Uma incisão cirúrgica na ficção da minha subjetividade para drenar em palavras a vida que ela não comporta em si. Duda Checa, São Paulo, textos autorais.
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Rodovia Ayrton Senna, nove de novembro de dois mil e dezenove
Como pedregulhos de cimento caindo de um caminhão na estrada,
o meu desejo não escorre:
cai endurecido no chão quente.
E passa num só lance de pedra a pó.
Poluindo os pneus macios
dos carros selvagens que lhe pisam.
- Duda Checa, 19 de abril de 2020.
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Quem somos os loucos?
Os delírios não são nada oníricos, a la Dalí, a la LSD e à toda romantização do psicodélico, do surreal. Engana-se quem pensa que psicose é total abstração, quem teme o louco... O louco, meus caros, é mais são do que crê a nossa prepotente síndrome de herói generalizada, que os trancafia, os vitimiza, os medica, os castra, tira-lhes o tesão, a pulsão, a dopamina, a voz e a cidadania. O louco, seja aquele do manicômio, ou este, em mim, em ti, em nós, são seres impregnados de realidade, a realidade que lhes banha, lhes transborda, lhes pinga e nos repugna, nos repele, nos assusta. A loucura ilude de realidade. A droga chapa de fatal. E nós gozamos e jorramos a nossa perversão orgástica ao ver no outro aquilo que não queremos ver em nós, gozamos em nossas ilusões de individualidade, em nossas bolhas auto-sustentadas, no panoptismo de nossas paranoias delirantes, na camada de pele sintética dos discursos humanitários capitalizados, na democracia pra inglês ver. As pessoas andam se travestindo de ensimesmamentos, se despindo da responsabilização, da implicação, das inteiridades, das vísceras. As pessoas andam "sadias" demais, porque concretas demais, vazias demais e parecidas demais, meio produzidas em série, linhagem, meio industriais. E fazendo girar capital de suas angústias, criando grupos de apoio no facebook, psiquiatra online, psicoterapia fracionada pelo convênio médico, análise diária paga em dinheiro, sessão fast food pelo sus por assistencialismo de universitários que precisam de ratinhos humanos. "A sessão está 200 reais por semana, os remédios somam mais 300 ao mês, o genérico tem no sus, mas me dá mal-estar." "A gente não tem dinheiro pra te tratar, a gente não tem dinheiro pra te deixar ser, a gente não tem dinheiro, a gente dinheira ter, a gente dinheira ser, se dinheiro deixa ser, quem não tem vive sem ser?" O dinheiro perfuma a loucura de doença, a pobreza impregna a mesma de perigo. O dinheiro perfuma a droga de fragilidade emocional, a pobreza a impregna de tráfico. O dinheiro perfuma a pobreza de direitos humanos. E a pobreza? Ela apodrece nas calçadas esperando. O mundo está cheio de psicóticos castrados Enganando-se no conforto medicalizado de suas neuroses suicidas. E nós matamos os loucos. Não só os que prendemos, não só os que drogamos. Mas também os que somos. E que silenciamos.
Duda Checa
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os meus domingos são sós ou eu é que sou só?
Domingo é um dia em que as absurdezas da vida ficam menos abstratas e surdas, mas continuam, por si sós, absurdas para mim.
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Chegava a afirmar que sabia o que seria a luz por colocar a mão nas madeiras que aqueciam aí sol. Dizia: é uma espécie de olhar sobre nós. A luz é uma espécie de olhar sobre nós. No entanto, incapaz de ver por dentro. Por isso, quando é intensa, aquece pela frustração de lhe ser impossível entrar nas pessoas. Entra por temperatura. Explicava assim, como se quisesse fazer crer que ver era coisa pouca de que a felicidade poderia abdicar.
Valter Hugo Mãe, “Homens imprudentemente poéticos”. (via manietado)
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Sei o que há no fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz. Era o que você temia. Eu não: já estive lá. . É o mar que você ouve em mim, Suas frustrações? Ou a voz do vazio, essa é a sua loucura? . O amor é uma sombra. Como você chora e mente por ele. Ouça: estes são seus cascos; fugiram, como cavalos. . Vou galopar a noite inteira Até que sua cabeça vire pedra, seu travesseiro vire turfa, Ecoando, ecoando. . Ou devo te trazer o borbulhar das poções? Isso agora é chuva, esse silêncio imenso. E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico. . Sofri a atrocidade dos poentes. Queimada até as raízes Meus filamentos ardem e ficam, emaranhado de arames. . Meus estilhaços se espalham em centelhas. Um vento violento assim Não suporta obstáculos: preciso gritar. . A lua, também, não tem pena de mim: me engole, Cruel e estérilSeus raios me arruínam. Ou quem sabe a peguei. . Eu a deixo fugir, fugir Magra e minguante, como depois de uma cirurgia radical. Seus pesadelos me enfeitam e me possuem. . Dentro de mim mora um grito. De noite ele sai com suas garras, à caça De algo para amar. . Sou torturada por essa coisa negra Que dorme em mim; O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade. . Nuvens passam e se dissipam. São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis? Foi pra isso que atormentei meu coração? . Não consigo compreender além. E o que é isso agora, essa cara Assassina com seus galhos sufocantes? - . O beijo traiçoeiro da serpente. Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos, Que matam, matam, matam.
Sylvia Plath - The Collected Poems. (via flores-e-haicais)
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Saiu no jornal
Saiu no jornal, “a vida é uma cadeia de pequenos vícios”, então deve ser mesmo. O meu mate, meu cigarro, meus livros, o seu cartão de crédito, seu trabalho, sua fluoxetina. O chão da existência contemporânea é frágil. Enquanto a fissura existencial maior se ramifica em pequenas rachaduras que se estendem por todo o espaço conceitual de nossas vidas, corremos numa esteira concreta e rachada, tentando suprir os danos com objetos materiais, fugas neuro-estimulantes, relacionamentos abusivos e outras distrações. Ao passo que a vida acontece, eu perco meu tempo fumando este cigarro, você abre outra garrafa daquele vinho caro e fica com ele a sós no seu condomínio fechado; Marina chora suas últimas lágrimas pelo rapaz, que hoje em dia já não é o mais bonito, só que agora já lhe sugou toda a juventude e, por isso, é melhor ele do que ninguém. A poucos quilômetros dela, João toma seus ansiolíticos e acredita ter fobia social, é mais fácil do que pensar no pai, que lhe abusara na infância. Pelo menos agora ele banca os medicamentos todos e se mantém distante. Na janela de frente, Clarice toca delicadamente seu piano caro, tira boas notas, enche os pais de orgulho e também envia fotos nua para os garotos da escola, corta os pulsos, vomita o jantar e depois dorme, sonha ser outra pessoa, em outro lugar. Pedro mora debaixo do viaduto, perto da escola de Clarice, a vê passando com aquela mochila bonita todos os dias. E também o uniforme - que ela tanto detesta - e sonha com um mundo onde ele é branco, limpo e visível. Mas nada disso importa para Amélia, ela queria mesmo é ter nascido homem, imagina sua barba no espelho todas as manhãs e come outras meninas de vez em quando, mas elas nunca entendem, talvez nem ela entenda, talvez não seja preciso entender, a racionalização do corpo é uma falácia mais dolorosa do que a entrega às suas demandas. Saiu no jornal, estamos adoecendo, estamos caindo, estamos entrando em guerras nucleares internas e provocando uma cadeia de micro-colapsos implosivos. Eu nunca tinha visto um formato tão individualista de se cometer genocídio. Como pensar esse tipo de comportamento pelo viés psicoterapêutico sem cair numa patologização da vida? Seria a patologia a nova regra e, por isso, deveríamos nos isentar dessas terminologias e olhar a situação por um ângulo menos fetichizado? Fomos todos seduzidos pelos prefixos diagnósticos da psiquiatria, mas dar nome aos bois não elimina o problema. Dizer que o menino comete delitos porque a ausência do pai o isentou da noção da importância da lei não faz com que as unidades educacionais se esvaziem, é preciso dar voz aos mudos, ouvidos aos tagarelas. A ciência anda carregada de orgulho e a psicanálise não abrange a vida, assim como qualquer outra teoria. Chore suas mágoas em seu lenço caro, reserve a suíte presidencial do hotel mais caro do centro da cidade e arremesse o seu corpo flácido e já decrépito ao horizonte azul e cinza da tela da paisagem urbana. "A nossa tarefa é confortar o sujeito, sempre que possível", em tempos de apatia generalizada, ouvir já provoca o efeito de um abraço caloroso, mas toques podem gerar processos, cuidado! Basta ler o jornal, a vida enlouqueceu e , embora a sua loucura não seja nada doentia, estamos a mantendo sedada, no ato mais imbecilizado de nossas humanidades desumanas.
Duda Checa
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tão cansado
a gente bebe e ri porque as coisas não são o que deviam ser e a gente não pode fazer nada sobre coisa alguma a gente deita e dorme e espera acordar num mundo melhor ligar a tv e ver as notícias a palestina está livre a catalunha está livre o curdistão está livre as pessoas também estão livres mas a gente acorda e só existe a ressaca a gente ainda é julgado pela roupa que veste pela pessoa que ama pelo lugar em que nasce então a gente bebe e ri querendo chorar a gente acende um cigarro e fala sobre arquitetura neoclássica e a crise no qatar enquanto os dias se repetem
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Re-legião
Eu me converti, a minha religião é arte! Não a arte, o pronome faz dela algo tão específico que sobreporia o teor objetivista a todo o sentimento que me invade quando invoco: arte! Neste momento, saibam, leitores-ouvintes, que vim ao banheiro na licença poética mais escatológica para escrever esse amontoado de afetos que se tropeçam e se abraçam com os seus corpos amigavelmente erotizados e causam, no meu corpo desterritorializado do mundo e cujas terras-espaços são por eles invadidas, um palco de insanos que em mim dançam, como moradores de rua, como bandidos, como anjos fodidos, humanos animalizados, ou seriam redundantemente animais desumanizados? Não ouso responder. Essa, apresento-vos, é a minha religião, ou melhor, re-legião, meu bando, minha casa. Entrem, baguncem, desenhem, pixem! Aqui o meu corpo entra em transe, transando com tudo que me é público, com tudo que me é leitor, com tudo que me ouve e me barulha, que me é bar e rua, bueiro e calçada, roupa rasgada e que me toca no que me é menos meu à medida em que faz disso o que sou além do que tomei como meu. A minha despersonalizão me faz persona do avesso, faz víscera da minha pele e me tatua dessas palavras que dançam o meu corpo no papel de uma tela luminosa agora. Eu estou viva e não há nada mais transcendente do que o meu real que me lança, com força, no instante-já do meu corpo que é tão mais meu na interação que o faz o corpo que é, o corpo que sou. Não, eu não só me converti, eu me subverti e jorro todo o meu sangue-gozo-riso para que vocês, que ouvem a minha presença no silêncio de suas leituras, me façam, em rabiscos, em cores, em memória. Se algo me traz segurança e conforto espiritual nessa vida, é isso aqui: o meu lançar-me a tudo que me é surpresa, ao todo que me é caneta e que me escreve ao passo que me inscreve e que me move à comoção de estar aqui de corpo inteiro no que eu chamo de vida. Se eu tenho um deus, ele é. Ele só pode ser assim, verbo, movimento e vive em mim e em tudo que me transborda e me coloca na borda do que se excede e assim me excessiva, me chora e faz do meu corpo culto, não o evagélico, mas o da carne, do peito, do gosto, do tato, do afeto, o do que me faz humana na na (anima)lidade que me porta e me arremessa, com um pé na bunda carinhoso, a viver o transe no cotiano de uma conversa, de um encontro, de um contato. Vocês me tocam o corpo todo. E isso me faz perder todo esse texto com um sorriso. E nada mais. Duda Checa
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Sobre doenças e outras mu(n)danças
As pessoas se esquecem que a temperatura pode variar e que, ainda, se combinada a uma alteração brusca na umidade relativa do ar, o ambiente se torna um verdadeiro playground de bactérias e vírus. Então o corpo, que antes só sentia efeitos da mudança nas trocas de calor, depara-se com a surpresa da entrada de outros organismos no seu, invadindo alegremente suas células para uma festa biótica, um rito pagão, seres que fazem uma suruba com as nossas células brancas só para, quem sabe, comemorar que a chuva finalmente chegou - coisa que nós não sabemos mais fazer. Para nós, isso só significa gastos com remédios, mudança na rotina, atestado, repouso. Uma brusca freada no ritmo cotidiano da vida redutível às coisas que produzimos para dar sentido a ela. E o que é a vida sem essas coisas todas? Em suma, um detestável mau humor, uma ingênua preocupação e uma necessidade tola de combater a nossa própria falta de controle sobre o corpo, como cães que perseguem os próprios rabos, na teimosia de acharmos que o corpo, esse que temos, ou melhor, esse que somos, vive em função de algo ou de alguém. Mas as pessoas também se esquecem que mudança é, antes de tudo, mundança, mundo, dança, movimento. E que nós somos corpo-dispositivo, habitantes e habitáveis por toda vida que, nos encontros do devir, souberem utilizar bem os nossos espaços ocupáveis. É que nós, em nosso habitual delírio de imortalidade, não queremos pensar no padecimento, na morte e em tudo que fede. Maquiamos o defunto e criamos aparelhos que, devorando muito capital de quem não sente fome, mantêm corpos bioticamente vivos para não termos de lidar com o mártir da finitude, ou simplesmente para que os bens não sejam passados à frente, pois esses - os bens, moral materializada - têm mais valor sentimental do que muitos corpos. E para isso criamos todo um arsenal de singelas mediocridades, para nos distrairmos da vida e, depois chamarmos isso de vida, para anularmos as outras potências de vida, pois elas assombram, elas se movem, elas adoecem, elas vivem. Se pensarmos bem, na verdade, a vida - em si - é tão pouco próxima da noção de vida que criamos que, a morte, que nesse sistema binário seria seu antônimo, passa a ser complementar, pertencente, companheira, eu diria, dos processos vitais. Porque viver também é adoecer, morrer, apodrecer e adubar a terra, na noção de comunidade que também não temos, para que haja outras vidas viáveis ali. E aí, caberia até nos perguntarmos: há vida? Depois de toda morte que (re)produzimos cotidianamente para que alguns possam viver melhor, com mais espaço, com menos horror. E a morte, em si, tão temida e horrenda, seria o seu rosto tão feio assim? E nós nos contrariamos, caímos no abismo entre o animal e o super-homem, abismo da negação da nossa (medio)cridade humana, da nossa serumanidade, essa que inventamos, da qual nos envergonhamos, à qual negamos. E Enquanto isso as bactérias, vivas e bem aquecidas em nossos tecidos, riem. Duda Checa
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(Nua)nces
Quando me visto, me dispo de tantas outras roupas Quando me dispo, me visto de alguma nudez Quando, despida, me visto, me vejo, me canto, me flerto, sorrio de canto e me oferto. Quando, vestida, me dispo, me amo, me beijo, me sou, me desejo e me canso, me conheço, me afago, me ranço, me reconheço, me intero dos inteiros e dos pedaços, dos pelos, dos cortes, estrias e manchas. A minha nudez é trivial, a minha performance é sem muito cenário. Aí me visto, choro, me dispo, tomo um banho, a-ban-do-no. Me visto, saio, bebo, fumo, proseio, rio, nado. Nada. Me excedo e me falto Me falo e me calo Me tudo e me nado na (des)medida das águas, porque medindo eu medo meus medos, e desmedindo, os medos se desmedem deles mesmos.
Duda Checa
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às próteses que suam.
Me perguntaram quem eu sou e eu disse, na organicidade pura de quem faz algo sem pensar, "eu sou eu mesma". E eu sou tão eu mesma que me vejo, por vezes, atuando a minha própria personagem, na madeira oca do palco da vida, no eco do silêncio de um teatro que está cheio de corpos sem vida. A minha voz bate nas paredes, nos tecidos e nas caras e volta pra mim cansada, com um tom que desconheço, mas do qual logo me aproprio e com ele enceno, aceno, sorrio, corro e rodopio, num monólogo desses sem pé nem cabeça, a la Beckett, como se aquelas pessoas todas não me afetassem, como se aquela indiferença toda não me doesse.
Eu atuo o desprezo que me é dado em cores, tons e movimentos vivos e, para mim, aquela massa de corpos ganha vida, ganha sentido, ganha o afeto que me motivou a subir ali. E eu me reafeto, eu me entrego, com o meu corpo também sem vida, para o teatro brincante de ser quem eu quero ser, porque se sou algo, sou desejo, e nada mais.
E a realidade se torna uma tela de invenções, onde as ações são cores. Gosto de misturá-las, experimentá-las, me pinto toda de mim e subo no palco esperando que o contato com os holofotes crie novas cores e que aqueles olhos sem visão me vejam com a própria ausência de visão, me vejam com o próprio desprezo. Espero apenas que a minha voz ecoe, porque assim, ressoada, afetada, eu ganho olhos, ganho voz e ganho vida, no ato mais esperado de um manuscrito rasurado. E transpiro, na madeira envelhecida, toda a vida que tenho, ofertando-a toda ao palco, porque ali ela já não é minha, eu é que sou dela.
Viver tem sido um processo de micro-descolonizações. Por isso, não me perguntem mais quem eu sou, porque no fundo somos todos a resposta que inventamos pra fugir da pergunta que fazemos, das farsas que reproduzimos. Somos todos a urgência de fazer olhos das nossas próteses de vidro, de fazer vidas dos nossos palcos vazios. Mas ainda somos vidro, madeira, suor. E nada mais.
Duda Checa
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Eu dissolvi os meus versos e rimas em linhas retas de uma prosa auto-direcionada e pós-moderna demais pra ser chamada de monólogo, despretensiosa demais pra ser chamada de crônica, muito desprovida de criatividade e riqueza simbólica pra se tornar uma narrativa.
Os meus textos são um sopão de ideias oferecidas pela minha lógica narcísica e fantasiada de assistencialismo às minhas pobres demandas emocionais, tão mirradas, famintas, passivas...
Eu construí um palco semântico sobre os destroços da minha autoestima medíocre. Fiz holofote da luz da minha realidade e abri as cortinas para um público que já me vaiou, já me aplaudiu, já me ignorou, já se ausentou.
A gente sempre tenta melhorar, a gente sempre precisa empreender, suceder.
A escrita foi, para mim, um dispositivo de descanso mental bem-sucedido. É como uma região não erógena, mas cheia de terminações nervosas. Talvez o falo poético de Kristeva, a resistência benjaminiana, a parrésia de Foucault. Ela se tornou a minha parte favorita do meu corpo, o grito histérico das madrugadas apáticas, a procrastinação proibida em meio ao trabalho.
Ela se tornou potência daquilo que já sou, mas que, ainda sendo, almejo ser.
Duda Checa
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Qual o seu maior medo?
Acredito que os meus medos mudam circunstsncialmente com os meus desejos, acho que eles se movimentam conjuntamente à vida. No momento eu diria que o meu medo é de perder o direito de existir, não só porque existir é algo que tenho curtido fazer, mas porque estamos vivenciando um momento político em que os caminhos tendem para isso, para aniquilação - mesmo que sutil - dos direitos das mulheres, dxs lgbt e de outras categorias marginalizadas socialmente... E, por mais que eu me considere extremamente privilegiada, por uma série de questões, eu me vejo perdendo o meu direito de existir quando muita gente ao meu redor não pode existir. Eu tenho medo disso, de não existir estando viva
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Amo tua escrita!
Obrigada pelo carinho! Fico feliz em saber que ela afeta e que te faz sentir amor
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Sobre a primeira semana de abstinência
Caros médicos, doutores e demais especuladores da minha psiquê, Preciso dizer-lhes que carrego em mim uma mente altamente emocionada, vísceras inflamadas e cobertas por uma camada de pele totalmente permeável às dores e amores desse mundo. Por vezes até ardo em febre, em outras me delicio com arrepios que me invadem até os fios de cabelo... E sabem o que acho? Que está tudo bem. Os senhores dirão que eu ainda não aprendi a conviver, que não elaborei meus traumas de infância, ou qualquer outro subterfúgio psicanalítico barato. De fato, eu não aprendi a relevar a apatia do mundo e ainda não sei engolir o choro. Sou uma terra totalmente propícia aos desastres naturais. Passam por mim terremotos, tornados, tempestades, ou apenas a típica garoa paulistana de todo fim de tarde. Dirão também que o meu ser reluta muito às normas de convívio social, ao bom senso e às suas intervenções medicamentosas. Por isso mesmo é que peço-lhes que não toquem mais nas minhas oscilações dopaminérgicas, no meu déficit de atenção, na minha libido exacerbada. Não desmatem a minha floresta de sonhos inatingíveis, não arranquem as flores do meu jardim de amores platônicos, nem as rosas vermelhas de dores romantizadas... Pois os espinhos não me machucavam até me convencerem de que eles servem para isso. E, a meu ver, arrancar os espinhos tira a beleza das rosas. Eu tenho dores existenciais subjetivantes subjacentes ao que eu suponho que sou, a minha psicopatologia é o que me mantém sã dentro dessa geração prozac, dietética, de egos inflamados, sexo casual e amores rasos. Saibam, eu não vou me adaptar, eu sinto muito. É esse o meu modus operandi, minha pulsão libidinal, meu eros e tânatos inseparável, é o meu grito vital, meu desejo último. Hoje eu me despi em frente ao espelho e me orgulhei das olheiras, do sorriso cansado, das dores no corpo, das mãos trêmulas e dos batimentos naturalmente acelerados. Eu abracei o meu corpo nu, acolhi tudo aquilo que me fora recolhido antes e arrepiei-me ao sentir as lágrimas caindo quentes sobre a minha pele, o que foi deixando a frieza da apatia aos poucos e me devolvendo aquele sentimento bom. Sussurrei para mim: "eu estou de volta". Nunca me senti tão em casa como hoje. Duda Checa
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