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O Herdeiro
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Gabriela é uma garota aparentemente normal. Tem uma vida normal, amigos normais e uma família normal. Bem, não exatamente. Ela se sente sufocada pela família do pai e por isso odeia os encontros que é obrigada a ir. Daria qualquer coisa para se desvincular daquele lado da família, mas ela estava tão enganada por achar que um dia ela cortaria esse vínculo. Surpreendentemente seu mundo vira de cabeça para baixo ao descobrir a linhagem a que pertence e sua vida fica mais agitada com a chegada de um primo que todas as noites a visita por sonhos lhe atormentando.  
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anairarodrigues-blog · 6 years ago
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Capítulo Três
Gabriela levanta prepotente, ao seu redor o ar fica pesado e pequenas coisas começam a levitar. Ela sentia a raiva queimar dentro de si como nunca, podia sentir o poder fluir pelas suas veias e isso a fazia se sentir bem. Ela sorrir com a sensação de que podia fazer o que quisesse, nada iria a impedir. Ao abaixar os olhos viu uma figura caída no chão. Era um homem. Ela o conhecia de algum lugar. Mas de onde? Ela fecha os olhos tentava lembrar, mas tudo em sua mente parecia nublado. Quem ela era? Porque ela não conseguia lembrar? Então sua mente projeta a imagem de um homem ruivo sorrindo e se lembra. Ela era Gabriela Stines. Então o calor que sentia segundos antes some, as coisas que estavam levitando caí se espalhando pelo chão e ela olha para todos os lados confusa. Onde ela estava? E novamente ela olha para baixo e ver Enzo. Porque Enzo estava jogado no chão?
Depois que seus olhos se acostumam mais com a penumbra, ela nota que não só Enzo mas outros três indivíduos estão caídos no chão. Ela reconheceu um dos rapazes e então ela lembrou de tudo. Dos animais brigando na rua, da mordida que havia recebido e automaticamente a sua mão foi no ombro esquerdo. Ela sentiu que a blusa estava molhada e a tirou para ver como estava seu ombro. Aparentemente não tinha marca alguma e ao olhar para a blusa viu que estava ensopada de um líquido preto. Aquilo cheirava mal.
Ela se agacha ao lado de Enzo e balança o mesmo sussurrando: - Enzo! Enzo! Acorda! O que está acontecendo? – então ela sentiu uma queimação no pulso. – Ai! – e para seu espanto ela viu um símbolo tatuado estava pulsando em um vermelho vivo. Atordoada ela se levanta e mais uma vez olha ao redor e percebe pela primeira vez o símbolo que estava no chão e os círculos. O que diabos eles estavam fazendo aqui? O que é isso no seu pulso? Mais uma vez ela tenta chamar seu amigo, mas ele continua desacordado. Ela tenta lembrar se tinha bebido alguma coisa estranha na festa ou de ter usado algum entorpecente, mas não lembra de muita coisa.
Ela passa a mão pelos cabelos, sem mais o que fazer ela tira o celular do bolso para olhar as horas e constata inúmeras chamadas perdidas da mãe e do pai. Sua respiração descompassa ao ver as mensagens que a sua mãe deixou para ela.
Mãe:
Gabriela atente teu telefone pelo amor de Deus!
Mãe:
Gabriela onde você está? Teu irmão está passando muito mal.
Mãe:
Meu Deus! Eu acho que teu irmão vai morrer e não faço a mínima ideia onde você está. Nem o Enzo está atendendo o celular dele. Estamos no hospital. Eles não sabem o que está acontecendo com ele. Quando ver as mensagens por favor nos retorna.
Mãe:
Minha filha onde você está? Eu não posso perder dois filhos numa noite só.
Mãe:
Gabi, a tua irmã acabou de dá entrada no hospital também. Está no mesmo estado que o teu irmão. Teu pai está desesperado ele saiu a tua procura. Tua tia Susana ligou desesperada dizendo que os meninos dela estavam passando muito mal também. Chegaram ainda pouco aqui. Vem para o hospital assim que ver isso, por favor.
Ela entra em pânico. Disca o número dá mãe, mas a bateria do celular acaba. Sem pensar muito ela veste a blusa e sai correndo da casa onde se encontrava. Seus olhos estavam ardendo, as lágrimas teimavam em cair e a única coisa que ela conseguia pensar era nos irmãos. Não podia perde-los. Eram o seu porto seguro.
Ao chegar em casa foi direto na porta chave pendurado na parede e puxou a chave da moto. Pegou o capacete e saiu em disparada para o hospital. Por duas vezes avançou o sinal e quase colidiu com a moto outras três vezes nos carros que passavam. Ela estava desesperada. Não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Como era possível os dois irmãos ficarem doente do mesmo jeito no mesmo dia? E os primos? Será que pegaram alguma coisa quando estiveram no almoço juntos mais cedo? Mas não fazia sentido já que a irmã não foi para o encontro. Ela aumenta a velocidade da moto e reza para que eles estejam bem.
No hospital ela encontra alguns familiares reunidos na recepção querendo saber o que aconteceu.
- Gabi! – seu tio João vem em sua direção e a abraça forte.
– Onde você estava? Teu pai saiu a tua procura.
- Meu celular descarregou, não consegui ligar. Onde está a mamãe? Como meus irmãos estão?
- Calma. Parece que eles estão bem. Ninguém está entendendo muito bem o que aconteceu. – Tio Victor fala e a garota sente um alívio ao receber a notícia. – O que é isso na tua blusa? – o tio fala olhando para a roupa da garota. Nesse momento a porta do hospital é escancarada e seu pai entra por ela alucinado. Quando avista a filha ele corre ao seu encontro e a abraça forte.
- Onde você estava? Passamos a noite te ligando. Teus irmãos...
- Calma Patrick! Os meninos estão bem. Estão fora de perigo. – Tio Ben dessa vez fala com lágrimas nos olhos batendo na costa do irmão. – Não precisa se preocupar mais.
Todos ficaram de observação no hospital. Como a irmã não tinha ninguém com quem poderia ficar, Gabriela propôs a ser sua acompanhante. Ela estava dormindo tranquila como se ela não tivesse passado por um inferno. Gabriela segura a sua mão, se sente exausta. Ela encosta a testa na mão da irmã e fecha os olhos. A imagem dos animais ainda pairava em sua mente, os rosnados ensurdecedores e ela lembra novamente da raiva que sentia na casa e o poder que fluía pelo seu corpo. Parecia tudo surreal. Ela deveria está delirando. Tentou se convencer. Estava bêbada e teve alucinações, era isso. Foi isso que aconteceu. Tinha tentado ligar para o amigo que ficou para trás, mas depois ela se encontraria com ele e assim ele poderia explicar aquela loucura toda.
Ela sente a irmã se mexer então levanta a cabeça, mas a mesma continua dormindo. Ela ainda não tinha visto o irmão, apenas se encontrou com a mãe e a consolou dizendo que ela estava bem. Sua mãe se acabava de chorar e isso cortou o coração da garota. Gabi adormeceu segurando a mão da irmã.
Ela se via em uma sala completamente branca e no meio tinha uma poltrona preta, estava virada de costa. Podia ver uma cabeleira ruiva e ela se aproximou aos poucos contornando a poltrona para ver quem estava sentado. Era seu primo com vestes brancas, as pernas estavam cruzadas e ele tinha um sorriso triunfante nos lábios.
- Estava te esperando Gabriela. – Seus olhos verdes brilhavam.
- O que está fazendo aqui? – Gabi fala confusa e olha ao redor. – Onde estamos?
- Em sua mente. – Ele apoia as mãos nos braços da poltrona e cruza os dedos fitando-a por cima.
- Em minha mente? Não entendo. – Ela fala confusa.
- Sim, a meses venho tentando entrar em contato com você e antes que você me interrompa – ele levanta uma das mãos para impedi-la de falar. – Eu não sou seu primo Guilherme. Meu nome é Vernon.
- Vernon? – ela arqueia a sobrancelha incrédula.
- Sim. Sou...como posso dizer seu antepassado. Antes das bruxas selarem meu poder por completo eu consegui fazer um feitiço para poder entrar em contato com meus descendentes através do sangue, ou seja, meu sangue.
- Bruxas? – ela solta uma risada – Isso é só mais um daqueles sonhos loucos que eu venho tendo a meses. – Ela balança a cabeça incrédula e sussurra para si mesmo – Isso é insano.
Irritado ele levanta da poltrona e se aproxima da garota. – Acha que isso é uma brincadeira? A anos eu venho tentando libertar a nossa família do infortúnio que aqueles nojentos dos bruxos fizeram. Por anos fomos massacrados pelos Evans e quando finalmente pudemos coloca-los no seu devido lugar aqueles malditos me selaram. – Ele grita e o rosto do rapaz estava tão próximo ao dela que por medo ela deu um passo atrás. Ele vendo a reação dela, passa a mão nos cabelos e sorrir. – Desculpa! Não queria me exaltar. – Novamente ele volta e senta na poltrona voltando a posição de antes. – Isso não importa mais, estamos libertos. O selo foi quebrado.
- Que selo? Eu ainda não entendo.
- Porque você não se senta? Eu vou lhe contar tudo o que precisa saber. – Ele a aponta para uma poltrona que a princípio não estava ali. A garota senta sem tirar os olhos do rapaz, por algum motivo ela não gostava dele, ela sentia dentro de si que ele a atacaria se desse as costas. Ele por outro lado sorrir mais uma vez e continua – Antigamente existia cinco linhagens de lupinos.
- Desculpe! Lupinos? – ela o interrompe.
- Sim, lupinos são como vocês chamam hoje em dia de lobisomens. Como eu dizia, antes existia cinco linhagens de lupinos. As famílias a séculos estavam em guerra para ficar no poder. Algumas delas fizeram alianças e foram eliminando uma linhagem de cada até sobrar apenas duas. Fritz e Evans. Uma bruxa chamada Valentina se apaixonou por um lupino chamado Arthurius e o lupino em questão era filho único e herdeiro da família Fritz. Os pais por sua vez não gostaram muito do romance dele com a bruxa, pois eles não queriam que houvesse misturas de sangue já que a anos vinha se mantendo pura. Então Arthurius fugiu com a bruxa e eles tiveram um filho o garoto por sua vez mostrou-se um talentoso bruxo e era o orgulho da mãe. Por esse motivo o garoto foi levado para a comunidade bruxa para aprender todo o tipo de magia com os de sua espécie.
"Ao completar dezessete anos, o que eles chamam de fase adulta o garoto teve a sua primeira transformação como lupino e todos ficaram surpresos com o ocorrido. Veja bem, uma vez sendo um lupino seus poderes como bruxos deveriam desaparecer pois a magia da maldição é muito mais forte do que a magia bruxa, mas isso não aconteceu. O garoto continuou sendo um bruxo e um lupino ao mesmo tempo. Os avós do garoto em questão viram aquilo como uma oportunidade única de tirar os Evans do poder e assim assumir o que eles presumiam que era seu por direito, mas os bruxos enxergaram aquilo como uma abominação e tentaram de todas as formas matar o rapaz."
"Houve uma batalha feroz entre as espécies e os Evans se juntaram aos bruxos para poder derrubar a família Fritz. Todos temiam o poder que o rapaz tinha. Você precisa entender que os lupinos têm um poder de regeneração muito elevada, claro que não cicatriza na hora, leva-se algum tempo dependendo do ferimento causado, mas o garoto por ter o poder bruxo tinha uma regeneração instantânea. Mesmo quando o acertavam em locais fatais o garoto não morria. O poder bruxo somado com o lupino fizeram dele imortal. Então a única forma de fazer com que aquela loucura toda acabasse foi encurralar toda a família selando o poder do garoto, tanto bruxo quanto lupino e matando a família do mesmo. Então o pobre rapaz se tornou mortal e um misero humano."
- E onde eu entro nessa história toda? – a garota o olha estarrecida com toda a história contada.
- Você é descendente do rapaz. Entenda, eles não o mataram. Uma vez que seu poder e a maldição foram selada eles acharam que o garoto não se tornava mais uma ameaça. Então deixaram que ele vivesse com os humanos tendo uma vida, como posso dizer normal. – Sua voz não era mais suave, mas carregada de uma raiva reprimida. – O selo que usaram no rapaz também foi passada para a sua descendência. Todos nasciam com o selo em sua alma. Mas essa noite o selo foi quebrado e uma geração inteira foi liberta. – Ele sorrir.
- Quebrada? Quem quebrou o selo? – a garota fala confusa.
- Uma bruxa é claro. Somente uma bruxa ou um bruxo poderia quebrar o selo e mais, teria que ser do clã Evergarden. É um dos clãs mais antigos, que foram também extintos pela própria comunidade bruxa para que nenhum deles quebrassem o selo. Mas veja que infortúnio eles tiveram, não é mesmo? Parece que um deles escaparam e eles não ficaram sabendo. Você não estava delirando essa noite Gabriela. O que você viu foi uma luta entre três lupinos e um deles te mordeu. O veneno da mordida fez teu lado lupino que estava selado despertar e um pouco da maldição fugiu pelo selo te dando força para tirar o lobo de cima de você. – Seus olhos brilhavam de excitação e ele sorria – O problema é que o selo fez bem o seu trabalho impedindo a maldição de se manifestar ao mesmo tempo que o veneno corria por suas vezes. Logo você ficou entre a rejeição da mordida e a transformação.
- Então a dor que eu sentia...
- Exato! – ele a interrompe. – Era você tentando se transformar para poder usar o poder da regeneração, já que você tinha sido mordida e o selo trabalhando contra a transformação. No final das contas você estava morrendo, mas graças a bruxa você está viva. Não só você como teus irmãos e primos.
- Quer dizer que afetou eles também? Porque?
- Porque vocês têm o mesmo sangue.
- Mas isso não afetou os nossos pais. – Ela fala com a lembrança dos tios saudáveis na recepção do hospital.
- Você é que pensa. O problema é que o selo deles já está...como eu posso dizer petrificado. Com o passar dos anos o selo fica mais forte. Todos sentiram pelo menos um incomodo.
- Então todos agora são lupinos?
- Não todos. Como eu disse o selo fica forte com o tempo. Somente os teus primos filhos da Susana e os teus dois irmãos tiveram o selo quebrado. Também não pode esquecer que somente teu pai e a tua tia Susana que vieram da linhagem dos Fritz, pois são filhos do teu avô. Por tanto os outros não fazem parte da linhagem pois são filhos do primeiro casamento da tua avó. – Ele continua a sorrir satisfeito que a garota tenha entendido tudo.
- Se eu tivesse morrido... – ela sente um aperto no peito.
- Todos teriam morrido também. – Ele assente com a cabeça.
O lugar fica em silêncio por alguns minutos. Gabriela tentava assimilar tudo que foi lhe dito por fim ela fala:
- Isso não é um sonho?
- Não, está acontecendo na tua cabeça.
- Mas como? Você diz que não é meu primo, mas se parece com ele e...
- Eu já lhe disse que não sou Guilherme. Vamos Gabriela você pode somar dois mais dois. No fundo você sabe quem eu sou. – Ele fala com tom irritado.
Ela o observa por um momento, então tudo fica claro, o rapaz a sua frente era o garoto metade bruxo e metade lupino. Como era possível? Ele havia dito que foi a muito tempo. Porque ele está ali então?
- Como é possível você está aqui? Não perdeu a imortalidade quando se tornou humano?
- Perdi. – Ele assente mais uma vez. – Como eu disse, antes de eles selarem meus poderes eu fiz um feitiço para que eu pudesse me manifestar para meus descendentes. Eu sou uma lembrança que corre nas suas veias para falar a verdade.
- Então você pode se manifestar para qualquer um de nós?
- Não! Eu posso me manifestar... – ele hesita e a olha atentamente e por fim continua – ...somente a você.
- Entendo. Eu sou uma lupina. – Ela solta uma risada.
- Qual o problema? – ele a olha intrigado.
- É que toda essa história é insana demais. Linhagem e bruxos. Até há algumas horas isso não existia e agora... – as palavras vão se perdendo.
- É bom saber que você entende tudo o que eu disse. Como prova disso você tem a marca da família Fritz tatuada no seu pulso. Ela só aparece quando você chega na fase adulta que é aos dezessete anos – ela olha para o seu pulso. Tinha esquecido da tatuagem que viu a pouco tempo, agora ela não estava mais vermelha. Era um círculo que era cortado por uma linha na diagonal da direta para a esquerda. - Agora eu preciso que você faça algo para mim.
- O quê? – ela o olha desconfiada.
- Gabriela você não é uma simples lupina. Você é como eu. – Ele inclina um pouco a cabeça e um sorriso brinca nos seus lábios.
- Como você? – ela fica surpresa com a declaração. – Sou bruxa também? É isso que quer dizer?
- Bem, não exatamente. Mas pode se tornar. Basta aceitar o sangue que tem.
- Aceitar o sangue? O que quer dizer?
Mas a garota nunca saberia o que isso significava pois ouviu um barulho alto. Fazia a sua cabeça latejar, ela percebe que estava com a boca entre aberta e a fechou rapidamente. Ao abrir os olhos avistou a sua irmã a encarando e quando viu que ela estava acordada esboçou um sorriso.
- Que susto você nos deu garota. – Ela se despreguiça na cadeira que está sentada.
Sua irmã não respondeu, continuou a encarar e uma expressão de preocupação passou pela face de Gabriela.
- Está tudo bem? – ela se inclina para a irmã.
- Pensei que iria morrer Gabi. Realmente pensei que iria morrer. – Gabriela se levanta e senta ao seu lado da irmã na cama e abraça-a com força.
- Nada vai acontecer com você enquanto eu estiver aqui.
- Eu é que deveria dizer isso. Afinal eu sou a irmã mais velha, não é mesmo? – e Carol esboça um sorriso. Quando a irmã se afasta ela nota algo no pulso da mesma e o segura para olhá-lo. – Você também? – Gabi não entende direito do que ela está falando até que nota a tatuagem que está no seu pulso.
- É...apareceu ontem à noite. – Ela observa a tatuagem passando o polegar por cima.
- Olha! – a irmã mostra o pulso dela e nota a mesma tatuagem. Então ele falara a verdade. – O que isso significa? Eu não tinha isso ontem.
Gabi morde o lábio, não sabe se conta para a irmã o que ela sonhou. Será que a irmã acreditaria nela? Poderia achar que ela estava delirando. Então ela deu de ombros. - Trevor está aqui. Ele passou mal também. Eu vou vê-lo já que você está bem, ainda não o vi. – Ela se levanta para sair. Carol segura a irmã para impedi-la.
- Trevor? – ela arregala os olhos.
- É, mas ele já está bem. Foi um sufoco ontem à noite. Pai veio aqui também para te ver quando estava estável. – Ela se inclina e beija a testa da irmã. – Já trago notícias dele.
Sra. Stines estava sentada na poltrona com os olhos fixos no filho mais moço. Passar a noite acordada no hospital deu a ela olheiras escuras. Seu irmão estava pelo outro lado devorando tudo que tinha pela frente e a Sra. Stines levanta a cabeça e abre um sorriso cansado ao ver a filha. O irmão com a boca cheia fala:
- O te conteceu com oxê?
- Trevor! – a mãe o repreende. – Dá para engolir primeiro? - Trevor olha com a cara feia para a mãe e engole a comida.
- O que aconteceu com você? Porque não está em uma cama de hospital também? – fala com a cara emburrada.
- Trevor! Pelo amor de Deus! É isso que tu desejas para tua irmã? Que coisa para se dizer. – Gabriela por sua vez abre um sorriso.
- Tive sorte maninho.
- Como está a Carol? – Sra. Stines pergunta.
- Ela está bem. Um pouco cansada. – A garota senta ao lado do irmão e como suspeitava também tinha o mesmo símbolo no pulso direito. O irmão percebe o que ela está olhando e sussurra no seu ouvido.
- Ela meio que surtou quando viu a tatuagem no meu pulso. Fez milhões de perguntas. Perguntou quando eu tinha feito essa tatuagem ou se eu tinha sido mordido por algum animal. Acredita? Falei para ela que não fazia ideia de como isso veio parar aqui. Você tinha que ver o olhar que ela deu, foi horripilante. Ela depois saiu e fez uma ligação para o titio.
- O que vocês dois estão cochichando? – mas antes que Gabriela abra a boca Trevor fala.
- Olha só? Ela também tem uma mãe. Briga com ela também, oras. Porque só briga comigo? – ele puxa o pulso da irmã e mostra para a mãe. Ela se levanta da cadeira e puxa o braço dos filhos com violência.
- Aí mãe! – Gabriela puxa o braço das garras da mãe. Que fita a filha muito irritada.
- Carolina tem uma dessa, não tem? – Sra. Stines pergunta com aspereza.
- Não sei! – Gabriela responde irritada. – A senhora me machucou. – Ela esfrega o pulso com a outra mão.
- Onde você estava Gabriela? – A mãe pergunta.
- Estava na casa de alguns amigos com o Enzo. – Gabriela responde com azedume.
- Enzo? O garoto da rua de baixo? Quantas vezes eu disse para você não andar com ele Gabriela. Pelo amor de Deus! Foi você, não foi? Você é que foi mordida.
- Eu não faço a mínima ideia do que a senhora está falando. Provavelmente está cansada demais e está falando coisas sem sentido. – O coração da garota estava acelerado. Seria possível a mãe saber alguma coisa sobre tudo isso? – Eu vou visitar os outros.
- Quando chegarmos em casa teremos que ter uma conversa muito séria. Com os três. – A mulher anda até a janela do quarto e aperta a mão. Gabriela olha para o irmão preocupada e o mesmo a olha atordoado e pela primeira vez ela consegue ouvir um coração bater acelerado, logo ela levanta a cabeça e percebe que o coração é o da mãe.
Ela vai para o quarto dos primos que também estavam internados e percebe que todos têm a mesma tatuagem, menos o Miguel. Sua pele branca não tem nem vestígio de que fora tocada. Então ela lembra do que Vernon falou que somente quem chegava a idade adulta que recebia a marca da família Fritz.
- Quantos anos você tem Miguel? – ela pergunta.
- Tenho quinze anos. – Ele fala distraído enquanto mexe no celular.
- Apareceu em você também? – Ian mostra para Gabriela o seu pulso e ela confirma mostrando o pulso para ele.
- Todos têm? – indaga Gui e ao olhar para o primo observa que ele tem todos os traços de Vernon. Guilherme é único ruivo na família herdando assim o cabelo do avô.
- Somente Miguel não tem. – Ela acena a cabeça para o primo mais moço.
- Alguma ideia? – Ian pergunta. Garota balança a cabeça e vai se retirando do quarto.
- Gabs! – ela olha para trás e Gui está sorrindo. – Já passou pela tua cabeça que isso possa ser algo mais profundo?
- O que quer dizer? – O rapaz levanta da cama e segura o braço da prima e afasta a mesma para que os irmãos não os ouçam e Ian os observa intrigado. – Pensa bem. Nós quase morremos essa noite e de repente aparece uma tatuagem igual no pulso de todos. Ultimamente tenho tido uns sonhos estranhos.
- Que tipo de sonhos? – Gabi encara os olhos verdes do primo. Será que ele vem sonhando com Vernon como ela? Mas ele mesmo tinha lhe dito que só aparecia para ela ou era mentira?
- Pode parecer loucura, mas a meses eu andei sonhando contigo. Eu fiquei surpreso quando te vi na festa ontem. Você sempre estava falando a mesma coisa. "Confie no seu próprio sangue". E as vezes você me esfaqueava. – Ao notar o olhar assustado da prima. - Eu sei é insano.
- Não sei Gui. Talvez você esteja somente muito cansado. É melhor você se deitar e descansar. Depois conversamos, está bem? Preciso ir. – Ela se despede com um aceno dos outros dois primos e se retira do quarto. O que diabos estava acontecendo? Como era possível Guilherme sonhar com ela e ela sonhar com ele? Mas Vernon ele...era como o primo. Sua mente parecia que iria dá um nó. Não bastava a reação da mãe, agora mais essa.
Não ocorreu nada durante o dia em que estiveram no hospital e todos foram liberados. Sra. Stines fez questão da Carol ir para casa com eles. Segundo a senhora, ela queria ficar de olhos em todos os filhos, Carol não protestou. Ela fez uma cara feia para a tatuagem da garota. Apesar de Carol não ser filha da Sra. Stines a mãe de Gabriela e Trevor terminou de criar a garota e por isso a tratava como filha também. Com tudo o que estava acontecendo Gabriela havia se esquecido completamente do amigo. Então soltou um gemido quando viu o rapaz sentado na escada da casa com uma cara preocupada.
- Quando é que vocês vão começar a namorar? – Carol sussurra no ouvido da irmã.
Gabriela a olha irritada. – Quantas vezes tenho que te dizer que ele é apenas um amigo? – sussurra de volta. A irmã dá de ombros e solta uma risada debochada.
- Continua dizendo isso para si mesma.
- Cuida da sua vida! - Gabriela sorrir para a irmã. Assim que ela sai do carro se aproxima dele e dá um sorriso sem graça. – Ei, está tudo bem?
Ele vai ao encontro da garota e olha para os pais da mesma e acena para a Sra. Stines que olha irritada para o rapaz. – Eu acho que ela nunca vai gostar de mim. De todo o modo, temos que conversar. Você está bem? – ele se afasta um pouco olhando para a garota dos pés à cabeça.
- Também acho que devemos conversar e para de ficar me olhando desse jeito, me deixa aflita. Agora pode me dizer porque diabos acordei em uma casa que cheirava incenso com ti e mais outros três. Fora que tinha uma garota que sangrava pelo nariz e tinha uns símbolos no chão. - Ela sabia o que tinha acontecido ali, mas queria confirmar para ter certeza de que tudo não passava de uma ilusão e por um momento se sentiu magoada com o amigo por ele não ter contado para ela sobre a licantropia.
- Shiu! Eu vou te explicar tudo. Eu prometo, mas preciso te perguntar. Você falou sobre isso com mais alguém? – ele a encara.
- Não, mas nem tem como esconder não é mesmo? Eu passei o dia todo ouvindo sobre essa porcaria aqui. – E mais uma vez ela levanta o pulso mostrando para ele a tatuagem. – Meus irmãos e dois primos também tem ela. – Ele arregala o olho. Então a bruxa não estava mentindo. – Enzo mamãe parece muito irritada, mais irritada do que o normal por conta disso aqui. Você tinha que ver a reação dela no hospital.
- Você vai ficar para jantar conosco. – Sra. Stines aparece na porta de entrada fazendo os dois se sobressaltarem. Os dois se entre olham e antes que ele pudesse responder Gabi responde.
- Não mãe, gente vai lá para lanchonete, ele veio me buscar para gente comer algo por lá.
- Eu não perguntei eu disse que ele vai jantar aqui. Eu já te disse Gabriela temos que conversar e já que ele está aqui e provavelmente é o responsável por tudo, vai participar da nossa reuniãozinha de família. – A mulher entra na casa, Gabriela e Enzo se entre olham mais uma vez.
- O que está acontecendo aqui? – Enzo pergunta.
- Eu não faço a mínima ideia. – Gabriela fala aturdida.
- Antes preciso de dizer...
- Eu sei. Sou uma lupina e meus irmãos e primos também. – Gabriela suspira.
- Como que...
- Depois eu te explico tudo. Agora vamos entrar porque os outros dois lá de dentro não sabem de nada e precisamos contar para eles.
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anairarodrigues-blog · 6 years ago
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Capítulo Dois
Alguém tocava uma campainha incessantemente. Trace se mexeu na cama com o barulho que soava em seus ouvidos e isso a aborreceu. Ela puxou o travesseiro e gritou:
- Vá embora! – colocou o travesseiro por cima da cabeça tentando bloquear o barulho que a campainha fazia, mas continuaram a tocar sem parar. Ela joga o travesseiro na porta do quarto e bufa.
    Já com o sangue pulsando forte com a raiva que sentia por alguém está estragando a sua noite de sono e ter varrido o sonho que estava tendo que por sinal era gostoso. Liga a luz da entrada e enraivecida abre a porta da frente e se depara com um indivíduo na sua porta. Ela encara o rapaz que está pelado na sua e fala irritada:
- O que você quer? Já viu que horas são? – ela cruza os braços. O rapaz em questão com o olhar preocupado se move para o lado para deixar aparente o que o trouxe até ali naquele horário. O olhar da mulher caí para a garota que está nos braços de outro rapaz mais jovem e seu rosto se contorce de desagrado, automaticamente ela puxa a porta para fecha-la, mas Clarke impede que ela feche a porta.
- Por favor! Não sabemos mais o que fazer.
- E o que eu tenho com isso? Se livre você das suas próprias sujeiras. – Ela abre um pouco a porta e se aproxima dele. – Você sabe o quanto é perigoso vim aqui sem me avisar. Eles já estão desconfiando de mim e a última coisa que eu quero é ser banida, agora faz um favor para nós dois. Vai embora! – e mais uma vez ela tenta fechar a porta, mas novamente é barrado por Clarke. Ela enche o pulmão para começar a gritar e é surpreendida com um murmúrio que sai dos lábios da garota que agora está com os olhos abertos e sua íris está esbranquiçada. A mulher cerra dos olhos fitando o rosto da menina e em um ataque de fúria ela grita – Como vocês ousam fazer isso? – ela levanta a mão e os três rapazes na sua porta caem no chão de joelhos. Como puderam ser covardes ao ponto de atacarem uma irmã sua.
    Enzo por sua vez quase larga a Gabriela, sua cabeça parece que vai explodir de tanta dor. Sente como se o cérebro estivesse cozinhando. Bruxa maldita. E para seu desagrado Gabriela é arrancada de seus braços pela bruxa levitando a mesma até a casa e assim que ambas entram a porta se fecha e dor acaba da mesma forma como iniciou. Ele corre e dá de ombros na porta da casa com toda a força que tem, mas ela não se move. Ele deixa a raiva que sentia correr pelo seu corpo fazendo com que seus olhos brilhassem dourados e mais uma vez joga todo o peso do corpo contra a porta. Clarke tenta segurá-lo. Ele não entendia, a sua melhor amiga estava ali dentro e ele precisava pegá-la de volta. Ele se vira para o outro rapaz que está parado olhando toda a cena e com uma fúria descomunal o ataca. Clarke vendo o irmão sendo atacado pelo rapaz corre tentando separá-los antes que outra briga sem procedentes comece.
- Você é o culpado de tudo. Você a mordeu seu desgraçado e agora aquela bruxa vai matá-la. – Ele tinha as mãos engatadas no pescoço do rapaz que pressionado contra a parede tentava se desvencilhar quase sem ar. Clarke toma uma pedra e bate com toda a força na cabeça do rapaz fazendo com que ele perca os sentidos.
- Está sendo uma noite agitada. – Clarke fala e solta a pedra no chão. Observando o rapaz caído no chão respira fundo e fecha os olhos. Ele sabia que a Trace ficaria chateada, mas não fazia ideia que ela os atacaria e tomaria a garota. Mais uma vez ele toca a campainha sem parar. Novamente a porta se abre e a mulher enfurecida saí e com um movimento rápido domina ambos os rapazes. – O que está fazendo mulher? – Clarke fala com as mãos na cabeça caindo de joelho no chão sentindo sua cabeça rachando.
- Eu é que pergunto o que diabos vocês estavam pensando em morder uma bruxa? – ela cessa a magia que estava usando contra os lupinos.
- Bruxa? Do que está falando? Ela não é bruxa. É amiguinha humana dele e acena a cabeça para o rapaz desacordado no chão. Trace toca na cabeça de Clarke e seus olhos viram deixando apenas um branco, o mesmo ocorre com Clarke. David fica atônito com toda a cena, nunca tinha encontrado uma bruxa antes e ele se sentia assustado. Então os olhos de ambos volta ao normal e ela encara o rosto de Clarke.
- Me convenceu! Agora entra e traga esse monte de carne com você. – Ela acena com a mão para Enzo. - Primeiro vou olhar a garota depois eu vejo o que posso fazer com seus ferimentos. – E entra.
    Os rapazes entraram e deixaram Enzo deitado no chão da sala. Clarke se move até a garota que está deitada em cima de uma mesa, ela murmurava alguma coisa e ele se esforçou para entender o que ela dizia. Parecia ser uma língua desconhecida, pelo menos nunca tinha ouvido nada parecido.
- O que ela está murmurando?
- Eu não sei! Já tentei entender, mas essa língua... – Trace olha para a garota e morde os lábios. – ...é uma língua antiga. Somente os cincos anciões sabem.  – Ela olha para Clarke preocupada. – Eu não entendo. Ela foi mordida a pouco tempo não era para ela está nesse estágio da rejeição ainda.
- Eu fiquei assustado para falar a verdade quando a vi desse jeito. Em todos esses anos nunca vi nada parecido.
- Muito menos eu. – Ela olha para Enzo. – Mesmo ela sendo uma bruxa isso não deveria acontecer, não de forma tão rápida. Para falar a verdade eu não sei nem o que fazer. O negócio é que ela não é bruxa e nem lupina. Eu dei uma olhada na cabeça dela. Só que ela está demonstrando traços bruxos e... – Ela hesita.
- E...? – Clarke tenta estimular ela a continuar falando.
- Ela também demonstra traços lupinos. Veja! – ele puxa o braço da garota e mostra um desenho se formando no pulso da mesma. Não estava completo, mas lá estava o carmesim da tatuagem sendo formado na pele da garota. Clarke olha o próprio pulso e observa a sua tatuagem ele solta um riso entristecido lembrando de quando foi mordido e a aquele grifo queimou na sua pele com uma cor carmesim. – Nunca vi algo do tipo. Normalmente bruxos perdem seus poderes quando são mordidos a magia da maldição é muito mais forte do que a magia dos bruxos.
- Como assim? – o rapaz ergue a cabeça e fita a mulher a sua frente.
- É uma história muito antiga. Nunca te contaram como foi que tudo começou? Como que passou a existir os inferis?
- Não. Nunca soube.
- Bom, começa com uma briga entre duas deusas que se apaixonaram pelo mesmo homem e para o azar do rapaz ele era humano. – Ela dá um sorriso entristecido. – Diana a deusa da lua, da caça e castidade com raiva pelo rapaz ter escolhido a sua irmã Cybela a deusa da natureza conhecida também como a mãe dos deuses, lançou uma maldição no pobre homem para que ele não pudesse se encontrar com a irmã. Nesse caso ele se tornaria um animal bestial feroz e somente na lua cheia ele teria a oportunidade de se tornar humano limitando assim o encontro de ambos.
    “Cybela não aguentando mais ser limitada a encontrar quem ela amava dotou suas sacerdotisas de magia para que elas pudessem assim reverter a maldição ao seu favor.”
- Porque ela mesma não reverteu? É uma deusa, oras. Ela mesma podia tirar a maldição do homem. – Clarke fala indignado.
- Ela não podia. Mesmo sendo deusa, existe lei entre eles. Uma vez que um deus amaldiçoa um mortal outro não pode desfazer. É uma lei absoluta entre eles. – Clarke quis interrompê-la, mas Trace levanta a mão impedindo. – Clarke não estamos aqui para discutir sobre o que os deuses podem ou não. A questão é que no final das contas as sacerdotisas fizeram o que a sua amada deusa pediu, fazendo com que ele se tornasse humano mais uma vez, mas seria obrigado a se tornar um animal bestial na lua cheia e uivar pedindo misericórdia da deusa Diana. O problema disso é que não saiu exatamente como Cybela queria, seu amado não tinha um temperamento muito bom. Então sempre que ele ficava com raiva se descontrolava e a besta interior vinha para fora. Somente com o tempo ele pode dominar o seu jeito genioso, mas já era tarde demais, Cybela o abandonara. Em todo o caso, com uma maldição onde teve a mão de duas deusas ela se tornou poderosamente mágica.
- Eu não consigo acreditar nessas histórias fantasiosas.
Trace solta uma risada debochada. – Assim como não acredita na existência de lobisomens, não é mesmo? Só que você acabou se tornando um. – Ela dá a costa para ele e começa a andar até uma estante onde tem alguns livros surrados. Ela não vê a careta que o rapaz dá.
- Então quer dizer que no final das contas todos fomos amaldiçoados por causa de uma briga entre deuses e seus egos? – Enzo que já tinha voltado a si fala baixo. Ele está sentado e todos os presentes dão um salto assustados.
- É por aí. – Ela puxa um livro grande e de capa marrom. Estava bem desgastado e vai na direção de Enzo. – A quanto tempo conhece a moça?
- Minha vida toda praticamente. – Ele suspira.
- Preciso olhar sua mente. Preciso saber mais sobre ela. – Ela se senta de frente para o rapaz e toca na sua testa como fez antes com Clarke e os olhos de ambos viram para dentro. Ela vê a garota correndo, comendo, rindo, conversando e chorando. Mas nada que desse sinal de que ela era um inferi. Ela retira a mão da cabeça do rapaz um tanto decepcionada.
- Está na hora da mágica rapazes. Clarke preciso que você pegue para mim as velas, sabe onde está. E pegue umas roupas para vocês no outro quarto...deve servir em vocês. – Ela pega um giz branco e começa a fazer um desenho no chão. Parecia como um floco de neve, mas nas pontas tinham uns símbolos estranhos. – Enzo preciso que você a traga até aqui e deite aqui no meio, por favor.
- Como sabe meu nome? – ele indaga. Se levanta e pega Gabriela nos braços e a deita com cuidado no chão.
- Eu entrei na tua cabeça. Sei tudo sobre a tua vida agora. – ela sorrir e vai até Clarke que volta com as velas na mão. – Você aí! Mova o rabo daí e venha até aqui. Você é que fez a cagada e tem que pelo menos ajudar. – David se assusta com o súbito chamado e vai até a mulher um tanto nervoso. – Ele é parecido com você, mas uma versão ingênua. – Ela fala para Clarke e seus olhos varre todo o seu corpo nu. – Eu poderia me acostumar muito fácil com todos vocês me rodeando. – Após dizer isso solta uma gargalhada.
    Depois de todos os preparativos ela fez cada rapaz sentar ao redor da garota. Um em cada ponta, Enzo estava sentado dentro de um círculo próximo aos pés, Clarke estava sentado do lado direito também dentro de um círculo e David do lado esquerdo. Todos os círculos se interligavam até um outro que estava no topo da cabeça da garota onde Trace estava sentada.
- Preciso que vocês fiquem quietos. Se eu precisar vocês terão que deixar seus olhos brilharem. Como eu expliquei antes, a magia da maldição dos lupinos é mais forte que a de um bruxo. Então vou precisar drenar a magia que está em vocês, mas não fiquem empolgados não vão se tornar humanos não existe cura para a licantropia. Vocês apenas ficarão cansados e desmaiarão se eu drenar demais, também não se preocupem, com o poder de regeneração que vocês têm isso não vai mata-los. Todos assentiram com a cabeça.
    Trace fechou os olhos e começou a murmurar uma canção. Pelo menos era o que parecia. Então subitamente as velas que estavam distribuídos se acendem, os rapazes fitam a bruxa avidamente. Ela abre os olhos e a íris está esbranquiçada, ela olha para a garota e com uma voz rouca fala:
- O herdeiro irá se levantar mais poderoso e mais terrível que no passado. Ouçam a voz do seu rei quando vos chamar. Sua ira caíra sobre todos aqueles que o renegarem e se vingará daqueles que tentaram se livrar de seu sangue. – em seguida sua cabeça tomba para baixo e fica assim por alguns segundos. Vagarosamente sua cabeça é erguida e Trace parece um tanto desorientada, fecha os olhos e balança um pouco a cabeça tentando afastar a confusão que ficou em sua mente. Ao olhar para os rapazes todos estão com um olhar intrigado a encarando. Trace toma uma adaga pequena onde tinha algo gravado na lâmina, ela tira um pouco do sangue da garota e coloca dentro de uma vasilha de barro. Depois de citar mais alguma coisa em uma língua incompreensível, ela bebe o sangue da garota. David faz uma careta de nojo ao ver ela ingerir o líquido preto, pois o sangue da garota estava contaminado pela rejeição da mordida. – A garota é uma lupina. – A bruxa olha mais uma vez para a garota que agora está com os olhos fechados e em silêncio. – Uma lupina nascida.
- Desculpe? – David pergunta. – Lupina nascida? O que isso significa?
    Ela olha indignada para Clarke. – Você não conta as coisas para o seu querido irmão? Como é possível vocês não saberem sobre a própria espécie?
- Existe duas classes de lupinos. Mestiços e nascidos. – Interrompe Enzo - Lupinos mestiços é todo aquele que se torna lobo através de uma mordida. Já os nascidos, bem, o nome já diz. Eles já nascem com a licantropia e quando chegam na fase adulta tem a primeira transformação. – Enzo após explicar olha para a garota que está desacordada. Quem diabos era aquela garota que ele conhece a vida toda e que agora descobre que desconhece tudo sobre ela? Mas agora fazia sentido o que ele tinha visto. A força sobre humana que ela exerceu para arremessar o lupino que lhe atacava.
- Enfim, o lado da licantropia está selado. E é um selo muito antigo para falar a verdade, nunca tinha visto algo assim. Foi tão bem feito que a garota é humana. Mas acho que a mordida que ela recebeu deve ter despertado furiosamente o seu lado lupino adormecido, mas o selo agora está tentando sufocar a maldição. O problema é que o processo está matando a garota e provavelmente não somente ela.
- Como assim? – Enzo fala olhando a bruxa atordoado.
- Não é um selo comum, mas já ouvi falar dele uma vez a muito tempo. Segundo a história bruxa foi criado um selo tão poderoso que ele podia acabar com uma linhagem inteira de lupinos e foi isso que fizeram com uma linhagem antiga chamada Fritz. Bem, até então isso era uma lenda...até hoje. – Os olhos da bruxa brilham de excitação. – Se o que eu achar estiver certo essa garota pode descender dessa linhagem. Segundo o que dizem eles tiveram que selar um lupino que era tão poderoso que ninguém conseguia parar. O jeito foi selar a maldição dentro dele e ele se tornou uma pessoa comum. Bem, os anciões nos contam que mesmo depois de ele ter filhos seus descendentes também nasciam com a maldição selada então pararam de monitorar a família e assim foi perdido de vista os Fritz. Para a história eles foram extintos.
- Isso é loucura, você mesma disse que não tem cura para a licantropia. – Clarke a indaga.
- E por algum acaso a garota está curada? Não ouviu o que eu disse? A maldição ainda existe, apenas está selada. De qualquer forma agora provavelmente não somente ela está sendo afetada pela mordida como também seus parentes, ou seja, todos que compartilham do mesmo sangue dessa garota deve estar morrendo neste exato momento. Agora façam-me um favor e comecem a se transformar, deixem apenas os olhos brilharem. Não quero ninguém quebrando nada aqui dentro. Precisamos salvar algumas vidas. – falou impaciente.
    Clarke hesitou, mas com o olhar severo da bruxa ele obedeceu, fechou os olhos e sentiu um calor subir por todo o corpo. Ao abrir os olhos estes não estavam mais castanhos e sim dourado brilhante. Por um momento a bruxa fitou seus olhos perdendo-se em pensamentos. O que ela iria fazer era errado e se descobrissem que ela quebrou o selo ela seria condenada à morte. Mesmo assim valia apena correr o risco. Com certa dificuldade desviou os olhos dos dele e os fechou. Começou a recitar o encantamento para quebra de selo e o fogo que ainda dançava nas velas se intensificou.
    Os rapazes sentiram uma dor aguda. Era como se alguém tivesse tirando uma parte de sua alma, a bruxa já com os olhos esbranquiçados ainda recitava a canção mais alto a cada segundo. Gabriela arfou e as suas veias que estavam azuladas sumiram e o seu tom de pele voltou ao seu normal. Sua respiração já não estava ruidosa. Enzo sentiu um alivio percorrer todo o seu corpo, mas não conseguia ficar consciente por muito mais tempo. Todos tombaram para o lado e a bruxa que ainda recitava a canção estava sangrando pelo nariz. Finalmente as velas se apagaram e ela aos poucos foi perdendo a consciência tombando também, mas não antes de ver Gabriela se levantar e olhá-la com os olhos brilhantes. Só que não eram vermelhos como dos lupinos nascidos e sim roxo.
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anairarodrigues-blog · 6 years ago
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Capítulo Um
Era uma noite fria e sem estrelas no céu. Havia um silêncio quase palpável, com toda a certeza algo estava fora do lugar naquela noite. Podia-se visualizar a neblina envolvendo toda a cidade e a mesma recebia como uma velha amiga que a muito tempo não se viam. Todos ali dormiam como se nada de errado estivesse ocorrendo, até que um grito de socorro quebrou aquele silêncio que se instalara em uma das ruas da cidade. Uma garota ali perto corria com todas as forças que conseguia reunir, mas ninguém a ouvia. Ela por fim desiste dos gritos, percebe que não adiantava gastar as suas energias que já não as tinha em abundância. Ela vira uma rua e de longe visualiza com muita dificuldade um beco e lá entra tentando despistar quem a estava perseguindo se escondendo atrás de uma caçamba de lixo.
    O peito subia e descia fazendo seus pulmões queimarem com o ar frio, não era acostumada a correr. Não era o tipo de pessoa que faz exercícios físico, por isso, seu corpo todo gritava em protesto por ser obrigado a suportar essa corrida repentina. Seu coração parecia que soltaria do peito de tanto que estava acelerado, ela fecha os olhos rezando para que seu perseguidor passe direto. Ela tenta buscar em sua cabeça o motivo pela qual ela estava sendo perseguida, mas não conseguia lembrar nem quando começou a correr e não lembrava quem a perseguia, apenas sabia que estava sendo perseguida. Ela ouve passos rápidos se aproximando cada vez mais, então ela abre os olhos e deita no chão para poder ver melhor se ele iria passar direto por debaixo da caçamba de lixo. Os passos param repentinamente e por um momento a garota pensa em correr, mas ao olhar para trás percebe que o beco era sem saída. Algo típico de um filme ela pensa. Volta a sua atenção para a rua e sente que alguém lhe ergue pelo moletom, na sua frente estava Enzo seu melhor amigo.
- O que está fazendo aqui a essa hora da noite? – ele a questiona. Rapidamente ela tampa a sua boca e em um movimento rápido o pressiona contra a parede e o faz abaixar. Ele tira a sua mão da boca e aborrecido fala – Porque está agindo desse jeito? Pode me explicar?
- Eu estou me escondendo ou você não percebeu? Tem alguém me perseguindo.
- Te perseguindo? Do que está falando? Não tem ninguém aqui por perto. – Ele balança a cabeça e se levanta. – Eu estou indo para casa. Vem! Eu te levo até a tua, não moramos muito longe um do outro. Só uma quadra. – E estende a mão para levantá-la.
- É que...eu não sei. Você tem certeza que não viu ninguém? – fala um pouco constrangida e aceita a sua mão para ficar de pé. Ele a puxa e dá um sorrio torto. Então ela sente uma dor fina que vai aumentando gradativamente na barriga, ao olhar para baixo ela ver uma faca fincada e o sangue se espalhar ao redor. Ela ergue a cabeça e já não era mais o seu amigo e sim um homem a fita-la com uma certa curiosidade com a cabeça inclinada como se esperasse algo e logo um sorriso brota nos seus lábios como se deliciasse com a expressão do rosto da pobre garota.
- Quando você irá aprender a não baixar a sua guarda? Estou um tanto decepcionado. Quantas vezes eu já lhe disse que você só pode confiar no teu próprio sangue? – ele larga a faca e se afasta tendo assim uma visão da garota por inteiro. Ela sente uma de suas pernas falhar, então ela vem ao chão de joelhos e ela sente o gosto de ferrugem em sua boca. Sua visão embaça, mas ela fita o homem a sua frente. Então com muita dificuldade ela pergunta:
- Quem diabos é você?
- Eu? – o homem se aproxima mais uma vez da garota. Ela percebe que ele não é mais velho que ela, seus olhos verdes brilham de excitação e o sorriso fica mais largo. Ela consegue sentir o hálito quente em seu rosto. – Eu sou você.
    Subitamente a garota abre os olhos e encara o teto por alguns segundos, ela leva uma de suas mãos a sua testa e percebe que está suada. Passa a mão na testa, levanta a mesma até a altura dos seus olhos e percebe que ela está tremula. Era apenas um sonho. Ela solta uma risada sem emoção. Já tinha perdido as contas de quantas vezes sonhara com aquele homem, mas dessa vez conseguiu dá uma boa olhada no seu rosto. Era jovem, uns anos mais velho. Ela não saberia dizer. De uma coisa era certa, ele era alto seu cabelo ruivo se destacava com a sua pele branca. Gabriela fecha os olhos tentando recordar da sua fisionomia, mas tudo está ficando apagado.
    O dia estava nublado Gabriela não tinha a intensão de sair de casa, mas a chegada inesperada da sua tia e seus três primos simplesmente agitou toda a família.
    Eles eram parentes por parte de pai de Gabriela, fazia anos que eles não se viam. Para falar a verdade ela nem lembra de como seus primos são realmente, pois a última vez que brincaram juntos eram apenas crianças. Pelo menos ela se recordava mais ou menos do mais velho que por sinal tinha quatro anos a mais que ela e foi embora ainda muito novo, então para Gabriela era uma chatice ter que ir pra essa reunião de família, coisa que ela não fazia a muito tempo. Para ser mais preciso Gabi não gostava da família do pai, estavam o tempo todo em conflito. Não conseguiam ficar reunidos que começavam a brigar e a se ofender e por esse motivo a garota odiava ir para esses almoços.
    Então a própria foi obrigada a entrar no carro e ir para um almoço que na sua cabeça seria um outro pesadelo. Isso a faz pensar no sonho que teve noite passada. Ela ouvia o pai falar, mas a sua cabeça estava tão cheia que ela não conseguia entender muita coisa até que ela é cutucada pelo irmão e a sua atenção volta para o pai que diz:
- Não presta nem atenção no que eu estou falando. Essa garota parece que gosta de me aborrecer. – Ele olha pelo retrovisor e percebe que finalmente conseguiu atenção da filha. - Eu não consigo entender o porquê você fica irritada sempre que vamos almoçar com a minha família. Ela também é a sua. Quando chegar lá por favor seja educada e sorria pelo menos. Pode fazer isso? – o Sr. Stines fala muito irritado. Ele é um homem de 1,80m de altura com olhos cor de mel e com uma paciência limitadíssima. Quando se trata de sua família o homem se torna uma fera, ele os defende com tudo o que tem e não consegue enxergar os defeitos que cada membro desta tem.
- Eu já disse, não gosto desses almoços. Acho aborrecidos. Eles sempre brigam! Não conseguem ficar em harmonia. Enfim, não precisa se preocupar eu não sou mal-educada. Sei fingir bem. – Gabriela revira os olhos.
- D�� um desconto Gabriela. Sua tia e primos chegaram ontem e todos estão ansiosos para revê-los. – Sra. Stines rebate irritada também, pois o marido já havia reclamado tanto de manhã cedo que ela se via a ponto de explodir de tanto estresse. E por falar em estresse esse é o único membro da família que nenhum dos filhos gosta de tirar do sério, apesar de ser uma senhora de baixa estatura Sra. Stines sabia muito bem como intimidar alguém, mesmo sendo alguém como seu marido. Vendo o perigo se aproximando o irmão da garota pergunta:
- Eu não lembro deles. Como eles são? – Trevor olha para a irmã. Ele é um garoto alto, mais alto que o pai. Todos sempre ficam surpreso quando constatam que ele é mais novo que Gabriela, pois sua aparência parece dizer ao contrário. O rapaz por sua vez era a cara do pai por inteiro e o que mais a Gabriela gostava era o fato do irmão ter a pele morena e os olhos verdes. Uma mistura do pai e da mãe que deu muito certo. Abençoado seja a genética algumas vezes.
- Você não lembra porque era um bebê e para falar a verdade nem eu lembro direito. Só lembro do Guilherme. Até onde eu sei ele era... – ela frange o cenho com a lembrança do sonho mais cedo. Ela balança a cabeça como se estivesse tentando espantar uma mosca muito irritante somente para se desfazer do pensamento.
- Ah! Mas eles não são três? Guilherme, Ian e Miguel. – Trevor conta nos dedos.
- Sim! Ian tem a idade da Gabi e o Miguel tua tia teve ele lá. Então não sabemos exatamente como ele é. Só o vimos por fotos e ele era um bebezinho. Agora deve ter quase a tua idade. – diz a Sra. Stines.
- Chegamos! – Sr. Stines abre um largo sorriso ao ver um de seus irmãos parado na calçada junto com a família. Provavelmente acabaram de chegar também. – Olha quem já está aqui. Victor! – ele grita para o irmão que também abre um largo sorriso ao vê-los.
- Minha nossa! Está ficando velho meu irmão e... – Ele olha para dentro do carro e ver Gabriela e Trevor. – Como estão enormes os teus meninos. Parece que os vi ontem quando eram pequenos.
    Essa era mais uma das coisas que irritava a Gabriela. Sempre que aparecia os tios ficavam tentando dizer o quanto ela tinha crescido e perguntava sobre os namorados. Outra coisa que ela achava aborrecido e ao mesmo tempo estranho, é que tinha primos muito mais velhos que ela. Sr. Stines era o filho mais moço de oito irmãos, cinco mulheres e quatro homens, porém nem todos são do mesmo pai e da mesma mãe. Somente a tia que chegara de viagem é que era irmã de pai e mãe. O restante eram filhos do primeiro casamento da avó de Gabriela, que por sinal era a sua pessoa favorita. Gabi amava a velha Helena Stines, para a garota não existia melhor pessoa que aquela senhora e só de vê-la seu coração se aquecia.
    O dia correu de uma forma tolerável para a garota. Esqueceu por um momento o fato de estar com os familiares do pai e ficou todo o almoço próxima a avó. A tia e os primos chegaram após o almoço. Pelas conversas que rolava durante a churrascada a tia Susana havia se separado do marido, pegou o homem a traindo e veio embora com os filhos para a cidade natal. Família estava revoltada com a audácia do ex-marido, queriam tritura-lo e pela primeira vez não houve briga. Todos estavam unidos em um único propósito, confortar a irmã.
    Com a chegada da tia Susana, todos ficaram alvoroçados. Gabriela indiferente aquela alegria não moveu um musculo para reencontrar os parentes. Pelo contrário saiu de fininho para o mais longe possível daquele tumulto. Até que para seu horror ela vê um homem ruivo se aproximando dela, seu coração começa a acelerar o pânico se instala em todo o seu corpo. Nos lábios do homem se forma um sorriso e ele pergunta:
- Gabs, está tudo bem? – seu sorriso vacila ao ver pânico nos olhos da prima.
Ela por sua vez se recompõe do choque. – Ei, está tudo bem. Co...como está? Foi boa a viagem? – ela contempla seu rosto. Guilherme, filho mais velho da tia. Era igual ao homem que andou lhe atormentando durante a noite. Alto, ruivo, pele branca quase translucida e os olhos verdes. Como poderia ela está sonhando com o primo se nem ao menos sabia exata aparência do rapaz?
- Foi uma viagem tranquila para falar a verdade. Não teve turbulência, mas a mamãe passou a viagem chorando. – Ele vira de costa para olhar a mãe que estava sendo abraçada pela avó e os irmãos. – Ainda é muito difícil para ela. – Ele volta a olhar para a prima. – Eu não queria voltar, mas eu vim por causa dela. Queria estar ao lado dela. Tem certeza que está bem? Você dá a impressão que viu um fantasma.
- Ah! Eu estou ótima. É que fazia tanto tempo que eu não lembrava mais de como você era. – Gabriela sorrir sem graça e abaixa a cabeça. Não conseguia ficar olhando para ele, a lembrança de estar sendo esfaqueada por ele ainda era muito recente em sua mente. Ele solta uma risada debochada.
- Bom, eu lembro de você. Um pouco. Não muito, claro. Eu vou lá falar com os outros. Se cuida. – Ele se vira e vai em direção dos outros parentes. Gabriela levanta a cabeça e o observa com mais atenção. Algo nele por algum motivo lhe desagrava, talvez fosse por conta dos sonhos noturnos. Ela não sabia dizer ao certo.
    Depois de um tempo todos se despediram e cada um foi para a sua casa sem nenhuma ocorrência. Nenhuma briga. Seria um recorde pensou a garota que agora estava se arrumando para sair. Já era noite e hoje era o aniversário do seu melhor amigo e já haviam combinado de que iriam comer algo fora com outros amigos em comum.
    Gabriela era um tipo de garota que não tinha nada de extraordinário. Graças a genética do pai ela não saiu uma mulher baixa, tinha lá seus 1,70m de altura. O cabelo era castanho escuro, isso ela puxou da sua mãe. Infelizmente não herdou os olhos da família do pai. Diferente da irmã mais velha que tem os olhos azuis. Sim, Gabriela tem uma irmã mais velha que não morava com eles. Ela era filha do primeiro casamento do pai, a mãe da garota morreu de câncer quando ela era mais nova e depois de dois anos o Sr. Stines se casou com a mãe de Gabriela. Ela gostava de dizer que era o oposto da irmã, já que a outra tinha os cabelos castanhos claros e quase transparente de tão branca, já Gabi era um pouco mais morena e por mais que sejam de mães diferentes ambas se pareciam muito. Era a cara uma da outra.
    - Feliz 20 anos! – ela dá um largo sorriso para Enzo, um cara um pouco mais alto que ela e seu melhor amigo. Enzo tinha a pele morena avermelhado. Gabriela gostava de dizer que ele tinha a pele moreno jambo-rosa e isso fazia o rapaz cair na gargalhada. Enzo já estava esperando a garota não fazia muito tempo e vendo a amiga se aproximando ele abre um largo sorriso.
- Obrigado Gabs! Agora sou um ano mais velho que você. – Ele a abraça e ela retribui o abraço e começam a caminhar.
- Não por muito tempo. Logo estarei fazendo meus 20 também. Então não fique se achando tanto. – Ele ri. – Pronto para dá pt essa noite?
- Mais que isso. Estou pronto para qualquer coisa. Ninguém me para essa noite. – Ele passa o braço no ombro da garota e solta um uivo.
- Eu ainda não sei porque ando contigo. – Ela desvencilha do seu abraço rindo. – Já falou com Vanessa hoje ou ainda estão brigados?
- Terminamos. – O sorriso do rapaz desaparece. – Ela terminou para falar a verdade. Ela tem ciúmes de você. – Ele sorrir sem graça. Gabi revira os olhos e balança a cabeça ao mesmo tempo.
- Logo de mim. Estou pensando seriamente em cortar meus laços com você. – Ela dá um soco no braço de Enzo e sorrir para ele.
- Nada, ela que se foda. Eu não vou ficar correndo atrás. Mas e você? Como foi hoje lá com a família Stines? – novamente ele passa o braço no ombro da garota e dessa vez a garota passa o braço pela cintura do rapaz.
- Você não vai acreditar. Eles não brigaram e... – E mais uma vez ela lembra do sonho e do primo. – Se lembra aqueles sonhos estranhos?
- Sim, que você está sempre sendo perseguida por um homem? – ele olha de canto para ela.
- Esse mesmo. Essa noite eu vi o rosto dele. Vi como ele era, sabe? E quase cai para trás quando descobri que vim sonhando todas as noites com meu primo me perseguindo. – Ela morde o lábio pensando sobre a dor que sentiu ao receber a facada. – Ele me matava...quer dizer ele me esfaqueava.
Enzo arqueia a sobrancelha. – Sonhando com teu primo te esfaqueando? Mas qual deles?
- O que chegou hoje de viagem. Ele se chama Guilherme. Por algum motivo ele não me agrada.
- Deve ser por conta do sonho. – Ele a solta, pois chegaram no local combinado. Ele abre a porta da lanchonete e ambos entram. Logo avistam os amigos que estavam os aguardando e caminham até eles.
    Durante uma parte da noite Gabriela se esqueceu completamente do sonho e do primo. Ela estava ali com os parceiros se divertindo e comemorando o aniversário do seu melhor amigo. Depois da lanchonete, todos concordaram em ir para uma boate tomar algumas bebidas e dançar. Ela tinha a ideia de ir e voltar com o amigo. Bom, era esse o plano a princípio, mas como o amigo estava solteiro novamente acabou se enroscando com uma garota por lá. Gabi se divertia com isso e se sentia aliviada pelo amigo está curtindo a noite. Afinal de contas, era seu aniversário e nada melhor que uma noite quente com uma garota bonita.
    Na volta a ideia de ir sozinha parecia tranquila, mas já era três horas da manhã e estava bastante frio aquela noite. Ela se encolheu um pouco e continuou andando. Ela estava um pouco tonta devido ao álcool, mas satisfeita. Ao virar a esquina ela estagna. Foi exatamente nessa rua que ela estava sendo perseguida e mais à frente ela viu o beco. Essa noite estava como no sonho, sem estrelas, mas a lua estava iluminando o caminho. O medo aos poucos foi se instalando dentro da garota e a mesma se forçou a andar o mais rápido que podia, para poder sair daquele lugar.
    Chegando perto do beco ela houve um barulho, parecia uma lata sendo chutada. Ela mais uma vez trava. Sua boca vai ficando cada vez mais seca e o medo já instalado faz com que ela fique paralisada. Por um bom tempo ela fica olhando para o beco até que pula na sua frente um gato. Ela solta um grito.
- Que susto! Gato filha da puta! – ela dá um ponta pé no gato errando por pouco. Ela solta uma risada nervosa e ao mesmo tempo um alivio percorre o seu corpo. No que ela estava pensando? Que o primo viria atrás dela para matá-la? Que coisa mais absurda. Quando a garota finalmente se acalma e já começa a andar ela ouve um rosnado. Novamente ela para e volta alguns passos olhando pro beco, já não estava mais com medo.
O som do rosnado aumenta conforme vai se aproximando da garota, ela se afasta e para no meio da rua. Última coisa que ela queria no momento era ser mordida por um cachorro, ela olha para o final da rua e imagina se consegue correr mais rápido que ele, mas devido ao álcool não acha que seja possível. Ela era um desastre correndo sóbria, imagina bêbada. Abruptamente o rosnado cessa, então a sua atenção que estava no fim da rua volta para o beco e de repente algo enorme é arremessado na sua direção ela cai e sua cabeça bate no chão com força. Estrelas explodem na sua vista com a dor aguda que sente atrás da cabeça.
- Mas que merda! – passa a mão atrás da cabeça esfregando e solta um gemido de dor. Então ela volta a olhar para o beco e para seu espanto ela ver um animal enorme se erguendo nas duas patas traseiras. Seu pelo era escuro, os olhos eram de um dourado brilhante e a fitava. Na hora ela queria gritar, mas em algum momento a sua voz lhe abandonou. O medo que já não tinha, voltou maior e mais feroz, até que ele corre na direção dela e um segundo animal surge pulando na frente da garota se erguendo nas patas traseiras de costa para ela, seu pelo era um tom mais claro que o do primeiro e ele solta um rosnado alto.
- Gabriela corre! – um grito chega até o ouvido da garota. Ao olhar para o lado ela ver seu amigo correndo em sua direção, articulando com as mãos. Ela não consegue se mover de imediato, mais uma vez ela olha para o que está a sua frente e eles se enfrentam com ferocidade saltando um em cima do outro. Suas mandíbulas se chocam e suas garras rasgam suas peles, ela finalmente sente a sensibilidade das pernas novamente e se levanta com rapidez. Ela começa a correr o mais rápido que pode então em algum lugar ouve-se um uivo, a garota não se atreve a olhar para atrás continua a correr mesmo com a suas pernas protestando e o animal de pelo mais claro é arremessado em sua direção passando por cima de sua cabeça, derrapando um pouco mais a frente e ela para apavorada. Seu pulmão começa a queimar com a respiração que sai entrecortada, essa sensação não lhe era estranho e isso só piorava mais a situação. Ela olha para trás e para o seu horror um terceiro animal está lutando com o que ficou atrás ela olha alucinada para todos os lados e não vê mais o seu amigo.
- Corre! – alguém fala com dificuldade atrás da garota. Ela se vira e vê um rapaz cambaleando na sua direção, estava muito ferido. – Continua correndo. Não para. – Ele tosse e sangue sai de sua boca. O rapaz cai de joelhos no chão e se apoia com as duas mãos e ela corre até ele. Tremendo ela ver que sua costa está com a carne rasgada ela tenta ajuda-lo a levantar.
- Vem! Vamos te tirar daqui. Se apoia em mim, acha que consegue andar ou correr ou qualquer coisa? – ela pergunta se agachando e passando um dos seus braços no seu ombro.
- Não! Vá, se salve. Ele não sabe o que está fazendo. Ele perdeu o controle. Eu vou ficar bem. - Ele arregala os olhos e a empurra com toda a força e ela mais uma vez caí no chão.
O animal crava suas garras na barriga do rapaz e o suspende como se fosse um boneco de trapos e o olho do rapaz brilha com o mesmo dourado que o do animal. Ele abre a sua boca e seus dentes estão diferentes também pontiagudos como de um animal. Ele grita de dor e mais uma vez é arremessado para longe e dessa vez ele não se mexe mais. Está morto pensou a garota e serei a próxima, mas ela não iria se entregar tão fácil. Ela se pôs de pé e começou a correr novamente. Ela sabia que era só uma questão de tempo até ele alcançá-la é então que ela sente um dor que ultrapassa qualquer coisa que já tenha sentido na vida. O animal está com a mandíbula no seu ombro e ela sente uma corrente elétrica passando por todo o seu corpo. Em uma fração de segundos ela agarra com as duas mãos o pelo do animal e com força o arremessa para frente.
Ela cai de joelhos sentindo seu corpo todo queimar era como se um líquido quente passasse no lugar do seu sangue. Então sente uma raiva que não é sua, era algo completamente diferente do que ela já tinha sentido antes e seu corpo toca o chão gelado contorcendo de dor até que a garota começa a ter uma convulsão. Quando finalmente a convulsão cessa ela começa a ter espasmos por todo o corpo e a dor era insuportável. Ela queria gritar por ajuda, mas não conseguia pensar direito.
A dor era tão intensa que ela bate a cabeça no chão pedindo para que aquilo parasse, sua única vontade agora é de morrer. No lugar de sangue parecia que um líquido fervente passava por suas veias. O que estava acontecendo? Ela esperava do fundo do coração que fosse mais um sonho maluco. Um gosto amargo se apresenta na sua boca um líquido preto começa a sair pela mesma.
    Enzo por sua vez anda cambaleando na direção da garota, ele ainda não acredita no que viu. Como era possível ela conseguir arremessar aquele enorme animal? Ele sente as suas costelas quebradas protestar com os seus movimentos, justo essa noite. Ele se ajoelha ao lado da garota que está a se contorcer e vê um líquido preto saindo da mordida que a mesma está pressionando com a mão. Sua pele já está branca como papel e suas veias agora a vista, estão completamente azuladas, ela estava rejeitando a mordida.
- Ele não conseguiu controlar a transformação. Ele perdeu o controle, estava com raiva. Tentei fazer ele se acalmar, mas não consegui. Tentei o máximo possível tirar ele de perto da garota. – O rapaz que tinha sido arremessado estava próximo a eles com muita dificuldade ele se levanta e cambaleia até eles. – Meu Deus! Ela está tendo rejeição a mordida, mas já? – ele fala com os olhos arregalados.
- Me ajuda com ela. Por favor. Ela é minha amiga. Eu deveria ter vindo com ela, merda! – Ele soca o chão. Por um momento ele ouve a garota arfar e ficar quieta.
- Eu não entendo. Porque ela está rejeitando a mordida agora. Tem alguns minutos que ela foi mordida, deveria durar algumas horas. – Eles ouvem uma movimentação atrás deles acompanhado de alguns gemidos. Um rapaz se aproxima com a mão na cabeça e um tanto desorientado pergunta:
- O que aconteceu? O que...? – ele arregala o olho – Porque ela está assim? – ele olha alucinado para o irmão.
- Ela foi mordida. Está passando pelo processo de rejeição.
- Mordida? Rejeição? Quê? Porque? – então tudo fica claro na cabeça do rapaz. – Eu a mordi não foi? Meu Deus! Você pediu tanto para eu me controlar.
- Seu filho da puta desgraçado. – Enzo explodiu de raiva e socou seu rosto. O rapaz cai no chão chocado com a explosão de raiva do outro. Enzo treme dos pés à cabeça – Você a mordeu e agora ela...- sua voz se perde. O segundo rapaz o segura ele.
- Você tem que se acalmar também, não pode perder o controle aqui. Eu conheço uma bruxa. Talvez ela possa ajudar. – Enzo dá uma risada sem emoção.
- Bruxos não ajudam lupinos, você sabe disso e mesmo assim não há nada que ela possa fazer para ajudá-la. Isso é uma rejeição. Ela vai morrer e a culpa é toda minha por não ter vindo junto.
- Mesmo assim, vamos levar até a bruxa. Ela pode ao menos amenizar a agonia da garota. – Então ele vai até a moça e a suspende. – Vamos! Não é muito longe daqui. Eu me chamo Clarke e esse é meu irmão mais novo David.
    Enzo toma Gabriela para si. – Eu a carrego! – e ele segue Clarke. Ele olha para o rosto da garota e lágrimas silenciosas escorrem pelo seu rosto. – Sinto muito Gabs.
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