amhrest1889
querida clarence
15 posts
Don't wanna be here? Send us removal request.
amhrest1889 · 1 year ago
Text
não posso sentir nem mesmo o frio. penso em uma testemunha perfeita mas ela não existe. troco declarações com o fermento dos pães, o rastro do leiteiro na grama, com minha antiga amiga Isabel ou com meu professor de piano, daria na mesma. daria na mesma pois preciso compartilhar o insensato, agudo como um peixe espada fere nossa lembrança do seu nome-objeto. preciso compartilhar que não ando bem mas são as coisas mais incontornáveis as que mais me ferem. por exemplo: voltei a Ahmrest por um sonho. cometi esta afronta dos descorteses com a realidade, raspas de ilusão caindo do pão. sonhava com ela em posição de ataque. ela, uma pessoa com a qual nunca troquei uma palavra além de olhares. olhares onde poderia jurar nada mais existia além de uma promessa. olhares que falavam promessas, espere. só mais um pouco mas não muito. olhares que falavam mas com meu corpo, direto com meu braço, minha barriga, minhas pernas, falavam com as cores dos meus olhos que eram muitas enquanto me olhava, o que seria quase um deboche as palavras, o que seria uma evolução das frases. frases que só eu via, com sorte, nós viamos. sonhei dias com a mesma noite, o mesmo sonho, é assim o infinito. nele não havia espaço para nenhum tipo de conversa, já não eram os olhos a praticar qualquer comunicação. nossos corpos se devotavam ao posterior de nossos corpos, se pressionavam como se assim fabricassem mais corpos, e estava ao lado, em cima de mim, ou embaixo, o fato é, não havia tempo para dizer nada, nada do que foi nunca dito ou qualquer história, não parávamos de nos beijar por um segundo - era a própria respiração substituta. voltei porque acordava sem querer acordar e o suor durava o dia inteiro e meu prejuízo era tentar explicar o que era aquilo. era não conseguir excluir a presença do sonho no corpo repicado durante o dia, repuxado, apontando. achei que algo existita ali, pois perdia meu corpo para o sonho, perdia para ela. e em minha mente, que chegava as alturas quando sozinha, eu não chegava ao delírio de achar que havia de fato algo entre nós. mas sim que aquilo seria um sinal, um sinal para eu ficar ao seu redor, e além disso, havia a curiosadade, que me matava, de como seria estar perto de sua presença, o que poderia, já acordada, meu coração deslizante sentir, o que poderia vir. estava completamente obstinada em saber não se ela pensava em mim também mas qual era sua relação com o sonho. como ela estava sonhando, como sonhava, como se relacionava com este tipo de absurdo. talvez pudesse a fazer entender, talvez o que fora para mim um sonho seria para ela o oposto. queria saber também se também sonhava comigo, contra a vontade, mas sonhava. cheguei com a respiração curta e achando que o mundo nos entrega o que para nós é decisivo. retorno, não a vejo nas ruas. não a encontro. soube a pouco que foi embora. logo eu que voltei por ela me desfaleço. estou agora sentada neste banco em frente a taverna de Cliff. Crianças brincam no jardim, arremeçam galhos umas nas outras. Passei no restaurante da familia Paulson, comi torta de atum com amendoim, o gosto da minha infância. Sinto que saí daqui, fugi daqui, quebrei o coração e nunca mais o tive - pois fugi. Volto por um coração não quebrado - isto seria um luxo - , mas por o coração que dá sinais que pode se manifestar. Eu quero ter um coração para quebrar, a ironia. Não a vejo e não sonho mais aquela mesma história. Mas não digo que não a penso, enquanto falo com meu contador, enquanto visito a família de minha prima, enquanto vou a igreja, passo em frente da antiga escola, vejo o lago congelado e penso em algo que deliza fácei sobre a pele. não sonho, mas desejo. é difente, não desisto de nada. se alguém me perguntasse eu riria, eu nunca esconderia com o rosto, os sons. as palavras saiem errradas, são assim, quem liga? o que nos movem? as apostas mais inconcretas, que parecem tão bem nutridas, as forças mais absurdas. não há testemunhas, mas há a cidade. creio que este é o tipo de movimento e de decisão que só as cidades entenderiam. neste sentido, como é bom ter uma cidade, ahmrest.
0 notes
amhrest1889 · 2 years ago
Text
Como se livrar de algo que nem sequer começou? Tenho uma semana livre. Saio de Boston porque quero dizer que é possível sair de algum lugar. Pego um trem até Ahmrest. Quero conhecer a pequena e velha universidade e sentir como é ter um outuno caricato dentro de si. Uma sensação de terra desperdiçada que é o que a paisagem do nordeste deste país carrega: vazio ou natureza como terra arrasada. As ruas são para os carros. As calçadas quase não existem. Os trens custam caro e são poucos, os ônibus ruins e amargurados. Estou me dando de presente uma viagem ao passado de um país para descobrir que eu mesmo não tenho país nenhum, nem futuro, apenas passado. Um passado entranhado como o ninho de um joão de barro, um chiclete no cabelo, um tumor uterino que finca a paisagem. Nunca saí daquela casa, daquela respiração, é uma espécie de vigília. É um medo alongado, uma nuvem dobrável, cinzenta. Pago a carona ao senhor que me trouxe, me coloco no hotel. É de madeira como é de madeira a juventude: pode explodir e se consumir rapidamente. Subo as escadas, deixo a mala e vou a livraria próxima. Na vitrine, retratos de Emily Dickinson e a segunda edição de seu livro de poemas. A imitação de uma de suas cartas ao mestre está pendurada na parede como uma gargalhada que caça o silêncio. Olho para os retratos de Dickinson porque sei que não há retratos verdadeiros de Dickinson. Nem mesmo aquele, jovem, aos seus 16 anos poderia capturar qualquer coisa de similar. É apenas um homem novo mas velho olhando uma mulher que está no futuro. É transtornado, é o verde o preto e a métrica de um pincel partido e inatingível. A melhor parte dos segredos é expo-los para guarda-los. É a sua força: quando alcançam a divindade de serem sentidos sem poderem serem ditos em voz alta, sem substantivos, nomes em vão. Essas ruas são um corpo exposto do segredo. Entro na loja e busco pelas suas cartas. Há uma sensação de que se vivia mais intensamente quando não era possível viver. E que hoje o sonho vem sempre atrasado. Compro o livro e caminho em direção a segunda casa da família Dickinson. Não há ninguém no mundo que entenderia esta minha experiência. São duas casas uma de frente a outra que falam por séculos. Um bilhete feito de madeira, terra e distância. A distância é a linha de um caderno. O amor é a fraqueza de ceder as linhas, porque são, o verão do pensamento. Do pensamento, não do corpo. Onde fica o corpo? Se me perguntarem, estou aqui para não estar no corpo. Poderia dizer que aquela cidade era meu corpo. Que falo o inglês estadounidense para sair da pele. Para não respirar plenamente. Falo porque acho rude, feio, pequeno. Me sinto pequena dentro dele, como se as palavras fossem embalagens. Fossem comercializadas, como se cada uma se bastasse, só. acho que deixei meu corpo quando tínhamos nossos quatorze anos. Quem diri que o sonho necessita do corpo? Deixei o sonho e o corpo guardados embaixo da cama de alumínio, embaixo do tapete de pele de ovelha, embaixo da lama. Nunca falamos disso e ocorre que os sonhos ficaram mudos e tive que ir para o norte frio, impessoal e com certeza inóspito. Queria uma chance de ocorrer novamente, de retornar, de voltar, e de certo modo também não falar. Mas nao deixar de levantar os conchões, os tapetes. De meter lenha na fogueira. De escutar o fogo por descendência. De iniciar descendências. Pego no sono em meio a neve, embaixo de uma árvore.
0 notes
amhrest1889 · 2 years ago
Text
caderno de tarefas escondidas
Senhoritas e Senhoritas. Saudações. Este é o caderno de tarefas escondidas do Colégio Ahmrest para Meninas, fundadas por jovens da turma de 1811. Aqui deixamos impresso de forma secreta os nossos desejos mais profundos, mais secretos. Estes desejos agora são seus desejos. Esta é nossa cidade. Entre por favor, fique a vontade. - Lui Lui, 1811 Gosto de tirar cascas de machucados. Gosto que a Senhora Daisy dê beijos nos meus machucados. Para que sare ela diz. Gosto que ela diga com sangue na boca: não é engraçado? Era para melhorarem, mas no nosso caso, ocorreo o contrário. Marie C. 1834 No quarto 101 há uma cadeira muito disputada entre todas as meninas. É a cadeira da gargalhada. As freiras não entendem a populularidade do quarto e dizem que temos bom gosto pelo estilo neoclássico. Não falamos do assunto. Mas quando rimos, ou escutamos risadas das amigas, é como se falássemos. Joan B.1824 Gostaria de ter dois maridos. Peço a deus todo dia por dois maridos. Esta noite ganhei em sonho, acordei inundada em um lago de feições. O sonho nao me basta. Peço a deus tudo em dobro. Claire R.1842 Este segredo não é meu. J. dorme sem roupa. Diz que coça a noite e se sente presa. J. dorme ao meu lado. Sente muito frio a noite. Há coisas que fazemos pelo frio, e para dormir. Tenho dificuldade de dormir sozinha agora. Preciso que alguém tire a roupa. V.B.1856 O professor Richard gosta que as alunas o traga comida a noite. E. D.1875 Aqui descobri que uma mão é um jeito de não sair. B. U. Todas sabem que a verdadeira professora aqui é uma aluna Améleia H. Uma saudação a Amélia H.! Que tanto nos ensinou e nos fez feliz, mesmo cansada. Mesmo depois de horas e horas! Susan 1875 Suspeito que os poetas não saibam a hora de parar. Não aprendemos beijar então beijamos. As aulas de lógica e literatura inglesa eram as melhores. Maragaret Thompson 1877 Não tenho porque me esconder. Gosto de olhar. Me chamem. Gosto de olhar. Sou respeitosa.
0 notes
amhrest1889 · 2 years ago
Text
Ann, acabo de ler um artigo sobre mary montagu na encciclopédia britânica da universidade de Ahmrest. A mulher que convenceu a própria realeza britânica a cortar seu corpo, sangrar, e colocar a doença ali dentro para o bem de todos. Mary trouxe a incubação dos turcos, armenos e gregos para a grã bretanha mas ao invés de ser lembrada pela história da vacina é lembrada pela história como a mulher ignorante. penso nas imagens que isto traz porque hoje o dia é branco. um branco ilegível e sem rusgas, sólido, mescla de neblina e uma neve aos poucos gestada para cair sobre nossaas cabeças. branco como o pus da varíola explodindo nas peles dos infectados, branco como o leite das vacas pingando de suas tetas gordas com o sebo do vírus, um branco escorrendo da doença tão disputada e desejável como o alimento. essa é a minha forma desleixada e terrível de pensar sobre o amor. voltar a ahmrest é pensar sobre o amor e não encontrá-lo, é uma gaveta abandonada, uma câmara de ecos. penso que se o amor pode-se ser dosado, aos poucos, como um antiviral, a dose necessária para criarmos uma proteção, eu ainda teria um coração. mas nosso amor foi obssessivo e intenso como qualquer rachadura em uma geleira costuma ser. o meu primeiro amor foi uma doença que muito cedo levou seu hospedeiro. é engraçado dizer estas palavras agora, não sei de onde tiro coragem, talvez mortos sejamos mais corajosos, para dizer que sim, nos amamos. estar com você era competir com o leite. era tirar leite de qualquer objeto. qualquer palavra. viver esfomeado e insaciável. e era uma história de amor não decente talvez não porque eram duas mulheres, na época em que vivemos, embora muitas e muitos sempre viveram assim, embora isto nos desse também uma liberdade única, mesmo sem as palavras para nomear, as noites intermináveis em seu quarto desde cedo onde não dormiamos porque o corpo não nos respeitava, mas porque era uma devastação antes de ser um amor. devastada eu chegava devastada eu saia, exaurida, implorando por mais, implorando pela devastação. que me dissesse onde meter a boca, como mastigar os alimentos, como caminhar. eu precisava saber como segurar uma xícara perto de si porque perto de si as xícaras perdiam sua função. acho que fiquei doente por muitos anos, infestada, alurdida, desacordada, desaprendida, infectada. aquele dia que eu disse que as peras eram sem graça e tu disse eu dei história a essa pera, não saberias dizer de onde eu a tirei. os sabores dos alimentos e os dentes da fome, mudaram minha silhueta. hoje você não existe mais e eu carrego esta aceleração branca pelas ruas de nossa cidade. e olho nos olhos das pessoas mas o que eu queria era dizer, adivinhe onde estiveram estes olhos antes. onde eles estavam guardados. as noites que não dormi foram as melhores noites de sono. estou velha agora, meu filhos são pequenos e correm por baixo das mesas, se encaixam no bau das carruagens. eles não te conheceram mas aos poucos entendem que estas casas, estas ruas, este tempo parado de uma cidade magoada por um século que a esqueceu, é o lugar onde eles podemo chegar o mais perto de mim possível, e perto de mim, eles podem ser o que bem quiserem ser. eu queria dizer que o amor poderia ser outra coisa, que o amor é uma presença no instante incontestável. para nós não foi, talvez nesta cidade, nunca será. somos as mulheres ignorantes, escrevo a história do jeito certo. deliciosamente ignorante. este é meu testemunho.
0 notes
amhrest1889 · 3 years ago
Text
anonima, algum lugar de ahmrest, por volta de 1900
às vezes venho aqui e me sento como quem prega a noite ímpar sobre o balcão de um bar, para provar que aquela não é uma data avulsa. às vezes venho aqui como ia a igreja quando fui criança e morei com minha tia no norte, buscando encontrar não os olhos de deus mas de minha mãe confundido com os da velas. às vezes é uma biblioteca, outras uma árvore solta na planície, a espera de companhia. mas na maioria das vezes venho aqui como quem busca um lugar para se aquecer. tirar as roupas, suar, torcer a porta e separar o que é meu, o que é daquilo que se faz fora. minha prima me falou de um lugar onde pudéssemos escrever simplesmente o que nos venha a cabeça. dizer tudo que se fala, dizia minha tia, é obra da pior das virtudes, ainda mais para as mulheres. mas quando estávamos juntas era justamente isto que nos mantinha juntas por semanas, por meses, por anos, a confiança que desperdiçamos cada palavra, que deixávamos vir a tona cada sensação, cada troca ou frase era exposta sem rodeios, ,mas sem seriedade, pois nunca era o bastante. aqui eu posso escrever isto e escrevo porque preciso compartilhar o ato de compartilhar. porque eu só imaginava nossa vida juntas naquele momento onde éramos jovens, onde batíamos pernas dentre a mata, onde contrabandeávamos os livros esquisitos do livreiro belga por baixo do corpete, sempre folgado, na altura de uma terceira mão. mas nunca houve uma imaginação além daquela vida e é aí onde me queixo e é por isso que escrevo. penso em meu falecido marido quem tanto me deu momentos decorosos, penso nos meus filhos, nesta casa, em como os amo, venero seus rostos, penso em minhas viagens, em meus amigos, em nossa casa de verão em new hampshaire, penso na neve que um dia vi suspender o ar em vermont, nos livros que li, nas feiras que participei, nas cartas que escrevi, nas noites de discussões nos salões mas tudo parece uma órbita, mas tudo parece um tanto periférico se eu pensar naqueles dias onde vivíamos perto. onde nos apertávamos no rosto, caíamos no chão gargalhando, dávamos tapas atrozes, éramos sagazmente rudes e más porque não podíamos ser boas como queríamos porque não entendíamos o que queríamos porque não havia futuro. ou havia? imagino se a ti faltou a imaginação como digo que a mim, como ignorância, sustentaria que foi o que se sucedeu, falta de coragem, excesso de medo, de autoconhecimento ou uma ingenuidade, ou um senso inabalável de que aquilo sempre seria a felicidade, um costume com a felicidade mesmo que a partir de lascas supérfluas de sonos divididos, beijos lascados dos narizes, o cheiro dos cabelos, as tuas frases sempre pontudos abrindo os dias ferozmente animadores e excitantes. como poderia saber? depois me casei, tu se casastes e foi morar na outra ponta do país. depois, Henry, meu irmão faleceu, e você voltou a esta casa silenciosa por um par de anos, amarrotada de deslizes, pedinte de episódios e me ajudou a organizar as coisas dele. e então estávamos juntas de novo e tudo parecia no lugar e você me levou para onde eu não entendia que era uma possibilidade, para mais perto de mim mesma do que jamais estive e na manhã seguinte acordou em cima de mim com seu corpo absolutamente entregue e disse que não o amava. que não o queria. você já sabia o que queria e eu estava começando a entender que poderia querer. e talvez este fora apenas uns das diversos intempéries era como se eu não tivesse o vocabulário que precisasse, e fiquei ali, em volta as suas palavras sempre prontas e precisas e desejantes e assertivas. então eu estava sozinha de novo, rodeada de nomes inúteis. não respondia por mim, não tinha entendido o que você me proporcionou. não estive a altura de seus olhos porque aquilo foi um momento e eu precisava talvez de uma vida inteira. e em alguns dias, nos que são mais rudes comigo, eu retorno aqui, ao nosso jardim, e olho a constelação de escorpião, a nossa, e tento imaginar tudo que não consegui, a história que não contamos, e a vida que devemos ao sonho, não só por ti mas por todas aquelas que tem a sorte de se sentirem graciosamente confusas e precisam correr, desesperadamente correr, a frente do tempo com sua própria tuba, abrindo caminho.
1 note · View note
amhrest1889 · 3 years ago
Text
querido alguém
Ahmhrest está desigual por completa. Troco endereços neste envelope como quem troca olhares com os peixes frescos, ainda não convencidos de sua partida, nos estandes da feira de nossa praça. Algo me diz que o fim se prevê desde o início pois um fim é uma longa duração e a guerra já passa de anos, como os gestos encardidos que repetimos entre as conversas para nomes sem repetição. Em tudo há um nada primo e colossal: as árvores são timidas na primeira vez na vida, o verão esqueceu-se de nos tocar por completo, o inverno vem a parcela s. Nos poucos momentos que saio a rua lembro que tive um irmão e aque neste momento pode estar morto, que pode estar vivo, seja lá onde tenha ido parar seu batalhão. Perdoo meu irmão em cada evento em que vou, não perdoo meu irmão sempre quando retorno a casa. Algo me diz que está cidade não se moverá no tempo, permanecerá intérpida, em sua feição movediça, como um pingente de um país, como um lembrete. Querido Alguém, escrevo para ti porque nada deixa de existir nesse momento e preciso me confessar apesar da vida, preciso me confessar para não escutar a marcha dos rios, a tropa dos pólens entre as propriedades dos vizinhos. Deixo minhas memórias do tempo do colégio encarnarem entre as frutas, me mostrarem coisas, me mostrarem os recados que não pude escrever, as palavras que engoli como vinho, altamente alcoolico, deixo que me somem. Aquele foi um tempo esplendoroso, onde emedendávamos as lamparinas como um cometa incansável nos dormitórios. Sinto Morgana, Loiuse Margot, Vania Elback, Anne Fildings, com os ossos sorrindo. Naquele tempo, lembro que corriam histórias de uma estudante excentrica que havia estudado alguns anos antes de nós, uma tal de de Emily. Em certo momento, encontrei talhado na cama uma Um poema sobre uma betûnia e me convenci que era ela que o tinha feito: a betûnia é o corpo - agora sim - explicado, dizia o escrito. Uma vez perguntei sobre Emily para uma noviça ela apenas chorou como quem pede perdão e me enviou ao quarto. Durante estes últimos meses posso jurar que está frase é tudo que penso apesar dos títulos das capas do Washignton Tribune nos contando de nossas perdas inestimaveis nos campos. Eu pude olhar nos olhos da Sr. Elsecohen e dar meus pêsames de uma forma mais eloquente porque minha mente estava nas betûnias, porque esta era a questão que precisava resolver. O que seria o corpo explicado? O que as plantas tem a ver com isso? Quem disse algo a Emily? Será que isto é estar vivo? Ou precocemente o oposto. Existe uma coisa maravilhosa que pode acontecer entre duas pessoas que é a aceitação máxima. Poucas vezes na vida vivi isso. É o momento onde a ideia de estarmos solitários pode nos tirar a vida se não houver uma ternura que segure o terreno. Que segure a vida por mais um instante, onde a vida interior ganha um túnel entre os braços. Como quando Alebrtine me contou que seu filho não era do marido mas do irmão do mesmo. Os segundos que anteciparam sua fala foram algo sem linguagem, onde o tempo parecia uma intuição e tentei de todas as formas segurar a velocidade dos carros para que ela pudesse atravessar o terror que estava vivendo e entender que poderia respirar sem medo. É um momemto quase místico diria, o que sabemos que alguem nos precisa, e precisamos nos botar de lado completamente, para a existência do segredo. Para a vivencia do segredo. E nesses momentos o segredo ganha mais vida ainda e todos os segredos do mundo parecem estar protegidos, respirando aliviados. Isto é algo que sinto quando penso em Emily, isto é algo que atribuo a verdade. Há verdade no silêncio como há o inverno num silão. Comecei a dar caminhadas em torno da casa dos Dickinsons. As vezes consigo ve-la de relance, seu olhar a terra, provavelmente, as paginas, em seu quarto. E porque tudo está coberto de silencio, toda verdade parece ser tocável. Tenho vontade de bater em sua casa e lhe perguntar o que explicam as betûnias. O que poderiam falar da morte? Mas tenho medo mais de mim, do que poderia vir a acontecer, de como me sinto em constante friccção com o invisível, de como nunca vi o mar, mas sinto seu assombro no zumbido dos ouvidos. Querido alguém, uma pessoa de segredos é alguém que possui um atalho para o coração dos outros. Emily viria meu coração em um piscar. Dessas coisas não se duvidam. Lá estão papai e mamae, nossa viagem ao mississipi, meu filho Antony, meu doce Harry, lá estão todas as palavras que nunca disse, inventando um combustivel sem fim, para as lareiras sem frio, das noites que não terminam, que poderiam me trazer Ertha, novamente, seu corpo, finalmente, mais perto do que a memória daquelas noites onde dormimos dentro do móvel adestrado pela escrita de Emily, as cartas que não mandei depois da ida do Duque. Tanta coisa. Alguém mais se interessará pelas betûnias? Quantas Emilys podem existir? Por isso escrevo esta carta como um chamamento, um farol, para que nos encontremos onde o segredo guarde seus talheres, onde o horizonte é facilmente ofuscado por um encontro perto, muito, muito perto.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Clarence para Simon
Querido Simon,
O assunto do qual falas, ao meu ver, poderia ser resmumido na sentença: escrever é sempre do futuro ou do passado? A Odisséia possui a Ilíada, contudo, Ilíada possui a Odisseia. Por você ser um destinatário, meu amigo, quem ousará dizer que isto não é literatura? Se o mundo acabar mesmo como nos prometem os Apaches, o que restará serão nossos nomes no mesmo papel. E a distância será tímida. É isto a literatura? Fazer a distância ficar tímida? Estamos com Homero agora, bebemos chá de tomilho. A Grécia antiga é aqui.
Sobre as minhas antigas cartas derretidas, não se preocupe. Se bem me lembro, eram os tempos onde eu andava abatida, escrevia nada com nada. Você como um cavalheiro ainda as guardou! Obrigada pela companhia. 
Fico triste em saber que as águas insistem em não ir embora. O que querem de nós as nuvens, Simon? Penso em escrever uma história de um bobo da corte que convence uma cidade que um ano passou e eles não viram. Sobre Thomas, não o compreendo. Será que não gosta de mim? Não responde minhas cartas, tão pouco, minhas histórias. Espero que dê conte do caso Helga. Como anda Henry? Não poupe nenhum detalhe! É um jovem tão elegante. O que vocês têm feito durante esses dias chuvosos?
Sua amiga,
Clarence.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Clarence para Bill
Querido Bill,
Como esquecer do velho Häuschenkopf? Agradeço inmensamente pela anedota das letras trocadas. Que cidadizinha interessante é a nossa. Não há nome correto, assim como não há um teatro ou uma adega que sejam reais as suas funções (o Pastor Neelend agora usa a casa de linguiças como sua igreja e ao que parece o teatro ainda é apenas depósito de materiais de construção para a ferrovia). Às vezes imagino nossa cidade daqui há cem anos e ela continuará a mesma. Vão restar apenas nossas cartas, no fundo dos galpões. Este é um País muito grande mais o futuro não cabe em todo lugar. E nem os trens poderão mudar isto, querido Bill.
Saúdo a você pelos comentários de Thompson. A risada para o mesmo é como uma vírgula, usa e abusa. Não tem apreço pelo cristalino da alegria. Ou talvez Thompson seja feliz e eu seja invejosa? O fato é, falemos mal de Thompson, não o aguento mais. Estou em vias de mandar uma carta a Sra. Sanchez implorando que o busco, que case com o sujeito e o leve daqui. Por que brinco com as pessoas Bill? Iludi Thompson? O dei falsas promesas e destrui seu noivado? Brinquei de cão e gato por tédio? Bastou um poema de Worthwood sair da boca do mesmo para soar meramente interessante. Será que ouvi Thompson alguma vez?
Sobre Pensilvânia. Não podes levar George junto a ti? Me daria um belo de um presente. Meu irmão agora é devoto de Deus, sabe? O dono de tudo, apenas. Sempre teve tendência a gostar de autoridades. Helga conseguiu destroçar o coração do pobre. Sempre disse que não daria certo. Meu irmão não tem o sangue da guerra e Helga é um exército sempre a avançar.
Desejo sortes nos negócios! Quando voltares, nos visite. Traga Rose.
Com carinho, Clarence.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Clarence para Rose
Minha Querida Rose,
Como é bom receber notícias do clã Brington! Quando Madame Cloubert deixa as cartas sobre minha escrivaninha a sua é a que uso para sorrir. Sobre Louis, sempre foi tão atrapalhado! É verdade que a sombra do sr. seu pai sempre se inclinou por demais nas costas do pobre. Não conseguir passar nas provas para a Escola de Medicina, que sua família há eras frequentou, ainda deve doer no pobre. Mas como dizer? Nas raras vezes em que sorri é como se estendessem um leve tecido da calma no ambiente. Sobre Kelly, imagino que qualquer coisa seria melhor do que aquela paixão desmedida por Vincent. Ainda rio com a declaração pública de afeto que sua irmã decidiu fazer na útima festa da batata doce de nossa cidade.
Me preocupo com Helga, minha cara. Entenda: estou acostumada à solidão. Desde muito cedo me sinto uma ilha sequestrada em uma pequena porção de terra. Dos homens quero os olhares, talvez uma proxiimidade temporária. Mas a distância! É a parte tão sedutora. A distância é onde digo para mim mesma sou dona de mim (ainda que dependa de Papai para tudo). Já Helga....pula de um caso para outro, de uma crise nervosa para outra. Serão os homens a ela todos iguais? Ou ela apenas um ser que nunca muda? De certa forma, admiro sua paixão. Como será que está sendo esta viagem dela e de Thomas? Não estarei aqui para juntá-la do chão desta vez. Minhas costas doeem muito, acho que é porque sonho com fuinhas (te contei?).
Ó minha querida Rose! Algo extraordinário aconteceu. Minha madrasta chamou a Senhora Chavinski para jantar conosco no último domingo. O caso é que a mesma diz ser vidente. Orientou papai a investir em fazendas de laranjas, sobre minha Madrasta, avisou que há um mal olhado. De mim, fez uma casa esquisita e logo tossiu algo como: interessante. A seguir completou: "Esteja preparada minha querida". O que isto quer dizer? Mal consigo dormir, querida Rose. Penso em fugir para Oxfoard, penso de cruzar os Mares, conhecer as Arábias. Tudo parece possível. Estudar botânica! Ter um laboratório. Me juntar as sufragistas. Por deus, papai me mataria! Me apaixonar por um inventor maluco, desses que busca ir aos céus. Ou apenas ir para o condado vizinho, dar aulas aos órfãos. Ou apenas, quem sabe, esta pequena fuga que você me convida? Diga-me a hora e o lugar, minha querida. Levarei melões.
Você e sua obcessão pelos trens. Temos que sonhar mais alto, com os céus! A vidente retornara em uma semana. Diz que fará um grande anúncio sobre algo que acontecerá na cidade, um verdadeiro escândalo. Convido você, Bill, Louis e Kelly. Por favor, diga que sim! Podemos fazer as imitações de Mrs. Lincon mais novo e Mrs Lincoln mais velho que tanto gostamos.
Saudade, Clarence. 
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Robert para Bill
Harrisburg, 1889 Caro Bill As últimas notícias do departamento não foram muito promissoras. Parece que para o próximo bimestre as construções estarão em ritmo muito mais lento, e o navio que trará a carga da Inglaterra vai demorar mais ainda alguns meses para zarpar. Podíamos pedir que Thompson fosse ao velho mundo visitar seus parentes, de quebra pressionar a Walter & Smithson - que parece só querer nos trazer problemas... Para o próximo triênio, porém, as perspectivas são animadoras. Com o último decreto do governo, poderemos encaminhar a instalação de mais centenas de quilômetros de ferrovias com um crescimento de 4% ao mês na arrecadação estadual. Talvez mais para frente poderemos colher bons frutos. Anexei a esta carta a tabela de líquidos e brutos desse último mês. Se prestares atenção, a nossa queda dos 6,5 não teve grande influência graças a entrada da carga 3 na última prestação de contas. Para o mês que vem, teremos alíquotas mínimas no material recebido, graças ao decreto que saiu anteontem. Enfim! Já estava buscando moedas entre as frestas do piso. Tive que vender as últimas cabeças de gado da família para podermos seguir investindo nessa empreitada, a contragosto de meus irmãos... Parece Clarence e George têm a cabeça presa na década passada. Mas mantenho-me firme: as ferrovias são o futuro e também o presente! Um contato meu no congresso está tentando passar a Lei 532. Isso nos traria uma redução de 28% na taxação anual, e seria um caminho para a expansão.É claro, tudo seria mais fácil de debater se conseguires arranjar tua mudança para cá o quanto antes, e instalarmos a sede oficial. Como anda esse processo? Sinto tua falta. Teu, Robert.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Bill
Querida Clarence,
Häuschenkopf, o austriaco louco do deppartamento de registros, mais uma vêz engendra caos na communidade. V. se lembra de quando êle, em 84, sôb as brummas da bebida, mudou para “Smith” o sobrenôme de tôdos? – Coisa ainda inexplicada, bem cômo seria sua permanência no pôsto, não fôsse a obviedade do apreço que lhe confere Winston. É sua filha Judith! Quer casá-la com êle, crêia-me! Ultrajôso negócio! – Cômo sêja, esta sômbra de um matrimonio impossível o mantém atrás d’esta importante escrivaninha, da qual, no impulso de sua pêna, nada parte, senão as maiores sandices. Cômo a mais nova: revirando papéis velhos em busca d’uma matricula que sequer sabêmos existir, Thompson descobriu que Häuschenkopf vem ha anos oscillando, sôb as brummas da bebida, em tôdos os documentos officiais, e portanto de maneira definitiva, e de summo valôr legal, entre as graphias “Amhrest” e “Amherst”. Pasme! Pois pasmo também. Êstes risos de Thompson, um estranggeiro como v. sabe, e a quem portanto esta galhofa pouco respeito diz, pêlo menos no ambito sentimental, são incontiveis, tornou-se um incontinente gargalhadôr e ninguém mais o aguênta. Ora: agora não ha volta, é fato consummado.
Quanto a mim, vou à Pennsilvania em poucos mêses. Aí encontrarei minha fortunna: e o bello Robert já garantiu seu apôio pecuniario. Mande noticias suas e, se possivel, de seu querido irmmão George. Nada sei dêle ha muitos annos. Ainda está enrollado naquêle escândalo com Helga? Naquela verggonha?
Carinhòsamente,
Bill
Amh(r)e(r)st,
12 de janeiro do anno 1889
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
Carta de Rose
Querida Clarence, Como foram as festas? Por aqui foi tudo ótimo, tirando o permanente mau humor de Louis... Você bem sabe. Incomoda-se com qualquer cidra cujo sabor não seja próximo ao da que o pai fazia. Acredito que seja ainda coisa de um luto prolongado, reforçado nas festas de familia. Kelly preparou um peru fenomenal, passou o dia elaborando o tempero, empolgada. Usou louro e lavanda, uma escolha peculiar! Acho que são os humores da paixão...parece que apareceu um novo pretendente. Fico feliz mas, é claro, mantenho a atenção redobrada. É incrível esta sina de irmã mais velha, por mais que eu resista sempre tomo a forma de uma mosquinha protetora, muito atenta, sem descanso. Acho que não há muito como fugir disso. No fim a carroça foi consertada com mais rapidez que esperávamos. Alguns trabalhadores que consertavam um celeiro próximo emprestaram as ferramentas de que precisávamos e pudemos ir ao centro. Ainda há muitos destroços a serem recuperados da Guerra... Me bate uma tristeza. Sei que não vivi esse período, mas as histórias que o pai contava me angustiavam. Sempre muito figurativo, como você bem sabe. Lembra da história com as tropas de Myrtle Beach? Só de lembrar me dá calafrios. A tia fez belíssimas saias para usarmos no natal, um tecido fino trazido da Filadélfia. Mando-te junto à carta um retalho, talvez interesse para algum figurino do Club! Que saudade... ainda rio sozinha com a nossa interpretação de Hérmia e Lisandro, há 4 anos talvez. Talvez ainda mais. Nossa, parece que se passaram décadas desde a última vez que vi teu rosto. Tua presença faz muita falta, Clarence. As confidências da madrugada, as bobagens que nos permitíamos, tudo isso me aterrava. Ando muito flutuante, mal consigo escutar o que Bill tem a me contar. Complicado, ele não é você. Também não tenho o mínimo interesse em saber das atualizações de Robert acerca do último relatório do governo sobre as novas ferrovias... Realmente. Os governos vêm e vão, e ainda estamos longe de dar a importância necessária ao sensível. Que bom que ainda temos este canal. Ele insiste ainda na história da Pensilvânia, apesar de encarar minha sincera resistência. Não gostaria de ir para ainda mais longe, mas veremos. Na posição que ocupamos, há coisas difíceis de contrapor. Robert e ele estão cada vez mais próximos. Quase mais que sócios, eu diria. Mr. Bubbles fugiu, e Helga decidiu esquecer a tristeza indo ao sul com Thomas antes do Natal. Achei ótimo, largar a inércia e tomar um ar diferente. Está muito mais fácil com o novo trem. Mandou carta de algum balneário, disse que sente-se muito melhor com o sol que tem lá. Contou-me das pessoas, muita gente esquisita. Gostaria de conhecer. Poderíamos ir juntas! Seria quase uma fuga. Sobre Thompson, querida Clarence, sabes como teu pai consegue às vezes só pensar no dinheiro... Acredito que seja uma forma de preocupação com a família, mas entendo muito bem como isso afeta. O pai não era diferente, Louis sempre foi treinado para gerir as finanças por aqui, e por isso recebia atenção irrestrita. Acho que entender um pouco do que se passa na mente dos homens ajuda para tranquilizar as nossas. É muito menos que parece, Clarence. Louis não pôde sequer ser capaz de carimbar o testamento, Bill teve que assumir. Não a contragosto, adiciono. As tabelas e as cifras lhe parecem ter um efeito inebriante. Fico imensamente feliz sobre sua aproximação com Joanne! Ela sempre me foi muito amável, contava cada história... Ainda guardo com carinho a fita que me bordou na infância. Mande minhas lembranças a ela, e a todas as personagens que incorpora. Me conte mais sobre o Club, quem tem aparecido? Faz tanta falta... Imensas saudades Rose
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
carta de Simon
Querida Clarence,
Perdi suas últimas cartas numa chuva desagradabilíssima que me molhou os papéis da escrivaninha. Henry me disse que a Odisseia só é literatura porque tem a Ilíada nas costas, e eu me pergunto se o que faço agora ainda é uma carta mesmo sem o apoio, a memória, a aspereza das suas palavras. Sua viagem à Tunísia, suas pequenas manifestações de afeto, a história da troca de maletas na estação de trem, tudo se afogou, perdeu, desmanchou.
A verdade é que essa foi a primeira de uma série de chuvas que ainda não se foi. Estamos eu, Vincent, Henry, Agnetta e as crianças presos há duas semanas sem festa nem missa. As estradas da cidade estão enlamaçadas e só alguns corajosos conseguem circular, sair para visitar vizinhos e comprar víveres. Thomas, o filho de Hilda, vem sendo um anjo. Nos traz batatas e porco, conta histórias do que vem acontecendo no bairro. Acho que é ele o nosso Homero, Clarence. Nosso bardo. Às vezes depois que ele sai repassamos suas histórias ponto a ponto, nos perguntando o que teria sido inventado ou aumentado até a distorção. Não sobra muita coisa.
Eu sonho com as histórias do Thomas e com as suas, Clarence. Com o marinheiro italiano e a vendedora de mariscos. Com o velho Sergei estuprando cabras. E me pergunto se não somos nós mesmos, nessa casa, uma história que alguém conta pra alguém.
Por favor, mande notícias.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
carta de Clarence para Rose
Querida Rose,
Você já parou para pensar que nossas cidades estão apenas a 15 km de distância uma da outra? Mesmo assim, este inverno nos faz parecer termos cada uma um hemisfério. Sei notícias suas por meio de Robert. O Club de leitura dramática Sheakspeariano aqui em casa segue, apesar da insistência de meu irmão de guardarmos o querosene e as velas apenas para suas leituras religiosas. Não sei a quem puxou. Sentimos sua falta por aqui, nenhuma mulher até hoje encarnou o Mercador de Veneza em meu tapete da sala tão bem quanto você, querida Rose. Sobre Kelly, proclamo: tenha paciência. Sua irmã nunca foi boa com pretendentes e coisas que andam, mas é sua irmã. Lembra daquela vez que a perdemos nos rochedos em Westside? Primeiro rimos, depois sentimos medo. Sobre os tecidos, posso mandar Stuart ir buscá-los para vocês. Gostaria de encomendar um traje: serei Orfeu na próxima leitura.Um terno não é apropriado a mim, eu sei. Mas os tempos são apropriados a nós? Sobre Thompson adotei nova estratégia: finjo que não o conheço. Ontem acho que papai até percebeu o desconforto entre nós na janta. Mas para ser sincera, entre eu e seu contador, às vezes acho que preferiria a T mesmo. Eu só trago problemas, e ele, só o traz dinheiro. Joanne virou minha melhor amiga do dia para noite, é impressionante o que sua doença faz. De dia, dorme com as galinhas, tenta convencer os empregados que é uma profeta, faz contas matemáticas complexas para organizar o café. Estes dias disse que foi ela que internou Nefertiti mas nenhuma voz no Nilo antigo ficou sabendo. De noite, é sábia. Me dá conselhos, me encoraja. A escuto como se fosse ela a esfinge. Nunca imaginei que a mãe de minha madrasta poderia ser tão divertida. Por favor, me conto sobre Bill. Qualquer detalhe é relevante. Ele ainda insiste nesta história da Pensilvânia?
Saudades infinitas de sua amiga e confidente
Clarence.
0 notes
amhrest1889 · 5 years ago
Text
carta de Rose, 1889
Querida Clarence, 
As coisas com Kelly não vão nada bem. A carroça emperrou de novo e não tem nada que faça aquela tranqueira engatar. Sem ela não temos como ir ao centro buscar os tecidos para a tia. No entanto vamos seguindo, Louis está encarnado em encontrar uma solução, imagino que na semana que vem poderemos fazê-la andar. A situação de Helga segue a mesma... Feliz, mas um pouco iludida em minha opinião. Você sabe, depois do incidente de Outubro eu não sei quando vou poder confiar nela sem o aconselhamento de Mary. No entanto, desde que adotamos Mr.Bubbles ela parece não pensar muito no que aconteceu. Melhor.Comigo, tudo como sempre tem sido. A rotina, as roupas, a paisagem que transita entre um azul acinzentado e o escuro fechado das noites nubladas dessa época. Como anda o caso Thompson? Mande notícia de Joanne.
Sorte e saudades
0 notes