Tumgik
alenisga · 4 years
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A arte urbana como espaço de expressão para minorias
 Após a Segunda Guerra Mundial, novas correntes de Urbanismo se popularizaram. O Modernismo, criado por Le Corbusier na década de 50, e o Construtivismo soviético passaram a postular uma nova configuração urbana extremamente racionalizada. Divisões funcionais de vias de circulação, adequação às densidades populacionais, racionalização do uso do solo e distribuição planejada de linhas de transporte público de massa que gerariam o desenvolvimento mais do que só segui-lo.
 No Brasil, a ideia da nova capital em vias de se tornar realidade bebeu em cheio dessa fonte, com Lúcio Costa e Niemeyer dando uma face clara às ideias modernistas. Posteriormente, a capital do estado de Tocantins também seria planejada. Ver Brasília do céu é lindo, a vida no solo deixa a desejar.
 A racionalização a priori do desenho urbano pode ter vantagens teóricas inesgotáveis, mas a prática provou-as limitadas. O estilo de vida cuja imposição fora tentada no coração do cerrado provou algo hoje mais claro: as pessoas fazem a cidade, não o contrário. O estilo de vida celular (com unidades de habitação, lazer, serviços e bucólicas dentro de um perímetro caminhável - no caso de Brasília chamado de “super-quadras”) foi abandonado logo após as primeiras tentativas. As fachadas de lojas que deveriam ser voltadas para os prédios residenciais, voltaram-se para as vias de acesso de veículos; a via de serviços tornou-se uma via morta e nos entornos da capital começaram a surgir polos de entretenimento mais vibrantes.
 Já na década de 60, críticas aos modelos urbanistas modernos se consolidavam. Delas, a mais vocal foi a de Jane Jacobs, hoje considerada a maior urbanista de todos os tempos (e era jornalista, nunca tendo frequentado um curso de arquitetura!). Em seu livro mais conhecido “A vida e a morte das grandes cidades americanas”, Jacobs analisa as problemáticas decorrentes de um mal planejamento urbano. Em uma época onde as “express freeways” (rodovias expressas, do inglês) eram sinônimo de progresso, a jornalista-urbanista foi na direção contrária e lutou contra a implantação de rodovias elevadas que cortariam Manhattan. Ela dizia que o bom urbanismo olha para o que a cidade é, não o que queríamos que fosse; que a peça fundamental que garante o bom funcionamento de um espaço urbano são as pessoas e seu engajamento com o mesmo espaço. Também que o urbanismo bem feito é capaz de reduzir a criminalidade, pontencializar a economia (com maior número de vendas no varejo, por exemplo) e, consequentemente, aumentar a felicidade dos habitantes.
 Jacobs foi revolucionária porque gostava de olhar sua rua pela janela.
A arte urbana na construção da identidade citadina
 A arte urbana vem em várias formas. Desde projetos maiores como as pontes metálicas para pedestres que cortam o rio Tâmisa em Londres e o rio Laffey em Dublin, ou como as esculturas e estátuas que aparecem em grande parte das cidades do mundo, tentando manter viva a memória de uma figura local ou nacional. Também podem ser intervenções menores, como a intervenção do artista inglês Ben Wilson na ponte Millennium, em frente ao museu de arte contemporânea Tate, na capital inglesa; ou as mais conhecidas de todas, o grafite.
 A cultura do grafite surgiu associada ao movimento hip-hop que florescia nos Estados Unidos na década de 70. Era uma forma de expressão da população marginalizada das grandes cidades, em suas maioria negra, na maioria das vezes feita às margens da legalidade. Retratavam nomes de gangue, frases de protesto, até começarem a retratar temas mais universais, como a guerra ou o amor. No Brasil, o grafite apareceu mais ou menos na mesma época e também ganhou força junto com o movimento hip-hop brasileiro, do final da década de 70, com os encontros na Estação São Bento. O break-dance, o grafite e a rima eram a arte da população negra de São Paulo.
 Com a valorização da música negra pelo mercado internacional (hoje em dia o estilo é o mais rentável), houve movimentos de elitização também das artes plásticas do movimento. Jean-Michel Basquiat incorporou técnicas de grafite para a elaboração de suas telas, e foi um sucesso absoluto após ser apadrinhado por Andy Warhol. Os Gêmeos, irmão grafiteiros brasileiros, ganharam visibilidade internacional, realizaram exposições em outros países, além de terem sido chamados para grafitar um castelo na Escócia.
 Alguns artistas tentaram manter mais a identidade urbana do grafite e mantiveram a maior parte do seu trabalho nas ruas, como é o caso de Banksy, que começou em Londres e logo espalhou sua marca por toda a Europa e Estados Unidos. 
 O grafite é efêmero por natureza, e combativo, revolucionário e emancipatório. Por isso nem sempre foi bem visto.
Os problemas
 Além de poderem ser causa de violência entre gangues (“atropelar” ou “ratar” são termos usados para quando um grafiteiro faz sua arte por cima de outro já existente, e pode causar conflitos), muitas vezes grafites perdem qualquer valor de revolta, destruindo fachadas de prédios ou de lojas. Além disso, algumas prefeituras adotam uma guerra aberta contra grafiteiros, punindo-os severamente, o que já foi provado que não funciona. Outras, porém, adotam áreas de grafitagem livre para que estes artistas possam se expressar, além de empreendimentos privados, que também podem contratar um destes artistas.
 Em São Paulo, há pontos turísticos baseados na cultura do grafite, como é o Beco do Batman. O mesmo ocorre em outras cidades grandes, como Bogotá, na Colômbia. 
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