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Esses dias
Tem dias que o dia parece nunca existir. Tem dias que durmo de dia, acordo de noite sem saber se o dia eu vivi. Tem dias que me encontro sozinho, distante de tudo, perdido do mundo, isolado em meu sono. Tem dias que eu acordo pensando em te chamar, mas lembro de um dia você dizer que não queria mais, que eu não tinha porque tentar... Que dias são esses que não sei se o que faço é para o bem, mas muito bem não posso fazer? Bem que eu fizesse, não faria mais que um pouco do que tinha por fazer. Eu não faço mais nada a não ser perder a noção dos dias que passam e já não os tenho mais. Sozinho num espaço isolado do mundo, discurso sobre o tempo, teclo em segredo, tristes segredos de dias e dias e dias atrás... Se eu pegasse um avião, se eu pegasse um trem, uma carona até você? Minha bicicleta é um suvenir na sala de estar! Meus olhos não veem mais aquilo que eu sonhei um dia ter pra mim. Meus olhos só querem o dia perder, meus olhos só querem dormir. E se um dia tudo voltar a ser o que um dia nunca foi, porque nada é como eu penso que seja, pois tudo é aquilo que ninguém espera ser. E se um dia tudo sumir? E se um dia você então acordar pensando que dia poderia comigo estar? E se esse também ainda for um sonho seu, me desperta dessa tortura, dessa tolice que é os dias dessa forma passar... Eu pego o violão penso em uma canção, forjo ideias de mundos melhores, canto as angústias de um país decadente. Canto as mulheres de Atenas, lembro da minha mãe, penso no que escrever... É esse vazio que está aqui, que eu não sei da onde vem eu nem sei se um dia cheio eu já me senti. Nesse oco da alma lanço minhas palavras. Se elas um dia forem lidas que não sejam apenas um ruído perdido no tempo, espero que um astronauta as leia e delas escreva a história do passado desse planeta. Eu sei que o que eu deveria ser é aquilo que eu gostaria de ser, mas de fato não há nada que eu espere gostar, muito menos querer, mas ainda assim, quando acordo nesses dias sombrios, eu lembro de você, que um dia eu quis. Não existe samba, nem violão, nem Japão, nem coração, eu me perco pelas ruas da minha sala e caio no colchão. Adormecido sob meus delírios, como um grande inseto latino-americano, espero que a arte vagabunda de meus dias não sejam mais apenas um segredo. Eu sei o que sou!
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Samba da máscara
Já fazia tempo não via seus olhos que tanto fixam nos meus Tira essa máscara me transpassa me transmite o seu amor Todo dia eu sonho que um dia eu e você estaremos novamente se querendo inconsequente Desejos de uma vida cotidiana e normal Eu aqui nesse momento, desejando o seu corpo ao natural Todo o resto dessa tarde vou passar só pois não tenho amigos, nem família, nem bicho, coisa e tal Eu só queria que você tirasse essa máscara e me beijasse E deixasse que meus dedos tocassem a sua pele E fosse só o arrepio do meu carinho, o meu abraço, nada mal Porque já fazia tempo não via seus olhos que tanto fixam nos meus Tira essa máscara me transpassa me transmite o seu amor...
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Meu bem
só...mente uma canção de amor para poder falar de você meu bem
não há nenhum mistério em querer não há nenhum desejo sem você
meu bem... meu bem... meu... bem...
só...mente uma canção de amor para poder falar de você meu bem
vejo em mim uma solidão que só mente uma canção de amor
me faz falar o coração que sente e sente sem ter...
meu bem... meu bem... meu... bem...
só mente uma canção de amor para poder falar de você meu bem
que és o que sonhei ver em ternos sonhos que vivi
onde compus essa canção e a dediquei a ti
meu bem... meu bem... meu... bem... meu bem... meu bem... meu... bem...
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Janela basculante
Acordado às três da manhã de uma quarta-feira chuvosa. O frio vem chegando mansamente anunciando o espectro do inverno a bater nas portas do sul do Brasil. Não sei quantos dias fazem que vejo pouquíssimas pessoas de forma muito intermitente devido ao isolamento social que parece não estar sendo levado muito a sério pelos habitantes dessas casas cujas portas se escancaram para um inverno sombrio. Sinto que estou lutando mentalmente para manter o controle que já foi difícil de construir nesses curtos anos de existência. Perco controle da mente, do tempo, do corpo, das relações. E eu não sei se o que faço errado é por falta de terapia - parecia tão certo dar um tempo nela quando achava que seria um excelente ano - ou sou eu, agente social navegando pelas estruturas de poder, reproduzindo as piores expectativas que já devem ter criado sobre a minha cara. Sei que meu corpo não tem respondido bem. Fui ao banheiro às três da manhã exatamente no limite da irregularidade do meu intestino. Naquele momento de silêncio e concentração notei suspiros vindos de fora da basculante do box. Mas o que será isso? Me centrei pra discernir o som, enquanto ali sentado no vaso sanitário, meu corpo traduzia a decomposição orgânica que eu me encontrava. Os suspiros ficaram mais altos e intensos. Eu entendi que era uma voz feminina, mas não conseguia saber se aquilo tudo era sexo - às vezes é possível ouvir os vizinhos transando - ou se era alguém chorando de sofrimento. Puxei a descarga, esperei o barulho do meu banheiro passar, me limpei, obviamente, lavei as mãos e posicionei meu ouvido na abertura da basculante pra tentar entender o que ocorria. Intrigante como essas coisas viram um grande evento quando você não aguenta mais a vida solitária, a privação e o descontrole mental do isolamento. A mulher chorava, provavelmente do banheiro abaixo do meu. Eu imaginei a cena, ela se olhando no espelho da pia do banheiro, as lágrimas escorrendo pelo rosto, a torneira ligada desperdiçando a água. Desperdiçando água às três da manhã! Faz mais de um mês que não chove direito, muita sorte que essa noite algum pingo de chuva caía. Imagina só, estiagem e pandemia! Estiagem de sanidade é o que ocorre a todos... a mulher chorava, um desespero, chorava sozinha no banheiro de seu apartamento às três da manhã de uma quarta-feira, em pleno isolamento social. Enquanto eu cagava e ouvia com atenção do apartamento de cima! A tragédia humana entendida em uma madrugada. Sim, sou eu reproduzindo justificativas para não sentir o cheiro de minha própria decomposição. Ouvindo de cima o sofrimento alheio, rodeado de merda. Eu sou a própria negação da terapia. O descontrole, o inverno, um espectro que ronda as portas. O vírus do desencanto naquilo que há de humano. Eu só preciso agora meditar. Vou tentar meditar depois de escrever sobre a mulher que chora. Porque o exercício de meditar é o exercício de limpar a mente, não pensar. Quem sabe assim eu me cure! Quem sabe assim eu esqueça das metáforas, do que há de símbolico em uma mulher sozinha chorando na madrugada enquanto eu defeco e não lido com meus problemas.
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Carta a Martín Romaña
O homem não procura o fio, nem sabe o caminho que tal fio assegura, nem amanhece em claro ou adormece em falso. Toda a procura leva à Ariadne. Estive aqui sonhando com outros três eus em outros três tempos, que amavam outras três mulheres que por suas vezes amavam triplamente mais os muitos outros que também eram eu. Quando eu tinha sete anos eu queria ter doze, porque me disseram que aos doze se começa a crescer e muito pequeno que eu era me dava agonia ser o primeiro da fila do recreio. Quando eu tinha doze anos eu queria ter quinze, porque eu via os grandes mandarem na quadra de esportes e como já podiam beijar nos corredores, e fugiam dos professores e pulavam os muros da escola. Quando eu tinha quinze anos isso já não me bastava e sonhava ter dezoito para me perder na noite e voltar para casa totalmente estragado do tempo, do caos, dos ânimos. Então fiz dezoito e já não sabia o que queria, via o tempo passar, colocava os fones no ouvido e pensava se eu passaria dos vinte e sete. E agora eu penso como deve ser ter trinta e três e não ter feito nada pra ser algo em vida, esperando que em algum momento eu ressuscite e venha querer ter sete anos e ser pequeno novamente. Que grandeza tem o tempo que minha mãe me deu? Onde eu estive te procurando minha Ariadne se não em coxas, cangotes e olhares que muito se perdem no destino que lanças sobre aqueles que são afetados por minha busca pelo tempo? E que perguntas posso fazer na medida que nenhuma resposta vale a pena receber? Venho por esta mesma, fazer uma reclamação a Martín Romaña, que me dizia outro dia sobre Francisco Pizarro, que trouxe três caveiras e condenou meu chão ao enterno fracasso. E que me deu a resposta àquela pergunta do quiz que eu, historiador, não soube responder, pois de nada acho interessante decorar datas e nomes e lugares ao vento. No dia doze de outubro de mil novecentos e quarenta e dois, Cristóvão Colombo avistava tudo o que seria amaldiçoado depois. A Niña, a Pinta e a Santa María, assim como as três caveiras, três caravelas, em três diferentes condições, em três diferentes versões, avistaram o fio mas não souberam acertar o que deveriam buscar em seu destino. Eu, dessa dimensão, que amo Ariadnes diferentes e que não sei escolher, porque não vejo motivo pra ter que escolher qual maldição prefiro viver, viajo em meus pensamentos sobre outros eus, outras terras e amores que um dia hei de avistar. Permito-me navegar, caro Martín Romaña.
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O griot e a quarentena
Tem sido difícil começar um texto. Que códigos são necessários para expressar a angústia do isolamento? Com que precisão estarei definindo uma imagem desses novos tempos? Sei que quem me lê, não pega o metrô lotado pela manhã. Então, do que vale escrever? Penso em meus ídolos. Nunca havia tentado dar nota daqueles que me identifico. A maioria já morreu. Boa parte, homens brancos do século passado, cujas vidas controversas hoje abrem espaço para que seus feitos sejam relativizados. E quem não é controverso em um mundo avesso e inverso? Devo reconhecer o privilégio da minha identificação com alguns deles, e da possibilidade de percorrer algumas instâncias de controvérsia. Em uma viagem para Florianópolis, eu conheci um griot. Um sujeito jovem e negro, que nos parou e contou histórias. Eu, um jovem historiador em formação, branco, de férias com a companheira, jovem, branca, estudante das ciências sociais, caminhando no centrinho da Lagoa da Conceição, depois de um dia de trilha pela ilha que dizem ser de bruxas e de magia. O griot me alertou à quantidade de figuras históricas negras que deixo esquecer pelo meu vício historiográfico ocidental. Que vivo em um país que não conhece seus ídolos e que inventou uma história em cima de sangue e suor de povos que disseram ser “outros”, mas que somos todos nós. Basta tirar a venda e praticar algo caro a quem tem o que comer e onde dormir: a alteridade. O griot, mora na rua com o irmão mais novo. Se descobriu griot, depois de anos de prisão. Hoje sobrevive ensinando sobre seu povo. Hoje, em tempos de pandemias, penso nesse que foi meu professor. Como será que está sobrevivendo o griot? Se antes já era difícil abordar pessoas para que elas ouvissem suas histórias, agora que a maioria se isola, por medo de infecção, como se alimenta e dorme o griot? E daqui de meu apartamento, no centro de uma cidade média de interior, isolado e imune desse caos, penso nesses que deveriam ser meus ídolos, mas que nada puderam fazer para mudar o rumo de tristes eventos. Por vezes leio um poema de Maiakowski, me angustio como Walter Benjamin, escarro sobre a estupidez desses tempos como Nietzsche, tento me convencer que basta estar vivo para que exista razão em minha parca existência, e assim vivo muitos amores como Sartre, mas me canso de mim mesmo e tento me perceber dentro da loucura da prisão em que me situo, ao buscar significado na arqueologia das coisas. Foucault, Orwell, Tolstói, Steinbeck... Por vezes ouço a voz de mulheres perdidas no tempo... A paixão por investigar, que herdei de leituras de Agatha Christie, e que devido a isso, me vejo como um gato entre pombos. Donna Haraway pela ideia de criticar a ciência e perceber na tecnologia vários problemas epistemológicos situados, e que por isso, em breve teremos que estudar uma antropologia que seja mais sobre ciborgues que sobre humanos. Viver sonhos lúcidos e viajar pelos cenários em fluxos contínuos pelas mentes dos personagens como fazia Virgínia Woolf. E então chego ao ponto em que quase esqueço dos brasileiros, dos latinos, dos asiáticos e africanos. Paro de escrever, releio onde o texto foi parar... Observo que ainda não citei as figuras históricas que o griot me ensinou, nem falei sobre as lideranças indígenas que tenho como imagem de força e resistência. Iniciei a viagem com os brancos estrangeiros que rodeiam minha mente, que tentaram inventar meu caráter. Aí volto os olhos para os colegas que tentam se movimentar contra as estruturas que tornam a vida desigual, e penso no que citariam... Marx? Lênin? Bakunin? Preciso pesquisar mais! Agora que me encontro em período de quarentena, talvez haja tempo para repensar minhas próprias contradições. Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Maria Firmina dos Reis, Luís Gama, Dragão do Mar, Machado de Assis, José do Patrocínio, o grande poeta simbolista e seus sonhos: Cruz e Souza, Nilo Peçanha, Antonieta de Barros, Carolina de Jesus, Mário Juruna, Davi Kopenawa, Sônia Guajajara, Raoni Metuktire, Ailton Krenak, Kerexu Yxapyry, Denilson Beniwa, Seghor, Sembene, Chinua Achebe, Amílcar Cabral, M’Bokolo, Hampátê Bâ, Ki-Zerbo, Mudimbe, Appiah, Eduardo Mondlane e tantos outros e outras... e meu professor, o griot, Paulo Nogueira.
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Luto
Um dia minhas letras vão chegar até você. Aí eu não vou mais precisar perder tempo. Eu só vou ganhar quando escrever. O negócio é que... Fiquei muito tempo sem te ver. Ontem mesmo eu me perguntei como é seu rosto. Procurei na memória alguma imagem nossa e viajei pelos labirintos criados por minhas decisões mal feitas. Vagabundo, sem rumo, vago pelo mundo sombrio da imaginação. Sinto essa prisão, esse vazio que é correr sem sair do lugar. Fugitivo sou da culpa. De querer me fixar, de ver razão na labuta. E a arte some, minhas letras dormem e nada de me levantar.
Pelo que luto, se a vida em luto vivo a passar...
E essa noite eu fico aqui mais uma vez pensando em te contar. Que de nada adianta perder o tempo todo a lutar. Um dia vamos morar na Lua, em uma comunidade que colhe o que planta e que tem muita sorte na vida. E esse planeta vamos deixar para nossos ancestrais que passaram seus tempos lutando para sair do lugar. Migraremos através do pensamento. E no mais tardar do fim dos tempos, veremos uma estrela cair e se apagar.
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Gregor Samsa
Nas últimas semanas, perdi a noção do tempo. Durmo às 8 horas da manhã e acordo ao fim da tarde, com sede, mas querendo sonhar mais um pouco. É como se a angústia de virar um quarto de século em vida me tornasse algo aquém da realidade. Às vezes me pego sonolento em minha cama, olhando para o teto, tentando entender como virei esse grande inseto. Minha metamorfose inacabada é a minha razão desesperada de vir a ser algo que não possui materialidade. Eu sou a própria singularidade no meio do vórtice de luz que cobre o espaço entre minha lucidez e o novo. O que aprendo e o que ensino? Faço desse mundo algo mais interessante? E a minha arte? Onde está a minha arte? Desatei em continuar a me esconder nessa vida induzida. Um quarto de século no limiar da eternidade... Seria eu a grande besta que virá reduzir o Ocidente às cinzas? Ou serei eu a grande tartaruga que da festa no céu dos Igbos despenco, para dos seus cascos formar os continentes? Sou apenas um inseto. Um parasita, preso em uma colmeia de códigos que levam a cabo os fundamentos básicos de viver como um ser humano. Vou me desumanizando, na medida em que racionalizo o desespero da tragédia humana. E o mundo fora de meu quarto, segue pegando fogo, sendo consumido pela ganância e as desvirtudes das distopias apocalípticas. Hoje, quando acordei, havia me tornado um enorme inseto, com medo de ser esquecido pelo tempo. Sujeito ao caos de viver sem direção, de tornar a perder minha razão, de lutar contra os novos inimigos das convenções produzidas pela imaginação. O monstro é o sorriso daqueles que entopem seus dias de hipocrisia mundana. E o planeta é consumido como um produto fabricado em um universo clandestino. E o trabalho? A quê trabalho? Sou um grande inseto correndo pelas vielas da América Latina. Vinte e cinco anos de sonho e solidão. Quem dera o General saísse de seu labirinto e ostentasse consigo a insígnia da libertação dos povos Andinos. Embarcaria então em um avião, rumo à mãe África, pedir a benção ao grande ancião. E à noite, tornaria a deitar em minha cama e pediria para as forças que regem a morte que eu não voltasse a tornar-me esse grande inseto.
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Serena
Tenho certeza de que o sol nasce atrás daquele prédio em construção, mas daqui não dá pra ver, se não, apenas um clarão. Quando raia o dia após a noite fria, que não se passara vazia, pois tudo na vida se alinha tomando a direção daquilo que há no fundo de algum canto perdido em meu rumo... E por aí nessas construções, algum operário vadio leva um pandeiro, faz um churrasco e canta a alegria do nascimento de sua filha. Serena! Escolheu esse nome porque todo dia a labuta toma conta de tudo, e o ritmo desses tempos doidos suplica um pouco de paz. Dizia que juntava dinheiro pra viver na praia. Mas era janeiro e descobriu que seria pai. Agora Serena era como o sonho de verão. Como queria que fossem suas sonhadas férias, lindas, tranquilas e serenas.
E essa banda cearense que mistura vários ritmos brasileiros, que gritam a juventude desses tempos? E essa música que canta nossos momentos, quando entrega em meus braços teus lamentos e me deixa tragar um pouco do relento no telhado do prédio que construímos juntos... É aqui que passo hoje meus dias. No vigésimo sexto andar, debruçado na janela, observando os pássaros a voar. Acendo meu cigarro para ver as cinzas se desmancharem com o breve sopro do vento. É do alto que cai minha vida. É nesse silêncio que me sinto distante de mim. Hoje eu ouvi aquela banda do Ceará. Quem dera fosse eu, Serena, a me embalar contigo em uma rede à beira mar.
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O artista
O artista carrega no peito a verdade esculpida na experiência vivida. A experiência sonhada é representada na alma esculpida pelo artista. A vida é a experiência esculpida na verdade sonhada pela alma dos artistas. E o sonho é a arte experimentada todo os dias por aqueles que esculpem suas próprias almas. Viva o artista que sonha suas vidas e vive suas verdades! Existe dentro de todos, um artista, que sonha e que vive pronto para esculpir uma vastidão de experiências a serem vividas.
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Eu gostaria de te perguntar Onde vão as nuvens que passo o dia a contar E quando as folhas cantam com o vento a bater Quantas histórias contam a você
E se outro dia eu voltar Pelo caminho que sonhamos traçar Querendo o tempo pelo rio correr Em direção ao mar do prazer
Onde estarão as cancões que escrevi As noites que passei sem dormir As vidas todas às quais não vivi E todas as paixões que vi partir
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À Dindi
Se eu te disser que és Dindi, aceitarias ser o porto seguro onde pouso a cabeça no fim do dia? Ou seria Dindi o lugar da infância onde eu brincava de correr e saltar no rio, sujar de lama, caçar vagalumes? O que aconteceu com os vagalumes? Sento aqui nas noites frias, doente de minhas alergias, doente sem sua companhia, ouvindo baixinho um disco do Tom, pensando em ser uma onda. Fazer parte do mar, erguer-me junto à maré.
E quebrar.
Como todos os outros, fui condenado pelos deuses a viver assim. Acordar de manhã, empurrar a pedra até o alto do morro, sem esperar nenhum retorno. E se eu morresse? Não! E se eu me revoltasse? A ira dos deuses é a chama da liberdade. A liberdade é a única esperança dos condenados.
Mas Dindi, se tu soubesses como machuca... nem Cícero, nem Ícaro, nem asas que me façam voar me libertarão tanto quanto respirar e ver o sol nascer.
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No frio da história
Hoje antes de dormir eu lia um livro, agora sonhando me perco entre as palavras que entregam-me aos desejos de viver essa vastidão de sentidos ocultos nos limiares da imaginação. Era dezembro em algum tempo perdido no sertão do nordeste. As nuvens se acumulavam sobre a pequena cidade, as pessoas corriam para desmontar a feira dos sábados, os bêbados nas calçadas contemplavam a ventania batendo as janelas das casas, e a chuva que chegava era o maior espetáculo do ano. Peguei carona em um dos redemoinhos, voei bem alto como passarinho e fui pousar ao sul de um grande rio que deságua na prata entre os bons ares e a vista do monte, pra lá do sacramento de velhos guaranis que de suas barcaças deram nome ao Atlântico. Era julho do tempo presente, dois graus lá fora, a neve em algum lugar da serra já caía e o tempo de viver manso e tranquilo já passara. Eu queria me sumir do tédio de viver férias frias dentro de um pequeno apartamento do interior. Querendo ter dinheiro pra viajar um pouco, ver ela uns dias e descansar meu tento. De onde venho, todos se sentam ao redor de um velho que acende o fogo de chão e dá-se o dia todo a contar histórias de índios, caboclos e sertanejos. O pinhão assando, o mate passando e o fogo ardendo ao som do galope de cavaleiros sedentos brigando por um pedaço de chão. As espadas degladiavam-se, os chapéus se perdiam e os lenços manchavam-se de sangue, que pingava na relva fria daonde subia o vapor, e a chaleira quente servia um novo mate ao trovador. E de lá parti para outros picos, rituais nos matos ao norte, revoltas no mar do caribe, a cordilheira dos incas, e quem sabe se eu der sorte, em um desses sonhos me encontro mais forte para lidar com a história desses novos tempos.
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Das utopias e distopias
As vezes eu não consigo dormir. Por certo, devo ter vários motivos conscientes e inconscientes para a insonia que se propaga através das minhas noites. O que interessa mesmo é o que eu faço com ela. Por vezes me pego aqui, na frente da tela, com as mãos no teclado. Hoje resolvi escrever um pouco. Tive um dia cheio. Daqueles dias de universitário preocupado com o mundo em que vive. Roda de debate miada, as mesmas reclamações sobre o governo, alguma ação, mas a sensação de impotência que reina nossa formação. Estamos sendo formados para uma prole que não tem consciência de si. Proletários sem trabalho, pão e voz. É isso que nós cientistas sociais, historiadores, filósofos e educadores nos tornaremos. Máquinas darão aulas em nossos lugares, para educar novas máquinas que façam máquinas que mecanizem o mundo. O pensar é nocivo à codificação do mundo. Porque o pensar modifica constantemente o modo de ler e codificar a realidade. O pensar é o exercício que mais aproxima o homo sapiens de suas noções abstratas de valores e princípios. É a base da espécie. Querem acabar com a nossa espécie e criar uma nova, porque essa deu errado. Mal sabem que a nova espécie já existe. A nova espécie de hominídeo está um passo além da realidade física. Ela opera através de redes de códigos que transmitem algum tipo de significado para a realidade física. A nova espécie opera em uma dimensão virtual e é fruto da ficção criada pela capacidade de abstração da espécie anterior. A nova espécie de hominídeo é uma ideia que já não conseguimos contemplar apenas com as narrativas que possuímos para explicar fenômenos ou eventos dessa realidade. Nenhuma ciência tem conhecimento suficiente para narrar essa rede de códigos. Ela tem vida própria e está se expandindo. Para que ela continue existindo não haverá mais necessidade de sapiens realizando o exercício do pensar, pois o mundo abstrato já estará pronto e as narrativas já estarão todas gastas. O entendimento será simples. Basta que se aja de acordo com o homo deus. E talvez tudo isso que estejamos vivendo já seja algo criado por essa nova espécie. Como se fossem narrativas das narrativas possíveis. Uma abstração da abstração que tentamos produzir ao pensar. Um passo além do nível de acesso ao conhecimento que nosso cérebro é capaz de reproduzir. E toda essa realidade se torna um simulacro, porque simula a narrativa que foi produzida pela abstração de algo criado a partir da abstração do mundo físico. Os sapiens criaram novos mundos através da abstração e esses novos mundos possuem as suas abstrações, que possivelmente somos nós mesmos, tentando sobreviver as disputas de narrativas que todos os dias nos cercam. São narrativas brigando contra narrativas e todos estão esquecendo o que realmente faz diferença para se estar e viver na realidade física. As disputas no campo das narrativas só serão superadas quando a realidade física impor suas regras de sobrevivência, como se retornássemos milhões de anos no tempo e voltássemos a lutar por alimento e a tentar sobreviver as intempéries impostas pelo ambiente. Ou quando todos nós pudermos acessar as narrativas que criamos sem interferir na narrativa do outro e a vida se tornar novos simulacros, que não passam de códigos criados pela abstração da abstração do mundo físico. Para quebrar esse código é preciso duvidar da realidade. A maior força do sapiens que ainda acredita em sua espécie é o pensar. Só o pensar possibilita a dúvida e a dúvida é a grande dádiva que levamos milhões de anos para desenvolver e compartilhar entre os membros da espécie. Nenhuma narrativa deveria estar acima da fome, do sono, do medo e do sexo, para explicar o que devemos ou não ser e estar no mundo. As narrativas em sua essência tratam-se apenas dessas questões. São as abstrações das tensões e condições às quais o animal homo sapiens está sujeito. É preciso olhar com criticidade para toda e qualquer narrativa que cria um lugar imaginário e abstrai a nossa própria abstração. A era das utopias e distopias ainda não acabou.
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Nostalgia
Sábado, junho de dois mil e quinze. Eu, uma garrafa de vinho, o fone de ouvido, um casaco pesado. Faz frio nas dunas, a areia fina escorre das mãos e o vento gelado carrega os grãos pra perto do mar. Ao fundo, os morros atrás da Lagoa com seu verde complementam o arroxeado céu do fim de tarde. A noite vai cair, eu vou me sentar na roda com essa gente toda, cantar as músicas que caem como prantos em tempos que a vida passa ligeiro. Músicas de outros tempos que anunciam nossa era enquanto gritamos ao relento, esperando que a lagoa leve nossas vozes para o além. Cantamos alto para que nosso som se aventure por aí a fora e viva muito mais que as figueiras dessa ilha. Somos todos viajantes nessa juventude breve, experimentando goles de liberdade. Quem nos passa a garrafa é o tempo, um bêbado intrépido, que aos poucos toma tudo pra si, sem nos deixar um pingo sequer. Assim sobrevivemos o raiar de um novo dia. E fica em mim toda a alegria de ser uma pequena porção de energia que flui pelas ruas frias desses invernos que vão e que ficam e que são mais uma grande manifestação do universo conspirando pra vida toda acontecer. Nos anos que se seguem eu corro a todo instante pra ter aquilo que nunca serei, porque sou o que não preciso ter, e os breves momentos em que respiro são essas férias de inverno que tiro, resumidas a noites de sábado em minha sala, ouvindo a tropicália, a bossa nova, o samba de morro e a capoeira, sonhando com outros anos em outras datas, locais e poemas. Balançando com a regueira, mexendo o corpo com a zabumba do forró pé de serra, querendo reviver a nostalgia do rock gaúcho e todo o rasgado acústico por trás de um violão de base pra um rap e sua mensagem, verdadeira poesia das ruas dessas cidades cinzas de velhas paisagens. Minha nostalgia me guia nesses rumos tortos que essa vida fria leva. Insisto nesse amor pela juventude que aos poucos se vai, esquecida na batida solitária de almas perdidas na noite a fora. Escondem-se de si o mundo, mas o mundo escancara tudo que se fala dele em segredo. O mundo é o som de uma guitarra, uma voz que canta, uma fogueira na roda de som à beira do mar.
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Feriado
Caminhar nessas ruas vazias do feriado quente de verão, me dá um gelo, uma solidão. Essa cidade não vale nada, nem se fosse a última parada antes do fim de tudo, nada aqui aconteceria. Se o mundo acabasse seria feriado em Passo Fundo. E eu nessa onda vagabunda, esperando a vida passar devagar, porque nada aqui se pode mudar. A alma está condenada a perseguir o destino impossível que é sair do mundo que a criou. Se lembra aquela vez? Quando fui na formatura com outra pessoa e te deixei triste, sem ter nenhuma razão. Eu precisava fazer o diferente pra me sentir outro qualquer. Prometi que iria te ver no inverno em São Paulo. Subir no alto do Copan e compartilhar a vista dos prédios a se perder no horizonte. Andar de metro no horário de pico e me perceber vivo na vastidão de pessoas perdidas no sistema. Mas eu trai meu ímpeto de vencedor. Destruí o discurso fortuito de transformar o mundo através da persistência, da sangrenta persistência que tem o pobre nesse país. Esse ano serei como Belchior, terei vinte e cinco anos de sangue, de sonho e de América do Sul. Ano passado eu morri, mas nesse eu não morro. É verdade, eu realmente morri ano passado. Matei os meus sonhos de jovem inspirador. Morri em uma noite da lua que minguava através das marés do Atlântico. O vento sul batia rasante em meu peito aberto ao relento, no sul da ilha das bruxas que cantam no verão. Em Desterro perdi meus segredos, perdi o medo e conheci os desejos mais sinceros que tem o bicho humano. Hoje, aqui nesse vazio me encontro, pensando em mais um artigo, compartilhando memes e conseguindo matchs sem falar com ninguém. Virei o ciborgue que tanto detesto. Mas volto a me apaixonar toda a vez que alguém se abre comigo. E outro dia de domingo quero viajar pra te encontrar. Em Tramandaí, Porto Alegre ou Santa Maria, ainda não sei onde ir primeiro, quem sabe no ano que vem, quando vier outro Janeiro. E que daqui a três anos possamos morar em Montevidéu ou Buenos Aires, quem sabe no Rio de Janeiro, Santiago ou em qualquer outro lugar. Desde que eu esteja perto daquilo que eu quero, que eu faça mais do que fiz antes, que eu me perca no viver a vida por viver, por estar, por querer. E assim eu sigo pelas ruas vazias desse feriado, vou beber um trago, fumar um cigarro e cantar meus sambas tristes, e logo já vem outro fim de semana e a vida que se passa cigana.
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Madrugada
Certas madrugadas sinto uma forte vontade de pegar minha bicicleta, colocar uma mochila nas costas e desaparecer no mundo. Toda manhã vejo a vida se encaminhando para criar raízes na terra que não deveria prender ninguém. Por isso, talvez, se eu estivesse por aí, pedalando sem parar, eu não desapareceria, eu ressurgiria dentro de mim e seria tudo o que é livre. Não deixaria que o dinheiro comprasse meus passos, limitesse meus horizontes, nem que alimentasse meu ego por status, por vaidade ou por ganância. Apenas a liberdade como deusa que me guia pelas estradas, rios e matas, e abençoa meu caminho cheio de desvios que são novos caminhos dentro de tudo que for possível de apreender desse mundo. Que um dia isso acaba e fica a bicicleta dando voltas com outro espírito livre que acredita nas possibilidades de sua vida. E lá se vai outra madrugada que sonho em pedalar, mas pela manhã me vejo no espelho e olho o humano programado que me tornei. Meus joelhos ficaram duros, meu sangue ficou gelado e meus músculos se artrofiaram, porque passo o dia todo sentado em frente ao computador. Minha pele é fina, branca, fraca. Meus olhos são pálidos e só enxergam através dos números. Varios anos de sol perdidos. Nunca vi o mar... Minha bicicleta é mais um enfeite na sala de estar.
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