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bellaslytheryn-blog · 6 years ago
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Simples e romântico
Ela não era do tipo que acreditava, pelo menos não facilmente, no amor. Achava que era algo para tolos, fracos e carentes. Tinha certeza que não precisava daquilo, viveria sua vida com pequenos e breves casos mas nunca se apaixonaria, namoraria ou casaria.
Não conseguia entender como as pessoas se contentavam com algo tão bobo, como ela via. Tão simples.
Sempre foi uma garota mais apegada a bens materiais do que a emoções e sentimentos. Era incrivelmente bonita, chamava demasiada atenção, mas não era parte de um grupo de amigos nem nada do tipo.
Apesar disso era muito apegada ao estudo, queria ser alguém na vida, queria manter a vida boa que tinha com mansões enormes e extremamente chiques e caras, com diversos carros maravilhosos e coisas desse tipo, era a única coisa que prezava.
E conseguiu. Realizou seu sonho, sua vontade.
Além de ter herdado grande parte da fortuna de seus pais, a outra parte foi deixada para seu irmão, estudou e se dedicou ao máximo para atingir seus objetivos em sua carreira. E tornou-se ainda mais rica.
Havia feito 47 anos recentemente, sorria pensando nisso. Pensando em como foi uma jovem esperta ao pensar em seu futuro ao invés de festas e garotos, e como continuou sendo ao focar na carreira ao invés de procurar alguém pra casar. Não dependia de seus pais, não tinha um marido para dar atenção, amigas carentes de amor ou filhos para criar, estava livre e rica.
Olhava para sua casa e sorria, orgulhosa de si mesma. Então foi até a varanda tomar um pouco de ar, chegou lá, fechou os olhos e inspirou fundo. Era uma sensação incrível. Quando abriu os olhos percebeu que havia alguém lhe observando com curiosidade.
Seu vizinho da frente. Ele tinha se mudado a poucos dias, nunca tinham se falado mas ela o viu quando fazia sua mudança. Agora ele estava apoiado em sua varanda e a olhava.
Parando para analisá-lo, ele não era tão ruim assim. Deveria ter mais ou menos a sua idade, tinha olhos verdes e o cabelo era, em sua maioria negros, mas começava a crescer alguns fios brancos que o deixavam mais sexy. Era aparentemente grande e forte, fazia seu tipo.
Permaneceram daquele jeito por longos minutos, até que com um breve sorriso, o homem virou-se e entrou novamente em sua casa.
Respirou fundo, sentiu-se um pouco diferente. Aquele olhar… sentia algo novo, algo que nunca experimentara antes. E gostou.
Os dias foram se passando, apesar de ainda não terem se falado, todas as noites ambos iam para suas respectivas varandas e continuavam aquela troca de olhares. Eles mal se conheciam, mas sentiam que o que compartilhavam era intenso, forte e indescritível.
Quando se falaram pela primeira vez foi numa festa na casa dele, era como uma festa de boas vindas, para estrear sua nova casa. Trocaram algumas palavras durante a festa mas foi no final que tiveram algum tempo para se conhecerem.
Todos já tinham ido embora, ela ficou. Não sabia exatamente o porquê, mas decidiu o fazer. Ele se aproximou dela e perguntou se não quereria tomar uma taça de vinho com ele, seu convite foi aceito na hora. Ficaram um bom tempo conversando e se conhecendo e aquilo foi terrivelmente incrível para os dois, sentiam seus corações explodirem numa extrema satisfação por estarem enfim juntos.
No fim, quando ela aprontava-se para ir embora, ele lhe puxou pela mão e lhe deu o melhor beijo de sua vida. Foi perfeito.
Aquele momento foi o melhor de sua vida, nunca havia sentido-se tão bem, tão completa e feliz antes, aquilo era o que ela recusava-se terminantemente a sentir. Mas agora não tinha mais porque, já havia conquistado o que queria, nada tinha para impedi-la de  conhecer mais profundamente alguém.
Então quando ele lhe chamou para sair, ela aceitou. E os meses seguintes foram os melhores de sua vida, jamais se sentiu tão feliz. Davam-se tão bem… sabia que não conseguiria por em palavras tudo o que sentia por ele pois era algo de extrema intensidade e que só pode ser compreendido se sentido, era o significado de indescritível.
Não só os meses passaram como alguns anos também, e eles continuavam juntos firmes, fortes e mais felizes do que nunca.
De certa forma ela ainda tinha aquele apego a coisas materiais, as poucas discussões que tiveram, inclusive, foi por causa disso. Mas sempre acertavam-se pois, afinal, eram o amor verdadeiro um do outro.
Ela sempre foi exagerada com as datas, fazia coisas extraordinárias para comemorar dia dos namorados, aniversário de namoro e o de casamento e tudo o mais, por mais que ele insistisse em dizer que aquilo tudo era demais e não era necessário, uma das únicas coisas que eles discordavam.
Foi no aniversário de quinze anos de casamento que ela conseguiu compreendê-lo. Hoje tinha 70 anos e ele 73, naquele ano também haviam descoberto um câncer de próstata com metástases.
Passaram o aniversário no hospital, estavam de mãos dadas e o apertou dele nos dedos finos dela ainda era forte, de um jeito bom.
“Sabe, acho que essa é a primeira vez que passamos um aniversário de casamento com tranquilidade, sem grandes festas ou coisas do tipo.”
Ele dizia sorrindo verdadeiramente para ela.
“É que eu finalmente entendi que nenhum presente era necessário, eu já ganhei o melhor presente de minha vida quando lhe conheci e nada nesse mundo pode ser melhor do que nosso amor. Eu não preciso de festas, dinheiro ou mansões, preciso de você ao meu lado.”
Ele lhe abriu um enorme sorriso, um tão sincero e maravilhoso que a fez sorrir igualmente. Beijaram-se com extrema alegria e ele lhe desejou um feliz aniversário de casamento, que logo foi retribuído por ela.
Uma semana depois ele morreu durante o sono e poucos dias depois ela também partiu, também durante o sono.
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bellaslytheryn-blog · 6 years ago
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Cores
Não era uma linda manhã em que o sol estava forte, mas emitia um calor gostoso, que o céu não estava coberto por nuvens mas sim adoravelmente limpo, deixando o azul reinar. Não era nada disso.
Quando acordou, caia uma tempestade. Olhou pela janela e viu o céu cinza, como a cidade.
Como a fumaça das fábricas espalhadas por aí.
Como as grandes e importantes empresas.
Como as pessoas andando pela calçada, também cinza, com suas roupas desta cor.
Gostava da cor, era elegante, bonita. Costumava achar que era mais para gente rica.
Mas era irritantemente sem graça, quem a escolheria em comparação a outras cores? Ao azul, ou o vermelho. Talvez o amarelo ou laranja. Ou melhor, o colorido. Aquela linda bagunça de cores em que seus olhos não sabem no que focar primeiro, que confunde seu cérebro.
Mas ela vivia numa cidade cinza sem graça. Com pessoas carrancudas que não olhavam para ninguém, com olhares vazios. Com movimentos automáticos.
Um lugar em que ninguém parava para admirar a beleza do amanhecer, do pôr do sol ou das estrelas, que ninguém via os filhos correndo no lindo quintal verde, com a roupa suja da terra marrom e os olhos azuis brilhando, alegres.
Todos os dias eram assim, ela não conseguia se lembrar desde quando, e nem queria. Não tinha tempo.
Essa era a desculpa mais usada por todos. Não podiam sair com suas esposas por uma noite para jantar pois não tinham tempo.
Não podiam rever seus familiares por um fim de semana ou talvez até mesmo um breve mas alegra almoço de domingo pois não tinham tempo.
Não podia parar para brincar e dar atenção aos seus filhos pois não tinham tempo.
Não era atrás do dinheiro que o ser humano corria, desesperado, mas sim do tempo.
Uma das únicas coisas que não temos controle, que escorre por nossas mãos como um punhado de areia.
Uma das únicas coisas que o ser humano não podia esbanjar por aí, dizendo que tem controle.
Algo poderoso e demasiadamente forte, que comanda nossas vidas, mesmo que não possa ser visto, ganho ou controlado.
Mas voltando ao clima, estava - como sempre - chovendo. Todos os dias amanheciam com chuva e todas as noites vinham com ela.
O clima moldou-se ao humor das pessoas: sem graça, deprimente, melancólico.
Melancolia é algo que descreve bem aquela cidade sem cores.
E voltando a este tema, as pessoas hoje pareciam não as ter mais, não as reconhecer.
A diversidade se esvaiu.
Todos era melancolicamente iguais, expressões fechadas, vazias, opacas, cabelos deveras arrumados, não existia um fio fora do lugar nos cabelos negros ou castanhos. Ruivos e loiros mal existiam. Os olhos também castanhos, as outras cores morreram como os tipos de cabelo.
Ninguém pensava muito, era mais automático, algo que se fez tantas vezes que já está gravando em seu subconsciente. Não falavam também, não tinham tempo para essas coisas.
Era cada um por si, sentavam em suas mesas e faziam seu trabalho.
Era apenas isso que se fazia.
Nenhum outro trabalho.
Eram sempre papéis, contratos, pastas, computadores, impressoras. Coisas de escritório.
As crianças não eram mais crianças, mal tinham essa fase, elas nasciam e já eram adultas. Cada um por si.
Sentimentos, cores, expressões, tudo se foi. Nada disso importa, afinal.
Estavam mergulhados na escuridão, e aquilo não era nem o começo.
“Por favor… me dêem as cores. Me deixe enxergá-las novamente. Retire esse cinza daqui. Me dê as cores. Por favor.”
A oração não era mais a mesma, trocaram Deus pelo tempo, e não era um pedido de proteção a si e seus familiares ou um agradecimento pelo dia seguro e agradável. Era um último pedido de socorro, o último suspiro antes de cair no sono.
Era o coração querendo se fazer ouvir, implorando, dolorido. Machucado. Maltratado e ignorado.
No dia seguinte, seria o mesmo ritual, acordar, olhar a janela vendo a tempestade, ver a cidade cinza, tomar banho, comer, correr até o trabalho, almoçar, voltar ao trabalho, sair, ir para casa, implorar e dormir.
Até que um dia, depois de muito implorar, as cores voltassem lentamente.
Primeiro viriam as joaninhas, abelhas e borboletas. Depois flores. Várias. O sol nasceria, recuperando aos poucos sua força e brilho. Sua intensidade e resplandecência. Viriam também os bom dia's e cumprimentos ao longo do dia. Sorrisos, convites para sair.
E com o tempo, a cidade cinza esqueceria aquela terrível época. Seria lembrada como cidade das cores.
Onde seu coração falaria e seria escutado e obedecido, onde seria cuidado e bem tratado.  
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