Maeve ergueu os olhos para fitá-lo, porém ela não ousaria fazer isso, não depois da promessa de uma cama e banho. No entanto, ela mesma não foi capaz de não abrir um pequeno e discreto sorriso, Cíaran certamente iria perceber a falta do anel, mas a sua falta seria algo necessário por algum tempo. A memória do guerreiro colocando o anel violentamente em seu dedo anelar não seria tão facilmente esquecida
━Como queira, vossa majestade imperial.━ disse fazendo uma reverência apesar da dúvida se esse era o título correto, Maeve não poderia dizer que gostaria de ficar na presença daquele homem intimidador mais tempo do que o necessário e qualquer desculpa para sair daquele local e dos olhos inteligentes e ameaçadores seria aceita com prontidão.
Finalmente saindo dali, Maeve passou por Cíaran que lealmente de pé apesar das linhas de cansaço e noites mal dormidas que eram visíveis em seu rosto. Ouvindo o leve ecoar dos passos de Cíaran e seguindo o servo pelo labirinto de corredores e portas, sabendo que estavam sendo observados por olhares curiosos, Maeve acelerou o passo. Ao entrar no que seria os seus novos aposentos, Maeve ouviu Cíaran agradecer o servo no que poderia ser considerada a língua de hidayat, apesar da maestria do loiro se limitar à “obrigado e duelo” e expulsar um criado extremamente chocado e confuso para fora do quarto antes de fechar a porta no rosto do pobre homem.
━Dizem que o imperador matou o próprio irmão quando ele era uma criança. ━ Cíaran começou, andando em sua direção e desfazendo os pequenos botões que fechavam seu vestido. Ele não precisava mencionar o alívio que ambos sentiam por poderem finalmente terem privacidade e poderem falar a língua materna, mas Maeve duvidava muito que Cíaran dormiria tranquilamente ou que a deixaria dormir ser colocar uma de suas adagas embaixo de seu travesseiro. E talvez outra embaixo da cama.━A minha senhora poderia confiar num homem que matou o próprio irmão? ━ livrando-se finalmente do vestido que lhe incomodava fazia dias, Maeve andou calmamente, apreciando a suave brisa contra sua pele nua, até um canto do banheiro separado por uma peça de madeira que continha uma banheira com água quente onde entrou com a ajuda de um Cíaran que também começou a retirar as próprias vestimentas antes de começá-la à ajudá-la a se banhar.
━Temos pouca escolha, eu penso. Todo rei ou imperador possuí as mãos manchadas de sangue, diretamente ou indiretamente. ━ divagou com um pequeno sorriso tingindo os lábios devido as mãos calejadas de Cíaran que massageavam seu couro cabeludo. ━ Descanse um pouco, Cíaran, quem irá me salvar se você cansar seu corpo e mente?
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hailtheemperor:
Um anúncio cadente ecoou do outro lado das portas de madeira talhada e elas abriram-se com o bater simultâneo de duas lanças contra o chão. Uma sinfonia de tradição milenar para a sua recepção, sinfonia a qual, depois de tantos anos, já não lhe causava comoção alguma. Apenas instigava-o naquele momento o motivo por trás de sua convocação.
Um dos guardas do palácio havia abordado-lhe instantes atrás noticiando que uma mulher de procedência externa aos limites do império desejava uma audiência com ele. Ademais, precisavam de seu aval para lhe oferecer algum alimento, o que deveria ser considerado com urgência. Aquilo bastava para fazê-lo questionar-se quanto à situação da estranha que aparecera ali sem aviso prévio. Qual era a razão de sua… visita? Quem era, se também conseguia comunicar-se em hidayati? O que queria?
Seus olhos buscavam-na a cada passo e não tardaram em encontrá-la. Cabelos claros, tingidos de ouro, pele de mármore. Jovem, se não dona de algum elixir de juventude. Suas vestes destacavam-se; Faryan acordava-se de ter visto talhe similar antes, mas não nas ruas de qualquer uma das províncias que houvesse visitado. Não com reincidência, ao menos. Estrangeira, como lhe haviam informado. Pele pálida, rosto que lhe parecia abatido por algo que presumia ser cansaço pela distância a qual houvera de percorrer até lá. Esperava que lhe houvessem fornecido água, ao menos; um bem que nunca podia ser negado a quem necessitasse de socorro. Fazê-lo era clamar para si poder sobre a vida alheia sem julgamento prévio; ademais, com crueldade.
Seus olhos encontraram os dela, também azuis, ao final da reverência alheia; pareciam atribulados, como se recaíssem sobre eles uma sombra que lhe era familiar. Suposições e nada mais do que suposições, embora confiasse que tivessem algum fundamento; passara a maior parte de sua vida aprendendo a ler aqueles ao seu redor e, para seu descontentamento, falhara em encontrar uma regra universal que pudesse pôr fim a seus estudos. Não, eles haviam de se renovar a cada rosto novo que encontrava… no entanto, certos detalhes tendiam a se repetir, dando-lhe certa noção de com o que se arriscar. Jogos de probabilidade. De qualquer forma, daquela mulher, esperava conseguir respostas às suas dúvidas dentro de pouco tempo. Sentou-se ao trono — madeira lisa, de cor negra, desprovida de adornos significativos — e indicou com a mão que ela se aproximasse.
— Senhorita. Fui informado de que vem de outro reino e de que necessitava de uma audiência comigo, sim? — começou. — Fale livremente. Seu nome, de onde vem e de que ajuda precisa.
O porte do homem que estava sentado ao trono era condizente com seu título de imperador. Alto e de traços fortes, Maeve havia esperado um homem totalmente diferente do guerreiro que a analisava. Restringindo sua vontade de procurar por Cíaran que estava do lado de fora das grandes portas de madeira, provavelmente rezando para os antigos deuses. Maeve apenas sentia esperança que os cabelos ruivos e rosto tatuado não chamassem atenção indesejada.
Cometendo o terrível deslize de etiqueta, Maeve olhou para cima e se viu fitando um par de orbes tão azuis quantos os seus próprios olhos. Ancorando seus próprios olhos rapidamente no piso de mármore, Maeve umideceu os lábios secos ao ouvir a língua estrangeira.
Educada em diversos línguas, ela ainda tinha dificuldade em entender a língua daquele império. Necessitara aguçar tanto sua mente quanto ouvidos para dar razão às palavras jogadas em sua direção.
—Primeiramente, meu senhor, peço seu perdão pelo meu próprio estado. —por ter treinado essas palavras por semanas, Maeve sentiu uma pitada de orgulho ao conseguir pronunciar quase que perfeitamente a língua. Ela apenas esperava que o imperador não acabasse ficando ofendido ao descobrir que o seu sotaque era fortíssimo.— E eu agradeço sua paciência por aceitar minha presença. - retirando o anel de seu dedo anelar, Maeve entregou a jóia para um servo que em seguida a entregou ao homem sentado no trono.
—Esta é uma prova que pertenço à família real de Galedda e que sou sua herdeira. Meu reino foi invadido e minha família morta ou pior. — as palavras saíam de sua boca em um tom frio e sua face estava congelada. Porém o que Maeve não percebera era que ela estava tremendo visivelmente, se era de raiva por estar se humilhando ou de tristeza, ela não poderia saber. — O que eu venho humildemente lhe pedir, meu senhor, é que— com as palavras travadas em sua garganta que queimava, Maeve precisou parar para controlar seu tom de voz ou acabaria falando em um timbre fino e agudo de uma criança chorosa.—É que providencie asilo à mim e ao meu servo.
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Mantendo o impulso de alisar a saia de seu vestido fortemente afastado, Maeve baixou os olhos enquanto se esforçava a manter sua respiração regular e não demonstrar o quão trêmula ela estava por dentro. Aquele lugar brilhava de uma maneira que a cegava dolorosamente, afinal, se ela visse uma fonte que jorrava vinho, ouro e jóias ela não ficaria surpresa. Mesmo que tentasse forçar seus olhos a vislumbrarem o que os artesões de seu reino chamariam de obra-prima, Maeve duvidava que poderia sentir outra coisa senão um terror gélido que a sufocava gentilmente.
Reino. A palavra veio com uma memória dolorosa o suficiente para sua postura perfeita caísse por meros segundos. Seu reino não era nada mais que ruínas e cadáveres apodrecendo silenciosamente.
Ela poderia ser rainha de um mar composto por cinzas e corpos? O pensamento lhe veio com uma frieza calculista que Maeve aos poucos estava ficando acostumada.
Estranhamente, parada naquele lugar sob o olhar atento de vários olhares curiosos, Maeve se deparou com o fato dela nunca ter chorado após sua fuga. Nem uma lágrima fora derramada mesmo após ver o fogo se alastrando estrategicamente pelas ruas de sua casa, ou sequer quando o cheiro de carne queimada havia invadido suas narinas com tanta força quanto posta em um dos socos de seu pai.
❝Talvez as lágrimas tenham congelado dentro do meu corpo❞ Maeve pensou, colocando cada preciosa gota de graciosidade e elegância que possuía na reverência que fizera.❝Uma pena, talvez lágrimas poderiam ser úteis neste lugar❞
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