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arteriaemchamas · 5 hours
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Jornada para o Oeste 63
CAPÍTULO 12: PURIFICANDO A ALMA, SOMENTE VARREDORES DE TORRES; SUBJUGANDO DEMÔNIOS E RETORNANDO AO MESTRE, É A PRÁTICA DO CULTIVO
No caminho espiritual, a prática nunca deve ser esquecida;
Em cada momento, é preciso alcançar a plenitude.
Cinco anos, dez mil, oitocentos e setenta e duas voltas.
Não deixe que a água espiritual seque,
Nem permita que o fogo de preocupação se intensifique.
Quando a água e o fogo se harmonizam, não há dano;
Os cinco elementos se conectam como um gancho.
A união do yin e yang eleva-se aos céus,
Montando uma grua para alcançar o paraíso,
Cavalgando sobre um dragão para chegar à ilha imortal.
Esta poesia, intitulada "Linjiang Xian", descreve a jornada do monge Tang Sanzang e seus três discípulos. Eles atravessaram as chamas da Montanha Flamejante e recuperaram a calma interior. Com o leque de puro yin em mãos, extinguiram o fogo furioso e continuaram sua jornada para o oeste, agora relaxados e tranquilos. Em poucos dias, cobriram a distância de oitocentos li. Caminhavam em paz, em direção ao oeste, durante o final do outono e o início do inverno, observando a paisagem:
Flores de crisântemo murcham e caem, enquanto novos botões de ameixa começam a florescer.
As aldeias colhem grãos, e em toda parte o aroma da comida é sentido.
As folhas caem das florestas distantes, revelando as montanhas,
Os riachos congelados e os vales sombrios estão mais claros.
O ar está denso e calmo, as criaturas em hibernação.
O yin e o yang estão em equilíbrio, o imperador da lua governa.
A água está em sua máxima força, enquanto o sol brilha suavemente.
O ar da terra desce, enquanto o ar do céu sobe.
O arco-íris desaparece sem deixar vestígios, os lagos começam a congelar.
As vinhas penduradas nos penhascos perdem suas flores,
O pinheiro e o bambu, tingidos pelo frio, parecem ainda mais verdes.
Os quatro viajantes seguiram por um longo tempo até que se aproximaram de uma cidade. Tang Sanzang puxou as rédeas do cavalo e disse aos seus discípulos: "Wukong, veja aquelas torres imponentes à frente. Que lugar é aquele?" Sun Wukong levantou os olhos e observou uma grande cidade. Verdadeiramente, era uma cidade magnífica:
Formada como um dragão, fortificada como uma tigre, cercada por muralhas douradas.
Dezenas de portões adornados com cúpulas luxuosas,
Torres e pavilhões se elevando nas nuvens, envoltos em névoa.
Ponte de jade e pedras preciosas, com feras esculpidas,
Palácios dourados onde sábios se reúnem.
Uma verdadeira capital divina, um paraíso celestial.
Protegida por milênios, a obra de um império eterno.
Bárbaros e estrangeiros se curvam ao poder do imperador,
Os mares e montanhas se reúnem para homenagear o santo.
As escadas imperiais estão limpas, as ruas reais são pacíficas.
As tavernas estão cheias de músicas e risos,
Nas torres de flores, o clima é de alegria.
Fora do palácio de Wei Yang, árvores eternas florescem,
E as fênixes cantam ao nascer do sol.
Sun Wukong comentou: "Mestre, aquela cidade é a morada de um rei." Zhu Bajie riu: "Toda cidade grande tem um governo ou sede administrativa. Como você pode saber que é a morada de um rei?" Sun Wukong respondeu: "Você não entende, a morada de um rei é diferente dos outros lugares. Veja quantos portões há em todas as direções, e a cidade se estende por muitos li, com torres elevadas e coberta por nuvens. Se não fosse a capital de um reino, como poderia ser tão magnífica?" Sha Wujing perguntou: "Irmão, embora você reconheça que é a morada de um rei, sabe o nome desta cidade?" Sun Wukong respondeu: "Como não há placa ou identificação, como podemos saber? Teremos que entrar na cidade e perguntar."
O Mestre Tang conduziu o cavalo até a entrada da cidade. Eles atravessaram uma ponte e, ao entrarem, viram que a cidade estava cheia de vida, com seis ruas principais e três mercados, onde os comerciantes faziam negócios prósperos. A cidade era vibrante, com pessoas vestidas em trajes elegantes e exibindo uma aparência nobre. Enquanto caminhavam, de repente, viram um grupo de monges, cada um carregando algemas e grilhões, mendigando de porta em porta. Seus trajes estavam em farrapos, em uma condição deplorável. Tang Sanzang suspirou e disse: "Quando um coelho morre, a raposa lamenta; é natural sentir compaixão por aqueles que são semelhantes a nós." Então, ele ordenou: "Wukong, vá até eles e pergunte por que estão sofrendo assim."
Sun Wukong obedeceu e chamou: "Ei, monges! De qual templo vocês são? Por que estão acorrentados dessa maneira?" Os monges se ajoelharam e responderam: "Senhor, somos monges injustamente acusados do Templo da Luz Dourada." Sun Wukong perguntou: "Onde fica o Templo da Luz Dourada?" Os monges responderam: "Vire naquela esquina e você o encontrará." Sun Wukong os conduziu até Tang Sanzang e perguntou: "Qual é a causa de sua injustiça? Conte-nos tudo." Os monges responderam: "Senhor, não sabemos de onde vocês vêm, mas seus rostos nos parecem familiares. Não ousamos falar aqui em público. Por favor, venham até uma colina deserta, onde poderemos explicar nosso sofrimento."
Tang Sanzang concordou: "Vamos até o templo deles e investiguemos a situação com mais detalhes."
Quando chegaram ao portão do templo, viram uma inscrição com sete caracteres dourados que dizia: "Templo da Luz Dourada, construído por decreto imperial para proteger o reino." Os discípulos e o mestre entraram e começaram a observar o local:
Os antigos santuários estavam frios, com lâmpadas apagadas,
Os corredores vazios varridos pelo vento.
Uma torre que se erguia até as nuvens,
Alguns pinheiros aqui e ali, cultivando a serenidade.
Flores murchas caíam sem visitantes,
Teias de aranha se espalhavam sob os beirais.
O tambor estava mudo, o sino pendurado em vão,
As pinturas nas paredes cobertas de poeira e sem cor.
O púlpito estava vazio, sem monges para ensinar,
Os salões de meditação estavam silenciosos, habitados apenas por pássaros.
Tão desolador e digno de lamento,
Tão solitário, que a tristeza parecia sem fim.
Embora houvesse incensários diante das estátuas de Buda,
As cinzas estavam frias e as flores murchas, com tudo em ruínas.
Tang Sanzang, com o coração pesado, não conseguiu conter as lágrimas ao ver a condição do templo. Os monges, ainda acorrentados, abriram o salão principal e pediram ao mestre que entrasse para orar. Tang Sanzang entrou no salão, ofereceu incenso e recitou suas orações, batendo os dentes três vezes. Depois, ele foi para os fundos do templo, onde viu que mais seis ou sete jovens monges estavam acorrentados às colunas do pátio, o que o deixou ainda mais comovido.
Ao chegarem à sala do abade, os monges se ajoelharam e perguntaram: "Senhores, cada um de vocês parece diferente dos outros. Seriam vocês os veneráveis monges que vieram do Grande Tang, no Oriente?" Sun Wukong riu e perguntou: "Como vocês, monges, podem prever o futuro? Sim, somos nós. Como vocês nos reconheceram?" Os monges responderam: "Senhor, não temos o poder de prever o futuro. Mas, em nossa miséria e sofrimento, não temos como expressar nossa dor. Clamamos aos céus e à terra todos os dias, e parece que nossas súplicas finalmente chegaram aos ouvidos dos deuses. Na noite passada, todos nós tivemos o mesmo sonho: um monge sagrado do Grande Tang viria nos salvar e nos livrar deste sofrimento. Hoje, ao verem a aparência incomum de vocês, soubemos que eram os enviados do céu para nos resgatar."
Tang Sanzang, ao ouvir isso, ficou muito contente e perguntou: "Que lugar é este? Qual é a causa de sua injustiça?" Os monges, ajoelhando-se, responderam: "Senhor, esta cidade é chamada de Jisai, uma importante nação do ocidente. No passado, recebíamos tributos das quatro direções: ao sul, do reino de Yuetuo; ao norte, do reino de Gaochang; ao leste, do reino de Xiliang; e ao oeste, do reino de Benbo. Anualmente, eles enviavam tributos de jade, pérolas, concubinas e cavalos valiosos. Nossa nação não precisou empregar armas nem travar guerras, e ainda assim, todos se curvavam diante de nosso poder."
Tang Sanzang comentou: "Se eles se curvavam diante de sua nação, deve ser porque o rei governava com sabedoria, e seus ministros eram virtuosos." Os monges responderam: "Senhor, nem os ministros eram virtuosos, nem o rei era sábio. Nossa nação não foi abençoada com bons governantes. Este Templo da Luz Dourada sempre foi envolto em nuvens auspiciosas e emanava uma luz radiante: à noite, emitia um brilho que era visto a milhares de li; durante o dia, exalava uma energia luminosa que era admirada por todas as nações. Por isso, nossa cidade era considerada uma capital divina, e as nações vizinhas nos enviavam tributos."
Eles continuaram: "No entanto, três anos atrás, na primeira noite do mês de Mengqiu, durante a meia-noite, uma chuva de sangue caiu sobre a cidade. Quando o dia amanheceu, o medo e a tristeza tomaram conta de todos. Os ministros informaram o rei, mas ninguém sabia o motivo da ira celestial. O rei então convocou taoístas para realizar rituais e monges para recitar sutras, na esperança de aplacar os céus e a terra. Mas, surpreendentemente, a chuva de sangue manchou a torre dourada do templo, e desde então, as nações estrangeiras pararam de enviar tributos. Nosso rei, furioso, desejava declarar guerra, mas os ministros o aconselharam que os monges do templo haviam roubado os tesouros da torre, e por isso as nuvens auspiciosas desapareceram e os tributos cessaram. O rei, ignorante, acreditou nos ministros corruptos e ordenou que nós, monges, fôssemos capturados e torturados para confessar o roubo. Havia três gerações de monges no templo: as duas primeiras não suportaram a tortura e morreram; agora, nossa geração também foi capturada, e estamos sendo acusados e punidos injustamente. Senhor, como poderíamos ser tão desonestos a ponto de roubar os tesouros da torre? Imploramos que o senhor, com sua grande compaixão e poder, nos salve desta injustiça."
Tang Sanzang, ouvindo isso, balançou a cabeça e suspirou: "Este é um caso complexo e difícil de esclarecer. Por um lado, o governo está em desordem; por outro, vocês sofrem uma calamidade. Se a chuva de sangue caiu e manchou a torre, por que vocês não relataram isso ao rei na época, para evitar esse sofrimento?" Os monges responderam: "Senhor, somos apenas mortais, como poderíamos entender os desígnios celestiais? Além disso, as gerações anteriores não conseguiram esclarecer a situação, como poderíamos lidar com isso agora?"
Tang Sanzang então perguntou a Sun Wukong: "Wukong, que horas são agora?" Sun Wukong respondeu: "Estamos por volta do final da tarde." Tang Sanzang disse: "Quero me encontrar com o rei para trocar os documentos de viagem, mas esta questão dos monges injustiçados precisa ser resolvida antes. Quando saí de Chang'an, fiz um voto no Templo do Portal da Lei: ao viajar para o oeste, onde quer que encontrasse um templo, acenderia incenso e faria orações, e onde quer que encontrasse uma torre, a varreria. Hoje, cheguei aqui e encontrei monges sofrendo injustamente por causa da torre. Wukong, prepare uma nova vassoura para mim. Após o banho, subirei à torre para varrê-la, examinar a mancha e a causa do desaparecimento da luz sagrada. Somente depois disso poderei encontrar o rei e ajudá-los a resolver esse problema."
Ao ouvirem isso, os monges acorrentados correram para a cozinha, pegaram uma faca de cozinha e entregaram a Zhu Bajie, dizendo: "Senhor, use esta faca para abrir as correntes que prendem os pequenos monges à coluna, para que possam preparar uma refeição e um banho para o senhor." Zhu Bajie riu e disse: "Abrir correntes é fácil! Não preciso de faca ou machado, basta chamar nosso velho mestre de rosto peludo, que é especialista em abrir fechaduras." Sun Wukong, de fato, aproximou-se e usou um feitiço para abrir as correntes com um simples toque, fazendo com que todas as trancas caíssem. Os pequenos monges correram para a cozinha, limparam os potes e panelas e prepararam chá e uma refeição. Após o jantar, à medida que o céu escurecia, os monges acorrentados trouxeram duas vassouras novas, para a alegria de Tang Sanzang.
Enquanto falavam, um pequeno monge acendeu uma lamparina e convidou o mestre para tomar banho. Sob o céu estrelado e o brilho da lua, o toque dos tambores no alto da torre ecoava. Era uma noite tranquila, e a cena era assim:
Um vento frio soprava por todas as paredes,
Enquanto milhares de luzes brilhavam nas casas.
Nas seis ruas, as portas e janelas estavam fechadas,
Nos três mercados, os portões estavam trancados.
Os pescadores retornavam às suas cabanas,
Os lavradores guardavam seus arados.
Os lenhadores descansavam suas machadinhas,
Enquanto os estudantes recitavam seus livros.
Após o banho, Tang Sanzang vestiu uma túnica de mangas curtas, amarrou o cinto e calçou um par de sapatos macios. Com uma nova vassoura na mão, disse aos monges: "Vocês podem descansar, eu vou varrer a torre agora." Sun Wukong sugeriu: "Como a torre foi manchada pela chuva de sangue, e está sem luz há muito tempo, pode haver criaturas malignas lá dentro. Além disso, está frio e ventoso à noite, e ir sozinho pode ser perigoso. Permita que eu o acompanhe." Tang Sanzang concordou: "Muito bem, muito bem." Os dois, cada um com uma vassoura, foram primeiro ao salão principal, onde acenderam as lâmpadas de cristal e queimaram incenso. Tang Sanzang orou diante do Buda: "Eu, Chen Xuanzang, enviado pelo Grande Tang do Oriente, estou viajando ao Monte Sagrado para encontrar o Buda e buscar as escrituras. Hoje, cheguei ao Templo da Luz Dourada em Jisai, onde os monges me informaram que a torre foi manchada, e o rei, suspeitando de roubo, os acusou injustamente. Não há como esclarecer essa situação. Eu, discípulo devoto, varrerei a torre com sinceridade, e espero que a sabedoria do Buda revele a causa da mancha e da perda de luz, para que possamos livrar esses monges de sua injustiça."
Após a oração, ele e Sun Wukong abriram a porta da torre e começaram a varrê-la de baixo para cima. A torre era verdadeiramente impressionante:
Elevando-se para o céu, imponente e magnífica,
Era chamada de Torre de Cristal de Cinco Cores, com seu pico de relíquias douradas.
Os degraus em espiral pareciam atravessar cavernas,
As portas abertas como se libertassem aves enjauladas.
Os reflexos dos frascos sagrados brilhavam sob a lua,
O som dos sinos dourados ecoava pelo vento do mar.
Sob os beirais abertos, estrelas brilhavam,
No topo, as nuvens pairavam.
Os beirais decorados formavam esculturas habilidosas de fênix,
No topo, dragões esculpidos pareciam emergir das nuvens.
De longe, podia-se ver a mil li de distância,
Subindo, parecia estar nas alturas celestiais.
Lâmpadas de cristal adornavam cada porta, cobertas de poeira e sem luz,
Corrimãos de jade branco alinhavam os beirais, infestados de insetos.
Dentro da torre, diante das estátuas de Buda, o incenso havia se extinguido,
Fora das janelas, as faces dos deuses estavam cobertas de teias de aranha.
O incensário estava cheio de excrementos de ratos,
E as lâmpadas estavam vazias, sem óleo para queimarem.
Devido ao desaparecimento do tesouro no centro,
Os monges sofreram injustamente, suas vidas esvaindo-se em vão.
Tang Sanzang, com determinação, varreu a torre,
E logo o templo recuperou sua antiga glória.
ang Sanzang usou a vassoura para limpar um andar, depois subiu para o próximo. Assim, ele continuou limpando até chegar ao sétimo andar, quando já era por volta da meia-noite. O mestre começou a sentir-se cansado, e Sun Wukong disse: "Se está cansado, sente-se um pouco. Deixe que eu continue a varrer." Tang Sanzang perguntou: "Quantos andares tem essa torre?" Sun Wukong respondeu: "Acredito que tenha treze andares." O mestre, exausto, disse: "Precisamos limpar tudo, para cumprir meu voto." Ele então limpou mais três andares, mas suas pernas e costas doíam, então ele se sentou no décimo andar e disse: "Wukong, você pode limpar os três andares restantes para mim?" Sun Wukong, renovado em espírito, subiu ao décimo primeiro andar e logo ao décimo segundo. Enquanto limpava, ele ouviu vozes vindo do topo da torre. Sun Wukong exclamou: "Que estranho! Já passa da meia-noite, como pode haver alguém no topo da torre? Com certeza deve ser alguma criatura maligna. Deixe-me ver."
O Rei Macaco, leve como uma pluma, carregando a vassoura, ergueu sua roupa e subiu pela porta da frente, flutuando nas nuvens para observar. Ele viu que no coração do décimo terceiro andar estavam sentados dois demônios, com uma bandeja de comida, uma tigela e uma jarra de vinho à sua frente, jogando dados e bebendo alegremente. Sun Wukong usou seu poder divino, jogou a vassoura de lado, sacou seu bastão dourado, bloqueou a porta da torre e gritou: "Então, vocês são os ladrões que roubaram os tesouros da torre!" Os dois demônios, em pânico, se levantaram rapidamente, derrubando a jarra e a tigela. Sun Wukong levantou o bastão e disse: "Se eu os matar agora, não haverá ninguém para confessar os crimes. Vou apenas pressioná-los com o bastão." Os demônios ficaram encurralados contra a parede, sem chance de escapar, implorando: "Piedade, piedade! Não foi nossa culpa, o verdadeiro ladrão dos tesouros está em outro lugar." Sun Wukong usou uma técnica de captura, agarrou um dos demônios e o levou para o décimo andar da torre, onde disse: "Mestre, capturei o ladrão dos tesouros!" Tang Sanzang, que estava cochilando, ao ouvir isso, acordou assustado e feliz, perguntando: "Onde você o encontrou?" Sun Wukong trouxe o demônio à sua frente, forçando-o a se ajoelhar, e disse: "Eles estavam no topo da torre, jogando e bebendo. Foi quando ouvi o barulho, subi e os capturei. Eu os trouxe vivos para que possamos interrogá-los e descobrir onde estão os tesouros roubados."
O demônio, tremendo de medo, implorou por sua vida e confessou: "Nós dois somos enviados do Dragão Rei de Wansheng, do Lago da Onda Azul, para patrulhar a torre. Meu nome é Benbo'erba e o dele é Babao'erben; ele é um monstro peixe e eu sou um demônio peixe negro. Nosso mestre, o Velho Dragão Wansheng, tem uma filha chamada Princesa Wansheng, que é incrivelmente bela. Ela se casou com um poderoso príncipe consorte de nove cabeças. Há dois anos, o Dragão Rei veio aqui, demonstrou seu grande poder, fez chover sangue e manchou a torre, roubando o relicário de Buda que estava dentro. A princesa também foi ao Palácio Celestial, em frente ao Salão Lingxiao, e roubou a Grama Espiritual de Nove Folhas da Rainha Mãe, que está sendo cultivada no fundo do lago, emitindo uma luz dourada e brilhante dia e noite. Recentemente, ouvimos dizer que Sun Wukong está viajando para o oeste em busca das escrituras e que ele possui grandes poderes. Por isso, fomos enviados para patrulhar e vigiar, preparando-nos para quando ele chegasse."
Sun Wukong, ao ouvir isso, riu friamente e disse: "Esses malditos demônios são tão desrespeitosos! Agora entendo por que o Rei Demônio Boi foi convidado para aquela festa; ele está aliado a essa quadrilha de malfeitores que só fazem o mal."
Enquanto Sun Wukong falava, Zhu Bajie e dois ou três pequenos monges subiam a torre, carregando lanternas, e disseram: "Mestre, depois de limpar a torre, por que você não foi dormir? Sobre o que estão conversando?" Sun Wukong respondeu: "Mano, você chegou na hora certa. Os tesouros da torre foram roubados pelo Velho Dragão Wansheng. Esses dois pequenos demônios estavam patrulhando a torre, vigiando-nos. Eu os capturei." Zhu Bajie perguntou: "Como se chamam? Que tipo de demônios são?" Sun Wukong respondeu: "Eles acabaram de confessar. Um se chama Benbo'erba, e o outro, Babao'erben; um é um monstro peixe, e o outro é um demônio peixe negro." Zhu Bajie, sacando sua pá de ferro, disse: "Já que são demônios e já confessaram, por que não matá-los agora?" Sun Wukong respondeu: "Você não entende. Precisamos mantê-los vivos para apresentar ao imperador como prova e para nos ajudar a rastrear os tesouros roubados." O tolo realmente guardou sua pá, agarrou um demônio em cada mão, e os trouxe para baixo da torre. Os demônios imploravam por suas vidas, mas Zhu Bajie disse: "Vamos transformar vocês em sopa de peixe para alimentar os monges injustiçados!"
Os pequenos monges, felizes, segurando as lanternas, guiaram o mestre para fora da torre. Um deles correu à frente para informar os outros monges: "Boa notícia, boa notícia! Finalmente, a justiça será feita! Os demônios que roubaram os tesouros foram capturados pelos mestres!" Sun Wukong ordenou: "Tragam correntes de ferro e prendam esses demônios pelos ossos das clavículas. Vigiem-nos bem. Vamos dormir agora e resolveremos isso amanhã." Os monges guardaram os demônios com rigor, enquanto Tang Sanzang e seus discípulos foram descansar.
Ao amanhecer, Tang Sanzang disse: "Eu e Wukong iremos ao palácio para trocar as cartas de salvo-conduto." O mestre vestiu sua túnica de brocado, colocou o chapéu de pilu e ajustou suas vestes antes de seguir em frente. Sun Wukong também ajustou sua saia de pele de tigre, arrumou a túnica de linho e pegou as cartas de salvo-conduto para acompanhá-lo. Zhu Bajie perguntou: "Por que não levar esses dois demônios?" Sun Wukong respondeu: "Primeiro vamos apresentar nosso caso ao rei, e então ele enviará oficiais para buscá-los." Assim, eles caminharam até o portão do palácio. Lá, ficaram impressionados com a majestade do lugar, com dragões dourados e fênixes vermelhas decorando as construções. Ao chegarem ao Portão Leste, Tang Sanzang fez uma reverência ao oficial da entrada e disse: "Por favor, informe ao rei que um humilde monge, enviado do leste da Terra de Tang para buscar as escrituras no oeste, deseja encontrar-se com Sua Majestade para trocar as cartas de salvo-conduto." O oficial, de fato, informou o rei, que, ao ouvir a mensagem, imediatamente ordenou que fossem trazidos à sua presença.
Tang Sanzang e Sun Wukong foram então levados ao palácio. Os ministros civis e militares, ao verem Sun Wukong, ficaram alarmados, alguns dizendo que ele era um monge com rosto de macaco, outros que ele tinha a boca de um deus do trovão. Todos ficaram apreensivos e evitavam encará-lo por muito tempo. Tang Sanzang, no entanto, fez uma reverência respeitosa ao rei, enquanto Sun Wukong, de pé ao lado, permanecia firme e sem se curvar. Tang Sanzang apresentou-se ao rei, dizendo: "Sou um monge do leste da Terra de Tang, enviado ao Templo do Grande Trovão no oeste, na Índia, para buscar as escrituras sagradas. Passei por este reino e, com as cartas de salvo-conduto em mãos, solicito permissão para continuar minha jornada." O rei, feliz com a notícia, ordenou que o monge Tang fosse conduzido ao trono dourado e lhe ofereceu um assento em um banquinho bordado. Tang Sanzang subiu ao trono, entregou as cartas de salvo-conduto e, após agradecer, sentou-se.
O rei examinou as cartas e, feliz, comentou: "Seu imperador é realmente sábio, escolhendo um monge tão piedoso para enfrentar uma jornada tão longa em busca das escrituras. Mas, em contraste, os monges do meu reino se dedicam apenas a atos malignos, colocando o país em perigo." Tang Sanzang, juntando as mãos em respeito, perguntou: "Por que Sua Majestade diz que eles colocam o país em perigo?" O rei respondeu: "Este reino, sendo um dos principais do oeste, sempre foi honrado com tributos de várias nações, devido à presença da Torre de Ouro no Templo da Luz Dourada. No entanto, três anos atrás, os monges desse templo roubaram o tesouro sagrado da torre, e desde então a luz divina desapareceu. Por conta disso, as nações estrangeiras pararam de enviar tributos, causando grande aflição ao meu coração." Tang Sanzang, sorrindo, respondeu: "Majestade, 'um pequeno erro pode levar a grandes desastres'. Ontem à noite, quando entrei na cidade, vi vários monges acorrentados e perguntei sobre seus crimes. Disseram-me que eram do Templo da Luz Dourada e estavam injustamente presos. Após uma investigação mais profunda no templo, descobri que os monges não são os culpados. Na verdade, capturei os verdadeiros ladrões que roubaram o tesouro sagrado da torre."
O rei, radiante, perguntou: "Onde estão os ladrões?" Tang Sanzang respondeu: "Eles estão atualmente presos no Templo da Luz Dourada, sob a guarda de meu discípulo." O rei imediatamente ordenou que seus oficiais fossem ao templo buscar os ladrões para que ele pudesse julgá-los pessoalmente. Tang Sanzang, no entanto, acrescentou: "Embora os oficiais possam ser eficientes, ainda será necessário que meu discípulo os acompanhe para garantir que a missão seja cumprida." O rei perguntou: "Onde está seu discípulo?" Tang Sanzang apontou e disse: "Está ali, ao lado da escadaria de jade." Ao ver Sun Wukong, o rei ficou surpreso: "Se o monge é tão digno e distinto, como pode seu discípulo ter uma aparência tão assustadora?" Sun Wukong, ouvindo isso, respondeu em voz alta: "Majestade, 'não se pode julgar um livro pela capa, assim como não se pode medir a profundidade do mar com um balde'. Se a aparência fosse o critério principal, como se poderia capturar os ladrões?" O rei, percebendo a sabedoria nas palavras de Sun Wukong, disse alegremente: "O que importa aqui não é a aparência, mas sim a habilidade de recuperar o tesouro roubado."
O rei então ordenou que os oficiais preparassem uma carruagem para Sun Wukong e providenciassem uma escolta para acompanhá-lo ao Templo da Luz Dourada. Sun Wukong, com grande cerimônia, foi carregado na carruagem, acompanhado pelos oficiais e escoltado por soldados, que abriram caminho até o templo. O alvoroço despertou a curiosidade de todos na cidade, e muitos vieram ver o venerável monge e os ladrões capturados.
Zhu Bajie e Sha Wujing, ao ouvir o barulho, pensaram que se tratava dos oficiais enviados pelo rei e correram para recebê-los, apenas para descobrir que era Sun Wukong sentado na carruagem. Zhu Bajie, rindo, disse: "Irmão, finalmente você conquistou seu lugar de direito!" Sun Wukong desceu da carruagem e respondeu: "Do que você está falando?" Zhu Bajie brincou: "Você está sendo carregado em uma carruagem, com um guarda-sol amarelo, como se fosse um rei macaco de verdade! É por isso que digo que você finalmente alcançou seu verdadeiro destino." Sun Wukong, sorrindo, disse: "Não brinque assim." Ele então desceu os dois demônios, prontos para levá-los ao rei. Sha Wujing perguntou: "Irmão, você vai nos deixar aqui?" Sun Wukong respondeu: "Você fica aqui para guardar as bagagens e os cavalos." Os monges acorrentados disseram: "Deixem-nos cuidar disso enquanto vocês recebem as bênçãos do rei." Sun Wukong disse: "Muito bem, depois que informarmos o rei, voltaremos para libertá-los." Zhu Bajie agarrou um dos demônios, enquanto Sha Wujing segurou o outro, e Sun Wukong, mais uma vez, subiu na carruagem. Assim, eles seguiram em direção ao palácio, levando os dois demônios para serem apresentados ao rei.
Em pouco tempo, chegaram às escadas de mármore branco e disseram ao rei: "Os demônios capturados já foram trazidos." O rei desceu do trono e, junto com Tang Sanzang e os oficiais civis e militares, observou os prisioneiros. Um dos monstros tinha grandes mandíbulas negras, dentes afiados e uma aparência feroz; o outro tinha pele escorregadia, uma grande barriga, boca larga e longos bigodes. Embora pudessem andar, eram claramente seres que haviam assumido formas humanas. O rei perguntou: "Quem são vocês, de onde vêm, e que tipo de demônios são? Há quanto tempo invadem meu reino e quando roubaram meus tesouros? Quantos são ao todo e como se chamam? Contem tudo honestamente."
Os dois demônios, ajoelhados, com sangue escorrendo pelo pescoço, sem demonstrar dor, confessaram: "Há três anos, no primeiro dia do sétimo mês, o Rei Dragão das Dez Mil Santidades liderou muitos de seus parentes para se estabelecerem ao sudeste deste reino, a cerca de cem li de distância, em um lugar chamado Lago das Ondas Verdes, na Montanha das Rochas Caóticas. Ele tem uma filha muito bela, que se casou com um príncipe chamado 'Nove Cabeças', que é extremamente poderoso. Sabendo dos tesouros preciosos em sua torre, eles se uniram ao Rei Dragão para roubar os itens sagrados. Primeiro, causaram uma chuva de sangue e, depois, roubaram a relíquia de Buda da torre. Agora, a luz desses tesouros ilumina o palácio submarino deles, tornando a noite clara como o dia. A princesa, usando de sua habilidade, também roubou a Erva da Imortalidade de Nove Folhas da Rainha Mãe Celestial e a mantém em um lago, onde nutre os tesouros roubados. Nós não somos os principais responsáveis; somos apenas servos enviados pelo Rei Dragão para patrulhar a torre. Esta noite fomos capturados, e o que dissemos é a verdade."
O rei perguntou: "Se já confessaram, por que não dizem seus próprios nomes?" Um dos demônios respondeu: "Eu me chamo 'Benbo'erba' e ele se chama 'Babo'erben'. Eu sou um demônio peixe, e ele é um demônio peixe-negro." O rei ordenou que os prisioneiros fossem bem guardados e, em seguida, decretou: "Liberem os monges do Templo da Luz Dourada de suas correntes imediatamente. Preparem um banquete na Sala do Qilin para agradecer ao monge sagrado por capturar os demônios e discutirmos como capturar o líder dos ladrões."
Imediatamente, o templo começou a preparar um banquete com pratos vegetarianos e não vegetarianos. O rei convidou Tang Sanzang e seus discípulos para se sentarem na Sala do Qilin, onde perguntou: "Qual é o título do monge sagrado?" Tang Sanzang, juntando as mãos em respeito, respondeu: "Meu nome secular é Chen, e meu nome religioso é Xuanzang. O imperador do meu país me concedeu o nome de 'Tang', e sou comumente chamado de 'Tripitaka'." O rei então perguntou: "E como se chamam seus discípulos?" Tripitaka respondeu: "Meus discípulos não têm títulos. O primeiro se chama Sun Wukong, o segundo Zhu Wuneng e o terceiro Sha Wujing. Esses nomes foram dados pela Bodhisattva Guanyin do Mar do Sul. Como eles se tornaram meus discípulos, eu os chamo de 'Andarilho' para Wukong, 'Oito Preceitos' para Wuneng, e 'Monge' para Wujing." O rei, satisfeito com as apresentações, colocou Tripitaka na cadeira de honra, Sun Wukong à esquerda, e Zhu Bajie e Sha Wujing à direita. Todos os pratos servidos eram vegetarianos, com o rei sentado em frente a eles com um banquete de pratos não vegetarianos, seguido por centenas de oficiais civis e militares.
Após agradecerem ao rei, todos se sentaram. Durante o banquete, enquanto a música tocava, Zhu Bajie comeu vorazmente, devorando todos os pratos vegetarianos à sua frente, e, quando trouxeram mais comida, ele continuou a comer sem deixar nada para trás. Mesmo quando serviram vinho, ele não recusou uma única taça. A celebração durou até o meio da tarde, quando finalmente terminou.
Tang Sanzang agradeceu ao rei pelo banquete, mas o rei insistiu para que ficassem: "Este banquete é apenas uma pequena demonstração de gratidão por capturar os demônios. Preparem outro banquete na Sala do Palácio de Jianzhang, onde planejaremos como capturar o líder dos ladrões e recuperar o tesouro sagrado para a torre." Tripitaka respondeu: "Se o objetivo é capturar o ladrão e recuperar o tesouro, não precisamos de outro banquete. Podemos partir agora para capturar o demônio." Mas o rei insistiu, e todos foram levados para a Sala do Palácio de Jianzhang, onde outro banquete foi servido. Durante o banquete, o rei levantou a taça e perguntou: "Quem entre os monges sagrados liderará a missão para capturar o demônio?" Tripitaka respondeu: "Meu discípulo mais velho, Sun Wukong, irá." Sun Wukong aceitou a missão com uma reverência.
O rei perguntou: "Sun Chanshi, quantos homens e cavalos você precisa? Quando pretende sair da cidade?" Zhu Bajie, incapaz de conter-se, exclamou: "Para que precisamos de homens e cavalos? E por que devemos nos preocupar com o tempo? Vamos agora, com a barriga cheia e o espírito animado, e resolveremos isso num instante!" Tripitaka, contente, disse: "Bajie está mostrando diligência desta vez." Wukong disse: "Se é assim, Sha Wujing ficará para proteger o mestre, e nós dois iremos." O rei perguntou: "Vocês precisam de armas?" Bajie riu e respondeu: "As armas do seu reino não nos servem; nós trazemos as nossas próprias." O rei, ouvindo isso, pegou uma grande taça de vinho e brindou os dois monges antes de partirem. Sun Wukong disse: "Não precisamos de mais vinho. Apenas enviem os dois demônios conosco, para que possamos usá-los como guias." O rei então ordenou que os demônios fossem trazidos, e Wukong e Bajie, segurando-os, partiram com um feitiço de transporte em direção ao sudeste.
E assim eles partiram, com o rei e seus ministros finalmente compreendendo a verdadeira natureza dos monges sagrados. O que aconteceu a seguir na captura do demônio será revelado no próximo capítulo.
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arteriaemchamas · 7 hours
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viaje al oeste
CAPÍTULO LXIII
LOS DOS MONJES SUMEN EL PALACIO DEL DRAGÓN EN UN DESORDEN TOTAL. LOS SABIOS RECOBRAN LAS CENIZAS Y DESTRUYEN A LOS MALVADOS.
Decíamos que, al ver al Gran Sabio y a Ba-Chie montar a lomos del viento y desaparecer entre las nubes con los dos diablillos, tanto el Señor del Reino del Sacrificio como sus súbditos, de todo rango y condición, se inclinaron ante el cielo y exclamaron, sobrecogidos:
—¡Hasta el día de hoy no habíamos creído de verdad que pudieran existir tales inmortales! ¡Son, en verdad, budas vivientes!
—Hasta mis ojos son mortales y sólo pueden ver lo que tienen delante —confesó el rey a Tripitaka y al Bonzo Sha, tan pronto como hubieron desaparecido Ba-Chie y el Peregrino—. Sabíamos que vuestros discípulos eran capaces de atrapar diablillos, pero jamás sospechamos que pudieran volar por encima de las nubes a lomos del viento.
—Vuestro indigno servidor —confesó Tripitaka con gesto humilde— no posee ningún poder mágico y depende totalmente de las habilidades de sus seguidores. ¿Cómo pensáis, si no, que he logrado llegar hasta aquí?
—A decir verdad, señor —confirmó el Bonzo Sha—, el mayor de mis hermanos no es ni más ni menos que el Gran Sabio, Sosia del Cielo, que sumió en su día en un desorden total el Reino Superior con la sola ayuda de su barra de los extremos de oro. No hubo nadie, entre todos los guerreros celestes, capaz de hacerle frente. Hasta el mismo Emperador de Jade y el propio Lao-Tse se sintieron impotentes ante él, y temblaban de espanto cuando oían mencionar su nombre. Por lo respecta al segundo de mis hermanos, os diré que no es otro que el Mariscal de los Juncales Celestes, que se ha arrepentido de sus antiguos yerros y ha abrazado el sendero de la Verdad. En sus tiempos llegó a tener bajo sus órdenes a un total de ochenta mil marineros, que patrullaban sin cesar el Río Celeste. Comparados con ellos, mis poderes son, realmente, insignificantes. Aun así, considero mi deber informaros que soy el Oficial Encargado-de-levantar-la-cortina y que he abrazado, gustoso, los principios de la religión. Aunque ninguno de nosotros valemos gran cosa, somos unos maestros a la hora de capturar monstruos y atrapar diablillos, detener ladrones y echar mano a los fugitivos, domar tigres y dominar dragones, poner patas arriba los Cielos y poner coto a la fuerza destructora de las aguas. Para nosotros no encierra ningún misterio montar en las nubes, cabalgar a lomos del viento, provocar lluvia, amainar la furia de los vientos, hacer cambiar de lugar a las estrellas, cargar con las montañas a la espalda y perseguir a la luna, entre otras muchas cosas más.
Tan larga relación hizo que aumentara el gran respeto que ya sentía el rey por el monje Tang. Le invitaba siempre a ocupar el puesto de honor y se dirigía a él con el título de «Buda respetable», mientras que al Bonzo Sha y a sus hermanos los llamaba, simplemente, «bodhisattvas». Pero, si grande era el respeto que levantaban entre todos los funcionarios, tanto militares como civiles, no era menor la alegría que todos experimentaban por tener entre ellos a seres tan extraordinarios. Desde el último rincón del país venían gentes a presentarles sus respetos, por lo que, de momento, no hablaremos más de ellos. Sí lo haremos, sin embargo, del Gran Sabio y de Ba-Chie, quienes a lomos de un viento huracanado, no tardaron en llegar, con los dos diablillos, a las inmediaciones del Lago de la Ola Verdosa, en el corazón mismo de la Montaña de las Rocas Esparcidas. Deteniéndose en el aire, el Gran Sabio echó una bocanada de aliento sagrado sobre la barra de los extremos de oro y gritó con potente voz:
—¡Transfórmate! —y al instante se convirtió en un cuchillo ritual, con el que cortó las orejas al espíritu del pez de color negro y el labio inferior al espíritu de la anguila. Los dejó caer a continuación en el agua y dijo en tono burlón:
—Id a informar de lo ocurrido al Rey Dragón de Todos los Espíritus. Decidle que acaba de llegar el Gran Sabio, Sosia del Cielo, y que exige la inmediata devolución de las reliquias al Monasterio de la Luz Dorada, en el Reino del Sacrificio. Si se aviene a mis peticiones, salvará su vida y la de toda su familia. Si, por el contrario, se niega a ellas, secaré completamente este lago y pasaré a cuchillo a todos sus moradores.
A pesar del dolor y de las cadenas que destrozaban sus pies y manos, los dos diablillos se sintieron felices de poder escapar con vida. Al entrar en el agua, se vieron rodeados en seguida por los espíritus de peces, gambas, cangrejos, tortugas marinas, lagartos acuáticos y toda clase de criaturas fluviales, que les preguntaron, sorprendidos:
—¿Cómo venís atados, como si fuerais malhechores?
Ninguno se atrevía a responder. Uno movía la cola con nerviosismo y sacudía, avergonzado, la cabeza, mientras el otro no dejaba de golpearse el pecho con las aletas. Comprendiendo que había ocurrido algo terrible, los curiosos los acompañaron en tropel hasta el palacio del Rey Dragón.
—¡Qué desgracia tan grande! —gritaron, desesperados, al entrar.
En aquel momento el Rey Dragón de Todos los Espíritus estaba tomando unas copas con su yerno Nueve Cabezas. Al oír el alboroto, dejó la botella a un lado y salió a toda prisa a ver qué pasaba.
—Ayer por la noche —informó uno de los diablillos con lágrimas en los ojos—, cuando fuimos de patrulla, tuvimos la mala fortuna de toparnos con el monje Tang y el Peregrino Sun, que estaban barriendo los escalones de la pagoda. Tras arrestarnos, nos cargaron de cadenas y esta misma mañana fuimos conducidos ante el rey, que nos trató aún peor que los monjes. Por si eso fuera poco, el Peregrino y ese tal Ba-Chie nos acaban de cortar las orejas y el labio inferior, aunque estamos contentos de haber podido salvar la vida. Si nos han dejado marchar, ha sido con el único fin de exigiros que devolváis las reliquias al monasterio del que las tomasteis.
Al oír el nombre del Gran Sabio, Sosia del Cielo, el Rey Dragón sintió tal pánico, que su espíritu le abandonó y tuvo la desagradable sensación de que había ascendido hasta el mismísimo noveno pliegue de los Cielos. Temblando como una hoja de bambú a merced de los vientos, se volvió hacia Nueve Cabezas y dijo:
—¡Ay, yerno, en qué situación más comprometida nos encontramos! No me hubiera importado enfrentarme a un ejército diez veces superior al mío, pero ése es un contrincante demasiado poderoso para nosotros.
—Tranquilizaos, por favor —replicó el yerno, sonriendo—. Desde mi juventud me he dedicado a la práctica de las artes marciales y he llegado a adquirir una cierta maestría en el manejo de las armas. Me he enfrentado, de hecho, con los luchadores más aguerridos de los cuatro mares. ¿Por qué iba a tener miedo de un mono? Os aseguro que después de tres asaltos agachará la cabeza, derrotado, y no se atreverá ni a mirarme a los ojos.
Los criados le ayudaron a ponerse la armadura, mientras él echaba mano del arma que le había hecho famoso: una espada terminada en una media luna. En dos zancadas abandonó el palacio y, abriéndose camino entre las aguas, salió a la superficie con el gesto imponente.
—¿Quién es ese Gran Sabio, Sosia del Cielo, que, según dicen, acaba de llegar? —gritó, fanfarrón—. ¡Que venga aquí inmediatamente y le enseñaré a dominar la lengua!
Desde la orilla el Peregrino y Ba-Chie le observaron, curiosos, y vieron que llevaba un yelmo tan brillante como la reverberación de la luz en la nieve, una coraza de acero cuyos reflejos recordaban las escarchas otoñales y una túnica de damasco con dibujos de nubes de colores y piezas de jade. Ceñía su cuerpo un cinturón hecho de piel de rinoceronte, que parecía una serpiente pitón moteada de lunares de oro. La espada terminada en una media luna lanzaba rayos de luz, que se reflejaban en sus lustrosas botas de piel de cerdo, de las que se servía para hendir las aguas y caminar por encima de las olas. Desde lejos daba la impresión de que su cabeza era su rostro, cosa que desmentía de cerca su aspecto sorprendentemente humano. De todas formas, sus rasgos aparecían repetidos, como si se reflejaran de continuo en un espejo. Para poder ver cuanto sucedía en los ocho puntos cardinales, tenía ojos por delante y por detrás. Poseía, igualmente, un total de nueve bocas, dos en cada lado, que le permitían hablar con una sonoridad tal, que hasta los planetas se enteraban de lo que decía, como si fuera el lamento de una garza. Por eso precisamente, se extrañó mucho de que nadie respondiera a su pregunta.
—¿Quién es ese Gran Sabio, Sosia del Cielo? —repitió, malhumorado.
El Peregrino se ajustó la arandela que, a manera de corona, llevaba en la cabeza y, acariciando su barra de hierro, contestó:
—El mismísimo Rey Mono en persona.
—¿Dónde moras actualmente y en qué lugar naciste? —volvió a preguntar el monstruo—. ¿Cómo es, además, que te erigieras defensor del monasterio del Reino del Sacrificio y de su corrupto rey? ¿Tan fuerte te crees para deshonrar a dos de mis capitanes de la forma como lo has hecho y venir a retarme a la puerta misma de mi palacio?
—¡Monstruo ladrón! —le insultó el Peregrino—. ¿Así que no sabes quién es tu abuelito Sun, eh? Acércate, que te lo voy a decir. Mi primera morada la establecí en la Caverna de la Cortina de Agua, que se halla enclavada en el corazón mismo de la Montaña de las Flores y Frutos. Desde mi juventud me dediqué al perfeccionamiento de mi cuerpo, logrando que el Emperador de Jade me concediera el título de Gran Sabio, Sosia del Cielo. No contento con eso, sumí el Reino Celeste en una total confusión, sin que ninguno de los guerreros que allí moran pudiera poner freno a mis correrías. Incapaces de castigarme con el rigor del que mis andanzas me habían hecho merecedor, solicitaron la ayuda de Buda, quien, valiéndose de la profundidad de su sabiduría, me hizo dar uno de los saltos a los que debo mi fama y me atrapó con su santa mano, convertida inexplicablemente en una montaña. Bajo ella estuve confinado quinientos años. Aún seguiría allí, de no haber intervenido en mi favor la Bodhisattva Kwang-Ing. El hermano del Gran Emperador de los Tang, el virtuoso Tripitaka, se disponía a partir hacia la Montaña del Espíritu en busca de escrituras sagradas y se me ofreció la posibilidad de obtener la libertad, si me comprometía a protegerle durante el camino. Me he dedicado a ello con tanto ahínco, que no sólo he alcanzado yo mismo la perfección, sino que he acabado con infinidad de diablillos y monstruos, para que otros se animen a seguir mi ejemplo. Al llegar al Reino del Sacrificio, tuvimos noticia de la gran injusticia que se había cometido con nuestros hermanos los monjes, dos tercios de los cuales habían perecido a manos del verdugo. Compadecidos de su suerte, decidimos restituirles el honor que habían perdido. Fue así como nos enteramos de que el monasterio había perdido el aura que hasta entonces había constituido su gloria. Con el fin de aclarar lo sucedido, mi maestro se ofreció a barrer, uno por uno, todos los escalones de la torre. A la hora de la tercera vigilia el silencio era absoluto. Eso me facilitó poder oír la conversación que estaban manteniendo tus dos monstruos, que confesaron que las reliquias sagradas habían sido robadas por el Rey Dragón de Todos los Espíritus y el esposo de la princesa del mismo nombre. Informaron, además, que, mientras ella se hacía con otro valiosísimo tesoro en los Cielos, vuestra banda acababa con la luminosidad del Monasterio, haciendo caer sobre él una lluvia de sangre. Esa misma confesión la repitieron al día siguiente en presencia del rey, que nos encargó que viniéramos a arrestaros a todos. Todo el mundo sabe quién es Sun Wu-Kung. Si devolvéis inmediatamente las reliquias a sus propietarios, perdonaré vuestras vidas y las de todos los que os sirven. Si, por el contrario, cometéis la imprudencia de medir vuestras armas con las mías, sabed que desecaré vuestro lago, arrojaré sobre él esa montaña y pereceréis aplastados bajo su peso.
—¿Cómo te atreves a meterte en los asuntos de los demás, si, como acabas de decir, no eres más que un monje en busca de escrituras? —replicó el yerno del dragón, sonriendo despectivamente—. ¿Qué te importa a ti que yo robe o deje de robar tesoros? Tú dedícate a lo tuyo. ¿A qué viene eso de querer luchar contra mí?
—¡Qué poco piensan los ladronzuelos como tú! —exclamó el Peregrino—. ¿Acaso crees que yo busco el favor real? No es él quien me da de comer ni me encuentro atado a su trono por ningún voto de lealtad. Al robar las reliquias sagradas, no sólo privaste de su aura al Monasterio de la Luz Dorada, sino que trajiste la desgracia sobre los monjes que lo atienden. ¿No se te ha ocurrido pensar que todos ellos son hermanos nuestros? ¿Cómo voy a quedarme impasible ante el sufrimiento que les ha acarreado tu incalificable conducta?
—Eso quiere decir que estás dispuesto a pelear, ¿no es así? —contestó el yerno del dragón—. Deberías tener presente que, como muy bien afirma el proverbio, «no existe nada más carente de sentimientos que la guerra». En el combate no hay piedad. No pienses que voy a andarme con remilgos a la hora de medir mis armas con las tuyas. Recapacita que, si acabo con tu vida, la misión esa de conseguir las escrituras va a sufrir un severo revés.
—¡Maldito ladrón! —gritó el Peregrino, perdiendo la paciencia—. ¡No tienes derecho a darme lecciones de moralidad! ¡Acércate aquí y te enseñaré a qué sabe la barra de tu abuelito!
El yerno del dragón no rechazó el reto. Al contrario, levantó la espada terminada en una media luna y paró limpiamente el golpe de la barra que se le venía encima. Dio, así, comienzo una extraordinaria batalla en el corazón mismo de la Montaña de las Rocas Esparcidas. Todo comenzó cuando el monasterio perdió su aura, el Peregrino atrapó a dos de los diablillos que habían participado en el robo de las reliquias sagradas e informó de lo ocurrido al rey. A eso siguió la devolución de los dos ladrones a las aguas, las consultas que el Rey Dragón mantuvo con sus consejeros y el deseo incontrolado de Nueve Cabezas por mostrar su maestría en el dificilísimo arte de la guerra. Ciego de orgullo, tomó sus armas y cometió la imprudencia de despertar las iras del Gran Sabio, Sosia del Cielo, cuya barra de hierro jamás había conocido la derrota. El monstruo se sentía seguro con sus nueve cabezas y sus dieciocho ojos, que brillaban como ascuas encendidas, pero no contaba con que los brazos del Peregrino eran capaces de resistir una presión de más de mil kilos de peso. La razón estaba, además, de su parte. De todas formas, la espada del monstruo, con su forma peculiar de media luna, poseía todo el poderío del yang[1] y hubiera terminado con la barra, de no ser ésta una de las manifestaciones del yin. Ambas estaban, pese a todo, dispuestas a obtener la victoria. Sin embargo, tras más de treinta asaltos y de volver, una y otra vez, a la carga, ninguna de ellas consiguió una ventaja apreciable. Ba-Chie había estado todo ese tiempo con los brazos cruzados, esperando a que la batalla adquiriera su punto más álgido. Cuando consideró que, por fin, éste había llegado, levantó el rastrillo por encima de la cabeza y lo dejó caer con fuerza sobre la espalda del monstruo. Sus ojos de atrás vieron venir el golpe y, haciéndose a un lado, consiguió parar con su magnífica espada tanto el rastrillo como la barra. La lucha adquirió, así, nuevos bríos, pero, tras seis o siete asaltos más, el monstruo comprendió que no podía seguir resistiendo un ataque tan brutal. De pronto, dio un salto magnífico y se manifestó tal cual era: un insecto de nueve cabezas, increíblemente repulsivo y feroz. Cualquier mortal hubiera perecido de miedo, al verle. Poseía una extraña cresta, que recordaba las plumas erizadas de un ave, y un cuerpo, fuerte como el acero, cubierto de unos pelos ensortijados. Medía cerca de tres metros y medio y su apariencia general era la de una tortuga alargada o la de un lagarto rechoncho. Por contraste, sus patas, que terminaban en una especie de garra acerada, recordaban las de un águila. Sus nueve cabezas estaban unidas como si fueran un ramo de flores. A juzgar por la fortaleza de sus alas, era capaz de remontarse por los aires con más majestuosidad que un halcón. Emitía, además, un sonido estridente, similar por su potencia al canto de una grulla, que llegaba hasta los mismos límites del Cielo. Sus ojos lanzaban rayos de una luz dorada, que hablaban a las claras del orgullo de aquella criatura alada, única en todo el universo. Horrorizado por su visión, Ba-Chie exclamó:
—¡Jamás había visto nada tan repelente! ¿Qué clase de animal puede formar en su seno una cosa tan asquerosa como ésa?
—Es, en verdad, repugnante —reconoció el Peregrino—, pero eso no le va a librar de los golpes de mi barra.
Dando un salto espectacular, el Gran Sabio se elevó hacia las nubes y lanzó un golpe terrible contra las cabezas de la criatura, que extendió, majestuosa, las alas y se hizo a un lado. Se deslizó a continuación por la ladera de la montaña y, dando un grito terrible, le salió del centro del pecho una cabeza más con una boca tan grande como los calderos que usan los carniceros. Con ella agarró al desprevenido Ba-Chie de las cerdas y se perdió con él en las aguas del Lago de la Ola Verdosa. En cuanto hubo entrado en el palacio del dragón, recobró la forma anterior y, arrojando a Ba-Chie a un rincón, gritó con voz potente:
—¿Se puede saber dónde os habéis metido todos?
Al punto apareció un auténtico enjambre de caballas, carpas y percas, acompañadas de una tortuga, un lagarto marino y otras bestias acuáticas, que respondieron a pleno pulmón:
—¡Aquí estamos, señor!
—Coged a este monje y atadle allí —ordenó el yerno del dragón—. Voy a vengar en él los ultrajes padecidos por los dos capitanes que envié de patrulla.
Los espíritus acuáticos agarraron a Ba-Chie y le metieron en el palacio, como si se tratara de un trofeo. En ese mismo instante apareció el Rey Dragón, que exclamó, complacido:
—Lo que acabas de hacer es digno de la mayor de las recompensas. ¿Cómo has conseguido capturarle?
El monstruo no se ahorró ningún detalle. Con su lengua de bestia le informó de cuanto había sucedido. Satisfecho, el Rey Dragón ordenó preparar un banquete para celebrar tan sonada victoria, por lo que, de momento, no hablaremos más de ellos. Sí lo haremos, sin embargo, del Peregrino, que, al ver la facilidad con la que Ba-Chie caía en las garras del monstruo, no pudo por menos de pensar:
—Esa bestia es, realmente, extraordinaria. Debería poner al maestro al tanto de cuanto ha ocurrido, pero me temo que el rey se burle de mí. Lo mejor será que me enfrente de nuevo a ese monstruo. Desgraciadamente en el agua no me defiendo tan bien como aquí fuera. Tendré que transformarme en alguna bestia acuática y tratar de averiguar qué ha sido del Idiota. Tengo que liberarle para poder seguir adelante con este enojoso asunto.
No había acabado de decirlo, cuando hizo un gesto mágico y al punto se convirtió en un cangrejo. De esa forma, no tuvo reparo en lanzarse a las aguas. No tardó en llegar a la puerta de los tejadillos. Conocía bien el camino, porque había sido allí donde había robado al Rey Toro su cabalgadura de los ojos dorados. Andando siempre de lado, el Peregrino traspuso un espléndido arco y vio al Rey Dragón bebiendo despreocupadamente con el insecto de las nueve cabezas y otros miembros de su familia. El Peregrino no se atrevió a acercarse a ellos. Enfiló uno de los pasillos y no tardó en encontrarse con un grupo de gambas y cangrejos, que tambi��n estaban celebrando la victoria. Uniéndose al jolgorio, preguntó, como quien no quiere la cosa:
—¿Ha muerto ya ese monje con el morro alargado que ha capturado el yerno de nuestro señor?
—No, no. Aún no —respondió uno de los espíritus—. Está atado en el pasillo que mira al oeste. ¿No oyes sus gritos?
El Peregrino se arrastró hasta el lugar que le habían indicado, donde, en efecto, vio al Idiota atado a una columna y lamentándose, como si acabaran de arrancarle la piel del cuerpo. Acercándose a él, le preguntó, muy bajito:
—¿Sabes quién soy, Ba-Chie?
—¿Qué podemos hacer? —contestó el Idiota, reconociendo en seguida la voz del Peregrino—. En vez de capturar a esa bestia, me ha atrapado ella a mí.
El Peregrino miró a su alrededor y, al no ver a nadie, le desató a toda prisa con sus pinzas. En cuanto se sintió libre, Ba-Chie volvió a preguntar:
—¿Qué vamos a hacer? Ese monstruo se ha quedado con mi arma.
—¿Sabes dónde la ha guardado? —inquirió el Peregrino.
—Debe de haberla llevado al salón principal del palacio —respondió Ba-Chie.
—Vete a la puerta de los tejadillos y espérame allí —le ordenó el Peregrino.
Temiendo aún por su vida, Ba-Chie se deslizó, sin hacer ruido, hacia el exterior del palacio. El Peregrino, por su parte, se arrastró, una vez más, hasta el salón principal, donde no tardó en descubrir, brillante como una gema, el arma de Ba-Chie. Valiéndose de la magia de la invisibilidad, no le costó trabajo hacerse con ella y corrió, alborozado, hacia la puerta de los tejadillos.
—Toma tu arma y no vuelvas a perderla —dijo a Ba-Chie.
—Creo que lo mejor será que vuelva ahí dentro y mida mis fuerzas con las de ese insecto. Si consigo ganar, capturaré a toda la familia del dragón. Si, por el contrario, mi brazo no despliega toda la potencia de la que es capaz, huiré hacia la orilla del lago, donde tú me estarás esperando con tu barra. No te preocupes por mí —añadió, cuando el Peregrino le aconsejó que no se expusiera demasiado—. Sé defenderme bien en el agua.
Más tranquilo, el Peregrino abandonó el palacio y se dirigió nadando hacia la orilla.
Tras estirarse la túnica de algodón negro y agarrar con las dos manos su preciado rastrillo, Ba-Chie dio un grito y se metió en el palacio, dando mandobles a diestro y siniestro. Los seres acuáticos que hacían la guardia entraron en tropel en el salón principal e informaron a su señor de lo ocurrido, diciendo:
—¡Qué gran desgracia se ha abatido sobre nosotros! Ese monje del morro estirado se ha librado de las cuerdas que le ataban y se ha vuelto contra nosotros.
El dragón, el insecto de las nueve cabezas y los demás miembros de la familia real no se esperaban una noticia como ésa. Abandonaron sin ningún orden la mesa y corrieron a esconderse donde podían. El Idiota no se detenía a mirar si sus víctimas eran jóvenes o entradas ya en años. Golpeaba sin piedad y seguía hacia delante. Así entró en el salón principal, derribando mesas y sillas, haciendo añicos los biombos y convirtiendo en polvo los vasos y platos, Sobre tan espectacular momento disponemos de un poema, que afirma:
La Madera Madre fue capturada por un monstruo acuático, pero el Mono de la Mente no la abandonó a su suerte. Valiéndose de un inteligentísimo truco, la liberó de sus cadenas y le permitió que desatara toda la furia que el cautiverio había ido acumulando en su espíritu. Al verla, el Rey Dragón se quedó mudo de espanto y la princesa y su esposo corrieron a esconderse.
Los arcos y las ventanas del palacio caían, hechos añicos, sobre los comensales, sumiendo a los hijos y a los nietos del dragón en un temor como jamás habían sentido en su vida. Ni los biombos de caparazón de tortuga ni las espléndidas plantas de coral escaparon al afán destructor de Ba-Chie. Su rastrillo arrasaba cuanto encontraba, como si fuera un ciclón. Hasta el mismo insecto de nueve cabezas corrió a refugiarse al interior del palacio. Pero, en cuanto hubo dejado a su esposa en un lugar seguro, recobró la calma y, echando mano de su terrible espada terminada en una media luna, volvió al salón, gritando:
—¿Cómo te atreves a avasallar de esta forma a los míos, cerdo irrespetuoso?
—¿Eres tú el que me lo preguntas, monstruo ladrón? —replicó Ba-Chie con desprecio—. La culpa de esto es exclusivamente tuya. Si no me hubieras capturado, jamás habría levantado la mano contra los tuyos. Entrégame inmediatamente las reliquias sagradas, para que se las lleve al rey, y te prometo que pondré fin a toda esta destrucción. De lo contrario, continuaré dando mandobles, hasta que haya acabado con toda tu familia.
Como era de esperarse, el monstruo no cedió a sus pretensiones. Rechinándole los dientes de rabia, se lanzó contra Ba-Chie. Sólo entonces se atrevió el Rey Dragón a iniciar el contraataque, al frente de sus hijos y nietos, blandiendo su terrible arsenal de cimitarras y lanzas. Al ver que la suerte se volvía en su contra, Ba-Chie se dio media vuelta y huyó a toda prisa, perseguido por los soldados acuáticos. Todos ellos eran excelentes nadadores y no tardaron en alcanzar la superficie del lago, precedidos por un aluvión de burbujas, que alertaron inmediatamente al Peregrino. Al ver aparecer a Ba-Chie, seguido tan de cerca por sus perseguidores, montó en una nube y empezó a golpear las aguas, al tiempo que gritaba, enardecido:
—¡No huyáis, cobardes!
Uno de los golpes alcanzó de lleno la cabeza del dragón, que quedó reducida a una masa informe de carne y huesos rotos. La sangre salpicó hasta el último rincón del lago, tiñéndolo completamente de rojo. Su cuerpo quedó flotando patas arriba en las olas, como si fuera un tronco con escamas. Sus hijos y nietos sintieron cómo las fuerzas los abandonaban y huyeron, despavoridos. Únicamente su yerno, Nueve Cabezas, tuvo la suficiente prestancia de ánimo para recoger el cadáver y regresar con él al palacio. El Peregrino y Ba-Chie no creyeron oportuno correr tras ellos. Se sentaron en la orilla y empezaron a calibrar lo que había ocurrido.
—Estoy convencido de que ese monstruo no querrá seguir peleando —dijo Ba-Chie—. Les he causado un tremendo número de bajas con mi rastrillo. Al principio cada cual se escondió donde pudo pero el insecto recobró en seguida la serenidad y el dragón trató de capturarme. Por eso hube de huir a toda prisa. Ha sido una suerte que hayas acabado con él, porque los funerales y el duelo los tendrán ocupados durante mucho tiempo y no pensarán en volver a coger las armas. ¿Qué podemos hacer mientras tanto? Se está haciendo un poco tarde.
—¿A quién le importa la hora que pueda ser? —replicó el Peregrino—. Deberíamos aprovechar la ocasión y seguir acosándolos. Así recuperaríamos cuanto antes las reliquias sagradas y podríamos regresar a la corte.
Pero el Idiota se sentía un poco cansado y, cediendo a la holgazanería, empezó a dar toda clase de excusas para no seguir adelante con el plan del Peregrino, que terminó diciendo:
—Está bien. Si no quieres seguir luchando, no lo hagas. Sólo te pido que los hagas salir del agua. Ya me encargaré yo de acabar con ellos.
No había terminado de decirlo, cuando vieron una extensa masa de nubes negras desplazarse a lomos de un viento fortísimo en dirección este-sur. Sorprendido, el Peregrino aguzó cuanto pudo la vista y vio que se trataba del Honorable Sabio Er-Lang y los otros seis miembros de la Hermandad de la Montaña de los Ciruelos. Con ellos viajaba una jauría de mastines y una bandada de halcones, así como un nutrido grupo de criados portando en larguísimas pértigas los cuerpos muertos de zorros, ciervos, antílopes y otras piezas de caza. Todos ellos llevaban un arco colgando de la cintura y una espada de afiladísima hoja en la mano.
—Aunque no lo creas —dijo el Peregrino, señalando las cinéticas figuras que se movían a la velocidad del viento—, también yo estoy unido a ellos por un pacto de hermandad. Creo que deberíamos pedirles que nos ayuden a acabar con los monstruos de ahí abajo. No podremos disponer después de una oportunidad como ésta.
—No veo razón alguna para no hacerlo, si de verdad son tus hermanos —contestó Ba-Chie.
—El problema es que el mayor de ellos, el Honorable Sabio Er-Lang, me derrotó en cierta ocasión y no me gustaría mostrarme grosero con él —confesó el Peregrino—. Creo que deberías arrodillarte en el centro del camino de nubes y decir: «¡Deteneos, inmortal! El Gran Sabio, Sosia del Cielo, desea presentaros sus respetos». Estoy seguro de que no se atreverá a seguir adelante. No me será, entonces, difícil convencerle, para que una sus fuerzas a las nuestras.
El Idiota montó a toda prisa en una nube y gritó con voz potente desde la cumbre de la montaña:
—¡Aminorad, por favor, la marcha de vuestros corceles y vuestros carros! El Gran Sabio, Sosia del Cielo, desea veros.
—¿Dónde se encuentra nuestro querido hermano? —preguntó el inmortal, haciendo un gesto a sus acompañantes, para que se detuvieran.
—Os espera en la ladera de esta montaña —respondió Ba-Chie, respetuoso.
—Invitadle a venir aquí —ordenó el inmortal, volviéndose hacia sus seis acompañantes, que respondían a los nombres de Kang, Chang, Yao, Li, Kuo y Chien.
—¡Sun Wu-Kung —gritaron, descendiendo por la montaña—, nuestro hermano mayor desea verte!
El Peregrino corrió hacia ellos y, tras saludarlos con el respeto debido, se dirigió a la cumbre, donde fue acogido por el Honorable Er-Lang con los brazos abiertos.
—He oído decir —añadió tras las consabidas frases de saludo— que se os había levantado el castigo y que habíais aceptado la disciplina budista en la misma Puerta de la Ceniza. Os felicito por vuestra decisión, ya que no me cabe la menor duda de que acabaréis sentándoos sobre un loto.
—Eso espero —contestó el Peregrino—. Son muchas las pruebas de amistad que de vos he recibido y es mi deseo corresponderos de la misma forma en el futuro. Aunque, como acabáis de decir, se me ha levantado el castigo y me encuentro ahora de camino hacia el Oeste, no sé si algún día alcanzaré la perfección suficiente para sentarme sobre un loto. Las dificultades son muchas y constantes los peligros. Si, de hecho, me encuentro ahora aquí, es con el fin de capturar a unos monstruos, que han robado unas reliquias sagradas a los monjes del Reino del Sacrificio. Por pura casualidad os hemos visto pasar y se me ha ocurrido que, quizás, podríais echarnos una mano. Eso si, claro está, no tenéis nada mejor que hacer y os lo permiten vuestras obligaciones.
—Por supuesto que sí —respondió Er-Lang, sonriendo—. Si he salido de caza, ha sido porque estaba un poco aburrido. Es todo un gesto de amistad que hayáis decidido solicitar nuestra colaboración en la empresa que ahora os traéis entre manos. Me halaga que hayáis detenido nuestra carrera. Pero ¿queréis explicarme qué tipo de monstruos habitan en esta comarca?
—Tal vez hayáis olvidado —dijo uno de los sabios que le acompañaban— que ésta es la Montaña de las Rocas Esparcidas y que en ella se encuentra el Lago de la Ola Verdosa, en cuyas aguas mora el Rey Dragón de Todos los Espíritus.
—Que yo sepa —replicó Er-Lang, sorprendido—, ese dragón jamás ha causado el menor problema. ¿Cómo es posible que haya robado las reliquias de un monasterio?
—Lo han hecho entre él y su yerno, un insecto de nueve cabezas —explicó el Peregrino—. Juntos dejaron caer sobre el Reino del Sacrificio una extraña lluvia de sangre y, de esa forma, pudieron hacerse con las cenizas sagradas que se conservaban en la torre del Monasterio de la Luz Dorada. El rey pensó que todo había sido obra de los monjes y los torturó despiadadamente hasta reducirlos a la tercera parte de su número original. Compadecido de su suerte, mi maestro se ofreció a barrer los escalones de la torre. Fue así como conseguí atrapar a dos diablillos que habían salido de patrulla y que al día siguiente hicieron una confesión completa en presencia del rey y de toda su corte. Su majestad nos encargó que capturáramos al resto de los culpables; ése es el motivo que nos trajo hasta aquí. En nuestro primer encuentro con ese monstruo de nueve cabezas casi logramos derrotarle, pero le creció una más justamente en el centro del pecho y consiguió llevarse prisionero a Ba-Chie. Afortunadamente, valiéndome de mis poderes metamórficos, le rescaté antes de que le despellejaran vivo. Eso provocó una nueva escaramuza, en la que el viejo dragón encontró la muerte. Sus súbditos cargaron a toda prisa con su cadáver. Precisamente estábamos discutiendo sobre la conveniencia de proseguir o posponer el ataque, cuando aparecisteis vos y nuestros otros respetables hermanos. La decisión está ahora en vuestras manos.
—Opino que es el mejor momento para atacar —contestó Er-Lang—. Están desorientados y podemos acabar con todos de un plumazo.
—Es posible —reconoció Ba-Chie—, pero se está haciendo demasiado tarde para eso.
—¿Para qué preocuparse de la hora, si, como afirma un estratega, «un ejército no debe dejar pasar la menor oportunidad de victoria»? —replicó Er-Lang.
—Mirándolo bien —dijo el sabio Gang—, no hay por qué apresurarse. Toda la familia de ese insecto se encuentra aquí y no es muy probable que trate de huir. En mi opinión, aprovechando que nuestro hermano Sun y Chu Kang-Lier[2] han decidido enmendar sus yerros y llevar una vida de perfección, deberíamos ofrecerles un banquete de reconciliación. De hecho, hemos traído todo lo necesario para un convite; no nos falta ni el vino ni la comida. Los criados pueden hacer una hoguera y asar una o dos de las piezas que nos hemos cobrado. No se me ocurre modo mejor de pasar la velada. Mañana tenemos tiempo más que suficiente para luchar.
—Como siempre —comentó Er-Lang, complacido—, nuestro hermano tiene razón —y ordenó a los sirvientes que prepararan un banquete.
—Es un honor para nosotros —contestó el Peregrino—, pero no debéis olvidar que ahora somos monjes y que seguimos una estricta dieta vegetariana. Esperamos que eso no os cause muchas molestias.
—En absoluto —respondió Er-Lang—. Hemos traído también toda clase de frutas y de bebidas vegetarianas. Entre los inmortales hay muchos que siguen ese tipo de dieta.
De esa forma, los hermanos brindaron por el cariño que los unía bajo la luz serena de la luna y el parpadeo tímido de las estrellas, teniendo el Cielo por tienda y la Tierra por lecho. Aunque las vigilias pueden ser a veces demasiado largas, aquella noche transcurrió más deprisa de lo que ninguno de ellos hubiera deseado. Pronto empezó a teñirse el oeste de una tímida luz dorada. El vino había despertado la valentía de Ba-Chie, que, poniéndose en seguida de pie, dijo:
—Está a punto de amanecer. Creo que voy a sumergirme en las aguas a retar a ese monstruo.
—No te fíes demasiado de él —le aconsejó Er-Lang—. Hazle salir del agua y nosotros nos encargaremos de lo demás.
—De acuerdo —dijo Ba-Chie, echándose a reír y, estirándose las ropas, cogió el rastrillo y se lanzó al lago, no sin antes recitar un conjuro para lograr la partición de las aguas.
No le costó mucho trabajo llegar a la puerta de los tejadillos. Haciendo caso omiso de lo temprano de la hora, lanzó un grito feroz y se metió en el palacio, repartiendo golpes a diestro y siniestro. El hijo del dragón estaba velando el cadáver de su padre, vestido totalmente de traje y llorando como una plañidera, mientras el yerno y uno de los nietos se encontraban en la parte de atrás preparando el féretro. Sin ningún respeto por el dolor de aquella familia, Ba-Chie entró como una exhalación en la habitación en la que se encontraba el muerto y, sin dejar de proferir insultos, asestó un golpe tremendo al heredero del trono. Al instante brotaron de su cabeza nueve regueros de sangre, tantos como dientes tenía el rastrillo de Ba-Chie. Al verlo, la viuda corrió, aterrada, hacia el interior del palacio, gritando como una loca:
—¡Ese monje del morro alargado acaba de matar a mi hijo!
Al oírlo, el insecto cogió la espada rematada en una media luna y corrió a entablar batalla, seguido del nieto del dragón. Ba-Chie los hizo frente con el rastrillo, pero fue retrocediendo poco a poco, hasta terminar aflorando en la superficie del lago. El Gran Sabio, Sosia del Cielo, y sus siete hermanos se abalanzaron en seguida sobre ellos. El nieto del dragón no tardó en quedar reducido a un montón informe de carne macerada.
Comprendiendo que las cosas iban peor de lo que esperaba, el yerno se dejó caer al suelo y adquirió la forma que le era habitual. Extendió a continuación las alas y se elevó hacia lo alto. Er-Lang sacó su cuenco de oro, cogió una pequeña bolita de plata y la lanzó contra el insecto, que se volvió, rabioso, contra él, dispuesto a propinarle un tremendo mordisco. Justamente cuando empezaba a salirle la cabeza en el centro del pecho, el pequeño mastín de Er-Lang dio un acrobático salto y se la arrancó de una dentellada. Ciego de dolor, el monstruo voló hacia los mares del norte. Ba-Chie se dispuso a seguirle, pero le retuvo el Peregrino, diciendo:
—Es mejor que le dejemos tranquilo. Como muy bien aconseja el proverbio, «no debe perseguirse al fugitivo desesperado». No creo que viva mucho tiempo sin la cabeza que acaba de arrancarle el mastín. Tomaré su figura y me abriré camino por las aguas. Tú persígueme hasta el palacio. No me costará mucho arrancar a la princesa el tesoro que hemos venido a buscar.
—Estoy de acuerdo en que le dejemos tranquilo —dijo Er-Lang—. Pero me temo que, si siguen existiendo criaturas como ésa, la gente puede sufrir muchísimo por su causa.
Sus palabras no pudieron ser más acertadas. Hasta el día de hoy puede verse en ciertos lugares un insecto de nueve cabezas, que lanza chorros de sangre y que es el heredero directo del monstruo, cuya suerte acabamos de relatar[3]. El Peregrino, mientras tanto, abrió un sendero por las aguas y Ba-Chie se lanzó tras él, gritando como un loco y lanzando denuestos. A la puerta misma del palacio les salió al encuentro la Princesa de Todos los Espíritus, que preguntó, preocupada, a su falso marido:
—¿Por qué estáis tan alterado?
—Ese Ba-Chie acaba de derrotarme y me viene persiguiendo —contestó el Peregrino—. Estoy al límite de mis fuerzas y no podré resistirle mucho más. Vete a esconder rápidamente los tesoros.
La princesa fue incapaz de distinguir lo auténtico de lo falso. Terriblemente alterada corrió hacia el interior del palacio, de donde regresó con una caja de oro, que entregó al Peregrino, diciendo:
—Éstas son las cenizas budistas —acto seguido sacó otra caja de jade blanco y añadió—: Aquí está el agárico de nueve hojas. Es mejor que los guardes tú. Mientras lo haces, trataré de detener como sea la carrera victoriosa de Ba-Chie. No te retrases mucho. Estoy convencida de que, si luchamos codo con codo, lograremos derrotarle.
En cuanto tuvo las cajas en su poder, el Peregrino se pasó la mano por el rostro y, recobrando la forma que le era habitual, dijo en tono burlón:
—¿Estáis segura de que soy vuestro marido?
Dando un grito de sorpresa, la princesa trató de recuperar las cajas, pero en ese mismo instante Ba-Chie irrumpió en la escena y le asestó un terrible golpe en el hombro, que la hizo rodar por el suelo como una manzana podrida. Sólo quedaba viva la esposa del Rey Dragón. Al enterarse de lo ocurrido, intentó huir por una ventana, pero no pudo escapar de las garras de Ba-Chie, que se dispuso a acabar en seguida con ella. El Peregrino le detuvo el brazo, diciendo:
—Espera un momento. Es mejor que no la mates. La llevaremos a la capital, para que todo el mundo vea lo que hemos sido capaces de hacer.
Sin ninguna consideración Ba-Chie la agarró de los pelos y la arrastró hasta la superficie del lago, seguido del Peregrino con las dos cajas.
—No sé cómo agradeceros cuanto habéis hecho por nosotros —dijo a Er-Lang, en cuanto hubieron llegado a la orilla—. No sólo hemos recuperado las reliquias, sino que hemos acabado con todos los monstruos.
—No seáis tan humilde —replicó Er-Lang—. ¿Qué hemos hecho nosotros, en definitiva? Todo ha sido obra vuestra. Si no hubierais acabado con el rey y no hubierais hecho uso de vuestros poderes metamórficos, aún estaríamos peleando.
—Puesto que nuestro hermano ha obtenido una resonante victoria —añadieron los inmortales que le acompañaban—, aquí ya no hacemos nada.
El Peregrino no se cansaba de darles las gracias. Le hubiera gustado que le acompañaran a ver al rey, pero comprendió que no podía exigirles tanto. Los sabios prosiguieron, pues, su camino hacia el Río de las Libaciones, mientras ellos cogían las cajas de los tesoros y se elevaban hacia lo alto. Ba-Chie no soltó en ningún momento a la viuda del dragón. Montados en una nube, no tardaron en avistar el Reino del Sacrificio. Desde el momento mismo de su liberación, los monjes del Monasterio de la Luz Dorada esperaban impacientes su regreso, apostados a las afueras de la ciudad. Al verlos bajar de la nube, corrieron a su encuentro con grandes muestras de júbilo y los acompañaron al interior de la capital. El monje Tang se encontraba en aquellos momentos conversando con el rey. Armándose de valor, uno de los miembros de la comunidad del monasterio corrió a informar a su majestad de lo ocurrido, diciendo:
—Acaban de regresar los Honorables Sun y Chu con las reliquias y uno de los ladrones.
El rey abandonó a toda prisa el salón del trono, seguido de Tripitaka y el Bonzo Sha. Juntos corrieron a dar la bienvenida a los recién llegados, a los que alabaron por la hazaña realizada. En agradecimiento, el rey ordenó que se les diera un espléndido banquete.
—Opino, majestad —dijo Tripitaka con la humildad que le caracterizaba—, que, antes de sentarnos a la mesa, deberíamos llevar las cenizas sagradas al lugar que les corresponde. Abandonasteis la ciudad ayer mismo —añadió, dirigiéndose hacia sus discípulos—. ¿Cómo es que no habéis vuelto hasta hoy?
El Peregrino le relató, entonces, cómo se habían enfrentado al Rey Dragón y a su yerno, cómo se habían encontrado con el grupo de inmortales, cómo habían conseguido derrotar a los monstruos y cómo se habían hecho, finalmente, con las reliquias. Al oír la gesta que habían realizado en tan poco tiempo, Tripitaka, el rey y los funcionarios, tanto civiles como militares, se quedaron mudos de asombro.
—¿Conoce la viuda del dragón nuestra lengua? —preguntó después el rey.
—¿Cómo no va a conocerla, si ella misma es una reina, que ha dado a luz a infinidad de herederos? —contestó Ba-Chie.
—En ese caso —concluyó el rey—, que nos cuente cómo se llevó a cabo el robo de nuestros preciados tesoros.
—Yo no sé absolutamente nada de eso —respondió la viuda con dignidad—. Tan reprobable acción fue planeada y llevada a cabo por mi difunto marido y nuestro yerno, Nueve Cabezas. Parece ser que, en cuanto tuvieron conocimiento de que en la torre de uno de vuestros monasterios existía una reliquia budista capaz de emitir una luz cegadora, dejaron caer sobre él, hace aproximadamente tres años, una lluvia de sangre y se apoderaron de tan valiosas cenizas.
—¿Cómo se perpetró el robo de la planta de agárico? —volvió a preguntar el rey.
—Eso —respondió la viuda con la misma entereza— fue obra de mi hija, la Princesa de Todos los Espíritus, que se escabulló, sin ser vista en los Cielos y arrancó la mata de agárico de nueve hojas, que la misma Wang-Mu-Niang-Niang había plantado justamente enfrente del Salón de la Niebla Divina. Lo hizo, para que las cenizas sagradas se conservaran intactas y no dejaran de emitir su luz durante más de mil años. Si se la agita un poquito, la misma planta es capaz de lanzar miles de rayos de colores más brillantes que el mismo sol. Ahora esos tesoros están en vuestro poder y, por su culpa, han perdido la vida mi esposo, mis hijos y mi yerno. Apiadaos, pues, de mí y concededme la gracia de continuar viviendo.
—¡De ninguna de las maneras! —exclamó Ba-Chie en seguida.
—La culpa no puede extenderse a toda una familia —sentenció el Peregrino—. Te perdonaremos la vida con una condición: que aceptes de buen grado convertirte en la guardiana del monasterio.
—Ni siquiera una buena muerte es comparable con una existencia desgraciada —replicó la viuda—. Si no me matáis, me comprometo hacer lo que sea.
El Peregrino pidió una cadena de hierro y se dispuso a pasársela a la viuda por el esternón. Antes de hacerlo, sin embargo, se volvió hacia el Bonzo Sha y le dijo:
—Comunica al rey que vaya al monasterio a presenciar de qué forma pensamos proteger el tesoro que allí siempre se ha guardado.
La litera real no tardó en abandonar la corte, portando en su interior al señor de la ciudad y al propio Tripitaka, al que en ningún momento dejaba de la mano. Todos los funcionarios, tanto civiles como militares, se hallaban ya presentes en el Monasterio de la Luz Dorada. Las reliquias sagradas fueron colocadas en una hornacina a la altura del decimotercer rellano. La viuda del dragón, por su parte, fue encadenada a una columna que había justamente en el centro. El Peregrino recitó un conjuro mágico y al punto se presentaron ante él el espíritu de la ciudad y el protector del monasterio, a los que encargó que le dieran de comer cada tres días y la vigilaran constantemente. Caso de no hacerlo, serían ejecutados sin ninguna contemplación. Los dioses asintieron en silencio.
El Peregrino tomó, entonces, la planta de agárico y barrió con ella todos los escalones que separaban el primero del decimotercer rellano, antes de colocarla con cuidado junto a la urna de las reliquias. De esta forma, se logró dar marcha atrás al tiempo y de nuevo volvió a rodear el monasterio un aura tan luminosa, que todos los reinos bárbaros de la comarca percibieron al instante su resplandor. Al salir, el rey dijo, entre agradecido y avergonzado:
—Si no hubierais pasado por nuestro reino, jamás habríamos descubierto lo que realmente sucedió.
—Opino, majestad —contestó el Peregrino, quitando importancia a su confesión—, que el nombre de Luz Dorada no cuadra bien con la importancia de este monasterio. Al fin y al cabo, el oro es una substancia muy voluble y la luz posee una estabilidad tal, que hasta el aire la hace vibrar. Puesto que habéis recobrado su preciado tesoro gracias a nosotros, nos permitimos sugeriros que de ahora en adelante lo llaméis el Monasterio del Dragón Derrotado. Os doy mi palabra de que ese nombre durará para siempre y su fama llegará hasta el último rincón del mundo.
El rey ordenó que así se hiciera. Los canteros reales labraron una placa en la que podía leerse: «Monasterio del Dragón Derrotado. Construido por expreso deseo de su majestad». Tras colgarlo de la puerta principal, dio comienzo un espléndido banquete de agradecimiento, que duró hasta bien entrada la noche. Antes de proseguir el viaje, el rey encargó el retrato de los cuatro peregrinos e hizo inscribir sus nombres en la Torre de los Cinco Fénix. No contento con eso, salió a despedirlos a las afueras de la ciudad.
Igualmente, les ofreció, como recompensa, grandes cantidades de jade y oro, que rechazaron con la debida cortesía. Para ellos era suficiente que los monstruos hubieran sido exterminados y se hubiera hecho justicia. ¿Qué mayor premio que ver brillar el aura que rodeaba el monasterio y sentir que la luz se había extendido por toda la tierra?
No sabemos, de momento, qué peligros los acechaban en el camino que aún les quedaba por recorrer. El que desee descubrirlos tendrá que escuchar con atención las explicaciones que se ofrecen en el capítulo siguiente.
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arteriaemchamas · 7 hours
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Viaje al Oeste
CAPÍTULO LXII
PARA DESPRENDERSE DE TODA INMUNDICIA Y CONSEGUIR UNA MENTE TOTALMENTE LIMPIA, ES NECESARIO BARRER UNA PAGODA. PARA ALCANZAR LA PERFECCIÓN, HAY QUE DOMINAR A LOS DEMONIOS Y VOLVERSE HACIA EL SEÑOR.
Ni de día ni de noche[1] debes olvidarte de cosechar el bien; tenlo siempre presente las doce horas del día[2]. No dejes que se te seque el agua sagrada ni permitas que el fuego te acose a lo largo de las ciento ochenta mil marcas[3] que miden el transcurso de cinco años. Cuando se mezclan el agua y el fuego, surge la abundancia y las Cinco Fases se funden como si estuvieran encadenadas. El yin y el yang se encuentran, entonces, en equilibrio y puede ascenderse a la Torre de Nubes, o alcanzar los Cielos a lomos de un fénix, o llegar hasta Ying-Chou montado en una garza.
El título de este poema «tsu» del que nos hemos servido para describir la situación en la que ahora se encontraba Tripitaka y sus discípulos es El Inmortal junto al Río. Todos ellos habían alcanzado ese estado de perfección en el que el agua y el fuego se encuentran en un equilibrio perfecto. De ahí que sus espíritus experimentaran la frescura y la pureza absolutas. Una vez que consiguieron hacerse con el abanico del inmaculado yin y apagaron con él las llamas de aquella inmensa montaña, lograron recorrer en un solo día la distancia de mil quinientos kilómetros. Eso hizo que prosiguieran el viaje con el corazón limpio de toda preocupación. El otoño estaba a punto de concluir y el invierno había empezado a dar muestras de su inminente llegada. Los crisantemos se habían secado y caían, como copos de nieve, a los pies de los ciruelos, que mostraban, orgullosos, el dulzor de sus tardíos frutos. En todos los pueblos se recogían las últimas cosechas y se almacenaba el grano para el invierno. Los bosques se iban despojando poco a poco de hojas, permitiendo la visión directa de las colinas que se alzaban tras ellos. Al amanecer la superficie de los arroyos aparecía cubierta de una capa de hielo, que se hacía más gruesa con el paso de los días. Hacía mucho tiempo que los insectos habían dejado de afanarse, arrastrados por la creciente inclemencia de los vientos. El yin iba transformándose, poco a poco, en yang y ya estaba dispuesto a sentarse en su trono el espíritu Yüan-Ming, el señor del primer mes del invierno[4]. En esa estación se apaga el aura de la Tierra, renace la del Cielo, los arcos iris se esconden y el hielo se va formando lentamente en la superficie de los estanques y lagos. No en balde es el tiempo de las aguas, aunque los días sean grises y el color desaparezca de todos los paisajes.
Una vez que los arces han perdido su tinte rojizo, sólo los bambúes y pinos son capaces de hacer frente al frío, acentuando el verdor de sus hojas. Los viajeros lo fueron comprobando a lo largo de muchos días de camino. Tras recorrer un larguísimo trecho, se toparon con una ciudad fortificada. El monje Tang tiró de las riendas del caballo y, volviéndose hacia Wu-Kung, exclamó:
—¿Ves aquellos edificios de allí? ¿Qué clase de lugar crees que es?
El Peregrino levantó la cabeza y vio que se trataba de una ciudad protegida por un profundo foso. Vista desde aquella distancia, daba la impresión de ser un dragón enroscado o un tigre dispuesto a saltar sobre su presa. Por doquier se veían doseles de brillantes colores. Los puentes que salvaban el profundo foso que la rodeaba estaban adornados con figuras de animales de jade. A juzgar por los pedestales que sostenían las estatuas de sus miembros más destacados, debía de tratarse de una ciudad extremadamente rica, porque eran de oro. Por ése y otros muchos detalles, recordaba la propia capital de China o una de las muchas ciudades del Cielo. Lo que nadie podía negar era que se trataba del centro de un próspero imperio, cuyos dominios se extendían más allá de veinte mil kilómetros y cuya duración superaba los mil años. Con toda seguridad, los bárbaros pagarían tributos a su rey y cada día llegarían a su corte emisarios de las islas y tierras lejanas cargados de exóticos regalos. No cabía duda de que su soberano seguía fielmente el camino de la virtud. Se apreciaba su prosperidad en las melodiosas canciones que fluían de las cantinas y en la alegría que inundaba todas las calles y plazas. El palacio real, espléndido como el de Wei-Yang[5], estaba rodeado por una franja de árboles tan majestuosos, que se tenía la impresión de que los fénix saludarían la llegada de un nuevo día escondidos entre sus copas.
—Esa ciudad por fuerza tiene que ser el lugar de residencia de algún rey —concluyó el Peregrino, después de estudiarla con detenimiento.
—¿Cómo puedes afirmarlo con tanta seguridad? —objetó Ba-Chie, soltando la carcajada—. El mundo está lleno de ciudades que pertenecen a una prefectura o forman parte de un simple distrito.
—Sí, pero aquellas en las que habita un rey son totalmente distintas de las que acabas de mencionar —replicó el Peregrino—. No tienes más que mirar las puertas que hay en esa ciudad. Su número es superior a una decena. Además su perímetro sobrepasa los doscientos kilómetros y sus edificios son tan altos que aparecen siempre cubiertos de nubes. Si no es ésta la capital de algún reino, ¿a qué se debe que ofrezca un aspecto tan distinguido?
—Todos sabemos que posees una visión francamente extraordinaria —concluyó el Bonzo Sha—, así que, si dices que se trata de la capital de un reino, ninguno de nosotros lo pondremos en duda. ¿Has conseguido averiguar cómo se llama?
—¿Cómo voy a averiguarlo, si no se ven por ninguna parte estandartes ni placas? —contestó el Peregrino—. Creo que, si queremos saberlo, tendremos que entrar en ella.
El maestro espoleó al caballo y no tardó en llegar a una de las puertas. Pasó a pie el puente que salvaba el foso y se adentró en las calles de la ciudad. Sus tres mercados y sus seis bulevares bullían de animación, pero lo más sorprendente era que todos sus habitantes vestían de tal forma que parecían nobles. Cuando más admirados estaban de tanta prosperidad, vieron a un grupo de monjes mendigando de puerta en puerta. Su aspecto no podía ser más harapiento. Al verlos, Tripitaka suspiró con pena y dijo:
—Cuando muere la liebre, el zorro se echa a llorar, porque todos los seres lamentan la desaparición de los de su especie. Acércate a ellos y pregúntales por qué llevan una vida tan miserable —pidió después a Wu-Kung.
—¡Eh, monjes! —gritó el Peregrino, dándose cuenta de que llevaban la cabeza metida en un cepo, como si fueran vulgares malhechores—. ¿A qué monasterio pertenecéis y por qué portáis sobre vuestros hombros el símbolo de la vergüenza?
—Somos miembros del Monasterio de la Luz Dorada —respondieron los monjes, postrándose de hinojos— y hemos sido castigados injustamente.
—¿Dónde se encuentra ese monasterio que decís? —volvió a preguntar el Peregrino.
—A la vuelta de la esquina —contestó uno de los monjes.
El Peregrino los llevó en seguida ante el monje Tang, que les preguntó, en cuanto hubo escuchado las explicaciones de su discípulo:
—¿Qué queréis decir con eso de que habéis sido castigados injustamente? Contádmelo, por favor, si no os importa.
—Aunque vuestro rostro nos resulta muy conocido —se disculparon ellos—, no sabemos de dónde venís. Además, no nos atrevemos a decíroslo aquí. Si tenéis la amabilidad de acompañarnos hasta nuestra humilde morada, tendremos el honor de expresaros todas nuestras cuitas.
—Me parece lo más prudente —opinó el maestro—. Iremos con vosotros y nos lo contaréis con más tranquilidad.
Cuando llegaron a la puerta del monasterio, vieron que sobre el dintel había una placa, en la que aparecía grabada con letras de oro la siguiente inscripción horizontal: «Monasterio de la Luz Dorada. Construido por mandato imperial». Con pena comprobaron que las lámparas que colgaban de las paredes, tan desconchadas como la chabola de un mendigo, llevaban apagadas mucho tiempo y que el viento arrastraba montones de hojas secas por los pasillos vacíos. Testigo de tiempos mejores, una torre de trescientos metros se perdía entre las nubes. En el lugar dedicado a la meditación sólo había unos cuantos pinos raquíticos y, aunque en algunos puntos el suelo estaba cubierto de flores, hacía años que nadie pisaba por allí. Las telas de araña se habían enseñoreado de todos los techos y rincones. Aunque los tambores y las campanas continuaban colgados en sus sitios, se notaba que llevaban mucho tiempo sin usar. Los frescos de las paredes se habían desdibujado, desapareciendo sus colores entre una gruesa capa de polvo. Los atriles permanecían abandonados y en silencio. No se veía a ningún monje por ninguna parte. Hasta el mismo Salón del Zen había enmudecido, convertido en triste refugio para los pájaros. ¡Qué agobiante sensación de abandono, con cuánto dolor contemplaban los peregrinos aquella decadencia inimaginable! Aunque los pebeteros continuaban colocados ante las imágenes de Buda, no salía de ellos ni una sola voluta de incienso, llenos solamente de cenizas frías. A su alrededor aún podían verse pétalos de flores, pero estaban totalmente secos.
Al contemplar tan triste espectáculo, Tripitaka no pudo evitar que las lágrimas fluyeran, abundantes, de sus ojos. Con no poca dificultad, a causa del cepo que los aprisionaba, los monjes abrieron las puertas del salón principal e invitaron al maestro a presentar sus respetos a Buda. Sólo pudo ofrecer el incienso de su corazón, aunque siguió todos los pasos del rito e, incluso, llegó a golpear tres veces seguidas el suelo con la frente.
Después se dirigieron todos a la parte de atrás, donde encontraron a seis o siete monjes jóvenes encadenados a una columna que había justamente enfrente de las habitaciones del guardián del monasterio. Aquello fue demasiado para Tripitaka. Aun así, entró con los demás en los aposentos del hombre que, supuestamente, guiaba los destinos de aquel sagrado lugar. Todos los monjes se echaron rostro en tierra y, tras golpear repetidamente el suelo con la frente, uno de ellos preguntó:
—¿No seréis por casualidad esos monjes que vienen de la corte de los Gran Tang, en las Tierras del Este? Así lo hemos creído más de uno, a juzgar por vuestro aspecto.
—Está visto que poseéis ciertos conocimientos mágicos —contestó el Peregrino, echándose a reír—. En efecto, somos esos monjes de los que habláis. ¿Cómo nos habéis reconocido?
—Nosotros no entendemos de magia —respondió el monje—. Lo único que sabemos hacer es dirigirnos día y noche al Cielo y a la Tierra, exigiendo justicia para nuestro caso, porque hemos sido condenados sin ningún motivo. Anoche todos tuvimos un sueño, en el que se nos comunicó que estaba a punto de llegar, procedente de la corte de los Tang, en las Tierras del Este, un monje que nos libraría de todas nuestras penalidades y nos restituiría el honor que hemos perdido. Al veros, no tuvimos ninguna duda de que se trataba de vosotros. No nos negaréis que tenéis unos rostros inconfundibles.
—¿Cómo se llama esta comarca y por qué os encontráis en un estado tan lamentable? —preguntó Tripitaka, animado por lo que acababa de oír.
—Esta ciudad —contestó uno de los monjes, que habían vuelto a arrodillarse en señal de respeto— es conocida por el nombre de Reino del Sacrificio y se trata del mayor asentamiento humano que hay en los territorios occidentales. No hace mucho tiempo nos pagaban tributo todas las tribus bárbaras que se hallan desperdigadas por estos alrededores: las del Reino de Yüe-De, en el sur, las del Reino de Gao-Chang, en el norte, las del Estado del Liang Occidental, en el este, y las del Reino de Pen-Puo, en el oeste. Todas ellas traían cada año incontables cantidades de jade de la mejor calidad, perlas finísimas, muchachas de una belleza extraordinaria y briosísimos corceles. Venían espontáneamente, sin necesidad de recurrir a la guerra o a expediciones militares, convencidos de nuestra indiscutible superioridad moral.
—Si es verdad lo que decís —comentó Tripitaka—, vuestro rey debe de estar imbuido de una profunda virtud, vuestros funcionarios deben de ser inmunes a los sobornos y vuestros guerreros deben de poseer una nobleza a toda prueba.
—Nada más lejos de la realidad —contestó el monje—, porque ni nuestro rey es virtuoso, ni nuestros funcionarios honestos, ni nuestros guerreros valientes. Esta ciudad debía su fama al Monasterio de la Luz Dorada, que siempre aparecía, incluida su altísima torre, envuelta en un aura de santidad. Los rayos de luz que emitían sus construcciones podían verse por la noche hasta una distancia de veinticinco mil kilómetros. Durante el día las nubes benefactoras que las rodeaban dejaban sentir su influencia en todos los rincones de los reinos que acabo de mencionaros. Por eso, y nada más, era considerado este lugar el centro de una prefectura celeste y gozábamos del respeto de todas las tribus bárbaras. Sin embargo, hace aproximadamente tres años cayó sobre nosotros, a eso de la medianoche del primer día del invierno, una extraña lluvia de sangre. A la mañana siguiente todo el mundo temblaba de miedo y salían de todas las casas gritos de terror. Los ministros reales fueron a informar de lo ocurrido a su majestad y pasaron varias horas deliberando a qué podía deberse tan extraño fenómeno. Se concluyó que se trataba de un castigo del Señor del Cielo y se pidió tanto a los monjes taoístas como a los budistas que recitáramos sin parar nuestras escrituras, con el fin de aplacar al Cielo y a la Tierra. Pero lo más desagradable fue que, al enterarse los pueblos bárbaros de que la sangre había caído sobre nuestro monasterio, se negaron a continuar pagándonos los tributos que antes nos ofrecían de buena gana. El rey quiso enviar contra ellos una expedición de castigo, pero le disuadieron a tiempo sus consejeros, diciéndole que la culpa era nuestra, por haber escondido el tesoro que guardábamos en la torre y que hacía de este lugar un centro sagrado. Eso explicaba la desaparición del aura que antes la envolvía y la negativa de los demás pueblos a seguir ofreciéndonos lo que de más valor tenían. El rey no lo pensó más. Nos hizo arrestar y nos sometió a unas torturas tan horribles, que perecieron las dos terceras partes de los monjes que aquí vivíamos. A los que quedamos se nos cubrió de ignominia, cargándonos de cadenas y sometiéndonos al tormento del cepo. Pero, considerándolo fríamente, ¿cómo íbamos a ser tan tontos para robarnos nuestro propio tesoro? En nombre de los ideales que nos unen, apiadaos de nuestros sufrimientos y destruid con la fuerza de vuestro dharma la vergüenza que ha caído sobre nuestras cabezas.
Tripitaka sacudió la cabeza y, tras suspirar con tristeza, dijo:
—No acabo de comprender lo ocurrido. Hay algo oscuro en todo eso que acabáis de contar. No me cabe duda de que el rey se ha desentendido de sus pesadas responsabilidades y eso os ha perjudicado seriamente. Sin embargo, si la lluvia de sangre acabó con el aura que rodeaba el monasterio, ¿por qué no informasteis inmediatamente de ello a la corte? Así os hubierais ahorrado todo este sufrimiento.
—¿Cómo íbamos a conocer la voluntad de los Cielos, si no somos más que personas corrientes? —replicó el monje—. Además, nuestros mayores se encontraban indecisos y no sabían qué hacer. Nosotros éramos los menos indicados para hacerlo.
—¿Qué hora es ahora? —preguntó Tripitaka, volviéndose hacia Wu-Kung.
—La de shen —contestó el Peregrino.
—Quisiera ir a ver al rey de estas tierras y pedirle que nos selle nuestros documentos de viaje —dijo Tripitaka—. Por otra parte, no he terminado de comprender lo que realmente sucedió en este lugar y, aunque no me atrevo a preguntárselo directamente, espero que me permita quedarme en esta ciudad el tiempo necesario para averiguarlo. Eso sin contar que, cuando salí de Chang-An, prometí en el Salón de las Puertas de la Ley que no pasaría por un templo sin quemar un poco de incienso, ni por un monasterio sin presentar mis respetos a Buda, ni por una pagoda sin barrer su atrio o los incontables escalones de su torre. Precisamente todos vuestros problemas —añadió, dirigiéndose a los monjes— se iniciaron en una construcción de este tipo. ¿Por qué no me traéis una escoba? Creo que, antes de empezar a barrer, voy a darme un baño. Eso me predispondrá el ánimo para tratar de descubrir qué es lo que privó a vuestra torre de su brillo. Cuando lo haya averiguado, presentaré un informe al señor de esta ciudad y os levantará el terrible castigo que os ha impuesto.
Al oírlo, todos los monjes con la cabeza metida en el cepo corrieron a las cocinas y cogieron cuantos cuchillos pudieron encontrar. Se los entregaron a Ba-Chie y le suplicaron, diciendo:
—Mirad a ver si podéis romper las cadenas de esos monjes jóvenes que están atados a aquella columna. Si lo lográis, ellos se encargarán de preparar algo de comer y de disponer el agua, para que toméis un baño. Mientras tanto, nosotros saldremos a mendigar a las calles a ver si conseguimos una escoba nueva, para que barráis la torre.
—¿Para qué me entregáis todos estos cuchillos? —exclamó Ba-Chie, soltando la carcajada—. No hay cosa más fácil que hacer saltar una cadena. Decídselo a ese hermano de la cara peluda y lo veréis. Es un auténtico especialista en romper hierros.
El Peregrino se acercó a ellos y, valiéndose de la magia para liberar cautivos, dio un tirón a los grilletes. Las cadenas se desprendieron al punto de los brazos y piernas de los monjes, que corrieron, jubilosos, a las cocinas a fregar cazuelas y a cocinar algo de comer. Tripitaka y sus discípulos no tardaron en sentarse a la mesa. Cuando estaba empezando a anochecer, se presentaron los monjes de los cepos con dos escobas.
Tripitaka no cabía en sí de contento. Estuvo hablando con ellos hasta que vino uno de los jóvenes con una lámpara en la mano a decirle que el baño estaba dispuesto. Para entonces, la luna estaba ya muy alta y las estrellas habían alcanzado el cenit de su resplandor. A lo lejos se oían los tambores de los vigías apostados en las murallas y los golpes secos de los encargados de medir las vigilias. Un viento frío recorría todas las calles de la ciudad, mientras parpadeaba en cada una de las casas la tenue luz de las lámparas. Hacía horas que los portones de la ciudad habían sido asegurados con grandes trancos y que se habían cerrado las puertas de sus tres mercados. En las orillas de los lagos se terminaban de amarrar las últimas barcas de los pescadores, mientras en los campos se dejaban a un lado los arados, en los bosques los leñadores daban descanso a sus hachas y en el corazón mismo de la ciudad los estudiantes recitaban diligentemente sus lecciones.
Después de bañarse, Tripitaka se puso una camisa de manga corta, que se ciñó a la cintura con ayuda de una faja, se calzó un par de zapatos con suela de esparto y, cogiendo una de las escobas, dijo a los monjes:
—Id a descansar, mientras yo voy a barrer la pagoda.
—Si, como nos han relatado, perdió su brillo durante una tormenta de sangre y no ha vuelto a brillar desde entonces —se apresuró a decir el Peregrino—, lo más seguro es que se haya aposentado allá arriba alguna fuerza maligna. Si subís vos solo con este viento tan frío, podéis encontraros con lo que menos pensáis. ¿Qué os parece si os acompaño?
—Excelente —contestó Tripitaka y cada uno cogió una escoba.
Antes de ponerse manos a la obra, se dirigieron a la nave principal, encendieron candelas nuevas y quemaron un poco de incienso. Tripitaka cayó de hinojos ante la imagen de Buda y oró, diciendo:
—Vuestro discípulo Chen Hsüan-Tsang ha sido enviado por el Gran Emperador de los Tang, en las Tierras del Este, a presentar sus respetos a Tathagata y a suplicarle que me haga entrega de las escrituras sagradas. Al llegar a este Monasterio de la Luz Dorada, en la ciudad del Reino del Sacrificio, sus monjes me han informado que el aura que lo envolvía se disolvió en una extraña lluvia de sangre que cayó en la primera noche del invierno. El rey los acusó de ser ellos los culpables de tan peculiar fenómeno y los cubrió de ignominia. Por eso, he decidido barrer la pagoda y tratar de descubrir de qué se trata. Os suplico que, haciendo uso de vuestra insondable sabiduría, me reveléis la fuente de suceso tan lamentable, para que sean castigados los culpables y los inocentes recobren su perdida dignidad.
En cuanto hubo terminado la oración, abrió la puerta de la torre y empezó a barrerla desde el primer peldaño, acompañado por el Peregrino. Era tan alta, que parecía estar apoyada en el suelo de los cielos. Aunque ya no poseía luz propia, su colorido era tan vivo, que parecía una montaña de oro cubierta de seda. Sus escaleras ascendían en espiral hacia lo alto, como si quisieran trepanar el misterio del cosmos. Con razón gustaba la luna de reflejarse en ella y el tañido de sus campanas de oro reflejaba los ritmos del mar. Las volutas de sus aleros saludaban a las estrellas, que se miraban a todas horas en ella, porque su altura imponente cerraba el paso a las nubes. La vista era incapaz de abarcarla en toda su longitud; se tenía la impresión de que medía miles y miles de kilómetros y que llegaba hasta el centro del Noveno Cielo. Pese a todo, las lámparas que había en las paredes de cada rellano aparecían cubiertas de un polvo espeso, que se repetía en él, antaño, bellísimo arambol de jade blanco, ahora sepultado en una capa de suciedad y restos de insectos. Ni una sola voluta de incienso en las mesas de las ofrendas, abandonadas y totalmente vacías. Las telas de araña cubrían las imágenes y los cristales de las ventanas, tornándolos tan opacos como papeles de arroz expuestos a la luz del sol. Los pebeteros y los recipientes para el aceite se habían convertido en nidos de ratas. ¡Cuánta frustración, sufrimiento y muerte había traído a los monjes la fuente de aquel abandono! Todo eso estaba a punto de acabar, porque, en cuanto Tripitaka hubiera terminado de barrerla, recobraría su antiguo resplandor y su gloria pasada. El monje Tang limpiaba con esmero un tramo de escalera antes de pasar al siguiente. Cuando llegaron al séptimo, era la hora de la segunda vigilia y el maestro comenzó a sentir cansancio en los brazos.
—Veo que estáis cansándoos —dijo el Peregrino—. ¿Por qué no os sentáis y me dejáis barrer por vos?
—¿Cuántos tramos calculas que tiene la escalera de esta torre? —preguntó Tripitaka.
—Trece por lo menos —respondió el Peregrino.
—Es preciso que termine de barrerlos, para dar cumplimiento a lo que en su día prometí —dijo el maestro, esforzándose por hacer frente al cansancio.
Pero después de barrer tres tramos más, empezaron a dolerle de tal forma las piernas y la espalda, que tuvo que sentarse a descansar justamente al final del décimo tramo.
—Wu-Kung —dijo, entonces, con voz apenas audible—, si no te importa, barre tú los tres tramos que quedan y, en cuanto hayas terminado, bajamos.
Complacido, el Peregrino barrió el undécimo tramo y comenzó el duodécimo. En ese mismo momento oyó a alguien hablando en lo alto de la torre y se dijo:
—¡Qué cosa más rara! Es casi la hora de la tercera vigilia. ¿Cómo es posible que alguien esté hablando ahí arriba? Por fuerza tiene que ser alguien que no se encuentre en sus cabales. Voy a ver de quién se trata.
Agarró la escoba y se la puso debajo del brazo. Se arremango después la ropa y, saliendo con cierta dificultad por una de las ventanas, se elevó hasta lo alto de una nube.
Desde allí vio sentados en la decimotercera porción de la torre a dos espíritus, que estaban charlando tranquilamente delante de una cacerola de arroz y de un barreño lleno de vino. Mientras bebían, jugaban a los chinos[6]. Valiéndose de la magia, el Peregrino dejó a un lado la escoba, sacudió con fuerza la barra de los extremos de oro y, poniéndose de pie entre los dos diablillos, exclamó:
—¡Así que sois vosotros los que habéis robado el secreto de este monasterio!
Aterrados, los dos diablillos dieron un salto y lanzaron contra el Peregrino la cacerola y el barreño, que se hicieron polvo, al chocar con la barra de los extremos de oro.
—Os arrancaré una confesión, aunque, para ello, tenga que acabar con vosotros —los amenazó el Peregrino, haciéndolos retroceder hasta la pared.
—¡No nos matéis, por favor! —suplicaron ellos, comprendiendo lo delicado de su situación—. Nosotros no tenemos que ver absolutamente nada con eso. Lo ha robado otro.
Valiéndose de la magia, el Peregrino los agarró con una sola mano y los llevó hasta el décimo tramo de escalera.
—¡Acabo de capturar a los ladrones del secreto del monasterio! —dijo con una voz tan fuerte que despertó a Tripitaka, quien se había quedado adormilado en uno de los escalones.
—¿Dónde los has encontrado? —preguntó el maestro, complacido.
—Se estaban divirtiendo en lo alto de la torre, jugando a los chinos y bebiendo —explicó el Peregrino, obligándolos a ponerse de rodillas—. Al oír toda su cháchara, me monté en una nube y les corté la retirada. Ha sido facilísimo. Si no he acabado con ellos, ha sido porque quiero arrancarles una confesión completa. Por eso los he traído hasta aquí. Vos podéis tomar nota de dónde son y en qué lugar han escondido el tesoro que andamos buscando.
—¡No nos matéis, por favor! —repetían con voz cada vez más lastimera. Por fin, uno de ellos se armó de valor y dijo:
—Hemos venido aquí por orden del Rey Dragón de Todos los Espíritus, cuyo palacio se encuentra en el fondo del Lago de la Ola Verdosa, en el corazón mismo de la Montaña de las Rocas Esparcidas. Éste se llama Burbuja Ocupada, y yo, Ocupada Burbuja. Él es el espíritu de una anguila, y yo, el de un pez de color negro. Una de las hijas de nuestro señor, llamada Princesa de Todos los Espíritus, una muchacha realmente encantadora y con unas cualidades francamente extraordinarias, se desposó con un tipo que responde al nombre de Nueve Cabezas y cuyos poderes mágicos no tienen nada que envidiar a los del inmortal más aventajado. Hace dos años, trajo aquí al Rey Dragón y, valiéndose de sus artes, hizo caer sobre este monasterio una lluvia de sangre, que acabó con su aura.
No le fue difícil, de esa forma, hacerse con las cenizas de un buda[7], que se conservaban en este lugar. Al mismo tiempo, la princesa se introdujo en el Cielo y robó el agárico de nueve hojas, que Wang-Mu Niang-Niang había plantado justamente enfrente del Salón de la Niebla Divina. Tanto las cenizas como la planta se encuentran actualmente en el fondo del lago, iluminando el palacio día y noche con sus rayos dorados y sus resplandores de colores. Hace poco oímos comentar que un tal Sun Wu-Kung se dirigía hacia el Paraíso Occidental en busca de escrituras sagradas. Como, según parece, se trata de un tipo con unos poderes mágicos inigualables, al que le encanta meterse en los asuntos de los demás, se nos ordenó que viniéramos a patrullar la zona y que diéramos la voz de alarma, en cuanto apareciera ese Sun Wu-Kung.
—¡Cuidado que sois atrevidos! —exclamó el Peregrino con desprecio—. No me extraña que el Rey Toro asistiera el otro día a uno de vuestros banquetes. ¡Por fuerza tenía que estar conchavado con una banda de espíritus malhechores como vosotros!
No había acabado de decirlo, cuando aparecieron Ba-Chie y otros monjes jóvenes con dos lámparas.
—¿Por qué no os habéis retirado a descansar después de barrer la torre? —preguntó el Idiota al maestro—. ¿Cómo es que aún estáis aquí charlando?
—Me alegro de que hayas venido —se apresuró a decir el Peregrino—. El secreto del monasterio ha sido robado por el Rey Dragón de Todos los Espíritus, que ha enviado a estos dos diablillos, para que siguieran atentamente todos nuestros movimientos. Lo malo es que han sido ellos los que han caído en nuestras redes.
—¿Cómo se llaman y qué clase de espíritus son? —volvió a preguntar Ba-Chie.
—Según acaban de decirnos, uno responde al nombre de Burbuja Ocupada, y el otro al de Ocupada Burbuja. El primero es el espíritu de una anguila y el segundo el de un pez de color negro.
—Si acaban de confesarlo todo —concluyó Ba-Chie, blandiendo su rastrillo con ánimo de darles muerte—, ¿para qué seguir perdiendo el tiempo con ellos? ¿A qué esperamos para matarlos?
—Se nota que no has calibrado bien el problema —replicó el Peregrino—. Si los mantenemos con vida, nos será más fácil hablar de todo el asunto con el rey. Eso sin contar con que pueden facilitarnos una valiosa información a la hora de recuperar el tesoro y castigar a los culpables.
El Idiota bajó en seguida el rastrillo. El Peregrino, por su parte, agarró a los dos diablillos y se dispusieron a descender de la torre. Mientras bajaban las escaleras, los dos prisioneros no dejaban de suplicar:
—¡Perdonadnos la vida, por lo que más queráis!
—¡Qué casualidad! —decía Ba-Chie, al mismo tiempo—. Andábamos buscando una anguila y un pez negro para hacer una sopa a estos pobres monjes y, mira tú por donde, encontramos a estos dos.
Los monjes jóvenes no cabían en sí de contento. Abrían la marcha con sus lámparas, bajando los escalones de tres en tres. Uno de ellos se adelantó a informar a los demás de lo ocurrido, gritando, entusiasmado:
—¡Ha sido fantástico! ¡Puede decirse que, por fin, hemos visto la luz! Esos hermanos nuestros acaban de capturar a los demonios que robaron nuestro secreto.
—Traed unas cadenas y colgadlos de ahí —ordenó el Peregrino—. Vigiladlos bien, mientras nosotros descansamos un poco. Ya decidiremos mañana lo que haya de hacerse.
Los monjes se esmeraron en cumplir ese encargo. En cuanto hubo amanecido, el maestro saltó a toda prisa del lecho y dijo:
—Voy a ir con Wu-Kung a ver al rey y a pedirle que nos selle los documentos de viaje —y se puso la túnica de los bordados y el sombrero Vairocana.
Vestido de esta guisa, se dirigió hacia la puerta, seguido del Peregrino, que se arregló lo mejor que pudo la piel de tigre y la camisa de seda.
—¿Por qué no lleváis con vosotros a estos dos diablillos? —preguntó Ba-Chie, al verlos coger el documento de viaje.
—Es mejor que le informemos primero de lo ocurrido —contestó el Peregrino—. Ya se encargará después de enviar a alguien a por ellos.
Nada más trasponer las puertas del palacio, vieron una auténtica bandada de pájaros de color rojizo, así como incontables dragones amarillentos. Tras dirigirse a la Puerta de las Flores, que estaba orientada hacia el oriente, Tripitaka saludó con respeto al oficial que hacía la guardia y le dijo:
—Anunciad a vuestro señor que este indigno monje se encuentra de camino con destino al Paraíso Occidental por orden expresa del Gran Emperador de los Tang, en las Tierras del Este. Su misión es conseguir las escrituras sagradas, Por eso, solicita de vuestro virtuosísimo soberano que le selle el documento de viaje, para que pueda atravesar sus vastos dominios.
El rey ordenó que fueran conducidos inmediatamente a su presencia. Al ver al Peregrino, que caminaba justamente detrás del maestro, todos los funcionarios, tanto civiles como militares, se echaron a temblar. Algunos opinaban que se trataba de un mono que había abrazado la religión, mientras que otros pensaban que era, simplemente, un monje con la cara de un dios del trueno. Nadie se atrevía, de todas formas, a mirarle directamente a los ojos. Mientras el maestro presentaba sus respetos al soberano, él permaneció totalmente inmóvil con las manos entrelazadas en señal de respeto.
—Vuestro humilde servidor —explicó el maestro— se dirige hacia el Monasterio del Trueno, en el Paraíso Occidental, a presentar sus respetos a Buda y conseguir las escrituras sagradas, por orden expresa del Gran Emperador de los Tang, en las Tierras del Este del Continente Austral de Jambudvipa. En cumplimiento de tan alta misión, hemos llegado a vuestras dignísimas tierras y no nos atrevemos a cruzarlas sin el correspondiente permiso. Hemos decidido, pues, haceros entrega de nuestro documento de viaje, para que os dignéis estampar en él vuestro sello y podamos proseguir nuestro camino.
Tan respetuosa exposición complació vivamente al rey, que ordenó que el monje procedente de la corte de los Tang fuera conducido inmediatamente al Salón de los Carillones de Oro. Mientras el rey leía personalmente el documento, se pidió al maestro que tomara asiento en un espléndido cojín de seda cubierto totalmente de bordados.
—Ha sido una suerte para el Gran Emperador de los Tang —comenzó diciendo su majestad, una vez concluida la lectura— poder disponer de un monje tan noble y virtuoso como vos, que, sin temor a las incomodidades de un viaje tan largo, se ofreciera de buen grado a ir en busca de los escritos de Buda. ¡Cuán distinta esa actitud de la de los monjes de nuestro reino, que únicamente se preocupan de robar y de traer la ruina a este reino y al señor que lo rige!
—¿Tenéis la bondad de explicarme de qué forma lo han hecho? —preguntó Tripitaka, juntando respetuosamente las palmas de las manos.
—No necesito deciros —respondió el rey— que éste es el reino más importante de todos los Territorios Occidentales. Hasta hace poco, todas las tribus bárbaras de esta zona nos ofrecían tributos, temerosos, no de nuestros ejércitos, sino del Monasterio de la Luz Dorada. En él se guardaba una reliquia que emitía tales rayos de luz, que llenaban de luminosidad el mismísimo Cielo. Pero, cegados por la avaricia, los monjes robaron tan peculiar tesoro y el aura lleva apagada cerca de tres años. Eso ha provocado la negativa de los otros reinos a seguir presentándonos sus respetos, haciendo crecer en nuestros corazones el más profundo de los odios.
—Suele decirse, majestad —contestó Tripitaka, esbozando una sonrisa— que, quien al apuntar se desvía el grosor de un cabello, jamás dará en el centro de la diana. Ayer, cuando entré en la capital de vuestro próspero reino, vi a un grupo de unos diez monjes con la cabeza metida en el cepo. Al preguntarles qué crimen habían cometido, me respondieron que pertenecían al Monasterio de la Luz Dorada y que eran totalmente inocentes de los cargos que se les imputaban. Pedí que me llevaran a su centro de recogimiento y, tras llevar a cabo una exhaustiva investigación, llegué a la conclusión de que, en efecto, no tenían que ver nada con lo ocurrido. Barrí, una tras otra, todas las escaleras de la torre y descubrí a los dos diablillos que habían robado las reliquias.
—¿Dónde se encuentran ahora esos monstruos? —preguntó el rey, visiblemente complacido.
—En el Monasterio de la Luz Dorada —respondió Tripitaka—. Mandé encerrarlos, hasta que vos decidierais qué hacer con ellos.
Asombrado de tanta prudencia, el rey dictó una orden, que decía:
—Que la guardia uniformada traiga inmediatamente a mi presencia a los diablillos que se encuentran detenidos en el Monasterio de la Luz Dorada. Deseo interrogarlos personalmente.
—Aunque vuestra guardia es aguerrida a más no poder —dijo Tripitaka en tono humilde—, no estaría de más que los acompañara el discípulo que ha venido conmigo.
—¿Dónde se encuentra ahora ese discípulo? —preguntó el rey.
—Ahí abajo —contestó Tripitaka, señalándole con el dedo—, junto a los escalones de jade.
—¡Qué monje más feo! —exclamó, sorprendido, el rey al verle—. ¿Cómo es posible que tenga una cara así?
—Majestad —respondió el Gran Sabio con voz segura—, no debe juzgarse a un hombre por su rostro, porque tan imposible es eso como medir con un vaso toda el agua del mar. Si solamente prestáis atención a los hombres de rasgos atractivos, ¿cómo vais a dar caza a los malhechores y a los ladrones?
—Lo que acabáis de decir es cierto —reconoció el rey, asombrado de la profundidad de aquellas palabras—. Es imprudente escoger a los consejeros entre los hombres de aspecto atractivo. Lo que más me preocupa, de momento, es capturar a los ladrones y hacer que devuelvan cuanto antes las cenizas al monasterio.
Ordenó después que prepararan una silla con baldaquino, para que el Peregrino y el jefe de la guardia imperial fueran al monasterio a cumplir lo que había determinado. Al punto los sirvientes reales trajeron una espléndida litera con los cortinajes amarillos y Wu-Kung montó en ella. Era tan pesada, que debía ser transportada por ocho personas a la vez, cuatro delante y cuatro detrás. Otras cuatro iban gritando a los viandantes que dejaran libre el camino. Tanta fanfarria terminó poniendo en alerta a toda la ciudad, que se volcó en las calles, tratando de ver al monje de la cara de dios del trueno y a los dos espíritus ladrones. Cuando Ba-Chie y el Bonzo Sha oyeron los gritos, pensaron que se trataba de algún personaje importante enviado por el rey y corrieron a las puertas del monasterio a darle la bienvenida. Al ver al Peregrino sentado en la litera, el Idiota soltó la carcajada y exclamó:
—¡Ahora eres realmente lo que pareces!
—¿Qué quieres decir con eso? —preguntó el Peregrino, molesto, llegándose hasta donde él estaba.
—Vienes en una litera cubierta de cortinajes amarillos y portada por ocho personas. ¿No son ésos los atributos de un rey? —contestó Ba-Chie—. Si mal no recuerdo, tú eres el Rey Mono.
—No te burles de mí, anda —dijo el Peregrino. Desató después a los dos diablillos y se dispuso a conducirlos ante el rey.
—¿Por qué no nos llevas contigo? —preguntó el Bonzo Sha.
—No, no —respondió el Peregrino—. Es mejor que os quedéis aquí al cuidado del caballo y el equipaje.
—Si queréis, podemos ocuparnos nosotros de eso —dijo uno de los monjes con la cabeza en el cepo—. Así podréis conocer todos al rey.
—Está bien —decidió el Peregrino—. En cuanto hayamos hablado con el soberano, volveremos a quitaros los grilletes.
Ba-Chie agarró a uno de los diablillos, mientras el Bonzo Sha hacía lo mismo con el otro. El Gran Sabio volvió a montar en la litera y el cortejo se puso en camino. Al llegar a las escalinatas de jade blanco, el jefe de la guardia imperial levantó la voz y dijo:
—Vuestros deseos están cumplidos. Aquí tenéis a los diablillos que nos ordenasteis traer.
El rey se levantó al punto del trono del dragón y bajó a ver a los monstruos, seguido del monje Tang y de todos los demás funcionarios, tanto civiles como militares. Uno de los prisioneros tenía un mentón redondeado cubierto de escamas negras, una boca llamativamente puntiaguda y unos dientes tan afilados como cuchillos. El otro, por el contrario, poseía una piel muy fina, una boca alargada y unos bigotes tan duros como cerdas. Aunque tenían piernas y se servían de ellas para caminar, su aspecto era todo menos humano. Pese a todo, el rey les preguntó en tono solemne:
—¿De dónde provenís y en qué año invadisteis nuestros dominios para haceros con las reliquias? ¿Cuántos ladrones tomaron parte en la acción y cuáles son sus nombres? Responded con sinceridad, si queréis conservar vuestras vidas.
Un hilo de sangre fluía lentamente por los cuellos de los dos monstruos, aunque no parecía importarles el dolor. En cuanto oyeron las preguntas del rey, se echaron rostro en tierra y respondieron:
—Hace aproximadamente tres años, el día primero del mes séptimo, el Rey Dragón de Todos los Espíritus se estableció con toda su familia en un lugar a trescientos kilómetros al sudeste de aquí, llamado el Lago de la Ola Verdosa, en el corazón mismo de la Montaña de las Rocas Esparcidas. Su hija, una princesa extremadamente hermosa y seductora, se desposó con un tipo conocido por el nombre de Nueve Cabezas, para el que la magia no tiene ningún secreto. Al enterarse de que el mayor de vuestros monasterios poseía un tesoro de valor incalculable, unió sus fuerzas con las del dragón, dispuesto a hacerse con él como fuera. Para ello, hizo caer una lluvia de sangre, que acabó con el aura que rodeaba el monasterio. No le fue, así, difícil hacerse con las reliquias sagradas, que ahora descansan en el fondo del lago, iluminando día y noche el palacio del dragón. Al mismo tiempo, la princesa logró arrebatar a Wang-Mu-Niang-Niang su planta de agárico, con la que realza aún más el poder de las cenizas. Nosotros, señor, no somos ningunos bandidos, sino soldados al servicio del Rey Dragón, que hemos tenido la mala fortuna de ser capturados anoche mismo. Declaramos que cuanto hemos dicho se ajusta escrupulosamente a la Verdad.
—Si es eso cierto —replicó el rey—, ¿por qué no nos dais a conocer vuestros nombres?
—Yo, señor —respondió uno de ellos—, me llamo Burbuja Ocupada y mi compañero, Ocupada Burbuja. Soy el espíritu de una anguila y éste, el de un pez de color negro.
El rey ordenó al jefe de la guardia imperial que los metiera en las mazmorras. Llamó a continuación a uno de los escribanos y le dictó la orden siguiente: Que todos los monjes del Monasterio de la Luz Dorada sean inmediatamente liberados de sus cepos. Es, igualmente, deseo nuestro que se prepare en el Salón del Unicornio un espléndido banquete, para agradecer cumplidamente a los monjes llegados de lejos su colaboración en la captura de los ladrones. Posiblemente se les confíe, más adelante, la misión de capturar al jefe de los bandidos.
Sin pérdida de tiempo, los cocineros imperiales prepararon un convite en el que abundaban por igual los platos vegetarianos y los que contenían carne. Tras invitar al monje Tang y a sus discípulos a tomar asiento en el Salón del Unicornio, el rey preguntó al maestro:
—¿A qué familia pertenecéis?
—La que me vio nacer lleva el nombre de Chen, aunque en religión se me conoce como Hsüan-Tsang. El emperador me ha concedido el honor de ostentar el apellido Tang. Sin embargo, el nombre que más uso es el de Tripitaka.
—¿Y vuestros respetables discípulos? —volvió a preguntar el rey.
—Ellos no pertenecen a ninguna —explicó Tripitaka—. El primero se llama Wu-Kung, el segundo, Wu-Neng, y el tercero Wu-Ching. Dichos nombres les fueron impuestos por la Bodhisattva Kwang Shr-Ing de los Mares del Sur en persona. Todos ellos me han prometido obediencia y me consideran como su maestro. Por eso, a Wu-Kung le llamo a veces el Peregrino, a Wu-Neng, Ba-Chie y a Wu-Ching, el Bonzo.
Apenas hubo acabado de hablar, el rey pidió a Tripitaka que ocupara el lugar de honor de la mesa, mientras que el Peregrino presidio la mesa que había a su izquierda y Ba-Chie y el Bonzo Sha, la que estaba situada a su derecha. En esas mesas se veía una gran variedad de platos vegetarianos, frutas, té y arroz. El rey se sentó enfrente de ellos en una mesa que exhibía toda clase de viandas condimentadas con carne, lo mismo que las cien restantes, que fueron ocupando, según su rango y dignidad, los funcionarios del reino, tanto civiles como militares. Todos empezaron a comer con la venia de su majestad, que levantó la copa a la salud de tan ilustres visitantes. Tripitaka no se atrevió a llevarse la copa a los labios. Los tres discípulos, por el contrario, aceptaron de buen grado el brindis que se les hacía. El convite estuvo amenizado por la orquesta real, que no fue capaz, con sus melodías, de menguar el enorme apetito de Ba-Chie. Sin prestar atención a la clase de verduras que iban poniendo sobre la mesa, él las devoraba a una velocidad increíble. Los criados le sirvieron más sopa y más arroz que a todos los comensales juntos, pero lo engulló antes de que los demás hubieran probado el primer bocado. Ni una vez rechazó las copas de vino que el maestresala le fue ofreciendo, eso que el banquete duró hasta bien entrada la tarde. Tripitaka agradeció, entonces, al rey todas las atenciones que había tenido con ellos, pero su majestad dijo, agarrándole de la túnica:
—Esto es sólo en agradecimiento por haber capturado a estos diablos. Creo que lo más conveniente será que continuemos la celebración en el Palacio de Chian-Chang[8]. Allí podéis explicarnos cómo pensáis atrapar al que planeó el robo de las reliquias. Es preciso que vuelvan cuanto antes al monasterio.
—Para eso no es necesario que asistamos a otro banquete —respondió Tripitaka—. En cuanto nos retiremos, iremos a la caza de esos monstruos.
Pero el rey no quiso oír hablar de ello e insistió en ir al Palacio de Chian-Chang. Allí se les ofreció un nuevo convite, a lo largo del cual preguntó el rey, levantando deferentemente su copa:
—¿Quién de vosotros va a mandar las tropas encargadas de capturar a ese monstruo?
—De eso se encargará Sun Wu-Kung, el mayor de mis discípulos —contestó Tripitaka y el Gran Sabio juntó las manos e inclinó la cabeza en señal de obediencia.
—En ese caso —añadió el rey—, ¿con cuántos caballos y hombres querrá contar el respetable Sun? Desearía, igualmente, saber cuándo va a abandonar la ciudad.
—¿Quién necesita caballos y hombres? —exclamó Ba-Chie, incapaz de dominar su impaciencia por más tiempo—. Nosotros siempre estamos preparados para lo que sea. De hecho, ahora que estoy bien llenito de vino y arroz, no me importaría acompañar al mayor de mis hermanos en una empresa tan arriesgada. Entre los dos sólo tendremos que estirar las manos, para traer aquí a ese malvado.
—Últimamente te ofreces para todo, Ba-Chie —dijo Tripitaka, complacido.
—En ese caso —concluyó el Peregrino—, que se quede el Bonzo Sha a proteger al maestro, mientras estamos ausentes tú y yo.
—Puesto que, según parece, no precisáis ni de caballos ni de hombres —insistió el rey—, ¿qué armas deseáis llevar con vosotros?
—Perdonad mi sinceridad —dijo Ba-Chie, sonriendo—, pero vuestras armas no nos valen para nada. Nosotros tenemos nuestros propios medios de defensa, de los que no nos desprendemos ni de día ni de noche.
El rey ordenó, entonces, que le trajeran una copa de un tamaño muy superior al normal, con la que quiso brindar a manera de despedida con ellos, pero el Gran Sabio rechazó el ofrecimiento, diciendo:
—Disculpad que no bebamos nada más. Lo que sí os agradeceríamos es que mandarais traer a esos dos diablillos que tenéis en vuestras mazmorras. Desearíamos preguntarles algunas cosas, que nos pueden resultar de mucha utilidad.
El rey así lo hizo y ellos, montando a lomos del viento, se dirigieron hacia el sudeste con los dos diablillos fuertemente amarrados. Al verlos desplazarse de aquella forma por los aires, tanto el rey como sus súbditos comprendieron en seguida que aquellos monjes eran, en realidad, unos sabios.
De momento desconocemos cómo capturaron a los otros monjes. El que desee averiguarlo tendrá que escuchar con atención las explicaciones que se dan en el capítulo siguiente.
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arteriaemchamas · 2 days
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QUINTA AULA
Uma coisa importante para gente ver é o paralelismo entre as operações alquímicas realizadas no metal e aquelas realizadas na alma humana. Engraçado que as coisas não dão certo se romper este paralelismo. Na verdade é mais do que paralelismo: é uma identidade. Quer dizer, a operação alquímica não visa nem ao metal físico nem ao metal da alma. Visa à uma coisa que é uma síntese simbólica de ambos. Quer dizer que o conjunto das operações alquímicas age num a esfera que não é nem psíquica, nem material, mas que é propriamente o ponto de convergência destas coisas. Não existe a distinção entre alquimia material e espiritual: ela é absurda em gênero, número e grau. Quer dizer, se é alquímico, o alquímico se caracteriza precisamente pela inexistência destas distinções; que em outros setores pode não ser tão importante. Quer dizer, tanto faz você falar da alma dos metais quanto do metal da alma: é exatamente a mesma coisa. E é por isso que a linguagem simbólica é entendida como um hiper- literalismo. Claro que tudo isso se baseia numa idéia que é mais do que uma analogia; é uma homologia para a estrutura do ser humano e a do cosmos. Provando assim, o princípio do: Assim como é em cima é em baixo. Você tem um macrocosmo organizado à sua imagem do microcosmo e vice-versa. Isto é: por um princípio de simpatia que, quando se mexe em um, se mexe no outro. Este é o princípio de toda a operação dita válida. E hoje em dia, você encontra o equivalente parcial disto aí na idéia de Ressonância Magnética.
A Ressonância Magnética se usa para explicar certos efeitos ocorridos à distância e aparentemente sem a intermediação de nenhum instrumento. Eles colocam um ratinho num labirinto e o ensinam a sair deste labirinto. Imediatamente todos os ratinhos de outros laboratórios começam a aprender aquilo mais depressa.
Isso quer dizer que, entre membros da mesma espécie existe uma ligação qualquer.
Não muito bem explicada e que os caras chamam de Ressonância Magnética. É mais ou menos como o sincronismo do mundo. Então, a teoria da R. M., é menos uma teoria do que um simples fato. É mais ou menos como o sincronismo de Jung. Só que a soma de observações convergentes foi tamanha que não tem mais como negar. Essa ressonância acontece não só na esfera animal como na mineral. E se você entrar mais na decomposição da matéria até as substâncias químicas elementares, parece que tem isso. quer dizer, quando você num laboratório está tentando uma certa reação química, a partir da hora que se consegue esta reação, o tempo dela fica acelerado em outros laboratórios que não tem nada a ver com aquilo. É como se aquela substância tivesse aprendido, introjetado uma informação. Mas, na verdade, esse negócio de teoria da informação, hoje permite explicar coisas que até 30 anos atrás era considerado totalmente inexplicável. Agora, agente não pode confundir o que é real do que é explicável. A ciência é a tentativa de uma explicação racional dos fatos. Ou seja, uma ordenação racional explicativa dos fatos. Agora, se não temos fato, não temos ciência. Claro que os fatos sozinhos não compõem a ciência, mas é o começo da ciência. Se você rejeitar os fatos porque você não tem explicação para eles, a ciência não pode começar. Porque a ciência começa precisamente na hora em que você tem uma fato não explicável. A ciência começa por um espanto. Então, por um efeito até compreensível, na medida em que o estabelecimento científico progride e se consolida, ele tenta ter uma certa ilusão e um certo domínio no campo dos fatos. Então, o que quer que venha de fora que pareça contrariar o esquema teórico já montado, eles negam os fatos. Então, você cria uma espécie de proibição de fatos que já não estejam dentro da teoria pronta. Mas isso aí acaba com a ciência. Se você só aceita fatos que já tenham explicação, acabou. Isso contraria todo o conceito de ciência. Se todos os fatos que você observa já tem um arcabouço teórico e pronto e só resta encaixar os fatos
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subseqüentes, acabou a investigação. Você só tem a aplicação da ciência. Isso também é compreensível. O princípio de ciência aplicada acaba predominado sobre o princípio de ciência teórica que são mais fáceis, por uma espécie de acomodação.
Então, esses fatos de ordem alquímica, basta estudá-los para ver que eles são amplamente comprovados; o que eles não têm é a menor explicação nos termos da ciência atual. Você precisaria encontrar outros esquemas teóricos. Ou então, ficar sem nenhum: ou você aceita as explicações baseadas nestes princípios de correspondência, simpatia, analogia e toda aquela cosmovisão medieval, ou você vai ter que aceitar o fato bruto, colocar um ponto de interrogação e continuar investigando. Na realidade, o que as ciências modernas fazem é sempre, sempre buscar uma explicação antiga e dar um nome moderno. Não tem nenhuma diferença entre o que hoje chamamos de Ressonância e o que os medievais chamavam de simpatia; e que as nossas avós chamavam de simpatia. Só que elas não usavam simpatia no sentido teórico. Somente no sentido da operação: se você coloca um pote de mel e coloca o nome da garota que você ama e no dia seguinte você conquista a garota. a semelhança entre esta simpatia e o comportamento dos ratos é a seguinte: é a possibilidade de você, agindo num objeto pequeno, você desencadear um efeito grande sem a mediação de um instrumento racionalmente concebível. É um efeito mágico. Isso significa que para diferentes partes do Cosmo que estão separadas no espaço, existe um elo de simpatia conforme a forma dos entes. Quer dizer, entes que tenham a mesma forma respondem à mesma influência ainda que estejam separados pela distância. Isso quer dizer que o princípio da forma, da divisão das espécies em gêneros etc.. predomina sobre a distância. Quer dizer: o fato de um ente pertencer à mesma espécie de um outro cria uma ligação mais forte do que se os dois estivessem juntos no espaço. É a famosa questão da ação à distância: existe ou não existe ação à distância? Por este princípio, toda a ação é a distância. E quando não houver reação próxima também não haverá ação à distância. Aí você age não sobre o ente físico considerado na sua singularidade na hora em que você está agindo sobre o esquema da espécie. Quer dizer, espécie definida como uma forma. Essa forma é como se fosse um programa de computador.
O que quer que tenha um programa e funciona de acordo com este programa, será alterado quando você mexe num dos seus exemplares. Não vejo outra maneira de explicar isso aí. Então, todo raciocínio alquímico se baseia nisso aí. Na hora em que você mexe em certos componentes internos seus, você está mexendo nos equivalentes externo dele. Os alquimistas sempre diziam que a operação que eles fazem não é para regeneração nem do homem nem do metal; mas para a regeneração da natureza inteira. Ora isto pressupõe que, se não existe nenhum alquimista humano fazendo a operação, ela está se fazendo de algum modo na própria natureza. Se ela parar, a coisa vem abaixo. Então, para o alquimista, a transmutação do metal não é um caso excepcional: não é uma exceção, é justamente a regra. Quer dizer, os metais que nós conhecemos, com todas as suas distinções, já são um efeito de uma contínua transmutação que está sendo operada na natureza. E que num determinado campo do cosmos, chamado Terra, ela se estabiliza nestas formas. Este tipo de raciocínio é que permite em épocas remotas, os caras tem feito descobertas assombrosas. Quando você vê que há quase 10 milênios que se associa ao planeta Marte ao Ferro. Então, quando mandam sondas espaciais e descobrem que Marte é feito todinho de minério de ferro.
Veja, na escala do chute, seria a maior loteria esportiva do universo! Como é que o sujeito capta uma coisa dessas! Marte poderia ser composto de milhares de coisas.
Existem outros exemplos deste tipo como quando você vê certas proporções correspondentes do corpo humano. você vê que esse pessoal não estava longe da verdade. Se você fizer uma proporção entre a velocidade da órbita de Marte e de Mercúrio, você vai ver que esta proporção é a mesma entre a velocidade da circulação da corrente sangüínea e a da respiração. Isto segue uma proporção não exata mas
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bastante aproximada. Se quiserem ver este número exatamente, consultem um livro de astrologia muito bom do Mestre Murilo Sementovski. Foi editado em tradução italiana (na biblioteca da Astro dever ter). Então, tudo isso nos leva a compreender que as distinções estabelecida pela Física, clássica não são para serem levadas muito a sério. Por outro lado, você vê que toda a concepção científica moderna se baseia na separação radical feita entre o sujeito e o objeto. Essa é a famosa pensamento de Descartes: aqui existe uma coisa que pensa cujo principal atributo é pensar, e existe uma outra substância cujo principal atributo é ter extensão. Então, é muito engraçado pois desse jeito pensar e medir não são coisas do mesmo gênero. Como é que você vai distinguir duas espécies de substância por atributos que, por sua vez não são da mesma espécie? Quando você separa, distingue, entre os leões e os tigres. São espécies do mesmo gênero. Mas todas as diferenças em que eles se distinguem são também do mesmo gênero. Portanto, a cor da pele. Um tem a pele malhada, o outro não tem a pele malhada, um tem juba, o outro não tem juba. Agora, se você dissesse: um tem juba e o outro não dá leite. Ou o outro não, fala. Isso aí, é uma coisa totalmente ilógica. Se você pega o gênero substância e diz: agora vou distinguir 2
tipos de substância, 2 espécies de substância. Bom, você vai ter que distinguir pela ausência ou posse dos mesmo traços. Quando Descarte faz a divisão de substância existente e substância pensante, ele já está supondo que pensar e ter extensão são diferenças da mesma espécie, o que é uma bobagem. Mas essa coisa, entrou na época na cabeça de todo mundo. Até hoje nós acreditamos que existe no homem um mundo interior que é de natureza totalmente distinta daquela que ele está vendo lá fora. É
como se você fosse um ser que esta colocado fora da realidade, da própria natureza.
Na verdade, tudo indica que não há esta separação de gênero. Pode haver uma separação de modo. É só entrando muito no estudo de Aristóteles para diminuir estas coisas. Porque Aristóteles vai mostrar as funções cognitivas humanas, apenas como o aperfeiçoamento das própria funções corporais. Quer dizer, você não tem mais esse hiato entre o ser, existir fisicamente o e o conhecer. Também não é uma dualidade. É
toda uma escala, um série de transições que você vai passando. Então se formos por Descartes, todas essa operações alquímicas, são todas um non sense: Em que uma mudança psíquica do indivíduo poderia afetar o mundo externo? De fato parece que não. Se você supõe que as 2 coisas são espécies diferentes. Vi um filme uma vez que era sobre a quebra da Bolsa de Nova York. Aí os caras saem de manhã para retirar o dinheiro do banco; e o banco estava fechado. Aí eles ficam esmurrando a porta do banco como se esmurrando a porta fosse botar dinheiro lá dentro. É o tipo da ação desesperada onde a causa jamais produzirá o efeito: você está tentando vencer uma crise econômica na base do esforço muscular. Então, se a visão cartesiana funcionasse, os esforço alquímico seria mais ou menos do mesmo tipo. Você está indo numa esfera aonde você vai alcançar o objeto da ação. Mas, e se a coisa for realmente assim? E se o universo não tiver como principal característica a extensão como pretende Descartes? Quem estudou Leibniz, sabe que a extensão não basta para configurar o objeto real; que além de extensão o objeto precisa ter uma substancialidade individual; precisa ser alguma coisa por ele mesmo. Ou seja, precisa ter forma substancial como dizia o velho Aristóteles. Então, se o mundo real não é constituído somente de extensões, mas constituído de formas substanciais, então o universo não se organiza realmente como uma série de objetos colocados uns ao lado dos outros no espaço; mas ele se organiza exatamente como se fosse uma chave de gêneros e espécies. Quer dizer, está todinho articulado do mais universal ao mais particular. Bem, se o universo não é só uma exposição plana de objetos colocados uns ao lado dos outros, no mesmo plano de tudo, tendo a mesma modalidade de existência que nós chamamos física; e sendo portanto distintas uns dos outros exceto no espaço. mas, ao contrário, o universo vai ser composto de seres hierarquizados por
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gêneros e espécies, então todos eles estão ligados entre si. Não estão separados. E daí é que entra a Ressonância Magnética - que não age só no ser corporalmente separado no tempo e no espaço- mas ao agir sobre um, age sobre a espécie à que ele pertence.
Dentro da operação alquímica, vimos que uma etapa importantíssima era aquela representada pelo fundo da alma. O fundo da alma é representada pela superfície da água pela qual você vê por um lado o fundo, as pedras, o chão. E, por outro lado por reflexo, você vê o céu. O céu representa o conjunto dos princípios de ordem metafísica que não são visíveis, sensíveis; Mas são tão rigorosos e necessários quanto à realidade física. O fundo do lago vai representar a própria natureza da psique como um espelho. Quer dizer, por um lado é um vidro e, por outro lado, é um espelho como qualquer vidro. Pelo vidro, você pode olhar pelo que está atrás dele. Ou mudando o ângulo de visão você vê o que está atrás de você. O vidro é ao mesmo tempo um espelho. A superfície do lago também é vidro para você ver o solo; e é espelho para você ver o céu. Então, esta é a verdadeira natureza da psique: ser vidro (através do qual você vê o mundo físico. E preste atenção que nós não captamos nada, nada, nada do mundo físico a não ser por meio psíquico. Não existe sensação puramente física.
Aliás, sensação puramente física não é nem sentida. nós sabemos que deve existir.
Mas toda a sensação que nós pegamos nunca é sensação isolada. É sensação dentro do quadro que nós chamamos percepção. Ora, se a sensação está dentro da percepção, ela jamais é puramente física, mas existe o elemento psíquico que a organiza. Neste sentido, a psique é o vidro através do qual vemos o mundo físico. Não o vemos diretamente porque ele nem existe diretamente. Por outro lado, é no próprio funcionamento da psique que você verá as Leis supra-psíquicas que ordenam a realidade. Como funciona isto? Por ex.: para eu saber que 2 + 2 = 4, eu tenho que pensar nisto. Então, como é que eu fico sabendo que existe números e estes números estão conectados uns aos outros por leis que presidem as suas relações rigorosamente de acordo que 2 + 2 nunca vai dar igual a 5. Como eu vou saber que existem estes números, que existem estas relações se não pensando neles? Isto quer dizer que eu não capto, propriamente o números, mas a minha idéia de números. Mas, quando eu faço a conta eu não penso nos números, mas estou pensando aquilo que eu penso sobre os números. Pensando signos que representam os números. Porém, eu sei que para além destes signos existe, objetivamente, estes números e estas relações. Eu só chego a perceber que 2 + 2 = 4 através daquilo que eu penso a respeito. Mas eu sei que 2 + 2 = 4 independentemente de eu pensar nele ou não. Então, é por aí que você vê que a psique vai, além de si mesmo. Aliás, a psique só serve para isto. Para que serviria um vidro se não fosse para você ver através dele ou ver o reflexo? Então você imagina um vidro sem espessura, ideal. Ele em si mesmo, não é nada. Ele é apenas uma superfície de transparência ou de espelho. Então, a verdadeira natureza da psique é esta. Ela ser uma transparência através do qual se aparece a realidade do mundo físico e ser o espelho através do qual se percebe dentro de si algo que transcende você mesmo. É um veículo. É menos que um veículo. A idéia que a psique é um espelho é uma das idéias mais velhas do mundo. Na mitologia você tem o espelho de Netuno que tem no fundo do mar onde aparece o mundo inteiro. E
exatamente o mesmo simbolismo do fundo da alma. Quando você encontra este espelho, você finalmente chegou na realidade. A conquista desta etapa, ela é prévia à operação alquímica. É aí que tudo começa. Mas já é uma conquista alquímica.
Podemos dizer informalmente que a chegada neste fundo da alma é Alquimia.
Formalmente não é. Formalmente a transmutação começa a partir daí. A Psique sempre esteve nos mostrando o mundo físico e o mundo espiritual; o mundo supra-físico. Ela não é nem física nem supra-física. Mas, ela é apenas o espelho pelo qual nós vemos um lado e ou outro. Isso quer dizer que o esforço total da disciplina que vai caracterizar o processo alquímico é exatamente a diminuição da atividade
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psíquica; diminuição e simplificação. Por isso que você vê que uma verdadeira psicologia a alquímica iria a contra corrente de praticamente toda a psicologia do século XX. Quanto mais você remexer naquele negócio, mais você vai agitar a água, e menos a psique vai aparecer com aquela translucidez que ela deve ter. É exatamente que quer fazer as doutrinas antigas; que é para parar o pensamento, abdicar do ego etc.. É um modo de designar esta necessidade de encontrar o fundo da alma. Quanto mais você remexe nos sonhos, pior. Porque o sonho o que é? Através do sonho você vê 2 coisas: ou você vê a realidade espiritual ou você vê a realidade física. Agora, se você ficar vendo a própria psique, você não está vendo nada. É o espelho do espelho do espelho do espelho. É o espelho que espelha a si mesmo de milhões de maneiras e não sai disso. É uma masturbação mental em toda a extensão da palavra. Este espelho, a natureza dele é ser translúcido e reflexivo. Isso é tudo: não há mais nada o que saber dele. Então, se nós seguimos o caminho contrário i.é; formos inflando a psique, achando que ela é a única coisa interessante. a psique é tanto mais importante quanto mais modesta ela for. Por isso que a superfície da água não é água nem não-água. Ela é uma película sem espessura. É exatamente essa película que é um nada mas no qual aparece tudo. é isso que quer dizer o chinês com o tal do Yin.
O Yin é tanto mais grandioso quanto mais ele consente em não ser nada. É por isso que é sincronizado com a vaca, por ser um bicho paciente, obediente. A psique está lá para obedecer, não para ter vontade própria. O Yin é exatamente esta Psique em face do espírito. Porém na medida que o psíquico reflete o espiritual, ele está refletindo algo que abarca o mundo físico. Abarca e transcende. Então ele tem um poder sobre o mundo físico. Então, está feita a hierarquia do negócio. Que é o famoso Wong: O céu, o homem e a Terra. Terra é o mundo físico. O céu, o mundo metafísico e o homem é a psique. E a psique aonde ela está? Esta no encontro de céu e da Terra. E você verá que todas as disciplinas espirituais do mundo vão existir sempre numa espécie de individualidade psíquica. Na simplicidade desta psique e não na complicação. Se agente presta muita atenção na Psique, é como querer agarrar uma fumaça. não tem nada ali: Quem olha muito seus sonhos fica semelhante às suas sombras. No livro: Passagem para Índia de Forster usa este ditado hindu como epígrafe do livro. Forster era sem dúvida um sábio: um homem que enxergava as coisas como elas são. A problemática toda daquela moça do filme foi um fosforescência. A mensagem é que você deve esquecer os seus sonhos. Se você nem mesmo tem certeza da coisa, então não importa. A mensagem é claríssima: é aquela caverna cheia de coisas que não são nada. E no fim, a realidade era muito melhor; era um homem indiano bom, simpático e que só estava querendo ajudar. Isso não quer dizer que o mundo psíquico seja inexistente, mas ele só existe se você quer. Agora, a Terra e o Céu, a sujeição do nosso corpo material existem; e por outro lado o mundo meta-físico também existe porque as leis do princípio de identidade. tudo isso presida a realidade com mão de ferro. O mundo meta-físico é mais duro que o mundo físico. Mais implacável que o mundo físico. Muito dos conselhos de ascetismo dever ser entendido neste sentido.
Não adianta nada você ficar sem comer. Se você não comer, você fica delirando. É
melhor você comer e parar de inventar coisa. É na verdade mais um ascetismo da alma do que do próprio corpo. A psique não podendo atuar sozinha, ela pega alguma coisa no concreto. Então vai partir de necessidades corporais e vai ampliar formidavelmente. Qualquer necessidade corporal que você comece a pensar muito nela a psique amplia de tal maneira a que não há o mais o que te satisfaça. Qualquer coisa que você se acostuma a querer. corpo tem um limite do que ele precisa. A psique não! Quantas vezes você precisa comer, quantas vezes você precisa de sexo. Aí a psique se volta contra o corpo. As práticas ascéticas tentam cortar o pretexto de que a alma se serve para ampliar as necessidades. Eu não acredito muito nisso: o que eu acredito é nesse negócio aristotélico do meio-termo. E eu acho que quase todo mundo
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acredita nisso sem saber. Como diz Aristóteles. A virtude é o meio termo entre 2 vícios.
Você está com um vício aqui, pega o vicio contrário e acha o ponto de equilíbrio. Por ex.: a ambição e a preguiça. A ambição é recompensada pela preguiça e vice-versa.
Então não precisa ter virtude nenhuma; basta ter todos os vícios e jogar um contra o outro.
Esse fundo da alma, uma vez alcançado, por um lado ele é o começo da obra alquímica. Por outro lado ele é um coroamento, uma conquista. Esta conquista representa o estado adâmico alcançado. Você virou gente. Assumir que você é gente significa o que? Olha, hoje em dia o homem pensa muito em direitos etc.. Mas, o homem verdadeiro não tem nada disso. Que direitos tinha Adão? Ele nunca pensou nisso. Não é o respeito que os outro têm por você que vai te dar um estado humano.
Ao contrário, ninguém pode te dar o estado humano.. A conquista do estado humano é a conquista de uma centralidade. E neste sentido que se deve entender o simplismo do geocentrismo. Quer dizer: o que está no centro do universo não é a Terra. É o homem? E essa centralidade. primeiro temos que entender o sentido vertical para entender depois o horizontal. E o sentido vertical significa que o homem é exatamente o mediador entre o mundo físico e o mundo espiritual. Quer dizer que entre o conjunto de leis que rege este mundo espiritual e este mundo físico só tem um ser no meio que capta os 2 lados por eqüidistância e compreende a relação entre um e outro.
Explicarei melhor baseado no princípio de identidade: vamos supor que no desenho o mundo físico é o mundo dos Porcos. Por ex.: entre um mundo e outro só tem uma único ser capaz de conectá-los. Porque, como nós (seres humanos) temos um corpo, nós também padecemos das mesmas contingências que aqui estão sujeitas os porcos, as galinhas etc.. Só que nós podemos além de perceber o que se passa conosco, podemos perceber o que se passa com eles. E eles não. O porco só entende de porco.
Os animais para não falar das plantas- se desconhecem uns aos outros. Em primeiro lugar, existem espécies animais que nunca se viram a não ser quando do homem juntou-os no zoológico. Pergunto eu: quando o primeiro urso polar ficou sabendo que existia uma girafa? Além de estarem separados geograficamente, os animais ainda estão separados pelas suas respectivas esferas de percepção que um não abarca o outro Por ex.: as formigas sabem que existem tamanduás que as comem? Não, provavelmente as formigas sabem que existe morte. Mas, quem as mata só nós sabemos. O único ponto de junção de toda a natureza terrestre é o homem. É o único que está informado de tudo. Por isso que o homem é a única espécie que não tem um habitat específico. Todos os bicho precisam de um certo clima, de certas condições. O
homem praticamente se adapta à tudo. Ele tem essa mobilidade horizontal que os outros bicho os vegetais e mineiras não têm. Mais ainda o homem é o único bicho que pode mudar as coisas de lugar. Por ex.: hoje em dia a superfície da Terra está cheia de minerais que foram retirados de dentro da Terra e postos em outro lugar. E isto pode ter conseqüências terríveis; mas mostra o poder que ele tem. Esta esfera das leis metafísicas, ela determina o que se passa em baixo mas não é afetado por nada. Esta de baixo só sofre determinação e não apita nada. O único que sofre e age é o homem!
Não existe nenhum outro ser que faça estas 2 coisas. Mesmo se você falar da anjos.
Anjo é um modo de você dizer uma ação celeste. Então, o anjo também não padece ação alguma. Ele não pode padecer a ação de Deus porque ele é a ação de Deus. É
como o raio do Sol está para o Sol: o raio do sol não sofre ação do sol; ele é ação do Sol. O anjo, a mesma coisa: Ele é uma aspecto da inteligência divina. Agente pode colocar a coisa como agente e ação: o agente é Deus e ação é a do anjo. Então você tem uma esfera da ação e uma esfera da paixão. O homem tem uma vida corporal, um ser biológico vivente e ao mesmo tempo ele tem uma inteligência capaz de abarcar o conjunto dos seres que o rodeia e agir sobre eles. ao mesmo tempo que ele sofre a ação do Cosmos. Então o que ele é? Ele é gente. Esteja onde estiver, tenha nascido aonde
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for. Ao mesmo tempo, ele tem um corpo que se move. Mas ele não se limita a se mover e sofrer o impacto do mundo. Ao contrário, ele consegue abarcar de certo modo a sua inteligência no conjunto dos seres viventes e agir sobre eles. O único bicho que faz isso chama-se homem. Com todas as suas diferenças. A não ser que você vá fazer de diferenças acidentais, diferenças específicas: Ah, mas tem 1,20 m. eu não acredito que eu vá ficar mais assustado quando eu ver um Extraterrestre do que o primeiro pretinho da África ficou quando viu o primeiro português. Imagina um pigmeu preto vendo um homem branco, parecido com um fantasma, de 1,80 m de altura. E me diga aonde que está escrito na definição de homem que ele tem que nascer na Terra. O
homem é um animal racional venha de onde vier. Então, essa conjugação da animalidade que o sujeita à existência material e da racionalidade que lhe permite ao contrário agir sobre a condição material; é exatamente isso aí que define o homem. O
que significa alcançar apenas condição humana? Significa agir sobre aquilo que está sujeito à sua ação. E padecer a ação sobre aquilo que está acima de você. Portanto, invertendo, seria não padecer a ação sobre o que está abaixo de você nem tentar agir sobre o que está acima. É simples. Na Bíblia no Gênesis, quando Deus cria o homem tem: você vai mandar nesse negócio todo e vai me obedecer completamente. Quer dizer: não adianta você tentar agir nesta esfera espiritual porque você não alcança.
Então, o homem tem que obedecer à Deus querendo ou não, sabendo ou não. E lá em baixo? Bom, com relação ao mundo material, o certo é você mandar lá. E se você não mandar? Ninguém vai te obrigar. Nem o próprio Deus. Alcançar esta centralidade de chegar no fundo da alma significa se tornar inteiramente soberano dos fatores que são vegetais, minerais, animais, fatores de ordem natural. E, inteiramente submisso à fatores de ordem espiritual. É esse exatamente o ponto de equilíbrio desta película que qualquer sopro, qualquer agitação da alma balança e ser perde. A alma agitada se torna presa ao mundo físico em vez de dominá-la. Então é mais ou menos fatal que o homem nunca permaneça neste mundo da alma. Assim como a água nunca permaneça calma. Ela fica calma por alguns instantes depois volta. Mas uma vez que você descobriu que isto existe, você não quer mais sair de lá. Mas justamente para se instalar neste fundo da alma, nesta película, este ponto de equilíbrio é que existem todas as disciplinas de concentração. Essa concentração é simbolizada exatamente pelo forno do alquimista. Você vai acumulando um calor interno. Este fogo significa de certa maneira o coração. O coração, é o meio do homem em cujo meio está este o ponto de encontro na vertical, na horizontal, este funda da alma. Neste sentido, o verdadeiro símbolo astro-alquímico do coração é a Lua., não o Sol. O Sol por vezes é considerado também o símbolo do coração e também faz sentido. Este fundo da alma que é o centro do homem é que ao mesmo tempo designa a poluição intermediária do homem no cosmo é um simbolismo de ordem lunar. Aí tem uma das coisas mais lindas do simbolismo universal que é justamente a relação entre o sol e a Lua. Se você pegar o planeta Terra, a Lua e o Sol. Eles estão colocados exatamente assim nesta relação. A lua está no meio. Aonde está o homem? O homem não está na Terra, está no meio: o homem está só como o pé na terra.. A Lua tem o mesmo mecanismo de inchar e desinchar que tem o nosso coração: sístole e diástole. O que o coração faz em 1 minuto, ela faz todo o mês. Ao mesmo tempo, você vê que tudo aquilo que incha e desincha na superfície da Terra, acompanha os movimentos lunares: marés, digestão, processo de engordar e emagrecer. Mas o que dá a medida do tempo desta coisa? É justamente a relação entre a Terra e o Sol. São os movimentos recíprocos entre Terra e Sol. O movimento da Terra em torno do Sol é que determina para nós as direções do espaço. Está em sentido absoluto, para a Terra; e cria uma moldura dentro do qual você pode ver e medir os demais movimentos. Então, agente tem aqui um dos simbolizamos mais óbvios e mais sutis: o espírito, a mente e a psique,.. O
espírito é aquilo que baliza a mente. Ele demarca o território por onde a mente pode
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ser mover. O espírito demarca o quadrante para que o ponteiro (a mente) possa se mover ali. O espírito é exatamente a luz, o sol em particular. Então é evidente que o Sol não é o coração. O coração é a Lua. Porém tão logo você chega no centro do homem , você verá o reflexo do espírito. Então você verá a luz do Sol. O sol representa aquele conteúdo espiritual ideal que se reflete no coração; e que preenche o coração.
Se o coração fosse o Sol, o coração jamais poderia estar na escuridão. Se ele pode ficar escuro, e se obedece à um movimento cíclico, então ele não é o sol, pois este está sempre iluminado. São os corpo visíveis que estão ora iluminados, ora escuros conforme os seus movimentos recíprocos. Mas o Sol tem que estar iluminado 24 horas por dia. São os movimentos do Sol que demarcam este espaço dentro do qual se poderá observar a Terra o conjunto dos movimentos celestes; particularmente o movimento da Lua. Daí que vem o zodíaco. Zodíaco é a demarcação do espaço em terno do movimento do Sol. Um dos grandes filósofos do início da humanidade que foi. Ele capta a relação entre o intelecto puro, o logos e a razão que é a própria mente humana. O espírito demarca os movimentos possíveis da razão e a razão se move ali dentro. A razão significa o próprio coração. A razão é o pensamento humano. Isso quer dizer claramente que os princípios que determinam a razão não são guiados por ele própria. O principio de identidade não é uma criação da razão; ao contrário: ele determina e escraviza a razão. A razão pode mexer dentro dele.
Desenho
Aqui você tem a determinação, o círculo todo das possibilidades, as leis eternas. Aqui você tem o corpos, dos seres criados sobre os quais estas determinações incidem. E
aqui você tem o conhecimento da relação entre uma coisa e outra. O que será essa invenção do homem chamada ciência? Ciência é o estudo dos fatos (aqui em baixo) à luz dos princípio (aqui em cima). E a ciência está aqui no meio. Ora, isto nunca termina e nunca dá completamente certo. Porque a natureza do coração humano se move ciclicamente. Isso historicamente falando. Mas o indivíduo pode de certo modo alcançar uma centralidade permanente. Ou seja, uma consciência permanente de centralidade. E é justamente aí que tem todas as disciplinas espirituais que existem no mundo. Na verdade este é o único assunto que interessa no mundo. O resto é conversa mole. Não é bem conversa mole porque sem este resto também não se chega a este assunto que interessa. Lembra que eu falei que o manual básico de Alquimia era a Física de Aristóteles? Como é que vai fazer para chegar a entender a Física de Aristóteles? Precisa de toda uma cultura, aquisição de conhecimentos, para chegar lá.
Mas se chegar até aí e não ver que tem para cima das ciência uma sabedoria não adianta. Ciência sem sabedora é como um esporte qualquer por mais utilidade prática que tenha.. Tudo aquilo que não diz respeito ao destino eterno do homem só tem importância ocasional. Mesmo um acidente que fosse curar durante toda a sua vida, mas que só curasse no final da sua vida não terá importância alguma.. Uma vida humana que dura 90 anos, ela só vai importar durante 90 anos. Se é uma coisa que não vai importar para a eternidade, 90 anos é igual a 90 segundos. Agora, e aquilo que durasse apenas 90 segundos e tivesse um conhecimento da eternidade? Bom aí começou a ficar importante.
Alcançada esta centralidade isso aí significa uma certa liberdade do homem com relação às determinações do mundo físico; não pode ser uma liberdade completa por causa de sua própria natureza. Seria mais auto-contraditório que o homem se tornasse totalmente livre das determinações físicas. Porque para isso ele precisaria não ter corpo nenhum. Aí seria um espírito deixaria de ser homem, viraria um anjo.
Isto quer dizer que mesmo o sujeito que tenha alcançado a mais alta realização espiritual ele está inteiramente submetido à todas as determinações que tem aqui em baixo. Elas só não terão poder sobre a sua psique. Veja como é absurdo certas pretensões de disciplinas espirituais que acreditam que você se liberta do seu destino,
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da ressurreição física. No Corão, o profeta Maomé por 2 vezes sofreu atos de bruxaria que o atingiram. Então, nenhum profeta está fora da bruxaria. Ele pode se livrar de coisas. Porque? Porque esta será uma ação que será desencadeada por meios psíquicos na ação física. Então ele vai acertar. Vai acertar tanto quanto o outro acertaria uma bala na cabeça. Que, pode se libertar é a psique. O corpo não pode se libertar da usa própria condição. Isso significa que o esforço humano não é para ser anjo, é para ser gente. E ser gente significa assumir a condição corporal na sua inteireza para que a alma se liberte dela, não para que o corpo se liberte. O que significa a alma se libertar? Significa não que você não vá sentir dor, tristeza. você vai sentir tudo só que isto não mudará a sua convicção, porque ele sabe isso. Por ex.: se uma pessoa fica brava, ela fala tanta besteira; ou ela simplesmente vai falar aquilo que ela não falou calma? Isso é uma diferença brutal. É a diferença entre o imbecil e o sábio. Então o que falou o que pensou mesmo estando bravo, ele não é um sujeito que está possuído pela raiva: ao contrário ele é um sujeito que tem raiva. Ele tem tanta raiva como qualquer outro. Só que a raiva é dele. Ele tem a soberania na esfera cognitiva. Não significa que não terá acesso de cólera. Veja o quanto é errada esta idéia de que o homem sábio é aquele cara que nunca se altera. A liberação é um liberação da consciência. A consciência não está não está sujeita à flutuações: aquilo que você sabe você sabe. A sua mudança de estado não muda o que você sabe. Mas você muda de estado do mesmo modo. Quer dizer que você enquanto indivíduo vivente, está sujeito à todas as flutuações emocionais como qualquer outro. Só que estas flutuações emocionais afetaram somente os aspectos inferiores das psique não as superiores; mais precisamente não afetou a parte cognitiva. Quer dizer que você não vai ver as coisas diferentes porque você está bravo. Isto quer dizer que a grande mutação que existe a partir daí é que as próprias emoções dos indivíduos começam a ser órgãos cognitivos. Quando Cristo diz assim: na verdade há mais do que devia se odiar. ele está querendo dizer: você deve odiar aquilo que é odioso. E amar aquilo que é amável. Não conseguimos fazer isso porque a água mexe e você confunde tudo. Se o homem chegar a este ponto, e ele odiar uma coisa é porque esta coisa é odiosa mesmo. Não é mias subjetivo. É isto que é a verdadeira imparcialidade. Imparcialidade não é pairar acima das coisas feito um passarinho e ficar num nirvana idiota. É você não vai ver um único sábio que viveu neste estado de Nirvana que seria uma verdadeira anestesia. Pode até alcançar um estado de frieza que seria demoníaco. Para que serve as emoções e os sentimentos? Eles são repercussões físicas de conhecimentos que você tem. Representa sua resposta personalizada. Por exemplo: se uma pessoa te dá um presente. Evidentemente isto aumenta o seu patrimônio. Mas eu digo, isto é tudo? Se você dá um isqueiro à um retardado mental que não sabe o que é isqueiro, você também aumento o patrimônio dele. Se você dá um presente para um morto também aumentou o patrimônio dele. Mas acontece que o homem reage personalizadamente. Ele fica contente. Ele fica afetado. Por isso que a emoção se chama afeição ou afeto. A emoção é a média da alteração que você sofre pelas coisas que acontecem. Você sempre será afetado e alterado. E se parou de ser alterado significa que você não reage mais personalizadamente. Ora, seria isto uma perfeição?
Não a perfeição é exatamente o contrário. A perfeição é quando a sua alteração reflete exatamente o que está acontecendo. Ele se tornou a media correta: Porque se esse homem odeia o que é para odiar e ama o que é para amar. Ele não é indiferente. Os valores das coisas aparecerão na alma deste indivíduo. Por isso mesmo que eu acho um absurdo esse negócio de que a ciência não pode entrar em problema de valores.
Ora, se não entrar não é ciência. Porque a ciência mesma se baseia numa valor que se chama veracidade; e num outro que se chama conhecimento. Tirar estes 2 valores acaba com a ciência. O que o cientista não deve fazer é projetar valores sobre as coisas. Mas se ele puder perceber os valores que estão lá, melhor. Daí pode parecer
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algum engraçadinho: Mas Kant demonstrou que os valores estão na nossa mente e não nas coisas. Bom não é nada disso: Kant não entendia nada sobre este assunto.
Agora, tem um segundo sentido em que Kant era muito profundo. Se você ler toda a obra de Kant, não como teoria, mas como obra de ascese que era o que Kant queria mesmo porque ele era um carola você verá que ele concorda com tudo isto aqui. Mas isso é outro assunto. Eu não vou demonstrar isso aqui mas é claro que os valores estão objetivamente nas coisas: o Bem e o Mal existem objetivamente. Eles são enormemente confusas. E é precisamente esta confusão que define a nossa condição existencial. Se o bem e o Mal estivessem devidamente separados, agente estaria num ou estaríamos no outro. Isso quer dizer que se eu estou no bem, eu não vou nem ver o Mal. E se eu estou no Mal, eu não vou ver o bem. Ou sou anjo ou sou capeta. Isso não seria uma maneira de resolver o problema; mas seria uma mentira de eliminar o sujeito que tem o problema: você cortou o homem, ficou só os anjinhos. Mas, se existe esta mistura do Bem e do Mal e se o homem está no meio desta mistura tal como ele está no ponto de interseção entre o céu e a Terra? Também é evidente que a distinção do Bem e do Mal não coincide com esta aqui. Porque aqui (na Terra) não tem o mal, e em cima (no céu) não tem mal. Só tem aqui: o Bem e o Mal estão nesta dimensão horizontal. O Mal está para um lado e o Bem está para o outro. Mas note bem que isso só existe para nós. Do ponto de vista de Deus não tem mal nenhum. Nem o capeta é mal;. se ele faz o que Deus quer. Isso quer dizer que o Bem está embaixo, está em cima, está no meio. E o mal está só no meio e só para um dos lados. O Mal está na condição existencial do homem. O Mal existe objetivamente par o homem. Quer dizer, na condição vital que ele está colocado. Mas não é só na cabeça dele.
Os melhores interpretações de Jó formam feitas por William Blake. Jó tinha alcançado a centralidade mas não a sabedoria. Jó passaria do homem verdadeiro para o homem transcendental (nos termos chineses). Transcendental quer dizer: o homem não somente está no meio mas ele enxerga bem em cima. Uma coisa de estar aqui no meio é alcançar a potência disto. Mas não é tê-la realizado. Então entre o começo do livro de Jó e o fim, você tem toda a operação alquímica. Mas só que quando começa, Jó já está no centro. Ele vê aquilo que ele pode ver. Ver como é em baixo e em cima.
Ao mesmo tempo ele vai ver o Deus e vai ver a profundeza do inferno. Ele vai ver tudo.
Como Dante; Dante vai ver a escala inteirinha. Quer dizer, você alcançou isto equilíbrio, essa horizontalidade da água, agora você vai mergulhar para depois subir.
Você vai ver o que está abaixo da natureza humana e o que está acima do próprio céu.
Este céu não é bem Deus. Também não é bem o espírito santo. É a ação do Espírito Santo. É a asa do anjo. Bom, mas atrás da asa tem o anjo, atarás do anjo tem quem mandou no anjo. Então, é aí, que agente tem a passagem dos pequenos mistérios para os grandes mistérios ( você alcançou a centralidade e agora nós vamos te mostrar tudinho). Os pequenos mistérios é o conhecimento da realidade sensível da Terra e das leis metafísicas que as determinam. E os grandes mistérios significam conhecer Deus. Não é um teste que Deus está fazendo. Trata-se sim, do que Platão chamava de A Segunda Navegação: você completou uma viagem, agora vamos conhecer outra maio ainda. Essa outra não é obrigatória. Pode chegar como não chegar. Então em toda a história ou você está falando de uma iniciação de pequenos mistérios que é o mundo da alquimia propriamente dito Ou você está falando de uma segunda Alquimia mais elevada que vai levar ao conhecimento do que é o espírito mesmo. Aí já entre a no mundo do inimaginável.
O mundo físico não tem mal porque ele é só obediente. Se ele não age, ele não tem mal. Se tem um terremoto o que a terra pode dizer? Não fiz por má intenção. Este é o mundo da inocência. Lá em cima também: é a inocência da sabedoria e a inocência da ignorância. Mas tem um negócio aqui no meio que é a nossa parte: a parte que nos cabe neste latifúndio. É o papel que o homem está desempenhando neste conjunto. E
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é um papel que por definição não pode estar totalmente determinado de antemão. Por ter uma condição intermediária, o homem não pode ser nem escravo, nem inocente por ignorância nem inocente por sabedoria. Então, ele tem Por excelência um papel ativo. Mas ativo em relação à Terra e passivo em relação ao mundo celeste. Essas divisões, elas não são rígidas. Porque tudo o que se refere à simbolismos de mundos, você tem significado sucessivo: a coisa prossegue. Não é um a pluralidade no sentido contraditório. É tudo coerente. Mas a coisa pode ser vista em várias dimensões (é como uma cebola). Então, você consegue enxergar até um certo números de etapas.
Daí para diante você não enxerga mais: daqui para diante tudo pá mim é céu. Então na parte dos mistérios dos céus aí a coisa se complica mais ainda. Tem mais andares que o homem não tem nenhuma obrigação de imaginar. Tem uma história do Dante que é a do Papa que escreveu um tratado das hierarquias evangélicas. Morreu, foi pró céu e lá ficou sabendo que não era tudo aquilo que havia escrito estava errado. No Paraíso do Dante tem isso. Isso quer dizer que em vida ele não tinha alcançado os grandes mistérios.. Então, o que tem que tratar é aqui: é a finalidade da condição humana: Torna-te aquilo que és. A conquista dos bens terrestres sejam eles de natureza material, sejam de natureza espiritual é muito relativo. Por ex.: você vai conhecer as artes. Se você for capaz de convergir este conhecimento para a sua finalidade, ótimo. Tudo, qualquer bem ou conhecimento, alegria ou tristeza, tudo é ambíguo. Porque pode contribuir para te levar para lá ou para te tirar de lá. Só uma coisa determina: que é você mesmo. Não importa muito o que aconteça. Qualquer coisa que aconteça o negócio é você tentar virar a coisa para resultar neste tipo de benefício. Este é o caminho reto, caminho do meio: tem que chegar lá. Você estudando a vida dos grandes profetas, você vê uma conquista de uma tamanha objetividade ante o real que não precisa nem antecipar o que vai acontecer. Muitas das capacidade proféticas não implicam nem mesmo uma mensagem celeste especifica que tenha ensinado à essas pessoas isso aqui. Mas às vezes o simples exercício normal das faculdades humanas, você chega lá. O único profeta sobre o qual temos uma documentação extensa é Maomé. A gente se baseia nesse mais ou menos para saber o dos outros. É difícil você distinguir nele o que é uma coisa que foi mandado pelo céu e o que é uma simples consenso dele. Uma coisa que está meio limítrofe à outra. A vida de qualquer modo seja humana seja divina é sabedoria. O limite é que você não sabe.
Agora, ele o profeta, sabe. É por isso que eu acho infame esse pessoal que fica tentando fazer psicologia de santo, de místico tentando explicar por complexo de Édipo assunto de natureza completamente diferente. É o sujeito que tem a psique tosca e fica tentando explicar, analisar os outros. É claro que ficará projetivo. Agente só pode explicar o que está para baixo de nós: aquilo que você já viu, já viveu, uma experiência já absorvida. Mas, se tem uma experiência que está além aquilo tudo que você já passou, você vai imaginar o que? É as mesma coisa que você pergunta para um garoto de 3 anos o que ele acha da vida sexual do papai. Até se você falar em suruba para um adulto, a maior parte dos adultos nunca passaram por isso e nem sabem o que é as implicações psicológicas que isso tenha.
Um dos principais dados que nos alcança no senso de eternidade. Toda a tendência da cultura moderna é o contrário: é prender o sujeito numa espécie de temporalidade imediatista tal que ele não consegue imaginar o dia de amanhã. Quer dizer que coisas que aconteceram para ela há 6 meses, um ano tem para ele uma distância incompreensível, uma nuvem negra de esquecimento; ele já não entende mais nada, muito menos o futuro. É isso que o René Guenón chamava de contra-iniciação: ele vai ficar cada vez mais burro mas ele tem a impressão que está ficando mais profundo. Nenhum sábio tem a impressão de ser sábio. É o senso de obviedade versus o senso de obscuridade: ele imagina que na sua obscuridade está ficando mais profundo. Mas toda a nossa luta é para alcançar o óbvio. Tudo que a gente sabe
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mesmo, tudo o que agente conquistou efetivamente, você entende que não poderia ser de outro modo; então passa a ser óbvio. Ele reconhece que aquilo que ele aprendeu todo mundo sabia menos ele, que ele é só mais um.
O senso de eternidade é nosso assunto de amanhã; é a mesma explicação de hoje mas sob o ponto de vista de consciência de tempo.
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SEXTA AULA (24/01/96)
Já percebemos que alquimia enquanto gênero, não se distingue de modo geral da mística ou do esoterismo. E enquanto espécie ela se distingue da ênfase que ela vai dar no corpo humano como centro das operações. É uma prática espiritual que toma como centro o corpo humano (não incidentalmente como outras disciplinas podem fazer mas, essencialmente!). Mesmo que você esteja realizando experiências alquímicas no forno, a operação essencial não está acontecendo lá, mas no seu corpo mesmo. O que é corpo? Corpo é a cristalização existencial do tempo e no espaço. É
uma espécie de cruzamento no tempo e no espaço: tudo aquilo que existe de uma maneira espacial e temporal é precisamente o que nós chamamos de corpo (espacial e temporal simultaneamente).
Se você quiser ter uma idéia entre as operações internas e externas do corpo, tem um livro muito bom do Armando Barbault, O OURO DO ALQUIMISTA. Há na biblioteca da Astroscientia um resumo deste livro (que são vários volumes). Existe uma fase alquímica que se chama Ouro Potável. Para obtê-lo é necessário vários litros de mas daí você tira vários sub-produtos os quais dão origem à Espagiria que é uma medicina alquímica (exatamente como em outras disciplinas espirituais). Está claro que no curso do processo alquímico (tanto na matéria exterior quanto no seu próprio corpo) se passará por 1 série de mudanças corporais bastante profundas; que poderão resultar em uma decadência física e depois uma restauração completa; Mas tudo isso aí é o folclore da coisa; não tem muita importância; o que importa é o aspecto interior.
O trabalho alquímico então é restaurar uma parte da natureza; é devolver à certos materiais da natureza a nobreza do seu estado originário e portanto a plenitude das suas possibilidades. Isso quer dizer que na perspectiva alquímica a queda não se refere apenas ao aspecto moral do homem mas também ao aspecto ontológico. Não tem a queda de Adão? Isso não quer dizer que maldade por de castigo. Quer dizer que o ser humano tem uma forma de existência que é mais consistente e mais plena de algum modo; isso aí permite então a queda. E todas as operações alquímicas visam a restaurar este estado originário. É fácil perceber que vivemos a maior parte do tempo num estado de dispersão espiritual; que é o da absorção completa de alguma fantasia que nos ocupa naquele momento e, que para nós nos parece o supra-sumo da realidade. Qualquer coisa que esteja lhe acontecendo ou, o que você imagina que está acontecendo, ocupa a tela inteira da sua mente e você não pensa em mais nada. É
como se você estivesse desligado de todo o universo. Este estado é ilusório pois, você não pode se desligar da realidade nenhum minuto. Essas pessoas não estão usando suas faculdades cognitivas para perceber o real e sim para inventar certos esqueminhas que as prende e as hipnotiza (como a estória da cenoura e do burro ou a estória do cachorro perseguindo o seu próprio rabo). Temos outra história da cachorrinha que estava amarrada a um poste pelo laço e ia para trás a toda hora para alcançar o laço. Ela tinha que ir para frente. Mas a sensação de estar presa absorvia completamente o círculo de atenção dela e ela não conseguia ver de onde vinha aquele negócio. Se ela conseguisse parar para analisar a situação, talvez conseguisse. Mas, nenhum animal tem este recuo reflexivo. Os seres humanos em geral estão vivendo deste modo i.é; abaixo de suas capacidades. Por que não faz? Isto aí é uma quebra no estatuto existencial do homem. Isso pode acontecer individual e coletivamente. O que às vezes chamamos de realidade é a fantasia mais boba que existe. Por isso que eu não acredito em revolução, governo melhor etc.. Isso às vezes dá certo ou dá errado por pura sorte. Você vai ver que as propostas mais absurdas dão certo por sorte: A história é o conjunto dos resultados impremeditados das nossas ações. E essa estória de tentar dirigir o desenvolvimento social para uma certa direção é a idéia mais maluca que já vi. Às vezes as coisas dão certo não por aquilo que você estava
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pensando; dá certo por causa de outro fator. Você veja: qual é o país que no mundo inteiro representa a forma de governo mais democrática do mundo? É os EUA, não é?
Bom, mas nos EUA, 70% da população não lê jornal, não participa da política, não vota. E a coisa dá certo justamente por causa da não participação! Então, quando a coisa dá certo é por motivos que ninguém previu e, quando dá errado é pelos mesmíssimos motivos. A capacidade que o homem tem de prever alguma coisa antecipadamente é muito limitada. Você pega qualquer historiador que tentou fazer qualquer projeção de cultura e você vai ver que raramente deu certo. Isso nos dá uma idéia de impotência humana. E esta impotência humana é uma das características advindas da queda. Por um lado você vê que o homem está assim. Por outro lado, às vezes, ele não está assim i.é; às vezes ele tem a capacidade de enxergar as coisas como são e conduzir as suas ações de maneira muito correta. Se deu certo uma única vez significa que pode dar certo e que não é impossível. Significa que o homem tem a possibilidade real de alcançar um estatuto melhor. Mas se ele tem porque que ele não alcança? Este algo que impede é que se chama A Condição do homem depois da Queda. Ou seja, não é que ele perca as capacidades intelectuais etc.. é que ele passa a ser um ser mais desprezível; na escala ontológica ele não é tão importante. Na maior parte dos indivíduos verificamos que o ser humano ainda é um bicho vivendo abaixo de suas capacidades. Isso não acontece totalmente com os outros animais. Se dissermos que 98% das vacas não estão dando leite, diremos que é uma espécie em extinção. Quando um animal não cumpre a capacidade para a qual foi destinado, é porque tem algo errado com ele. Agora, se o homem tem a tal da capacidade de ser o centro da criação, de ter consciência, ter retidão, agir consistentemente etc., porque ele não consegue? Porque ele não consegue sempre ou quase sempre? Não existe este tipo de dificuldade - de manifestar suas próprias capacidades - na espécie animal.
Mas para o homem existe. Por isso mesmo que cada vida humana quando começa, é um conjunto de esperanças, e quando termina é um conjunto de frustrações. Hegel diz que quando contemplamos a história, a primeira coisa que vemos é um amontoado de ruínas: tudo o que foi feito foi destruído e temos que continuamente refazê-lo. Tanto individual quanto coletivamente o homem está sempre abaixo do que ele pode. Porém, nem todos os homens. Uma vida bonita é quando o homem fez tudo o que ele queria fazer e se tornou quem ele queria ser. Então o que faz o homem não realizar aquilo que ele vislumbrou? É um fator de dispersão qualquer que faz com que em vez de ele estar consciente do lugar onde está, do seu encaixe no meio, ele não enxergue mais onde está. Ele está obcecado, hipnotizado naquela coisa como a cachorra estava presa na corda. Agora não é só o homem que baixa. O homem baixando, começa a tal da degradação ambiental. A degradação ambiental não começa com revolução industrial. Eu falei que o animal não fica abaixo de suas capacidades.
Mas, se você fizer a conta do número de espécies animais que foram extintas - não agora na revolução industrial- é um negócio assombroso! Quem sofreu a queda não foi apenas um homem chamado Adão, mas o modelo da espécie humana. Podemos depreender daí que a narrativa bíblica não se passa aqui na Terra; se passa no próprio Jardim do Éden o que é este Jardim? Não é a terra planeta. Quer dizer, todo este drama relatado pelo Gênesis é um drama de ordem espiritual. De certo modo tem a ver com o universo material: na hora em que o modelo da espécie humana cai, o universo inteiro se ressente daquela coisa. A obra alquímica visa colocar o homem dentro de um estatuto onde ele possa legitimamente se considerar centro da criação humana. Você veja: porque a cultura de 4 séculos para cá parece se comprazer em negar a importância do homem no cosmos? Ela diminuí o homem. Atualmente parece mais verossímil que ele seja um amontoado de átomos de carbono do que ele ser um modelo do cosmos! Isso parece ser adequado à condição presente do homem, mas não à sua condição essencial.
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Moisés foi um cara que levou 40 anos para que alguém acreditasse no que ele falava. Como é que ele fez para manter suas opiniões durante todo este tempo? Isso quer dizer que as questões de frustrações e felicidade para ele já estava muito aquém dele. O isolamento moral é muito ruim para nós. Colocar um sujeito numa situação desta é o que se chama numa indústria de Operação Salame: você vai cortando os canais de comunicação do indivíduo com o seu meio. Se ninguém entende ou acredita no que ele fala, ele não pode agir. Cannon ganhou um prêmio Nobel por um trabalho que fez sobre reações corporais no pânico e na raiva. Qualquer sujeito colocado numa situação desta, em 99% dos casos ele morre. Morre porque isso cria um desequilíbrio na circulação capilar, paralisa todos os órgãos do corpo isso é estudado num livro do Lévy-Strauss - Antropologia Estrutural- É assim que se mata o sujeito por bruxaria: total isolamento moral, aí ele não agüenta e morre. É claro que isso só funciona numa comunidade homogênea aonde todo mundo trata o sujeito do mesmo modo. Moisés agüentou isso 40 anos e saiu inteiro; é claro que com isso ele adquire um poder maior que de toda a comunidade junta! O ser humano na sua plenitude é um bicho capaz de fazer isso. O ser humano não precisa de ninguém: ele não precisa que a mãe dele goste dele, que a mulher ou o cachorro gostem dele etc.. Por que ele tem uma comunicação direta com a verdade, ele sabe o que é. Então ele não se preocupa mais com essas coisas. Isto ele pode fazer. Tanto pode que já fez. Agora, o ser humano em geral, ele não resiste a nada, nada, nada. Se sente o tempo todo ameaçado. Então quando você vê a impotência, a incapacidade de agir, o hipnotismo, o limite, você verifica que algo está errado. É a perda da condição ontológica. Não é só a perda de uma capacidade. É que ele se torna um bicho desimportante, um bicho que se pode substituir, que se joga fora e põe outro no lugar. Ele é substituível. Moisés se torna então insubstituível perante a comunidade e aos olhos de Deus. O ser humano foi feito para ter esta importância espiritual.
Toda obra alquímica foi feita para restaurar isto aí. Isto aí é que introduzirá o conceito de senso de eternidade. Este fenômeno da prisão do indivíduo é uma restrição do tempo ao momento presente. Quer dizer que o sujeito não consegue ver nem o hoje nem o amanhã. Ele perde o fio de sua historicidade: ele não sabe de onde vem nem para onde vai. Aquela situação de prisão é tão envolvente que cria uma situação de compressão do antes e do depois: o cara não presta atenção em mais nada. É assim com qualquer situação de perigo ou de angústia. Ela parece que naquele momento ela é toda a sua história. Mas como diz o ditado: A situação é perigosa demais para você se dar ao luxo de ficar com medo. É justamente na hora do perigo que você tem que enxergar! O medo é assim: é uma criancinha que tem quem a socorra. Mas se ela estiver sozinha, ela tem que perder o medo, porque senão é um luxo. É da mais alta conveniência que você mantenha um estado de consciência, que o perigo expanda sua consciência. Porque a tua salvação tanto física quanto hipnótica depende disto. Essa reação de corte de consciência, de compressão não se justifica nem mesmo numa situação de perigo real. Ela se explica mas não se justifica. Ela é sempre injusta, má e inútil, não vai fazer bem a ninguém: se um indivíduo numa situação de perigo entra em pânico, isso não vai fazer bem para ele nem para os outros. Não faz bem para ele porque ele não pode escapar da situação. Não faz bem para os outros porque os outros ainda vão ter que socorrê-lo. Os outros não têm obrigação nenhuma de te carregar. Se você tem medo, trate de ficar com mais medo porque daí você vai agir. Se você pegar um cachorro vira-lata e um com pedigree, a diferença entre ambos não vai ser tão grande quanto se você comparar um cidadão comum com Moisés. A diferença é incomensurável; então como pode pertencer à mesma espécie? O homem tem direito a conseguir um estatuto ontológico melhor. Só que ele não está colocado nesta condição melhor naturalmente; ele vai ter que chegar lá artificialmente, por sua própria iniciativa. E é justamente isso que quer dizer o
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ditado: Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto. O pão é o símbolo das ações corretas. O pão é a esfera da moral. O vinho representa os conhecimentos espirituais.
O homem para agir corretamente ele vai ter que passar medo (é isso que quer dizer o ditado acima). Você não conseguir o seu estado anterior de nobreza de graça. É essa a condenação do homem passado. Mas veja, é uma condenação que não é eterna, é temporária. Se você quiser retornar ao estado Adâmico, já vimos que o homem pode.
Agora se você não quiser nada, você vai cair cada vez mais e mais e mais. Agora é claro que você vai ter pagar alguma coisa por isso, pode perder bens materiais Por ex..
Mas, qual é a diferença de você afundar num navio em 1 classe ou em 3 classe? Existe alguma diferença mas é irrelevante.
A sociedade que incute na cabeça das pessoas o desejo de uma Condição econômica melhor é monstruosa. Isso é pior do que a própria miséria. Pior do que a miséria é o desejo de sair dela. Porque se você não ligasse muito para ela, a coisa talvez até se resolvesse melhor; porque você teria miséria sem humilhação, você sofreria menos. Mas o pensamento de hoje é: se você está duro, você não presta. Mas, já não basta você estar duro e ainda ter uma condenação moral em cima de você?
Aquela ideologia que diz que quer que todos tenham bens iguais está provando exatamente que só vale quem tem. Quer dizer que tanto faz aquela sociedade que aprecia estes bens quanto aquela que a condena: são igualmente ruins. Porque ambas são baseadas em valores falsos. O certo é dizer para o indivíduo que essas coisas são muito relativas: se você conseguir juntar bens materiais, ótimo. Se não conseguir, dane-se! Tem coisa mais importante.
Este círculo do momento presente é que tem que ser rompido. E ele é rompido não pela revolta contra ele: porque quanto mais você se envolve com a situação presente, mais ela cerca tua atenção. Então isto será rompido pela concentração na interioridade, no que é importante. Existem no mundo milhões destas técnicas (islâmicas, budistas etc.) e que vão representar exatamente este trabalho do forno.
Esta concentração é que fará você perceber que todos os momentos anteriores e subseqüentes estão de certo modo no momento presente. Por ex.: você pode prolongar a sua memória tornando-a mais rica e mais exata. Os seus momentos passados estão no momento presentes fisicamente. Do mesmo modo os momentos futuros. Isso aí pode se prolongar para antes da tua existência física, cria uma espécie de consciência de momentos antecedentes, momentos históricos; O que se passou na Grécia ou na Roma Antiga está presente de algum modo. Aos poucos, todas essas faixas do momento passado, você começa a perceber a presença delas. Os momentos antigos, subsistem e determinar atos presentes. Não foram apagados. Quer dizer, tudo aquilo que ainda tem o poder de agir é porque subsiste. Uma experiência interessante é você pegar alguma idéia corrente que as pessoas falam e você rastrear a origem histórica dela. É uma espécie de ampliação de consciência do tempo que vai abarcar toda s sua vida e a vida da espécie humana inteira. Quando se chega na máxima extensão possível, aí começa-se a ter uma espécie de consciência da eternidade. O que é o conceito de eternidade? É que em cada um destes momentos esteja colocados em face de uma outra dimensão. Santo Agostinho diz que o tempo é a medida da mudança. E
no fundo esta medida é feita com a régua da eternidade, de simultaneidade de todos os momentos. Se você pegar a totalidade dos tempos passados e comparar com a dimensão eterna, as diferenças dos vários momentos do tempo é quase irrelevante. Se você analisar sua vida como um todo, você verá que todos os momentos são indispensáveis, não pode cortar nenhum. Isso significa que todos os momentos são iguais perante Deus. Essa consciência estendida de tempo, acaba te dando uma consciência de permanência. Permanência significa o seguinte: o mundo sempre foi real, a realidade sempre esteve aí. A experiência que nós temos do passado ter desaparecido, se tornado irreal e de que o futuro é irreal, essa experiência é ilusória.
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O passado é real e o futuro também será real quando acontecer. É somente a sua prisão imediata que dá uma impressão de irrealidade ao que foi e o que será. Mas esta impressão é evidentemente auto-hipnótica. Aquele momento do tempo que você está comprimido, aquele momento parece absorver tudo. Mas este momento não impedirá que momentos seguintes se sucedam. É absolutamente impossível que você pare este momento. Vai haver um futuro sim, necessariamente. E depois que você morrer as coisas vão continuar se sucedendo. E isto é a verdadeira realidade, não a sua impressão subjetiva. Os seus atos certamente terão conseqüências depois que você morrer, saiba você ou não. Você quer realidade ou você quer mente? Aquilo que é produto da sua mente chama-se mentira. Mentir é uma invenção da mente. Chega um momento na vida que você tem que optar: ou eu quero a realidade ou eu quero a minha mente. É por isso que diz o Cristo: Aquele que quiser salvar sua alma vai perder. Aquele que quiser perder, vai ganhar. Então você vai ter que sacrificar a sua mente e ver a realidade. Eu vou ter que admitir que mesmo aquilo que eu não vejo, acontece. Aquilo que eu não sinto pode ser real. Aquilo que eu não sinto é real. Aquilo que eu nem posso perceber, também é real. Bom, aí você começou a ficar em paz com a realidade. Você entende que é você que está dentro dela e que não é a sua mente que está agindo soberanamente ali dentro não! Mas hoje em dia todo o mundo é convidado a fazer o contrário: tudo o que ele pensa e imagina é que é o real. Mas isso é prisão no momento presente, é o supra-sumo do subjetivismo, é a total impotência!
Os homens adormecidos estão cada um no seu mundo. Os homens acordados estão todos no mesmo mundo (Heráclito). Aonde quer que haja um golpe militar no mundo, lá estará Júlio César porque foi ele quem inventou. Pois é este senso de realidade de tudo o que foi e de tudo que será é isso que se chama. O cara inventou um modelo de ação política e que os caras continuam copiando até hoje (tem a ver com ressonância também). Então eu posso dizer que Júlio César afetou a minha vida. Claro, foi ele que ensinou a essa gente toda. Então, ainda que eu não saiba quem foi Júlio César, o fato é que a ação do sujeito ainda está repercutindo. A partir da hora que você começa a considerar estas coisas, você começa a viver numa realidade cheia, numa realidade que é cheia de elementos. Ao passo que antes, estava-se vivendo numa realidade vazia, onde tudo o que acontecia só acontecia para o seu umbigo. Antes você vivia numa ilusão de que a sua mente era o centro da realidade. É a jornada do imbecil até o entendimento. Esta consciência estendida do tempo ela não é ainda o centro da eternidade, mas apenas um passo. Consciência da eternidade significa consciência de estar colocado dentro de uma eternidade. Isso significa, como diz a bíblia, caminhar diante de Deus. É saber que você está sendo contemplado; existe uma eternidade consciente que sabe de você. Caminhada é a sucessão de atos do ser humano. É a sua vida terrestre. Em qualquer evento de qualquer época - mesmo anterior à sua existência, mesmo anterior à existência do homem- você sabe que aquilo lá é atual e está presente. Isso é consciência estendida. Quando que os anfíbio saíram do mar para viver na Terra? Há muito tempo. Mas isso afeta a minha existência ainda hoje. O
fato de que uma coisa sumiu da memória não quer dizer que sumiu da realidade. Uma maneira muito fácil de ver isso é pela hereditariedade. Você nasceu com uma determinada constituição hereditária contra a qual você nada pode fazer. Seu avô, seu bisavô, toda esta gente está agindo em você. Você carrega tudo isto tanto pelo aspecto maligno quanto pelo aspecto benigno. Para você, este plano não está colocado no plano da atualidade mas sim no plano dos resíduos das causas anteriores. É mais ou menos como a bala perdida. Um não sabe de onde veio e o outro não sabe para onde ela foi. Para o atirador não existe vítima e para vítima não existe atirador mas, objetivamente, existe. Pois é este nexo objetivo que nos interessa para modelar a nossa mente - por esta idéia do nexo objetivo e não somente pelo o que nós imaginamos. Ou seja, eu sei que eu não vi mas eu sei que existe. Bom, até aqui vimos a consciência
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estendida do tempo. Mas existe também a consciência estendida de espaço: todas as coisas que estão acontecendo exatamente neste momento. Por ex.: se você está vendo um prédio com muitas janelas, com pessoas lá dentro que têm suas vidas. Quantas destas a tua imaginação consegue captar ao mesmo tempo? Bom, se você for Balzac.
Balzac compôs mais de 50.000 personagens. Mas na verdade, ele não inventou. Ele compôs aquilo com pedaços que ele viu. Isso não quer dizer que em Paris existe 50.000 personagens, existe muito mais! Ora mas, todo este mundo de Balzac é real.
Isso de fato é real é a riqueza do mundo. Ora então eu sou um imbecil na minha redoma e só vejo alguns palmos diante do nariz. Talvez o grande pecado do homem é ele entender que o conhecer é muito mais importante que o fazer. A capacidade cognitiva do homem é infinita mas sua capacidade de fazer é ridícula. Há uma desproporção entre a força cognitiva do homem e sua ação. Ora, se o homem foi posto no mundo por Deus para transformá-lo como diz Karl Marx- ele daria ao homem mais capacidade! Isso significa que o homem não veio ao mundo para transformar o mundo mas para ele ser transformado pela realidade! Temos que sair daquele ovo que agente nasce e começar a ser transformados por este conhecimento. Por isso que a vida contemplativa é melhor que a vida ativa. Por que a vida contemplativa pode se estender até o fim do universo; mas agir, não (estória de Marta e Maria). Na vida contemplativa, deixamos que a realidade molde nossa mente em vez de tentarmos inventar uma outra. Isso aqui é um gigantesco forno alquímico onde nós estamos sendo transformados. Claro que dentro destas transformações, algumas são frutos da tua ação, mas isso aí é muito pequeno. Basta você tentar mudar sua vida e você vai ver que alterações mínimas requerem esforço de anos! Vaca foi feita para dar leite, passarinho para voar. Nós que temos capacidade cognitiva muita acima da nossa capacidade de ação, portanto o conhecimento é mais importante.
Então, o primeiro passo seria a concentração e a admissão da realidade. Já vimos a consciência de tempo e espaço. O que é consciência de eternidade? É a visão de simultaneidade de todos estes momentos. Isso quer dizer que do ponto de vista de Deus, o momento que os anfíbios começaram a andar na Terra é tão atual quanto este momento agora. Para nós este momento parece mais importante; mas objetivamente este momento é só mais um dentro da seqüência. Isso quer dizer que em cada ato que temos deve haver nele uma consciência de eternidade. O ato que é feito com esta consciência ele é moldado pela eternidade. Se cada ato é feita com esta consciência, cada ato é eterno também. Basta que ele não pretenda ser o único. Na eternidade existe um script do seu papel que você desempenha ou não. Então, o que seria o ato melhor possível dentro de cada momento? É o ato que corresponde àquilo que na eternidade corresponde a seu modelo, à sua perfeição: a idéia que Deus sempre teve a seu respeito antes mesmo de fazer você. Voltamos ao tema inicial do bem supremo, a permanente concentração no bem supremo. Qual é o melhor ato possível? O ato que é plenamente significativo dentro da tua escala. O ato que eu posso fazer.
A fugacidade não existe objetivamente. A fugacidade é uma impressão: todos os momentos ficaram, nada se perdeu, estão sempre presentes. Não está presente na mesma modalidade porque seria auto-contraditório.
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ALQUIMIA E ASTROLOGIA (30/01/96)
Leremos 2 textos hoje: Um, não por coincidência, foi tirado de um livro de Alquimia. E
o outro, de um livro que não tem nada a ver com Alquimia. É um romance de Georges Bernanos (um escritor francês que morou no Brasil por muito tempo). Vamos ler o primeiro parágrafo, depois agente volta para comentar.
O SENTIDO ESPIRITUAL DA NATUREZA (por Julius Evola)
A relação do homem moderno com a natureza pertence à tradição hermética-alquímica.
Comentário: Porque ele usou a palavra ciclo entre aspas? Porque não existe uma divisão temporal clara entre uma época pré-moderna e uma época moderna. Mesmo porque, existem sociedades que ainda estão no chamado ciclo pré-moderno. Inclusive se nós perguntarmos: como é que o sujeito que está na época moderna pode saber destas coisas que foram escritas pelos antigos? Bom, existem três argumentos. O
primeiro é pela convivência com sociedades primitivas que revelaram alguma coisa à esse respeito. Em segundo lugar, através de documentos, pela reconstituição da história. Em terceiro lugar, pela própria estrutura da alma humana que é um microcosmo (não só no sentido cósmico como no sentido histórico). Isso quer dizer que qualquer experiência que tenha sido vivida pelo homem de qualquer época da civilização tem um análogo dentro de nós; e procurando direitinho agente encontra este análogo. Quer dizer, nós podemos voltar a sentir as coisas como outros homens se for escavada a imaginação. É claro que você vai vivenciar por momentos aquilo que para eles é uma experiência constante. Também é claro que essa experiência puramente imaginativa, reconstitutiva não vai ter a intensidade da experiência real das pessoas. Mas dá para gente saber do que se trata. Ora, precisamente no trajeto alquímico, o que se faz é uma reconstituição sistemática deste outro modo de ver a coisa. Você não somente tem a atitude do historiador que evoca imaginativamente as experiências anteriores deste povo mas você vai atualizar, resgatar as possibilidades perdidas através de um esforço sistemático que é justamente essa trajetória alquímica.
. A natureza esgota-se hoje fixadas unicamente por relações matemática.
Comentário: O que se entende hoje do estudo da natureza física, alquímica etc.? São ciência que procuram estudar da natureza somente os seus aspectos diretamente mensuráveis, matematizáveis. Quer dizer, é uma espécie recorte da natureza (onde vai pegar apenas os seus aspectos quantitativos mais facilmente captáveis e organizáveis no conjunto de relações). Relações que quando se revelam constantes, cíclicas, repetitivas, adquirem o nome de Leis. Lei científica é uma espécie de equação matemática que se verifica repetidamente estabelecendo uma relação entre fatos da natureza. A ciência hoje em dia é do tipo descritiva geométrica da natureza e que busca somente as repetições. Ora, o aspecto repetitivo e mensurável de um fenômeno, é evidente que é só uma faixa, um corte uma fatia por assim dizer. Se você pegar antes do ciclo chamado Ciclo Moderno que começa com a Renascença, você verá que a ciência Física se ocupava de muito mais coisas. E a questão do significado que ele coloca ali. O significado pressupõe uma intencionalidade. Ora, em todo o ciclo moderno praticamente toda a cultura universitária se baseia na idéia de que só existe intencionalidade no reino da intencionalidade humana e nada mais. Somente o ser humano possui intenções e portanto que age com um significado. Ao passo que todo o reino da natureza terá que ser explicado independentemente de significados. Ou seja, a ciência não se interessa prelo que a natureza fale a nós. Mas, apenas em descrever e
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medir o seu comportamento desde fora. Há um recuo. Evidente que esta concepção vem diretamente da divisão cartesiana entre a coisa pensante que é a nossa mente e a coisa extensa que são o objeto da natureza. No século XVIII, Leibniz vai mostrar que apenas o aspecto quantitativo, a medida, não bastava para constituir um conceito de um ente real; e que portanto o mundo estudado pela Física, não era propriamente real. Mas, um esquema matemático que coincide em certos pontos com o mundo real.
Podemos fazer uma analogia da seguinte maneira: imagine uma figura humana qualquer. Se você marcar determinados pontos nesta figura, você pode descrever todos os movimentos desta figura só a partir destes pontos. Aonde essa figura se movesse estes pontos se moveriam junto com ela. E a descrição dos movimentos destes pontos corresponderiam rigorosamente ao real. Só que não se parece em nada com a figura como um todo. Então, toda a operação que nós chamamos ciência física consiste em fazer isso aqui: marcar determinados pontos que são mais fáceis, os mais matematizáveis, e acompanhar o desenrolar deste aspecto da realidade buscando as simplicidades e as repetições. E a hora que você conseguir vincular este movimento aos conceito básicos como matéria, movimento etc., você diz que estabeleceu uma lei.
É claro que essa lei funciona. Você poderia estabelecer neste mesma figura, uma equação das distâncias máximas possíveis entre este ponto e um outro ponto conforme as várias posições do indivíduo relacionando são mesmo tempo uma certa distância com outra qualquer. Você pode denominar x, y, z. você pode fazer uma equação dizendo que a distância máxima de z a y varia conforme a distância de x a y.
E você tem aí uma formula que será inteiramente verídica em todos os casos. Você não pode dizer que isto seja irreal. Mas também não pode dizer que seja real. É um mundo, um tecido de relações matemáticas. E o reino da intencionalidade, da significação? Ele fica combinado pelo mundo da linguagem humana. Só o que pode fazer sentido para o homem da civilização moderna é a fala humana. (o resto não precisa fazer sentido. O resto apenas se comporta de uma maneira mais ou menos mecânica). Também é claro que este despersonalização da natureza traz como conseqüência um excessiva personalização do mundo da fala humana: porque o homem, vivendo num universo hostil sem significado, é lógico que ele se sente mal; e as suas necessidades de expressão e comunicação se tornam exacerbadas. Daí que ao mesmo tempo a ciência vai descrevendo um mundo cada vez mias impessoal. Você vai vendo na prática o processo inverso: um processo de subjetivação cada vez maior.
Por ex.: quando Shakespeare no século XVIII no período romântico, as pessoas começam a falar de suas emoções interiores das mais subjetivas que nunca o homem tinha tido em toda sua existência. Então, memórias de Jean Jacques Rousseau você vai ver o indivíduo pegando a sua vidinha a alminha se desdobrando nos mais íntimos detalhes para todo mundo ver. Isto aí é um reflexo de uma despersonalização da natureza. Então, é um espécie de excesso para compensar um excesso contrário. É
justamente desse processo da subjetivização da expressão artística concomitante à perda da comunicação com a natureza que você vai falar o Georges Bernanos no segundo parágrafo. Talvez fosse conveniente neste instante ir para o outro texto para depois voltar.
A PERDA DO SENTIDO ESPIRITUAL DA NATUREZA (por Georges Bernanos)
.
.. Como as cidades, através das pedras, senão para soltar nela o rebanho de suas mornas sensualidades.
Comentário: Ele começa a falar das vozes das cidades. Cada rua que você atravessa tem um tumulto específico e quando você sai daquela rua este tumulto ainda acompanha você. Até você encontrar um outro tumulto. Ele está falando de uma voz
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mas não é uma voz que ele deveria mencionar; porque somente as florestas. As colinas, o fogo e a água têm vozes exatamente no sentido que estava falando Julius Evola no outro texto. Ele diz que não compreendemos mais esta linguagem. O homem lírico é exatamente o artista subjetivista moderno. Onde ele fala das suas emoções individuais. (Ex; Jean Jacques Rousseau, Victor Hugo etc..) Ele diz que os poetas do romantismo acreditavam ter restaurado esta linguagem da natureza porque eles faziam poemas onde a natureza parecia acompanhar as emoções do homem. A paisagem virava pano de fundo para as emoções do homem (no Brasil agente tem o exemplo de José de Alencar). Porém, segundo Bernanos, isto não é linguagem da natureza. Isso é uma coisa que está sendo colada à natureza. Ele coloca este homem lírico no grau mais baixo da espécie humana. Diz ele que é o tipo mais inferior que existe. Porque este já não entende nada da natureza e ainda a prostitui colando sobre ela suas emoções subjetivas e oferecendo para a despersonalização da natureza um remédio que ainda é pior. Porque a ciência moderna não fala a voz da natureza. Mas o poeta, o artista, ele já não cala apenas. Ele coloca uma outra voz em cima. Leva a falsidade mais longe ainda. Ele diz que a poesia moderna, acreditando o ter restaurado a linguagem da natureza, não libertou a natureza das figuras míticas, elementais (duendes, etc.) senão para soltar lá o rebanho das mornas sensualidades do próprio artista.
.O mais forte deles já estrangulado pela velhice, enchia as ruas e os bosques com a sua infatigável duplicidade.
Comentário: Ele está dizendo que no fundo, a inspiração todinha é puramente erótica: são as garotas que não quiseram dar para o sujeito ou que quiseram dar para ele. É o erotismo subjetivo pessoal mais boboca que é no fundo a fonte de tudo isto. Em vez de ouvir a mensagem profunda da natureza, a linguagem dos símbolos alquímicos que é uma lição inesgotável sobre o próprio sentido da existência, ele faz o contrário: ele não repara a natureza senão para fazer dela um símbolo ou um elo da sua própria emoçãozinha.
Por trás dele. grotescos soluços ante a velhice e a morte.
Comentário: No fim, é a curtição do homem (amor quando você é jovem) depois quando você vai ficando mais velho e brocha é a melancolia (Ah, estou ficando velho e acabado). No fim, a inspiração destes caras todas não é nada mais do que isso aqui: falar o óbvio. Você não tem nada a aprender com as descrições das emoções amorosas, alegres ou melancólicas dos outros. São exatamente iguais às suas. E o pessoal adorava isso na época. Hoje nós não percebemos as nossas própria babaquices às quais serão evidentes para gerações futuras. Depois que a literatura se cansou deste desfile de emoções surgiu a escola parnasiana que fazia exatamente o contrário: puramente cerebral. Mas a reação à uma porcaria é outra porcaria. Ficam todas no mesmo plano e não conseguem ascender. A grande obra literária do século é The Waste Land de T. S. Eliot. O que Eliot vai fazer: Ele vai pegar este simbolismo das cidades, da terra que foi gasta e onde só sobrou as vozes humanas. Não tem mais mundo. Eliot entende a civilização como uma sucessão de camadas que vão se superpondo. E no fim, o ponto de partida já não é mais visível. Se bem, que todo este legado do passado continua aí só que soterrado. E aí você vai ter que escavar. E esta escavação da história da civilização (justamente para tentar encontrar algo soterrado).
É justamente o sentido da obra de Eliot. Eliot vai tentar encontrar por trás da civilização das máquinas, do capitalismo moderno a voz da natureza que é a voz de Deus. Mas ele não pode ir direto, você tem que primeiro descascar essa coisa toda.
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Esse parágrafo aqui, se pensarmos bem é toda a história cultural do ocidente neste último século.
.por trás a massa dos discípulos precipitou-se como quem come.
Comentário: quer dizer, todo mundo avançou, mas simplesmente como quem como, como quem vai à um restaurante
.à solidão sagrada no sonho abjeto de associá-la à suas cruzes à sua melancolia, decepção carnal.
Comentário: Quer dizer, cada um querendo usar a natureza.
O contágio, avançando passo a passo, estendeu-se aos antípodas. A ilha deserta recebeu seus confidentes e testemunhou seus amores.
Comentário: O que quer dizer ilha deserta? Seria o símbolo mesmo da solidão sagrada da natureza que seria uma ilha deserta na qual nunca ninguém foi. E até aí a massa inteira dos literários fazendo aquele barulho medonho já botou os seus amores, seus sentimentinhos etc.. Invadiram tudo. Você vai ver também, logo depois de Victor Hugo, vem Baudelaire que é exatamente o contrário. Baudelaire descreve as cidade com ferro, fumaça, a feiúra da cidade. Ele acaba se apaixonado pelo horrível e faz a poesia do horror. É um protesto mas acaba fascinada pelo mal. É a impotência da cultura moderna para romper com este círculo, este falatório que tampa a voz da natureza.
.nenhuma pradaria, jorrando luz e orvalho no candor da aurora, ele não se apodera do seu ritmo interior e sua profunda dominação.
Comentario: O ritmo interior que precisamente falava Julius Evola. Note bem que Georges Bernanos nunca leu Julius Evola e nem o contrário. São pessoas completamente diferentes; não só por cultura como por mentalidade. Mas que passam exatamente o mesmo fenômeno: que existe um movimento interior da natureza.
Exatamente este ciclos das transformações alquímicas. E que é ao mesmo tempo o movimento interior da nossa própria alma. E é justamente aí que o homem que impõe a usa presença na natureza não pode captar mais. Se você manda a natureza calar a boca e começa a falar em cima dela, com você ela não fala mais.
.todavia se está no homem impor à natureza a sua presença, e não responde senão à elas somente.
Comentário: Quer dizer que o canto da natureza continua. E esse é todo o nosso esforço: você vai ter que sintonizar para saber o que ela está falando. Seja o pessoal que está querendo aprisionar a natureza como relações matemáticas, seja aqueles que em reação contra isso, transformar a natureza no palco de suas emoções eles, vão ouvir mais nada. Quer dizer que as 2 grandes correntes da cultura moderna (que seria a ciência matemática e o protesto subjetivo do artista) essas 2 estão se afastando do que estava lá para trás.
.Não é assim com as paisagens de ferro e de alvenaria, construídas que são na dor e no suor?
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Comentário: Veja, as cidades, a civilização humana é as vezes colocada como o reino da liberdade. Nas cidade, o homem se libertou da sujeição da natureza. É o reino da democracia, do socialismo etc.. Então como que poderia ser um monumento da liberdade este negócio que foi construído na base da exploração do cosmos, da escravidão, Que liberdade tem nisso?
.
..a liberdade se são fortalezas. ante a rebelião das coisas e dos elementos Adão vencido?
Comentário: Como ela poderia renunciar a liberdade se elas são o abrigo onde Adão vencido pela rebelião das coisas, dos elemento foi buscar refúgio? Os elementos são exatamente a natureza. Adão passa a ter medo da natureza e foge para dentro das cidades.
.a vida essa morada transitória, guardiãs de nada mais que nossos ossos?
Comentário: A situação urbana é por um lado, a expressão de toda esta ciência técnica. E dentro das cidades surge um tipo de cultura que é especificamente subjetivista como compensação. Como as pessoas estão muito oprimidas ali, então todas as pessoas têm que exprimir os seus sentimentozinhos para sentir que são gente. Mas é uma expressão muito pobre e que vai corromper o sujeito ainda mais. O
que quer que venha de bom para a civilização humana, qualquer intenção humana, ela se superpõe à realidade, é demência mesmo. O empregado que tira férias e vai para montanha, ele acredita que está sonhando. E depois quando ele volta para o trabalho, ele acredita que voltou para a realidade. Mas é ao contrário: as montanhas, o mar são realidades que já estavam aí há milênios. Isso não que dizer que temos que acabar com a civilização, com as máquina; mas que temos que colocar as devidas proporções nas coisas. Os mares, as estrelas, os planetas existem mesmo e nós estamos há num mundinho pequenino de civilização colocando as nossas intenções.
Mas este não é efetivamente o mundo real. E somente uma forma de adaptação humana à um mundo real que já preexistia. A redução matemática que se faz da natureza é fácil entender que ele é uma reação causa da pelo mundo. Quer dizer, ela é uma espécie de refúgio intelectual no qual o homem, aterrorizado dentro da complexidade da natureza, se esconde dentro de uma versão simplificada que ele mesmo inventou. Isto é uma reação primitiva. Essa simplificação mental que é feita pelo homem para não ver a realidade porque você está como medo dela (vem vez de você estabelecer uma espécie de diálogo para você tentar entender do que está se passando) esta reação não é do mundo moderno; ela sempre existiu no homem. Tem um historiador de arte que observou isso aí: Quanto mais você remontava para trás na historia da arte, as formas de desenho eram mais simplificadas, esquemáticas e geométricas. Porque que o homem primitivo em vez de desenhar o que via, desenhava figuras geométricas? É simples porque ele estava no meio de confusão natural. Tendo medo daquilo, ele recuava para um mundo inventado, geométrico um mundo matematizável (dentro das possibilidades matemáticas que ele tinha). Quando você chaga mais ou menos na época do império greco-romano, você começa a ver que se alcançou aí um certo domínio da natureza que permite que o homem olhe de novo para a natureza, sem medo, e comece a gostar dela. Porém se você avançar mais, quando a civilização urbana cresce e tampa a natureza, aí você começa a idealizar a natureza dada vez mais: daí surge o romantismo essas coisas todas. É uma natureza, uma naturalidade inventada. Quando agente fala em naturalidade inventada, não é só a visão do universo natural onde você tem a introdução do artificialismo. Mas na própria expressão dos sentimentos humanos. Na época de Jean-Jacques Rousseau onde era moda ser sincero, ele inventa emoções que ele não tinha, inventa até pecados que ele não fez em nome de ser sincero. Isso quer dizer que até no contato consigo
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mesmo, não só com a natureza exterior mas com a sua própria natureza íntima), o homem substitui o inventado ao observado. A pesquisa histórica comprovou que muitas das sacanagens que Rousseau atribuía à si mesmo eram mais uma super-pose de sincero. O pessoal descobriu que ele não era tão ruim quanto ele dizia, quer inventado mesmo. Essa coisa de você tentar parecer pior do que é, essa sinceridade posada, é uma típica invenção deste terceiro estágio da civilização onde a civilização urbana já tampou completamente a natureza. Como você não pode chegar nela, você a inventa. Ora, na mesma medida que você inventa a natureza exterior (como já dizia a divisa alquímica: como é em cima é em baixo) na medida em que você se afastou completamente da natureza sensível e agora você tem que inventá-la você acaba se afastando da sua própria natureza interior e tem que inventá-la. Então você já não sabe mais o que se passa dentro de e você. Você pode inventar uma fantasia lisonjeira ou deprimente. Mas tanto faz, você pouco sabe a respeito de si: a imaginação está inventado tudo. Se você verificar as doutrinas modernas a respeito do inconsciente, existem tantas criações diferentes do inconsciente (Freud, Jung, Reich) que estou seriamente inclinado a acreditar que não tem nenhum santo. Porque ninguém pode observar tudo isto. E pergunto eu: será que um auto conhecimento autêntico seria tão diferente de pessoa para pessoa? Então eu teria um inconsciente freudiano, você teria um inconsciente Reichiano. Inconsciente dever ser mais ou menos igual para todo mundo. Quer dizer, estão tentando pegar a natureza interior do homem desde fora e com uma grade de conceitos mais ou menos inventada: exatamente como da a Física com a Matemática Tem-se que deixar a alma falar. A condição sine qua non para a alma falar é entender que ela não vai falar nada de acordo com a divisão dos conhecimentos que nós inventamos. Quer dizer, a natureza não vai dar hoje para você uma aula de Física, uma aula de química depois uma aula de gramática; ela não vai fazer isso. Então para começar a entender é preciso admitir em primeiro lugar que as nossas divisões universitárias do conhecimento forma inventadas por nós mesmos.
E que a natureza é uma só e ela só pode falar de tudo junto. Você é que tem que depois separar e classificar. Mas se você espera que ela fale em qualquer das linguagens, que nós concebemos, para isso, ela não vai falar. Ela vai ter que ter uma linguagem própria que é prévia, que é anterior, que é mais básica do que todas estas divisões. Mas precisamos entender esta linguagem que é a linguagem simbólica. A Ciência Natural (no tempo que os filósofos ainda eram capazes de interpretar algo da ciência natural) era simultaneamente uma ciência espiritual. E os muitos sentidos dos símbolos remetiam os diversos aspectos do conhecimento mesmo. Agente só vai entender a Física de Aristóteles se entender isto aqui. A física antiga podia ser ao mesmo tempo uma teologia e uma psicologia transcendental. O que é psicologia transcendental? É a psicologia dos aspectos superiores, cognitivos do homem. Ora, para o nosso conceito atual de ciência física qualquer consideração de ordem teológica ou de psicologia, transcendental é totalmente extemporânea (porque a física só se ocupa de medir relações matematizáveis: ela entende disso como ciência natural).
Bom, por um lado tem uma ciência natural por outro lado tem o estudo da natureza que é por um lado a física, a matemática; e por outro lado existe o estudo do homem que é história, sociologia etc.. E os aspectos espirituais da própria natureza, aonde fica? Não ficam, não tem lugar para eles. Eles não podem ser captados nem pela Física, nem pelas ciências naturais, nem pelas ciência humanas? Porque é mais básico do que essa divisão do natural e do humano. Ela é intrinsecamente inseparavelmente natural e humana.
É justamente essa síntese do natural e humano no divino que caracteriza este ciclo pré-moderno. Se você pega a linguagem humana, alguns dos símbolos humanos então é ciência humanas (astrologia história, lingüística etc.) Por outro lado, você tem uma linguagem cósmica (que é a ciência da Física etc.); mas não é bem uma linguagem; é
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um conjunto de esquemas). Mas quando junta isso aqui? No mundo cartesiano porque a mente e o corpo a coisa extensa não junta. Ora, isso aí é simplesmente uma divisão do saber.
E absurdo que essa divisão do saber coincida exatamente com a divisão da realidade. Porque estas 2 coisas não estão realmente separadas. Aonde está o mundo humano (o mundo histórico, da línguas etc.) está dentro do Cosmos chega à nosso conhecimento se não através das estruturas dos conceitos, da linguagem que nós mesmos inventamos para captá-la? Esse é o máximo problema do conhecimento do século XX que seria onde você captava a linguagem comum da natureza e do homem?
E onde está esta linguagem? Bom, por um lado ela está na imensidão da natureza visível. E acima, está na esfera puramente metafísica. É em cima que nós vamos ter que juntar a linguagem humanas e cósmica na linguagem divina. Se existe a ciência da interpretação da linguagem divina, é exatamente estas bases complementares da alquimia que nós estamos falando. Quer dizer que se, de cara, nós abolíssemos da ciência as considerações das chamadas causas finais, as finalidades nós não vamos entender coisa nenhuma. Se nós acreditamos que nas ciência física tudo pode ser explicado apenas pela causa eficiente (por aquilo que provocou o acontecimento e não a finalidade pelo que acontece) não vamos entender nada. Ora, o presente número 1
do método cientifico da Renascença é abolir estas causas finais (abolir a finalidade e estudar somente as causas eficientes). Por outro lado, se existe uma intencionalidade natural, ela não é uma intencionalidade no sentido humano porque senão nós vamos cair de novo no Romantismo (quer dizer, a chuva que cai, vai falar da namorado que ele largou ontem) Ou seja, se a natureza fala e tem intencionalidade, o que ela fala deve ser uma coisa completamente diferente daquilo que se fala no mundo exclusivamente, na sociedade. E o que ela fala também deve ser muito diferente do que captamos na natureza quando observamos de fora como mero tecido de relações matematizáveis. Para complicar mais a coisa, aconteceu que este estudos alquímicos, metafísicos etc.. bem como as tradições que ser tornaram portadoras deste conhecimento, se tornaram objeto de interesse das ciências humanas. Então hoje existem estudos históricos, antropológicos, sobre alquimia e ritos que tentam encarar todos estes conhecimentos apenas sob o ponto de vista da linguagem humanas. Aí é que a confusão chegou no seu máximo. Estudos sobre o esoterismo seria na verdade uma esoterologia (na verdade seria um estudo sobre o que certas culturas falaram sobre os conhecimentos esotéricos; os quais nunca são enfocados como tais, mas apenas no seu reflexo cultural) Por ex.. agente pode explicar que tal cultura acreditava em duendes. A antropologia pode verificar isso aí. Agora a antropologia não pode verificar se o duende existe ou não. Agora, se eu não sei de uma determinada crença reflete algo da realidade objetiva ou não, como é que eu vou entender esta crença? Por ex.: você acredita que você assistiu esta aula porque você esteve aqui.
Agora, amanhã ou depois o sujeito vai estudar sua psique e vai querer os fundamentos da sua crença nesta aula sem levar em conta que a aula realmente aconteceu. Outro ex.: na América não havia cavalos (os espanhóis que trouxeram). Daí depois que os índios viram cavalos eles passaram a acreditar em cavalos. Agora explique a crença dos índios em cavalos sem levar em conta que os espanhóis trouxeram cavalos para a América. Aí você podia dizer na cultura indígena existia alguns símbolos que explicava, a crença neste tipo de seres. E você vai ter que achar uma explicação antropológica para aquele negócio; Mas não tem explicação antropológica para aquele negócio; não tem explicação antropológica alguma! O
sujeito acredita em cavalo porque ele viu cavalo. Por outro lado uma cultura também pode implicar a crença em coisas que não existem, algumas maluquices de fato? Só que antropologicamente nós não temos como distinguir as duas. Quer dizer que uma crença sensata ou uma crença insensata, antropologicamente valem a mesma coisa.
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Então você não tem condição de distinguir se uma cultura está todinha louca ou se ela está instalada na realidade.
Aluna: E os mitos?
Prof.: O mito sempre teve sua função na sociedade. Mas este mito é verdadeiro ou falso? Por ex.: se o sujeito acredita que Jesus Cristo foi crucificado e ressuscitou no terceiro dia. Você pode dar uma explicação histórica para isso: que foi uma igreja que disseminou esta crença numa reação contrária à religião antiga etc.. Só que tudo isso esquece a pergunta principal: O homem ressuscitou mesmo? Quer dizer que em vez de você verificar se o fato na narrativa é verdadeiro ou falso, você encara apenas esta narrativa como criação cultural. Mas então é tudo criação natural. Os pensamentos verdadeiros são pensados pelo homem e os pensamentos falsos também.
Psicologicamente funciona mais ou menos do mesmo modo. Se você está convencido de uma coisa você se comporta de acordo com esta coisa (quer ela seja verdadeira ou não) Se com isto o seu comportamento, à sua vida está vinculado à realidade ou você está fugindo da realidade não dá para saber só por meios psicológicos. Agora vamos supor, eu pego um quadro de Paul Gauguin. {Paul Gauguim tem um quadro chamado Cavalo Branco. Quando você vai ver, o cavalo é azul e verde-água. Porque colocou o título de Cavalo Branco? É simples, o cavalo branco está bebendo água num regato do meio do mato e o reflexo da paisagem em torno azulam o branco de sua pele. Bom, isso acontece mesmo na natureza ou é tudo invenção de Paul Gauguin? Eu só vou entender a pintura de Paul Gauguin na medida onde eu consiga estabelecer a relação entre ela e a percepção sensível que eu tenho de um cavalo. Existem muitas maneiras de você pintar um cavalo e uma delas é essa: em vez de você olhar um cavalo como uma figura isolada você o desenha como um reflexo da luminosidade em torno. Eu sei disso porque eu sei que existe cavalo, sei que existe luz, seu que existe mato. Tenho que dar uma referência objetiva com a qual eu posso comparar o quadro. Se eu faço abstração destes dados objetivos tudo o mais que eu posso dizer sobre o quadro é tudo maluquice. Isso quer dizer que os produtos culturais só fazem sentido em face da experiência real humana. Outro ex. de maluquice: Os índios mexicanos acreditavam que seu Deus tinha passado por seu mundo mas que um dia iria voltar. Quando chegou um espanhol maluco e começou a matar todo mundo, como é que os índios interpretaram? Quando desembarcou o seu inimigo de uma tribo estranha , de uma outra raça, de uma outra cultura que veio para lá para acabar com eles, eles entendem que é o seu Deus que está desembarcando ali. E existe obviamente uma conduta tão insensata que 200.000 índios mexicanos foram dizimados por 60
espanhóis que não eram capazes de se defender porque não estavam entendendo o que estava acontecendo). Esses índios estavam totalmente idiotizados, acreditando em história de Carochinha. Do mesmo modo, quando os holandeses chegaram aqui em Santos e começaram a matar todo mundo, os portugueses foram todos para igreja rezar para N.S. do Monte Serrat em vez de se defenderem. Porque eles acreditavam que Deus só poderia estar do lado deles, porque eles eram católicos; não lhes ocorreu a hipótese que Deus poderia estar do lado dos protestantes. Estavam com a cabeça no mundo da Lua. E você pode ver isso pela adequação da resposta. Quer dizer que se o mito no qual o sujeito acredita lhe permite se instalar na realidade e ter uma reação adequada, então este mito está funcionando, é a tradução da realidade. Agora, se o mito aplicado tem o resultado oposto aí o mito não funciona. Outra estória: Duas crianças se meteram no meio do mato no Alto Xingu. Você sabe que índio não se mete muito dentro do mato apenas alguns índios o fazem. Então, todos foram procurar as crianças de depois de um tempo resolveram consultar o Pajé que localizava qualquer pessoa ou coisa desaparecida. O Pajé entrou numa oca reunindo toda a tribo e disse: vamos ficar por aqui, quando terminar a reunião, as crianças
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estarão aqui na porta. Parece maluquice mas aconteceu exatamente assim e as crianças apareceram. Isto aí é um mito. O rito é baseado em mitos tanto quanto o comportamento dos índios mexicanos. Só que um o mito funciona. outro não. Tem mágica que funciona e tem outras que não. Agora, antropologicamente não há diferença. A Antropologia me parece assim como uma ciência que fosse estudar o casamento fazendo abstração das diferenças sexuais. Faça a abstração das diferenças reais entre os sexos e explique o casamento. Então se você faz a abolição de um dado objetivo, as instituições culturais que você está estudando ficam boiando no ar absolutamente inexplicáveis. E é tudo uma invencionice terrível. A diferença de sexo é uma dado natural (não antropológico, mas biológico) e as instituições todas que o homem criou em cima deste dado pressupõe a existência dele. E não pode ser explicada sem eles. Isso quer dizer que do ponto de vista exclusivamente antropológico e sociológico que faz abstração de um dado real só vai produzir maluquice. Porque os índios do Xingu acreditavam no rito do Pajé que traz as crianças de volta? Porque de fato ele traz as crianças de volta! Então a crença aí pode ser explicada simplesmente pela experiência. Porque os índios do México acreditavam naquela maluquice? Bom, aí você tem achar outra explicação. Você não pode dizer que era simples experiência que os havia persuadido. Podíamos explicar que era um povo tão carregado de angústias e de culpas que só podia conceber um Deus sob forma de um ser terrível que vinha para matar todo mundo. E de certo modo, eles estavam pedindo para vir um Deus e acabar com eles. Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. Isso chamava-se auto-enfeitiçamento) Bom isso aí nos permitirá estabelecer uma certa diferença qualitativa entre culturas. Ah, mas diferenças qualitativas em antropologia não existe. Então, o mundo de símbolos e mitos é um modo de instalação na realidade num cosmo físico.
Existem modalidades que funcionam e que não funcionam. Ou seja, Alquimias reais e existem falsa alquimias, mitos reais e mitos falsos. Uma coisa que me espanta muito é a popularidade que atingiu a Epopéia de Gilgamesh. Todo mundo está lendo isso e não percebe que é a Epopéia do fracasso espiritual. Gilgamesch se dá muito mal. Ele é uma espécie de anti-Moisés. Ele vai lá atravessar o mar vermelho e morre afogado.
Para eles a Epopéia de Gilgamesch é mitologia primitiva como qualquer outra. E o fator qualitativo: ora tem imagem que funcionam e outras não. Essa diferença para a ciências humanas não existe. É a mesma coisa que se você fosse estudar a Física dos séculos passados em distinguir as leis físicas que funcionam e as que não funcionam.
Como Por ex.: a geração espontânea. Então é como se hoje pegássemos um livro de biologia e estudaríamos a teoria da geração espontânea e as contestações como se fosse ambas verdadeiras. Isso é demência. Historicamente do ponto de vista histórico das ciências humanas, tanto a doutrina da geração espontânea quanto à sua refutação por Pasteur, são ambos produtos culturais de uma mesma era. Só que antropologicamente, sociologicamente, historicamente, tem o mesmo valor. Isso para mim é a maior prova de que estas ciências são curada na base. Quando você fala ciência humanas, bom mas isso é ciência do homem desligado da realidade, do mundo da linguagem humana como se tivesse boiando no vazio. O livro mais interessante de antropologia do século é de Edgar Morim Le Nature de La Nature; aonde ele faz esse apelo: olha se agente não encontrar um ponto comum aqui, nós vamos ficar tudo louco. Quer dizer, se não se encontrar um elo entre o homem e o Cosmos, a ciência vai tudo para o lixo. Só tem esse elo se você descobre o que há de humano na natureza que é o próprio homem. Ou seja deve haver algo na natureza que de fato nos fala e ao mesmo tempo dever haver dentro de nós certos processos naturais que permitem que se estabeleça este diálogo. E é exatamente este ponto de confluência onde a alma humana passa por processos naturais (que repetem tais e quais os processos da natureza) é justamente disso que fala a alquimia. E a rigor, é disso mesmo que fala a Astrologia. Quer dizer que a astrologia é um pedacinho da doutrina alquímica. E se a
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astrologia for separada do sentido alquímico, ela não faz o menor sentido. Quer dizer, se você for estudar símbolo planetários fazendo de conta que ele não tem nada a ver com simbolismo terrestres correspondente? A começar pela ligação dos planetas com os metais. Quer dizer que estes metais seriam simbolizados pelos planetas. E onde estão? Estão no seu corpo mesmo. Voltemos para o primeiro texto, segundo parágrafo.
..Estas possibilidades recentes. comunicação. imagem lua e ao mesmo tempo um especial e poderoso tom emotivo.
Comentário: Donde vem este significado e este tom emotivo? De acordo com esta expectativa dualística moderna, qualquer significado só pode ter sido acrescentado pelo homem. Ou seja, a natureza seria uma máquina neutra no qual você projeta arbitrariamente o que você quiser. Então entendemos que toda a cultura pós-renascentista é baseada no pressuposto não declarado da inexistência do simbolismo natural. Baseado na idéia de que a natureza nada nos fala; nós é que atribuíamos à ela intenções que ela não tem. É claro que o homem de fato faz isso: inventa e atribui. Mas será que todas são inventadas por nós? Será que não tem um jeito da gente escapar deste duplo engano? Por um lado esta natureza nua e crua constituídas de relações matemáticas. E opor outro lado este falatório humano projetado? A esperança de encontrar isso é se abrir para possibilidades de uma linguagem natural diferente; e sobretudo que tenha como principal característica esta abrangência e múltiplos significados ao mesmo tempo. É isto que diz a leitura alquímica. Isto quer dizer que um fato natural, ele fala alguma coisa. Mas ele não fala em nenhuma linguagem específica. Ele não fala para um indivíduo em particular. E
nem para alguma classe particular. Ela está falando ao mesmo tempo para todos os homens, qualquer que seja o tipo de interesse que este homem esteja olhando. Cada um olha para um lado, mas a natureza está falando para todos ao mesmo tempo.
Portanto é necessário que o signo do indivíduo tenha a possibilidade de ter todas esta significações ao mesmo tempo e organizadamente. Por isso que a leitura alquímica consiste em você tomar os símbolos não como uma alegoria ou invenção humana mas como uma espécie de plenitude da literalidade. Ou seja, cada símbolo significará tudo aquilo que ele pode significar para todos os homens que buscarem para qualquer ângulo que seja incluindo nisto até as significações embutidas projetadas. Isso que dizer que para o poeta romântico, a chuva pode significar a melancolia da natureza porque ele perdeu a namorada ontem. Talvez ele não esteja totalmente errado. Talvez significa isto também mas só significa para ele. Visto de um outro ângulo pode ter um significado totalmente distinto. Pode representar Por exemplo a fecundação do solo, milhões de coisas. Juntando todos estes significados, obtendo o núcleo que é a chave do todo simbolismo ligado à chuva, aí você pegou o que é o sentido alquímico da coisa.
O significado essencial é aquilo que de fato, não poderia deixar de significar no fundo para qualquer homem. Ou seja sem a qual a diversificação de significados subjetivos não seria possível. Neste sentido é que só existe alguns simbolismos que são muito básicos e inequívocos. Por ex.: a luz que é o símbolo dos símbolos. A luz nunca pode significar trevas, ignorância (isso aí é a teoria da tripla intuição). É quando o homem primitivo um dia percebeu que havia luz. Ora, como é que ele percebeu que existe sol sem na mesma hora ter percebido a distinção entre enxergar e não enxergar? Ou seja este é um dado externo da natureza que não pode ser percebido sem a percepção simultâneas de algo que está se passando dentro do sujeito. Os demais dados da natureza não são assim. Por ex.: eu posso perceber que existe lobo, árvore, urso tudo isso eu posso perceber de fora mas a luz eu não posso. Perceber luz é me perceber. E
de maneira indissolúvel e inseparável. E esse símbolo ele vira a ligação triangular entre sujeito, o objeto e o ato de conhecer.
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Esta ligação é a base da nossa linguagem, do nosso raciocínio. Nós não falamos, não pensamos e não tiver este triângulo. No caso da luz a identificação do sujeito com o objeto é inseparável. Nos outros objetos não; nós não vimos os outros objetos diretamente mas nós os vemos pela luz que toca neles e chega até lá. O que é ver um objeto? é ver o reflexo da luz refletida neles. Se sumir a luz, os objetos somem também. A verdadeira presença do mundo externo é dada pela luz e não pelos objetos. O simbolismo natural do sol é incontestável. Mas tem outras coisas que você pode demonstrar também que são simbolismos naturais Por ex.: a Lua. Como é que você faz para perceber a Lua? Se cada vez que ela vem ela está com uma cara diferente É impossível você perceber a Lua se você não perceber que no mesmo objeto pode haver várias formas. Não tem jeito de você perceber Lua a não ser juntando a unidade da substância com a diversidade das aparências. Agora, tem alguma outra cosia no mundo que seja assim? Nenhuma. Nada tem um ciclo abarcado no tempo onde tem uma sucessão de aparências que depois se repete. Só Lua.
Ciclo é sucessão de mudanças que oculta uma permanência da estrutura. O sol.
muda de aparência mas esta aparência não é cíclica (conforme o tempo esteja chuvoso o sol pode estar mais ou menos brilhante.) Mas não tem o ciclicidade; esta mudança é irregular). Quando a pessoa percebeu a diferença entre luz e treva percebeu automaticamente a diferença entre enxergar e não enxergar. Ele não o fez por raciocínio desenvolvido no tempo na mesma hora. E com a Lua? Não pode nem ter sido na mesma hora e nem por um sujeito sozinho. Precisa de um testemunho porque é uma coisa que se desenvolve no tempo. Pode ser esquecida, precisa ser anotada para que se torne um patrimônio coletivo. Então a descoberta da Lua implica em consciência da temporalidade, consciência da ciclicidade, da coletividade, consciência de causa e feito. Então a descoberta da Lua já tinha algo a ver com toda a armadura lógica desenvolvida. Ao passo que a descoberta da luz não, ela se tema a ver coma a estrutura básica que permite fundamenta o pensamento lógico do homem. Mas é um fundamento simultâneo. No meu livro Astrologia e Religião, no capítulo Lógica e Astrologia vocês podem ler sobre isso. O pensamento humano no mundo dos símbolos não é separado da natureza. Ao contrário, a natureza está ensinando à ele a pensar logicamente. Através deste luminares no céu. Platão diz que: através do Sol, Lua e estrelas é que o homem capta a noção de número, ordem e sucessão; enfim as categorias lógicas básicas.
Marcel Mauss antropólogo dizer que todas as categorias lógicas são apenas expressões da estrutura e social. Você monta uma lógica que imita a estrutura social. Bom, mas se você pode ter uma lógica é porque a coisa é lógica. E donde você tirou essa lógica.
E a burrice letrada! Agora, se você articula o símbolo da Lua com o do sol, você vê que você já tem aí toda a armadura dos sistemas das categoria lógicas. Aonde está a raiz dessa linguagem humana, deste mundo do pensamento humano? foram o Sol e a Lua que nos ensinaram. Assim como ensinou o índio. E é justamente esta obviedade que acaba se perdendo. Agora, se depois você usa o próprio pensamento par tampar esta realidade elementar que é a base do seu próprio pensamento bom então você está serrando o galho no qual você sentou. Mas sempre existem homens como Georges Bernanos que por motivos os mais diversos, se empenham em desenterrar estes conhecimentos (porque senão nós já estaríamos numa sociedade louca). O pessoal pensa que progresso significa mudança. Progresso é mudança com a conservação do estado anterior. Senão não é progresso, é apenas substituição de uma coisa para outra. E aí se você tira uma coisa para colocar outra não melhorou nada. É um passo para frente e para trás. Todo lucro se baseia numa acumulação: se você ganha 20 mas perde 10 você não progrediu nada. É um movimento insano: vai e volta sem motivo algum, quer dizer conservar o conhecimento é primordial.
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arteriaemchamas · 2 days
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QUARTA AULA (17/01/96)
.O bem supremo, trata-se de você imaginar uma vida melhor do que essa. No entanto, se você não tem uma no corpo o melhor do melhor do melhor, você perde a visão por escala do que está se passando aqui e agora. Aí é um problema da Tímese Parabólica.
Tímese é avaliação. Parabólica é aquilo que descreve uma parábola. Então, você tem que avaliar pelo melhor que se possa conceber.
A tímese é uma faculdade cognitiva especificamente humana: só o homem pode fazer isso. Nenhum bicho pode imaginar ou conceber para ele mesmo uma situação muito melhor que a que ele tem. Note bem que isto não é razão. Todo animal participa da razão. Mas, a tímese não é raciocinar a partir dos dados mas da pura concepção de algo supremamente melhor. Quer dizer que toda nossa cultura, conhecimento, especulações, elas valem muito pouco se forem amputadas desta referência a este melhor que nós só conhecemos idealmente. Mas que nós sabemos que é uma possibilidade efetiva; pelo simples fato de que nós podemos pensá-la. Daí a necessidade de pensarmos continuamente no melhor do melhor do melhor. Porque somente isso que vai dar para ela a escala exata do que está acontecendo. Porque se você só comparar um acontecimento com outro acontecimento i.é; um mundo real com outro real, você nunca tem a medida; a não ser provisória: você efetivamente não sabe o que quer, os seus julgamentos estão todos errados. Isso quer dizer que a tímese parabólica é a própria pedra angular da razão. A razão sem a tímese não valeria absolutamente nada; porque a razão pode ser como uma balança. A balança só compara uma coisa com a outra. Mas, qual é exatamente a medida que você está usando para ver este peso? Quer dizer é uma balança de quilos ou de toneladas?
Então, você pode pesar uma coisa com outra mas dentro de uma escala que seja co-proporcional às duas. Porque às vezes, para você avaliar certas coisas, você precisa de uma balança de maior capacidade. E é exatamente isso que é a tímese. Então, se não tem a tímese, a razão fica que como uma faculdade solta. A tímese é mais ou menos uma coisa que aferisse a razão. Aliás, ela é um critério supremo da razão. Dá idéia de liberdade. Como é que você vai ter o critério da liberdade a não ser por uma verdade ideal. para você dizer que uma coisa é verdadeira ou falsa, você está dizendo que uma atende e outra não atende um certo ideal que você vê na verdade. Quer dizer, nós não conhecemos a verdade somente pelo aspecto empírico, pela experiência que temos da verdade; mas também por uma expectativa que nós temos e que às vezes não se cumpre. Você só vai entender o que é verdade se entender que ela é um ideal, e não uma realidade. A verdade é uma coisa que você espera que os seus pensamentos tenham; e quando não têm, você se sente frustrado. No que consiste precisamente esta expectativa? É você acreditar na verdade como um ideal, como um valor. Se o cara não pensa continuamente sobre isso, o senso da verdade dele foi para as cucuias.
Ele não conhece propriamente a noção de liberdade, ele conhece verdades. mas a noção de liberdade foi para as cucuias mesmo! Então, a exclusão da consideração de valor nas ciências é uma monstruosidade, isso impede o funcionamento da razão.
Hoje em dia todo mundo diz: as ciências não devem se basear nos valores. Claro que deve! Isso é a principal coisa! Porque a ciência toda se baseia num valor que se chama veracidade. Como a veracidade é um valor que você pretende alcançar, então você só pode conhecer as verdades que você já tem. Então, a ciência não pode ajudar. A ciência se dirige idealmente em uma direção à uma conexão complexa de todas as verdades que ela conheça; formando uma verdade maior do que aquela em particular.
Por ex.: os fatos que uma ciência conhece, eles não são verdadeiros no mesmo sentido que será a teoria final explicativa que vai abranger todos estes dados. Quando você pega vários fenômenos: o trovão, a faísca que sai quando você esfrega uma planta. e você chama isso de eletricidade, você está querendo dizer que esse conceito de
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eletricidade é mais verdadeiro do que essas várias denominações que você dá às diferentes aparições do fenômeno. Quer dizer, por trás deste fenômeno existe uma verdade chamada eletricidade. Toda a ciência raciocina assim. Então, ela não é só a verdade dos fatos mas sim um ideal de veracidade maior que a dos fatos que ela pretende alcançar. Ora, se você excluir como é que se vai fazer ciência? É balela esta estória de excluir problemas de valor. Não só é falso como inconveniente. Porém, no nosso caso que é uma ciência prática de transformação da matéria para a alma humana, é somente a tímese parabólica que nos vai dar a idéia de algo que nós temos, íntimo. Por ex.: nos julgamentos diários que nós fazemos sob as pessoas, está subentendido que nós sabemos algo do bem e do mal. Mas, raramente nós pensamos a respeito disso. Então, se você perguntar: é mal porque? você vai ver que a maioria das pessoas não sabem. Sabem apenas que é uma convenção. Mas, se o julgamento do bem e do mal é uma convenção, porque que você passa por uma emoção tão intensa ao condenar o mal? Quer dizer, no fundo você tem uma explicação do bem só que está inconsciente, você nunca pensa nela. Condenar o mal é menos importante que saber o que você mesmo pensa do bem. Por exemplo: o que seria para o indivíduo o homem perfeito? Se você nunca pensa nisto, a sua visão do bem é completamente nebulosa. E os julgamentos que você faz dos indivíduos são completamente aleatórios.
Você está habituado a receber um modelo pré-determinado do bem através de alguma figura histórica ou mitológica: Jesus Cristo, Buda etc.. Você recebe isso pronto. Mas receber pronto não adianta se você não pensar nestas figuras. Uma coisa é você conhecer estas figuras nas escrituras e outra é tê-las na cabeça. Então, meditar continuamente o bem particularmente na forma de virtude humana i.e.; saber o que você realmente pensa disto, é até mais importante que receber os modelos prontos.
Porque estes modelos são inteligíveis se você não pensar neles. Então pensar no que você concebe como o supremo bem na escala do humano, já é uma condição indispensável para poder entrar no destino de. Agora, cada um vai pensar de um jeito; mas não importa porque todas essas coisas que estas pessoas vão imaginar diferentemente, elas se referirão à um mesmo ideal. Claro que cada um vai enfatizar mais uma lado que outro, conforme as diferenças pessoais. Mas, como dizia Teilhard de Chardin, tudo o que, converge. Se você está pensando no supremamente bom, as diferenças entre os que as várias pessoas pensam, vão se neutralizando aos poucos.
Na verdade, o bem, a virtude são simples. Os vícios é que são complicados e muitos.
Uma conta de 2 + 2 = 4, só tem um resultado certo. O resultado errado são todos os outros números. Então esta faculdade da tímese, ela é até mais importante do que o próprio exercício da razão.
No caso da nossa ciência de transmutação e como essa transformação em grande parte é interior- de fato você tem que saber para onde você está indo e aonde vai chegar. Chegar no termo final que é simbolizado pelo ouro. Essa curva parabólica é utópica, ideal porque é uma curva que tende a ser reta mas nunca chega a ficar totalmente reta. É assintótica.
Falamos também em símbolo na aula passada. Aqui, como se trata de uma ciência prática, não existe propriamente a teoria alquímica. Não existe nenhum livro de alquimia que seja teórico: na medida que você está lendo aquilo ali já é a prática de algum modo. E então é importante entender o que quer dizer a linguagem simbólica.
Simbólico costuma ter uma significação de uma coisa oposta ao ideal ou ao utilitário.
E nós não usamos neste sentido aí. Se usássemos neste sentido, nos afastaríamos muito da obras alquímicas. O simbólico tem que ser entendido como uma espécie de coisa hiper-literal. Hiper-literal quer dizer que cada palavra quer dizer exatamente aquilo que está dito nela. Mas, sem nenhuma restrição ou nenhuma separação abstrativa. Por ex.: Terra não quer dizer exclusivamente o planeta Terra nem exclusivamente um pedaço de terra nem exclusivamente o elemento terra da física
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antiga. Quer dizer tudo isso junto. Não é uma leitura abstrativa e sim concretiva. É
isso mesmo é que é o simbólico. A linguagem abstrata vai num sentido de separar um significado e lidar exclusivamente com aquele ; até para não ter confusão e você poder pensar em linha reta. É uma dedução lógica que você faz: você estabelece o sentido e vai raciocinando dentro daquele mesmo sentido. Mas aqui, não dá para ir em linha reta. Aqui você anda um passo e dá um outro para trás. Porque você vai sempre esquecer algum significado lá para trás. E este contínuo retorno para recolher os significados que foram esquecidos, isto mesmo é que é a leitura alquímica. Porque a mente humana tende a ir obsessivamente no sentido da abstração por uma questão de economia de tempo. E também para você pensar mais, você reduz o significado.
Porém a leitura simbólica requer o contrário: que você recolha todos os significados.
Se você leu errado, você volta para trás porque você esqueceu uma acepção possível da coisa.
Neste momento, agente tem que distinguir o que é leitura simbólica do que é leitura alquímica. A leitura simbólica é só uma etapa, uma condição prévia. Mas passando da simbólica para a alquímica, nós não só recolhemos todos os sentidos mas nós conseguimos presentificá-los ou seja, conseguimos reconhecer aqueles significados não em imaginação, mas concretamente. Quer dizer que quando eu estiver lendo Terra, o que vai ser evocado por isso não é a imagem, nem o conceito de Terra, mas a terra mesma, a terra tal como está no seu corpo. Cada um dos símbolos alquímicos (a terra, o chumbo, o ouro etc.) primeiro têm que ser lidos simbolicamente com plenitude de significado. Segundo têm que ser lidos alquimicamente com plenitude de presença física das coisas simbolizadas e não apenas mental. Então, quando se fala em Mercúrio, temos que dirigir a atenção não só para o símbolo, ou o conceito, mas também para o Mercúrio que esteja efetivamente presente em você naquele momento. Por ex.: Mercúrio é uma substância dissolvente. No momento da leitura alquímica, algo em você está fazendo a operação naquele mesmo momento.
Algo está dissolvendo crostas de sujeira de esquecimento, etc.. A leitura alquímica, ela tende a ser de certo modo cada vez mais lenta. É como se para cada ente referido ali no texto, você tivesse que trazer algo. Mas a leitura alquímica tem um número finito de símbolos. Por ex.: a operação puramente mental que você faz de remover uma crosta que tem em torno de seu entendimento, uma crosta a que o impede de ver algo. isto aí tem um concomitante físico naquele mesmo momento. Outro ex.: eu estava assistindo uma aula do Dr. Müller sobre o tema Lua, e eu não estava entendendo nada. Aí Dr. Müller me deu umas gotinhas de Argentum metallicum. Dez minutos depois eu tinha entendido tudo. Nessa hora eu entendi qual era a relação que podia haver entre mente e corpo. Para mim, todos nós somos cartesianos incuráveis.
Quatro séculos de pensamento cartesiano nos levou a pensar em corpo e mente como coisas separadas. Mas tudo isso é evidentemente uma coisa só. É uma diferença de ângulo. É como cara e cora. Se você obtém a cara, você trouxe a coroa junto. Mente e corpo são abstrações. O que existe efetivamente é o chamado composto humano indissolúvel como dizia Aristóteles. Recapitulando, se um metal podia produzir repentinamente uma síntese simbólica na minha cabeça é porque era o corpo que estava pensando. Quem é que pensa? É o próprio corpo! É que quando você vai saindo da esfera das percepções sensíveis e indo para o pensamento abstrato, você tem a impressão que aquilo não é corporal. Mas é sim! Por ex.: se eu falo para você imaginar um indivíduo humano. você está me vendo corporalmente. Agora, se eu falo para você: uma multidão. Agora você já não vê com tanta precisão. E se eu digo para você: a humanidade. Aí já vira um conceito genérico, aparentemente incorpóreo. Mas, na realidade a humanidade existe corporeamente tanto quanto o indivíduo! Então, quando vamos subindo na direção dos conceitos abstratos, agente tem a impressão de que se afastou da corporalidade. Mas, ao contrário: a humanidade tem muito mais
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corporalidade que um indivíduo sozinho. É só somarmos pesos. Então, quando pensamos genericamente, cria-se um efeito ilusório. Eu posso conceber uma árvore sem pensar em terra. Mas, quando faço isso, eu estou fazendo uma separação, uma abstração. Agora, quando eu penso a árvore não isoladamente, como se ele estivesse boiando no ar mas, como uma árvore que brota da terra, me aproximei mais da realidade. Estou tendo um conceito mais real. Por isso mesmo que CONCEITO vem de CON + CEPTIO = Ceptio vem Cepire, que quer dizer agarrar, captar. Quando nós pensamos numa coisa estamos tendo apenas uma idéia. Mas, se esta idéia agarra alguma realidade nós chamamos conceito. Lamentavelmente em inglês, Concept significa qualquer coisa que você pensou mesmo que não exista. O Conceito é uma idéia que agarra uma realidade e diz o que ela é efetivamente. Agora, uma idéia é apenas uma atenção que permite reconhecer a coisa. No conceito eu me aproximo do real. Ora, para eu me aproximar do real, eu tenho que enxertar um ente individual Por ex., dentro do conjunto dos seres. Isso quer dizer que eu vou ter que falar de mais seres e aumentar a escala do que eu estou falando. Ora, na medida que eu aumento a escala, eu me afasto da percepção sensível. E daí, eu tenho a impressão que eu estou indo para o ar, estou ficando cada vez mais abstrato e é exatamente aí que eu estou indo para o concreto. A cavalidade Por ex.. não é um conceito; é apenas uma idéia. A espécie cavalo é que é um conceito! Agora, se você falar a qualidade que distingue a espécie cavalo, ela só existe abstratamente. Agora, a espécie existe materialmente. O
que é a espécie cavalo? É todos os cavalos que existiram, mais todos os espermatozóides em número finito que estão dentro de todos os testículos de todos os cavalos existentes e mais os espermatozóides de cavalos que poderão brotar destes.
Até completar todos os cavalos que existam. Isto é material! Muito grande mas é material. É limitado, finito. Agora, a cavalidade é a qualidade separativamente considerada que você verá em todos estes cavalos. Agora, nossa mente tem uma dificuldade de perseverar no concreto usando instrumentos abstratos. Quando ela se desliga da percepção sensível, ela perde o concreto. Não podemos confundir concreto com sensível. O sensível também é abstrato. Prova disto é que você só pode perceber fisicamente uns quantos aspectos da realidade. Por ex.: neste momento eu só percebo esta sala, mas eu sei que esta sala não está boiando no ar; que ela está dentro desta casa. Eu não o sei sensivelmente, mas eu sei disto. Este é que é o concreto.
Então temos que distinguir o que é o concreto da realidade e o que é o concreto do conhecimento. Uma coisa é a realidade concreta. Outra é o pensamento. E a realidade concreta, por incrível que pareça, agente só pega por pensamento abstrato. E é aí que está a dificuldade. Por ex.: você não vê uma árvore se alimentando do sol. Mas você sabe que ela está fazendo isso. O conceito verdadeiro de árvore é uma forma de vida que brota do solo se alimenta dos minerais dela. Então eu só consigo ver a forma exterior dela. Isso é abstrato. Esta forma exterior não existe em si. Agora, o pensamento concreto seria aquele que lidasse apenas com os dados percebidos: não iria muito longe. É um pensamento que não se afastaria muito da realidade sensível.
Em outras palavras: o pensamento concreto é aquele que se ativesse àquilo que foi percebido de imediato. É um pensamento que se guia pelas aparências. Então todo o pensamento é de fato abstrato. Mas esse abstrato é um instrumento para você perceber a realidade da sua concreção. O concreto é o que as coisas são efetivamente dentro da sua concreção. CON + CRESTIO = é aquilo que cresce junto. Ou seja; é o conjunto das condições reais que permitem que aquele ente exista. Então árvore sem terra não existe: nós sabemos disto mas nós não percebemos isso. Portanto só podemos captar esta noção através do pensamento abstrato. Porém, é este pensamento abstrato que permite que agente agarre a concreção real daquele ente.
Quando você pensa em conceitos abstratos, isto não quer dizer que você esteja lidando
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com realidades abstratas. Para você captar a realidade concreta, é só através do pensamento abstrato.
aluno: Porque esse negócio de realidade concreta e abstrata? A realidade não é uma só?
Prof.: A realidade é abstrata apenas no seu modo de conhecê-la.
Voltando à questão da leitura simbólica e alquímica. A leitura alquímica então, é um contínuo retorno e por isso assume já o significado de uma meditação. E por isso mesmo que a leitura alquímica já é uma prática. Então, cada vez que você ler um texto alquímico, a tendência é ler e continuar lendo. Para fazer isso agente reduz a esfera de significados de cada palavra, pega-o e passa adiante. Quando você terminar a frase, você volta lá lembre os outros significados, volta de novo e de novo. Isto é que é o Lege, relege. Ler, ler, reler e encontrarás que é a regra máxima do alquimista. Você vai ler 1.000 vezes a mesma coisa até que você veja com os olhos da cara, não com os olhos da imaginação. Ela vai ter que passar por uma fase conceitual, imaginativa e depois perceptiva. Então, quando você lê um romance qualquer. Este romance se refere à emoções que você nunca teve, em situações que você nunca viveu. você não vai entender, ou vai entender de uma maneira morna, sem vida. Bom, teria um jeito de produzir um análogo desta emoção de modo que você venha a entender? Tem: pela ingestão de uma substância correspondente àquela emoção (exatamente como no caso da minha aula da Lua com o Dr. Müller). No fundo toda a homeopatia se baseia nisso.
Se você pegar toda a matéria médico-homeopática, o conjunto daquelas substâncias minerais, vegetais, animais que você usa ali, aquilo ali é um dicionário de sensações.
Tudo o que o ser humano pode sentir, imaginar, agente tem o equivalente material. Na homeopatia existe um remédio chamado Silicea. O sujeito que precisa de Silicea tem uma dificuldade em concretizar as idéias. Por isso é um indivíduo hesitante: ele não sabe o que quer porque ele não sabe direito o que pensa. Ele é inseguro porque as idéias dele são de borracha. Tomando Silicea parece que as coisas congelam, se esclarecem; aí acaba a indecisão! E como é que você faria para obter a mesma coisa por meios puramente verbais? Ele levaria 2 anos! Muito bem, na leitura alquímica, você mesmo fará isso: você puxará no seu corpo as recordações, emoções etc. que estão ligadas àqueles elementos alquímicos de que fala o texto. É por isso que os textos alquímicos freqüentemente introduzem a seguinte noção de: O Nosso Mercúrio.
Ontem, nós vimos que visitar o interior da terra significava estar lá efetivamente.
E que o interior da terra significava o próprio corpo. Então, é para entrar com atenção no interior do seu corpo. Esse hiper-literal é que é o simbólico. Ele é hiper-literal porque ele não é abstrato, ele é concreto: não privilegia um significado em especial mas usa todos os significados compactados. Isso quer dizer que se sua atenção reflui para o interior do seu corpo, ela está entrando no interior da matéria, na terra mesmo.
Esse corpo aqui é terra e não outra coisa. O pessoal aqui da astrologia já sabe que o Saturno astrológico é algo a mais que o Saturno astronômico. Só que na alquimia tem mais ainda; porque ele se refere a tudo isto tal como acontece também dentro do nosso corpo. Quer dizer que lá dentro também tem um saturno. Este Saturno pode ser determinados órgãos que a astrologia associa à Saturno; mas não só isto, tem mais e mais e mais. Mas também tem certas funções e relações associadas à Saturno. Então Saturno alquímico é tudo isto indissoluvelmente. O Baço no corpo humano está associado à Saturno: é o órgão que dá o extremo limite do seu corpo. Quando você corre não é o baço que dói? É porque ele não está agüentando fazer as transformações que ele tem que fazer. Então ele pára o corpo inteiro. Mas, agente vive bem sem baço. Mas isso não quer dizer que podemos viver sem limites. Agente vai ter que fazer isso através de outros órgãos, outros meios; não é só o baço que está
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associado à Saturno. Nos tratados de astrologia, o fígado às vezes está associado à Saturno, às vezes à Júpiter e às vezes aos dois juntos. Considerando, então que temos que juntar todos os significados na leitura alquímica, concluímos que a prática da alquimia trata da instalação do indivíduo na realidade. É um esforço da pessoa se situar dentro do tecido de relações reais no qual ele está naquele momento. E o efeito que isto tem na personalidade como um todo é um negócio brutal. Primeiro que as distinções entre perceber e imaginar, são na vida diária um dos temas. Por ex.: basta você imaginar que o indivíduo te ofendeu para você se sentir ofendido. Basta você imaginar o perigo que você já sente medo. Esta confusão entre sentir e imaginar é constante. Com um pouco de prática alquímica agente já elimina isso para sempre.
Você saberá sempre se é imaginado ou se é sentido. Se está presente ou se é hipotético. A alquimia vai ajudar a distinguir o real do imaginário. É porque o corpo humano não distingue entre o perigo imaginário e o perigo sentido que é possível a hipnose. Quando você hipnotiza o sujeito, ele vai ter todas as reações corporais que o hipnotizador sugerir. Quer dizer, o cara vai imaginar que está passando por certas situações e o corpo dele vai reagir na exata medida. Ora, o sujeito que está hipnotizado ele pensa, ele raciocina, ele sente, ele recorda, ele tem todas as funções; só não tem uma: ele não julga. E é só este julgamento- que tem o seu ápice na tímese parabólica- é que nos permite discernir entre o imaginário e o real. Daí você pode saber se o sujeito te ofendeu ou foi você que se sentiu ofendido. Porque neurologicamente é a mesma coisa. Imaginativamente é a mesma coisa. No plano das emoções é a mesma coisa. Por aí você vê que a falta de cultivo do hábito de julgamento, imbeciliza as pessoas. A faculdade cognitiva que mais se aproxima da tímese parabólica seria a jupiterina.
A imaginação deve produzir uma reação neurológica semelhante ao dos estímulos reais mas só que diminuída. Deve porque esta é a função dela. Se você puder balancear as reações de maneira que, ante o perigo real, você tenha uma emoção equivalente à x. e no caso análogo - porém imaginário você ter a mesma reação, mas muito diminuída e atenuada, você estará com o pé no chão. Isso não acaba em absoluto com os artistas. Se você pega Goethe, Shakespeare, todo mundo sabe disso aí. Agora, hoje em dia agente tem um subjetivismo atroz. O indivíduo só fala daquelas coisas que afetaram a sua alquimia numa determinada circunstância que só aconteceu à ele; e casualmente aconteceu à outros indivíduos da mesma cultura. Só que, passam alguns anos e aquilo ali não significa mais nada para ninguém. É por isso que você vê que a arte hoje em dia, ela envelhece muito rápido.
Porque é subjetivo: só quem compartilha daquela referência é que pode ter emoção análoga. Agora, se você penetrar na esfera do simbolismo universal. aí você não tem muito como escapar. É isso que vai diferenciar emoção real da emoção artística. Por ex.: se você vê o quadro da Crucificação, onde aparece o Cristo todo ensangüentado. A reação que você tem ao ver o quadro é diferente do que se você visse realmente o Cristo ensangüentado! Qual é a diferença? A diferença é que no quadro, o Cristo é imaginário, interpretado. E aquele impacto não deve se dirigir aos seus sentidos; mas sim à sua capacidade de julgamento. É isso que é emoção artística. Caso contrário, seria emoção real. A emoção real, ela tem um impacto físico direto: não tem mediação.
A emoção artística, se dirige à sua imaginação: ela dá um intervalo, um sossego para você poder pensar e julgar. Então, ela se torna um elemento de valor intelectual-espiritual coisa que a emoção direta não tem. Aliás, a emoção direta te impede de julgar. Portanto a arte, ela ajusta o que é o imaginar, o sentir e o julgar; coisas que na vida diária estão separadas. Por isso que a arte ajuda a entender o mundo. O evento artístico, se você não entende, você não sente nada. E os acontecimentos da vida diária? Bom, se você não os entender, você sente do mesmo modo. A arte transmite experiências e emoções inteligíveis e que estão ali montadas exatamente para isso.
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Agora, para ela fazer isso é preciso que a emoção imaginativa esteja muito atenuada.
Histeria é exatamente a total confusão entre a emoção imaginada e emoção real. O
histérico finge que está sendo ameaçado e fica apavorado; finge que está sendo ofendido e fica mortalmente ofendido. E não tem meio de você explicar para ele que aquilo não aconteceu. A emoção imaginária toma o seu corpo e você não entende; quer dizer existe uma diminuição da inteligência. Mas na emoção artística atenuada, a inteligência continua funcionando; então você entende aquela emoção. Por isso que a emoção artística não é violenta; mas no fundo ela é mais comovente: ela tem significado. E numa obra de arte que você não atine o significado, você não entenderá e, portanto não sentirá. E portanto, é na arte que você vê essa junção do sentir e do entender- que na vida diária não acontece. Na vida diária quanto mais você sente, menos você entende: quanto mais violenta a emoção, menos você entende.
Concluindo: esta ida do homem do seu interior subjetivo para o vasto mundo real, isto é a Jornada do Imbecil até o Entendimento. Quando somos pequenos, somos idiotas: só acreditamos naquilo que nós mesmos imaginamos. Depois acordamos para o mundo real e constatamos que ele é maior do que imaginamos; e acabamos gostando dele. A criança se protege no mundo subjetivo: o que faria mal a ela, ela faz de conta que não vê; e esquece. daí que surge os traumas, as neuroses. É a mentira esquecida na qual você ainda acredita. Essa idiotice é como a casca de ovo na qual você pode se proteger durante algum tempo; mas não adianta, depois você tem que quebrar a casca do ovo. E agente passa o resto da vida quebrando a casca. Então, este tipo de meditação que vai tentar presentificar as coisas até que você veja umas que estão de fato presentes e outras que você só imaginou isso aqui tem um impacto tremendo sobre a personalidade. Isto aqui é como se fosse uma curva que vai no sentido de uma perfeita conformação com o real: uma reconciliação com o real. O sujeito vai desde uma revolta subjetiva até um sim que ele diz à tudo que acontece. É aí que ele está com o pé no chão. Aí chega-se na condição humana. A condição humana é quando você pode ver um cenário imenso, que você não escolheu, que você não conhece de antemão, e que praticamente você não pode mudar; exceto por uma pequena esfera de ação pessoal que na melhor das hipóteses, se você for um homem muito poderoso-abrangerá a vida de uns quantos outros seres humanos. Então, você não vai mudar a estrutura da terra, a órbita dos planetas, o fluxo dos tempos, o curso da história, você não pode mudar nada disso. Então, nós não viemos aqui para mudar, nós viemos aqui para saber o que é. Aí você vê que a verdadeira missão do homem é conhecer e não mudar; é esta a transformação, a sua transformação. Você não veio aqui para transformar mas para ser transformado. E quando você morrer, acaba o seu ciclo de transformações; e pior, pode ser que você passe pela vida e nem entenda, nem perceba o real, a operação alquímica. Esse mundo é um forno alquímico onde todos estamos sendo transformados. A onipotência é até certo ponto necessária, como as ilusões infantis; porque senão você não agüenta: a casca de ovo quebra de repente e você fica um pouco assustado; porém temos que lentamente quebrá-la e ver que nós aqui não estamos fazendo absolutamente nada; estamos sendo feitos. Você pega um homem extremamente poderoso como Napoleão Bonaparte: Quanto sobrou da obra de Napoleão? Todos os seus reinos foram desfeitos, à exceção da Suécia. Isso Napoleão, agora imagina você! A nossa ilusão do agir, do fazer, é enorme. A nossa ação existe mas é tão pequenininha, que ela só começa a fazer sentido na hora que você a encaixa dentro do processo do mundo mesmo; você está sendo feito: o melhor que você tem que fazer é colaborar com isso mesmo. Relaxe e aproveite. Isto chama-se obedecer à Deus. Você vai ser transformado naquilo que Deus quer te transformar. Porque tem esta margem: você pode colaborar ou não. Se você não colaborar a obra não sai bem feita. Chega-se à perfeição. Perfeição quer dizer completo, inteiro, por igual em todos os sentidos. É o sentido do caixão do defunto. O caixão de defunto é uma forma
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sextavada que significa as 6 direções do espaço: o indivíduo foi nas 6 direções e está completo nelas. Às vezes fica faltando alguma coisa, não completamos o trabalho.
Mas, idealmente, todos nos formamos uma forma sextavada: evoluímos no sentido para frente, para trás, para esquerda, para direita, para cima e para baixo. Esta Contemplação é exatamente o objetivo da obra alquímica. Heráclito dizia: os homens que dormem, estão cada um no seu mundo; os homens acordados estão todos no mesmo mundo. Quer dizer que esse negócio de ficar no seu mundo subjetivo. Só na cabeça do sujeito é que ele está no subjetivo: Ele pode pensar que está no Palácio de Versalhes, mas ele está é no hospício. Todo mundo enxerga, só ele que não. Seria bom que ele soubesse para depois ele ter a chance de sair. Nós vivemos cada um no nosso hospício privado, no nosso ovo. O objetivo desta coisa é tornar-se humano. O
cara tem que saber que ele é só mais um: tem uma infinidade de gente que veio aí, passou pela mesma coisa, nasceu, passou por todas estas transformações, estes dramas, teve que um dia romper sua casca e enxergar a realidade. está todo mundo no mesmo barco há muito tempo. Porque que Saturno é o último? Veremos isso com mais detalhes na próxima aula: existe uma seqüência geocêntrica (Terra, Lua, Mercúrio,Vênus, Sol., Marte, Júpiter e Saturno). A travessia da última esfera (Saturno) vai representar a completação da forma, da perfeição humana. Isso no esoterismo islâmico é associado à sucessão dos profetas que foram sendo enviados à humanidade. O Corão tem 144.000 profetas. Agora, para nós estes 7 profetas representam não só uma sucessão de mensagens que marcam a evolução da história; mas também a travessia da alma individual neste processo da transformação alquímica. Mas, note bem, tudo isso aí é o que se chama de Os Pequenos Mistérios.
Os pequenos mistérios são os mistérios da condição humana aonde o homem vai conhecer a si mesmo. Depois que ele chegou na culminação da condição humana, aí começa os mistérios divinos: aí que você vai conhecer os anjos etc..
Vamos ver agora a esfera lunar. A Lua representa o primeiro e o último profeta.
O primeiro profeta é Adão. E o último profeta é Maomé. É ali que começa a história humana; e é ali que ela se perfaz ao uso da mensagem do Corão. A esfera da Lua representa a mensagem no fundo da alma: a água.
Neste recipiente vemos as pedras no fundo, a água acima e mais acima o ar. E no meio, temos as formas viventes. Quando assentou toda a sujeira limpando a atmosfera, a água calma forma um espelho: do qual você vê o céu ou vê o fundo.
Então, isto aqui é que é o estado de perfeita conformidade: é o começo da obra alquímica. Quando você chega no fundo da alma, você vê as coisas como elas são. Isso é representado por Adão, que é o primeiro homem a quem Deus revelou o verdadeiro nomes das coisas. Então, a mensagem Adâmica é: o que as coisas realmente são. É
também, representado pelo último profeta que perfaz a mensagem; Ele tinha uma prece que ele rezava todo dia que era: Deus, mostrai-me as coisas como são! Este estágio é representado pela Lua. Alcançar o fundo da alma é alcançar esta água plácida na qual você pode, olhando por um certo ângulo ver o fundo: o mundo material etc.. Olhando de um outro jeito você vê o reflexo do céu límpido. Adão quer dizer: homem são.
A próxima esfera é de Jesus Cristo. Jesus, é o logos, a linguagem, a inteligência.
Essa inteligência é aquela que cria, a ação e a restauração das criaturas. A mensagem do Cristo é essencialmente a mensagem da criação e da salvação. É basicamente a mensagem da cura, a restauração da forma perdida, a medicina, o resgate dos pecadores. É a esfera de Mercúrio.
Depois você tem Vênus que é a esfera de Moisés. A mensagem de Moisés é o mundo da imaginação, dos símbolos, onde as coisas umas se transformam nas outras: a serpente que se transformava em cajado, os milagres etc.. Então é o tecido simbólico do mundo.
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Depois chegamos na esfera do Sol. A esfera do Sol é dada pelo profeta Enoch ou Idris. É o correspondente ao que seria Hermes Trimegisto que é o portador de todas as ciências cosmológicas; entre as quais a astrologia. Depois retornaremos às demais esferas.
Para chegarmos ao fundo da alma se deveria, em princípio, concorrer todas as disciplinas religiosas. A remoção e limpeza constituem-se de duas esferas diferentes: seria a esfera das nossas emoções etc.; e também das idéias, dos pensamentos. Então você teria a doutrina real que correspondem aos valores, aos sentimentos reais. O que não quer dizer que a funcione neste sentido. Mas, uma coisa que você vê muito no meio islâmico é um certo realismo terra a terra e uma certa incapacidade de se deixar enganar pela imaginação: um certo desinteresse pelo que é puramente imaginado. Às vezes parece um para quem vê de fora. Quer dizer, há um certo apego à realidade imediato: há uma certa falta de malícia. Por ex.: no meio islâmico, se você for falar mal de uma pessoa, dificilmente você encontrará quem o escute. Para você falar mal de uma pessoa, ela tem que ser notoriamente ruim. Eles não tem interesse primeiro porque eles não vão poder fazer nada; e segundo porque ele não tem como saber se é daquele jeito ou não. Quer dizer, existe uma certa recusa em pensar sobre aquilo que não vai ter resultado visível. É uma certa recusa em conjeturar. Isso não precisa ir muito longe não. Você pega qualquer crente aí e ele vai agir de maneira igual. E às vezes, agente toma isto como uma certa pobreza de imaginação. Claro que às vezes isso implica numa certa limitação intelectual também. Porém, se pegarmos a média dos seres humanos, nós veremos que a possibilidade de desenvolvimento intelectual deles é muito pequena. Eles falam muito sobre centralidade, um realismo brutal.
Quer dizer, para o sujeito falar exatamente aquilo que pensou, e não maliciado. Vocês se lembram do tremendo impacto que teve o Cacique Juruna quando descobriu que os brancos mentiam habitualmente? Mas, o realismo terra a terra vai produzindo também uma série de soluções práticas para problemas humanos, que às vezes nos parecem até cínicas. Existe uma tribo de índios na qual está mais ou menos institucionalizado o seguinte: você quer comer a mulher do vizinho. Então, você espera que todos saiam para ir pescar. leva ela para um matinho, transa com a mulher e volta. Quando a população retorna e chega o marido, todas as mulheres da cidade vão lá contar para ele. Daí ele pega a mulher, leva para dentro da oca, finge que bate nela e ela grita. Daí está salva a honra. E sempre tem dado certo. É obvio, tem que ter uma solução prática. Outra estória do mesmo gênero é de Maomé. quando o exército saía e voltava para a cidade ele não deixava o exército entrar na cidade na mesma hora. Eles ficavam ali tocando tambor para todo mundo saber que eles haviam voltado. Porque? porque aí os caras iam pegar suas mulheres na cama e iam se matar.
Mas o negócio funciona. É esta espécie de sabedoria simplória que você vê muito nos meios religiosos arcaicos. São soluções práticas para problemas práticos que estão na medida do ser humano. Isso não é santidade, não é elevação espiritual; é simplesmente o fundo da alma de ver as coisas como são. Sem acrescentar a emoção moral, a repugnância, a condenação, que seriam o agitar das águas. Deus aprova o ser humano pelo simples fato dele ser humano. Então, basta alcançar a condição humana, que já está mais do que bom. Lembra aquele negócio daquela tribo de um filme que se chamava Os Seres Humanos? Aquilo gira em torno desse negócio aqui: pão, pão, queijo-queijo. Viver num mundo imaginário, o cara vira uma besta-fera; porque ele não tem mais limites. Nós é que temos limites. Qual é o limite? A realidade terrestre de um lado e o céu do outro. Agora, o cara que vive no imaginário não tem limites, ele pode fazer qualquer coisa, não dá para confiar, é uma força maligna.
chamar eles de seres humanos. Então, Por ex., todas aquelas regras de guerra. O
índio americano tinha uma norma que diz assim: se você chegou perto do seu inimigo o suficiente para tocá-lo, então você já ganhou. você está lá no meio do exército do
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inimigo e o cutuca. bom você já ganhou! Já provou sua coragem, acabou! Para o índio é incompreensível porque o branco matava a distância, com tiro: porque em princípio, um ser humano não quer matar um ser humano. Interessa vencer e não matar. Neste sentido o índio está muito mais centrado na realidade: esta que é a idéia do ser humano, tal como Deus o criou. É a esfera adâmica. Imaginar é uma ponte de acesso ao que você não pode ver. Agora, se o imaginário em vez de ele entrar no invisível, ele começa a entrar aqui no visível, já começou a falsear as funções. Aí começa a ter uma ação entrópica, de destruição. Agora, a humanidade, ela vive numa imaginação desenfreada; não tem mais a menor idéia do mundo físico. A Física que se ensina no ginásio. aquilo é uma destruição total do respeito que se tem pela aparência em si. É
aquele negócio de dizer que uma pedra não é uma pedra, é um aglomerado de átomos.
Ora, isso é uma pedra mesmo, quem é que não está vendo? Mas, essa pedra sobre certos aspectos, ela se compõe de partículas que se movem de uma certa maneira isso é que deveria ser dito! Mas isso não quer dizer que estas partículas são mais reais que a pedra sólida. Por ex.: todo o sistema do cosmos é relativo. Esse negócio de dizer que é geocêntrico, heliocêntrico etc., vai depender do ponto de referência. Se você estiver na estrela Vega, ele não é geocêntrico nem heliocêntrico. Qual é o mais legítimo? Se tivesse que escolher um seria até o geocêntrico porque é aonde nós estamos. É claro que se você entrar na esfera do espaço e do tempo, você não tem a referência absoluta, é absurdo. Absoluto só pode ter num inferno puramente metafísico que abrange a totalidade dos seres na eternidade.
Aquela musiquinha de Xô Satanás, não tem nada de satânico, é apenas uma alegria maluca de carnaval; é simples, é apenas um direito humano de ficar maluco.
Isto aí se aproxima muito de ver as coisas como elas são. Qual será a reação do indivíduo perante o carnaval? A tendência dos últimos anos era de tornar o carnaval em uma coisa agressiva e depressiva. De repente virou para uma alegria inocente, uma alegria de maluco, isso é o carnaval de fato; a coisa volta a ter a proporção que ela tem. O maluco não quer fazer mal para ninguém; aliás ele nem sabe que existe os outros. O maluco é inocente; então piada de maluco tem que ser inocente, não pode ser uma premeditação. A essência da coisa satânica é querer que as coisas não sejam como são. A palavra satânica, Por excelência, é o NÃO. O Não é a recusa. Você pode não querer o satã. Mas a negação da negação é a afirmação. A dupla negação é a essência da dialética. A mentira é o não. Existe a dialética para você restaurar a verdade. Isso é propriamente o destino humano: fazer um trabalho contra a negação.
Deus não faz isso, Deus só tem o sim. Negar a negação, que é o pensamento, a dialética, isso é próprio do homem. Deus diz sim e o Diabo diz não. Mas estas 2
entidades não estão na mesma categoria. Quer dizer, em relação aos seres humanos, o poder de cada um é tão descomunal que nós não vemos a diferença; nós equalizamos.
Mas isso é um erro. Metafisicamente falando, em termos de eternidade, Satanás nem existe. O Diabo só existe em relação a nós. A origem do diabo é a reação que um determinado anjo teve à criação do homem; não gostou da criação do homem: a partir daí ele se transforma em diabo. Você vê a partir daí que só existe capeta para o homem: ele é inimigo nosso, ele não é inimigo de Deus. Ele não se revolta contra Deus, ele se revolta contra um ato de Deus. Ele pensou assim: Como é que essa criatura carnal, temporal, vai saber aquilo que nós criaturas eternas sabemos? É
como se fosse um ciúme. É também mais ou menos como se você pegasse a sua mulher compartilhando segredos com um gato. Deus se entende com o diabo. Mas estabelece limites para o diabo: tem lugares em que o diabo não pode perseguir o homem, como a casa do senhor Por exemplo. Então, a atuação do diabo é condicional. Então, tudo aquilo que seja a esfera da necessidade natural, da natureza, o diabo não entra; só entra onde existe a liberdade humana i.e.; quando você tem uma opção de agir de uma maneira ou de outra, ali o diabo pode entrar naquilo que não
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está predeterminado. O que está predeterminado? Bom, tem a necessidade natural (de baixo) e tem a ordem celeste lá em cima. Então o diabo entra aonde? Ele entra aqui na água e no ar. A água é o mundo das emoções, da psique humana; e o ar é o pensamento abstrato, as idéias. Mas existe aqui uma esfera infra-natural aonde ele entra: existe uma esfera de fenômenos preternaturais. Preternaturais é aquilo que não está previsto na ordem da natureza mas que pode acontecer. Preter quer dizer quase.
São efeitos que acontecem que não tem causa natural nem sentido sobrenatural: tipo assim, você fica resfriado e morre no dia seguinte.é uma piada demoníaca.São coisas sem saída, que não dão mais margem para ação humana. Essas situações sempre acontecem artificialmente, são montadas, tem uma vontade maligna. Tem um filme que chama O Mago. É a estória do exército nazista que invadiu uma cidade grega e prendem 4 pessoas da Resistência amarrando-as num poste. Também prendem a população inteira num estádio de futebol. Dá para o prefeito uma metralhadora e diz: Ou você fuzila esses 4 na frente do povo ou nós vamos fuzilar o povo. Tem saída isso aí? Faça você o que fizer, é mal. Então, uma situação em que todas as alternativas são más, elas nunca existe naturalmente e nunca no desenrolar normal das ações humanas. Ela só acontece quando alguém monta com este propósito: Isto é caracteristicamente demoníaco. Se existe um intenção, tem uma inteligência atrás e portanto não é um processo natural. Você acaba ficando preso entre a comicidade e a angústia. Não é como a angústia natural da vida. Porque na vida, o que é triste é triste; o que é alegre é alegre; ou você ri ou você chora. Nesta situação não dá para rir nem para chorar nem para não fazer nada. Este desconforto sem saída, cria uma agitação da alma e derruba você.
A igreja católica (vide S. Tomás de Aquino) nunca falou em sexo só por procriação; sexo é você fazer uma deleitação no corpo do outro. E S. Tomás de Aquino diz que a finalidade é essa; é um direito humano: deleitação no corpo amado. Tem povos inteiros como na Austrália que ainda acreditam em sexo por procriação.
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