mostruário das digladiações autofágicas da minha mente
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eu tô me sentindo terrível de uma forma leve. a dor amorteceu e me acostumei tanto que agora ela é quase imperceptível, como se esse fosse o estado natural das coisas. agora, quando me sinto suja, não quero mais me esfregar até ficar em carne viva; eu apenas sou suja, e não há o que fazer. minha pele tem manchas, e sempre vai ter, e meu nariz sempre vai estar hiperemiado e descamando, uma aberração em meu rosto. não quero mais ter amigos, apenas pessoas com quem sair e ter uma relação de colegagem. não quero mais deixar de ser eu, porque nunca vou deixar. não me iludo mais em salvar completamente a minha família, porque nunca vou salvar. aquela vontade, também, nunca deve sumir. a única coisa que me faz sentir algo próximo de desespero é perceber a apatia. semana que vem tenho psicólogo e da última vez me senti tão mal de comentar sobre minha própria vida que quase quis sumir. não sei por quanto tempo vou continuar a subir aquela ladeira no sol de meio dia, só pra me mostrar pra alguém com quem sinto que não vou dar certo (acho que fiz transferência com ele, de imediato). meu desmame do isrs tá marcado na minha mente pra março do ano que vem, e vou começar a preparar o ninho pra queda dessa casa, e pra queda do meu relacionamento com minha mãe, e pro meu perpétuo e completo fracasso social. que belo texto de fim de ano eu vou ter...
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eu tô sumindo da face da terra sem fazer esforço.
um dia, quando eu era criança - cinco ou seis anos - subi a camiseta e abaixei a saia, para que minha barriga e calcinha aparecessem, e desfilei pelo corredor da escola, imaginando ser uma modelo. foi um ato inocente, que acabou quando fui repreendida pela diretora, e a memória vergonhosa desse momento se imprimiu firme na névoa daquelas lembranças confusas da infância. eu me achava linda. me achava especial, porque meu pai era tratado como Doutor, e minha mãe era uma mulher cuidadosa e linda, especialmente quando fazia o cabelo e passava batom. eu me sentia um produto perfeito dos dois, a pele marrom clara da miscigenação que os dois me ensinavam ser tão bonita, meu cabelo na cintura, a escola particular, o fato de sempre ter sido inteligente. eu lembro de sentir que minha adolescência ia ser empolgante, e que eu certamente teria um séquito de pessoas ao meu redor, aonde quer que eu fosse. quis ser astrônoma, modelo, estilista e historiadora, e meu peito vibrava com a expectativa de ser desejada por um homem. mas, com o tempo - com a violência, o bullying, o racismo, aquele sol de 2015, o relaxamento no cabelo, os mal-entendidos, a depressão, a ansiedade social - eu sumi. sumi, e passei quase dez anos lutando contra esse sumiço. e agora que não luto mais, tá começando a me assustar a facilidade que tenho pra isso. é só cruzar os braços e a areia vai me engolir, vou afundar nos grãos do silo e a água do mar vai preencher meus pulmões. é só dormir a mais e minha pele vai enrugar como casca de laranja e atrofiar como sombra. é só cansar, e meu peito vai doer e pesar até involuir. eu não quero sumir. já quis, nos piores momentos, mas quanto mais quero viver, mais depressiva fico e menos quero viver, se é que faz sentido. mas eu tô sumindo, eu tô sumindo, eu tô sumindo. tô sumindo dos lugares e das pessoas e de mim, e não consigo mais agarrar minha própria mão. eu tô definhando, eu tô sumindo. eu só queria que eu me perdoasse por ter certeza de que meu eu criança não me perdoaria. ela, de cachos espiralados e olhos iluminados, que tinha mais culhões que eu. ela, que brilhava a face da terra sem fazer esforço.
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toda vez que entro nesse quarto
eu sinto peso no peito e quero sair. me sufoca, e não vejo a hora de me mudar de casa pra escapar disso. com sorte, a casa vai ser mais arejada, com um corredor largo e um quarto que me permita sentir mais livre, com um canto pra sentar, ouvir música e ver as estrelas. acho que já não sei mais reconhecer a maioria das constelações no céu noturno, depois de quase dois anos aqui. acho que sou igual àquele personagem, mariano, do emblemático e fatídico livro de mia couto, "um rio chamado tempo, uma casa chamada terra". ele se foi muito cedo e voltou muito tarde pra chamar qualquer um dos lugares de lar.
ultimamente ando pensando sobre isso, sobre como parece que nenhum lugar vai ser um lar pra mim. a casa que considero minha era uma prisão, e passei a maioria dos dias desejando fugir dali (e ainda não consigo levar a sério a ideia de voltar lá). casas sempre vão ser casas, e não lares, e nunca vou ter o Meu Lugar, nem Minha Cidade, nem uma Família. não com inicial maiúscula. e não dói, mas preciso aprender a lidar com a ideia de que sou uma dessas pessoas e que o convencional nunca vai se aplicar. ah, quero ir embora daqui, mas também não quero. tenho calos nos dedos dos pés e cansaço, e o pôr do sol não é de longe tão lindo quanto poderia ser. é pastel, e não flama, e isso sempre me pareceu errado. ironicamente, sempre me pareceu que não estou em casa.
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eu olho pra minhas mãos
e as exorto a escrever textos satisfatórios. as muriçocas são muitas e não me deixam em paz, e pela primeira vez em muito tempo eu ergui a bandeira branca. peço o cessar-fogo de guerras da vida real enquanto já me rendi há um tempinho em minha própria guerra. acho que estou em stand-by, tentando terminar o ano letivo sem quebrar em mil engrenagens ou deixar minha família e namorada na mão. sinto uma apatia jamais experimentada antes, mas quando penso em certas coisas tenho vontade de morrer. não acho que tem coisas novas pra eu descobrir por agora. não acho que minha vida vai me dar muito. de verdade, do fundo do meu coração. só acho que estou viva e sobrevivendo e que tenho sorte em algumas coisas básicas. não teve mais lágrimas pra secar nos últimos meses, esgotei quem eu tinha pra perder, ultrapassei a barreira do problemática e abracei minha cara de enfezada. palavra engraçada essa, cuja etimologia eu já sabia anos antes de me dar conta. não aguento mais dormir nesse quarto e o desconforto é tão grande que na maioria das noites eu sinto falta de ar antes de dormir, e quando durmo, acordo assustada sentando na cama e querendo evadir. evadir: a vontade de não ter corpo físico continua aqui, mas mesmo ela está abafada pelo peso da apatia. apatia: que apatia? foi só uma queda de intensidade geral dos sentimentos. tá tudo aqui ainda, mas parei de ligar tanto. não vejo nem por que tentar ser atrativa para pessoas novas, e a perda de confiança em todos foi uma das maiores coisas que esse ano me deu. perda de confiança e redução de mundo: me sinto um domo que diminuiu e englobou apenas o essencial. uma conchazinha reduta. e isso não dói mais, e nem dá vergonha. vergonha de que? ninguém nunca notou, ninguém se importa. dinheiro falta sempre, e todos os livros que comprei esse ano ainda esperam pra ser lidos. toda vez que pego um uber me sinto culpada, toda vez que ela paga algo pra mim me sinto um lixo, e toda vez que vejo pessoas com seus amigos me sinto menos que nada (mas agora de forma branda, abafada). queria aprender de vez a pegar um acesso e estou animada para os ambulatórios ano que vem. só tenho mais um ano antes do internato e ainda tenho uma unidade de tênis às raias do inutilizável. desisti, sabe? de muita coisa. aliás, acho que desistir não é a palavra, é stand-by. estou em stand-by. pode ser que isso seja um acalanto que inventei pra minha consciência, mas por enquanto é o que impera. será que almoço agora?
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acho que não sou mais aquela pessoa de station to station
naquela parte que diz there are you you drive like a demon for station to station
...pelo menos to tentando deixar de ser...
isso dói, pensando racionalmente parece algo contra minha própria natureza, mas pensando melhor não dói de forma alguma e minha natureza nunca teve nada a ver com isso
acabei de morder meu próprio antebraço até deixar hematoma, na verdade eu queria que sangrasse mas não tenho coragem de sentir essa dor
acho que to meio bêbada
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sla radical dance disco club
dor no quadril, descubro um álbum novo e quero tirar uma selfie, mas estou de pijama e não vou me arrumar. de qualquer forma, limpei meu close friends e as pessoas que eu gostaria de impressionar não estão mais lá. hoje faço nove meses de namoro, trinta e três dias de ciclo menstrual e três dias de distância do início do quinto período. vontade de dançar e serenidade em relação a tudo àquilo - apenas uma baixa porcentagem de dor. quero mais dinheiro, várias coisas pra comprar e fazer, e a vontade de ser uma adulta, e não esse arremedo semi-adolescente, bateu pela primeira vez nos últimos dias. estou dançandinho, e meus amigos me mandam reels que já não tenho mais paciência para assistir. quando eu cortar meu cabelo tudo vai ficar melhor. quando eu resolver minha vida sexual tudo vai ficar melhor. dói a coxa e o quadril. quanto será que vão custar as radiografias? tenho uma doença crônica? queria ser a fernanda abreu na capa do sla radical dance disco club. marejam-me os olhos.
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Um dos motivos pelos quais eu sofri bullying na pré-adolescência foi o fato de tirar notas boas. Eu era uma boa aluna - era responsável, mas nunca me esforcei mais do que precisava e sempre estudava um dia antes das provas - e mesmo assim conseguia ser a melhor da sala sempre. Era uma escolazinha particular barata de interior, melhor que o sistema público, claro, mas mediana o suficiente para o fato de estar em primeiro lugar não significar muita coisa. Ainda assim, passei a vida fingindo que não sabia fatos e informações que estavam na ponta da língua e falando que sentia dificuldade em matérias que dominava de cor somente para não se ressentirem comigo. As pessoas se ressentiam muito comigo por isso, e eu sempre me ressenti muito com elas pelo que elas tinham e que faltava em mim. E a vida continuava. Meu primeiro baque foi com minhas notas baixas no vestibular, quando descobri que eu não era tão boa assim, e que existiam muitos melhores que eu. Levei 3 anos até a aprovação em primeiro lugar num curso concorrido em uma universidade estadual. Nessa altura, pensei: posso até ter demorado, mas consegui reconquistar a única coisa na qual sou boa de verdade. Tudo na minha vida sempre me fez acreditar que essa era a única coisa pra qual eu prestava: tirar notas boas. Era o quesito no qual eu me permitia ter ego elevado, a prova incontestável de que existia algo que me protegeria de ser reduzida ao nada que várias pessoas já disseram que eu era. Aí entrei na faculdade e descobri que primeiro lugar não valia de nada. Quase reprovei já no primeiro período, e até hoje ainda não consegui ter os resultados que eu queria ter. Isso me fez ficar competitiva e me sentir pequena, especialmente pela crença de que era minha única qualidade, mas à medida que fui conhecendo pessoas, percebi que não era bem assim (distorcida, mas não vazia). Agora que meu ego foi amansado e que aprendi a me contentar com minhas notas medianas, estou bem mais tranquila com tudo isso. Não preciso mais fingir não saber as coisas, agora é o contrário: há muito que não sei e tenho sede de compartilhar e receber pensamentos e conhecimentos em um diálogo intrincado. Mas isso é material pra outro texto...
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Há algo no fato de que todas as vezes que escovo os dentes minhas gengivas sangram, finas, frágeis, delicadas. Há algo nas mudanças bruscas de sentimentos da manhã à tarde ao entardecer à noite, no fato de eu não conseguir arrumar meu quarto, ter vergonha, ansiedade e preguiça de voltar para a academia, não trabalhar por mais que eu precise, não cuidar da minha cachorra e não ajudar minha mãe como deveria. Há algo na ansiedade e na vontade constante de vomitar, mesmo sem náusea, e na vontade de transar, esmagadora, intermitente e perturbadora, mesmo que não deveria ser, e no ódio que guardo no coração - por mim, por eles, por todos - e nas marcas de meu rosto e pele e na vontade de não ser vista. Há algo no fato de eu adiar por meses decisões difíceis. Há algo na minha inconstância e incompletude que salta aos olhos, aos meus olhos, unhas jamais longas, pêlos jamais erradicados, traços jamais apreciáveis, limpeza por fazer e projetos a continuar. Talvez eu esteja condenada a ver a vida apenas sob a ótica do martírio. Estou tendo arrepios e tremendo enquanto digito. Não sei mais o que fazer para deixar de ser eu. Não sei mais o que fazer para me reprimir. Pior ainda, não sei mais o que fazer para me satisfazer. Vivo cansada há tanto tempo...
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desde que eu tinha uns 10 anos eu não sabia o que era viver sem aquelas vozinhas ruins, aquelas que dizem que sou patética, feia, horrorosa, burra, suja, nojenta, infantil; aquelas que repetem as frases "eu me odeio tanto" e "eu quero morrer" a cada mínimo deslize, como se fosse uma litania; aquelas que dizem que vou morrer sozinha e sem nunca ser quem eu sempre quis ser. o interessante é que nos últimos tempos eu passei vários meses sem elas, não sei nem por quê (talvez pelo fake it till you make it, talvez por ter a atenção desviada para outros fatores). mas do meu aniversário pra cá (ah, fatídico aniversário, fostes um turning point pra mim) minha autoestima baixou e me vi em situações ruins e elas voltaram do mesmo jeito que antes, e eu tinha até me esquecido do quanto é ruim. acho que esse tempo sem elas foi só um interlúdio, um oásis. e sigo em frente com elas aqui, comigo. não é como se fosse novidade, né?
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tenho saudade da minha irmã, não quero essa distância física entre nós, como se a idade adulta já tivesse chegado (e não chegou de fato?) e agora fôssemos nos ver apenas em datas comemorativas escassas, à moda de mães de família, à moda da minha família, cada vez mais distantes, e eu sinto falta também da cidade em que cresci, mas não é uma falta de fato, e sim uma nostalgia, e quando penso nos nomes e rostos de pessoas que eu conhecia enquanto criança e adolescente, elas parecem de mentira, irreais, como as sombras da caverna de platão, e quem sabe as pessoas de agora também não sejam... eu penso em como eu me sentia pequena e distorcida perto delas e em como me sinto "apenas" distorcida agora, e vejo com os olhos da minha mente a lua cheia sobre a serra, a vereda poluída com seus buritis, as grades da janela e o sol da tarde batendo no piso vermelho, e o pôr do sol sobre as casas naquele canto do muro, e a face de lobo, e em tudo isso eu vejo a mim mesma, coisas que ninguém nunca, nunca entenderia, e isso me assombra tanto
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midríase
eu sinto falta de me sentir drogada por um perfume, de meu corpo reagir e ser levado ao extremo. de pensamentos constantes, repetitivos e dolorosos, do alvorecer ao anoitecer. de não dormir ou de dormir com sonhos quase que lúcidos, analisados logo após acordar e comprovados como delírios freudianos. de aniquilar e ser aniquilada. de modular minha expressão facial, postura e gestos, de olhar com olhos cítricos exibindo o desejo esfomeado nas entrelinhas. de fazer bobagens e burrices e sentir a perda de sanidade, saber que não estou saudável, me sentir um animal competitivo e arisco e perfeitamente animalesco. de lutar contra minha própria biologia, e ao mesmo tempo obedecê-la como uma escrava. de sonhar acordada ao olhar disfarçadamente e ver na mente o que meu corpo pede. saudade das possibilidades, sinalizações, especulações. de saber que estou me machucando. da disputa mútua, de provocar e da certeza do sim. de emaranhar-me primitivamente. da intimidade do durante, e também da intimidade do depois. e também do antes e do seu prazer ao mínimo toque. da adrenalina explosiva. sentir-me drogada. eu sinto falta de meus olhos em midríase.
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andando num campo aberto, com gramas esparsas, sem mais nada além de árvores à vista, no frescor da madrugada desse outono quente, eu me dirigiria a uma banheira branca e porcelanosa, coberta até o topo por água e gelo, os cubos batendo-se uns contra os outros, flutuando. alguém - calado, incógnito, sem face, de preto - estaria de pé a alguns passos, etéreo, e eu me despiria frente aos olhos dessa pessoa, mostrando meu corpo maculado, tumefado e apodrecido sem vergonha alguma, sabendo estar às raias da purificação. primeiro a ponta do pé, depois o corpo inteiro, eu imergiria na banheira sem tremer uma única vez. assim que a água se tornasse lisa e plácida, essa pessoa se moveria, solícita e silenciosamente, e levantaria meu braço contra a luz da lua, começando a retirar toda a minha pele com as unhas como se descasca uma tangerina madura, o gás cítrico serpenteando no ar a cada pedaço arrancado, a própria pessoa evanescendo junto. ao fim de tudo, eu me submergiria na água vermelha, imóvel e de molho no sereno da noite, quem sabe por vinte e uma luas, ou algum número místico e significativo, ou quem sabe pela eternidade, até que minha casca se solidificasse novamente, a água de sangue se reabsorvendo e se modelando em um material limpo, róseo, leitoso, com veios cristalinos, que seria minha nova pele. ah, quem me dera ter coração e essência de carne humana e um exterior de cristal - uma criatura muito mais próxima da transcendência, essa utopia desesperadora, suja e imoral!
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sempre adorei a lua contrastando com as nuvens no céu de profundo azul do dia. lua minguante - tive que pesquisar - do calor do fim da manhã. e cada vez mais frequentemente há dias que não quero ser namorada de ninguém, amiga de ninguém, familiar de ninguém, só me refugiar num lugar sozinho e hermético com vinho e músicas estranhas como companhia. o céu azul, bem mais azul que minha blusa azul bebê amarrotada e sem sutiã, com os mamilos delineados de forma débil, como se tentassem provar um ponto, mas só provando o de sempre. e não vou sair de de casa hoje. quero o hermético. e não suporto lembrar de coisas dolorosas (como eu pude? como eu pude perdoar e ir seguindo? ah, se eu tivesse parado por ali mesmo!). feche-me em uma caixa com furos de ventilação e me deixe isolada a ponto de perder a propriocepção, tire-me do pensamento e da memória de todos que já souberam que existo. (não, eu não quero isso realmente). vai passar.
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na última semana (coincidentemente,
a semana dos meus 22 anos) venho passando por um dos pontos mais baixos na minha saúde mental em meses. eu poderia passar horas detalhando tudo que venho sentindo, mas basta dizer que o 'supitamento' de sentimentos me levou a ler pela primeira vez em meses, e o livro escolhido foi a redoma de vidro de sylvia plath, livro que estou pra ler há anos. e uau. é um misto de querer ter lido antes com estar feliz de só estar lendo agora. já tive outras experiências com livros que retratam coisas cruas pelas quais já passei, mas um trecho me saltou aos olhos. é quando ela diz: "não teria feito a menor diferença se ela tivesse me dado uma passagem para a europa ou um cruzeiro ao redor do mundo, porque onde quer que eu estivesse – fosse o convés de um navio, um café parisiense ou bangcoc –, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado".
claro que a referência ao próprio título do livro é maravilhosa, mas o que me chamou a atenção foi a metáfora - a mesma que eu usava quando tinha, sei lá, 15 ou 16 anos, e escrevia sobre um plástico com fissuras sobre o meu rosto, que me sufocava mas ao mesmo tempo deixava transparecer o padecimento. e reconhecer isso me trouxe sensações mistas de conforto e de estranheza. me fez refletir muito sobre minha própria saúde mental, e talvez tenha contribuído para uma grande decisão, que só o tempo dirá. me sinto acuada e instável, e talvez pela primeira vez na vida eu esteja aceitando a instabilidade como parte de quem eu sou (talvez não da minha essência, mas parte integrante do meu eu atual). gostaria que esther e sylvia pudessem ver mais as coisas sob minha perspectiva. gostaria de um tiquinho só da perspectiva delas. gostaria que alguém me dissesse exatamente o que fazer e quando fazer para evitar o máximo possível de dano, dor e sangue. mas, claro, ninguém vai me pegar pela mão. no fundo eu sei que frequentemente quero que alguém me pegue pela mão, ao mesmo tempo que brado aos quatro ventos que traço o meu próprio caminho. preciso parar de esperar que alguém me pegue pela mão. mas isso é ser criança e ser humana, duas coisas que sei muito bem ser. tenho que me perdoar.
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talvez a grande verdade seja que
ainda não me sinto confortável em minha própria pele, em minha própria vida, como uma roupa incômoda que não cabe apesar de ser do tamanho certo, ou uma cobra que tenta constantemente trocar de pele sem perceber que na verdade está em carne viva, como a agonia de um som áspero de raspagem ou sentir os dentes adstringentes ao morder uma fruta que ainda não amadureceu. Sinto que não sou uma pessoa muito agradável e que sou áspera e ridiculamente fácil de decifrar, e que depois que me decifram ficam apenas por eu ser totalmente previsível e suficientemente leal, o que não faz sentido, tendo em vista que estou no melhor momento da minha vida até então e existem pessoas que me amam e gostam de mim; mas até que ponto? Pois constantemente me sufoca a ideia de que existe em mim um oceano tão vasto de nuances que não consigo externalizar, mas ao mesmo tempo, de que sou ridícula e rasa, somente uma poça aspirante a tempestade e tsunami e ondas violentas. O medo de passar o resto da vida remando nessa dualidade sem fim e sem destino, sem nunca me transformar em outra, me consome tanto, e será que eu não devia parar e olhar pra mim e me contentar com o que sou? Por que não me contento? Talvez o que me falte é conhecer a mim mesma e aprender a apreciar e confiar em mim, porque por mais que a autoanálise seja tudo que eu faço desde que me entendo por indivíduo 'sprouting' adolescente, não pareço chegar a conclusão alguma além das mesmas marteladas obsessivas (!) compulsivas (?) que não me levam a lugar nenhum. Só que a ideia de gostar de mim como sou me enoja tanto que talvez eu nunca consiga: sei que não faz parte da minha natureza me contentar com as coisas como são. Indecisa e insegura, vejo tantas questões a serem pensadas e tantos caminhos à frente que a inércia continua parecendo o melhor caminho, e permaneço parada, girando eterna e caleidoscopicamente, de forma que o frame geral nunca se revela inteiro e talvez com medo de que ao se revelar ele mostre lacunas que jamais poderão ser preenchidas.
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“Toda descoberta é feita mais de uma vez, e nenhuma se faz de uma só vez.” - Sigmund Freud
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