acronicaemcritica
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acronicaemcritica · 1 month ago
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O que falta é conversar!
O mundo moderno tem se tornado uma arena onde o diálogo, aquele verdadeiro, tem dado lugar a debates que mais parecem disputas de poder. As conversas, antes carregadas de intenção e busca por entendimento, hoje parecem se reduzir a embates, onde vencer o argumento se tornou mais importante do que ouvir e ser ouvido. Cada vez mais, as interações entre as pessoas – seja no contexto de relacionamentos pessoais, familiares, ou mesmo profissionais – se assemelham a campos de batalha, onde ideias se chocam e dificilmente encontram um ponto de convergência.
Vivemos em uma sociedade que parece ter desaprendido a arte de conversar. O conceito de “diálogo”, por si só, perdeu sua essência. O que antes era visto como uma troca mútua, um caminho para o entendimento, tornou-se, em muitos casos, um cenário de imposição de opiniões. As pessoas falam, mas não ouvem. Expõem suas ideias, mas não estão dispostas a absorver o que o outro tem a dizer. E assim, as relações se tornam mais frias, mais distantes, porque a capacidade de se conectar com o outro, através da palavra, está se esvaindo.
Isso não é uma questão de um ou outro indivíduo. É um reflexo de uma sociedade que valoriza o sucesso individual acima da coletividade, onde o tempo é escasso e as interações são rápidas e superficiais. O diálogo, que deveria ser uma ponte para o entendimento, acaba por se transformar num muro de incompreensão. Há uma tendência crescente de transformar qualquer conversa em um debate, e qualquer debate em uma discussão. E, assim, o ato de conversar perde sua força transformadora.
No Brasil, essa din��mica parece ainda mais presente. Vivemos em um país marcado pela diversidade cultural, social e econômica, onde os conflitos de ideias poderiam ser uma fonte rica de aprendizado e crescimento. No entanto, o que vemos é uma sociedade que, muitas vezes, recorre à polarização e à retórica inflamada, dificultando ainda mais o espaço para uma troca verdadeira.
A semântica da palavra “conversa” tem sido deturpada. No seu sentido mais puro, conversar deveria ser uma ação voltada para o entendimento mútuo, um encontro de mentes em busca de um propósito comum, seja ele a resolução de um problema ou o simples prazer de compartilhar pensamentos. Mas o que acontece hoje é que as pessoas entram numa conversa já munidas de suas verdades absolutas, sem a disposição de se permitir serem transformadas pelo outro. Como consequência, o verdadeiro diálogo morre, sufocado pela necessidade de estar certo.
Essa falta de predisposição para o diálogo cria uma sociedade cada vez mais fragmentada, onde as pessoas parecem viver em suas próprias bolhas, incapazes de ver o outro como alguém com quem podem aprender, crescer e se transformar. As relações interpessoais sofrem, porque sem diálogo não há conexão real. E essa ausência de conexão gera frustração, isolamento e, muitas vezes, uma sensação de aprisionamento.
Em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais conectadas por meio da tecnologia, paradoxalmente, nunca estivemos tão distantes uns dos outros. As redes sociais nos dão a ilusão de que estamos em constante diálogo, mas na realidade, muitas vezes reforçam as barreiras que nos separam. O excesso de informações rápidas, de opiniões em choque, nos afasta daquilo que é essencial: a capacidade de ouvir com atenção e de falar com intenção.
Assim, fica a reflexão: será que estamos dispostos a reaprender a conversar? Será que conseguimos, como sociedade, resgatar a predisposição ao diálogo genuíno, onde o objetivo não é convencer ou ganhar, mas entender e se conectar? Essa é uma jornada necessária para que possamos construir relações mais saudáveis, tanto em nossas vidas pessoais quanto na coletividade.
“Aprisionadamente” é um espaço onde esses questionamentos são explorados. Onde refletimos sobre como o aprisionamento à nossa própria mente, nossas ideias fixas, pode ser a chave para nos libertarmos das dinâmicas que nos afastam. Porque, no final, é o pensar que nos liberta – mas só quando estamos dispostos a compartilhar e a escutar.
#conversa #evoluir #pense
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acronicaemcritica · 2 months ago
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A Era das Narrativas e a Distopia do Controle Emocional
Vivemos em tempos onde a distorção do pensamento crítico se infiltra no dia a dia. O Brasil, terreno fértil para teorias desvirtuadas e gurus de ocasião, tem visto o conceito de inteligência emocional ser subjugado por uma interpretação manipuladora. A psicologia positiva, filosofia de vida ou, mais gravemente, a teologia da prosperidade, tornou-se uma bandeira que muitos empunham para justificar seus atos e pensamentos. Um exemplo claro dessa deturpação foi o debate entre Pablo Marçal e Luiz Datena na TV Cultura. Ali, pudemos testemunhar a vulgarização de conceitos éticos e morais em nome de um autocontrole emocional que, ao invés de promover a empatia e a compreensão, serve apenas para tirar proveito.
A inteligência emocional, muitas vezes apresentada como a capacidade de controlar emoções, vai muito além disso. O verdadeiro sentido desse conceito não reside no controle frio e calculado dos sentimentos para manipular, mas sim no autoconhecimento e na habilidade de reconhecer a si mesmo e ao outro. Essa troca dinâmica de compreensão entre indivíduos deveria ser usada para o bem comum, e não para o oportunismo que, em certos casos, roça a psicopatia social.
Vivemos numa sociedade onde narrativas têm se sobreposto aos fatos. As redes sociais desempenham um papel crucial nesse fenômeno. Em um mundo saturado de informações, é fácil criar histórias simples e dicotômicas – o bem contra o mal, o herói contra o vilão. Esse maniqueísmo afasta as pessoas da verdade factual, impondo visões distorcidas da realidade. Essas narrativas não apenas seduzem, mas também formam opiniões. Pessoas deixam de investigar, de pensar criticamente, de checar fatos. Passam a consumir conteúdos prontos, sem questionar, sem dialogar.
No mercado de trabalho, esse fenômeno se reflete de maneira preocupante. A busca pelo sucesso a qualquer custo, o individualismo desenfreado e a ética flexível parecem ser as novas leis de sobrevivência. Em vez de usar a inteligência emocional para contribuir com a evolução coletiva, muitos se aproveitam das fraquezas e inseguranças alheias para benefício próprio. Contudo, é fundamental que entendamos que um sistema assim só pode prosperar temporariamente. A longo prazo, a falta de responsabilidade coletiva e de empatia se volta contra todos.
O individualismo não é, por si só, um problema. Desde que seja sustentado por uma moral sólida, pela ética pública e pelo respeito às leis, ele pode coexistir com a coletividade. No entanto, o que temos visto são indivíduos que, ao carecerem de valores éticos profundos, usam a própria individualidade como escudo para a ausência de responsabilidade social. E é justamente aí que reside o perigo. Líderes como Pablo Marçal e Augusto Cury, por exemplo, personificam essa nova era de gurus, com discursos que beiram a religião, e que, ao invés de libertar, aprisionam. Quando a espiritualidade vira ferramenta de manipulação, ela deixa de ser algo positivo e se torna um instrumento de controle.
Encerrando essa reflexão, deixo o seguinte questionamento: em que ponto passamos a valorizar mais a narrativa que o fato? Por que essa preguiça de pensar, de checar informações, de realmente conversar e construir uma argumentação sólida? A conversa genuína foi trocada por discursos prontos, por respostas automáticas, por chavões que não suportam o peso de uma discussão profunda.
Que esse texto sirva como um convite à reflexão. Precisamos, urgentemente, resgatar a verdade factual, a ética e a inteligência emocional em sua forma mais pura, para que possamos evoluir como sociedade. #filosofia
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acronicaemcritica · 2 months ago
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Caráter, Vontade e Desenvolvimento: O Verdadeiro Valor na Contratação
No mundo corporativo, parece que as habilidades e qualificações técnicas se tornaram o foco absoluto na hora de contratar. Buscamos pessoas que já chegam prontas, com todos os certificados e competências exigidas pelo mercado. Nos currículos, priorizamos o que já foi feito, as conquistas passadas, as ferramentas dominadas. Mas será que estamos olhando na direção certa? Será que o verdadeiro diferencial está apenas nas habilidades?
Contratar baseado somente nas competências é como escolher um atleta apenas por seus recordes. Claro, eles importam, mas o que sustenta essas conquistas? O que vai garantir que ele continuará evoluindo, aprendendo e se adaptando? É aqui que entra a tríade muitas vezes negligenciada: caráter, vontade de desenvolvimento e capacidade de crescimento.
Quando falamos de caráter, estamos falando de algo fundamental, mas nem sempre mensurável em uma entrevista. Pessoas com integridade, com valores sólidos, que entendem o que significa trabalhar em equipe, respeitar processos e, acima de tudo, ter responsabilidade pelo seu papel na organização, são pessoas que podem transformar um ambiente de trabalho. O caráter molda o comportamento, guia as decisões, e é um pilar firme em tempos de crise.
Vontade de desenvolvimento é o motor. É o que impulsiona uma pessoa a querer ser melhor todos os dias, a sair da zona de conforto, a buscar o aprendizado contínuo. Habilidades técnicas podem ser ensinadas. Uma nova linguagem de programação, uma metodologia específica, uma habilidade de gestão – tudo isso se aprende. Mas o desejo genuíno de crescer, a curiosidade e a sede por se aprimorar são combustíveis internos que não podem ser implantados externamente. Quando encontramos alguém com essa chama, sabemos que ali há um potencial que vai muito além do que está escrito no currículo.
A capacidade de desenvolvimento está intimamente ligada à humildade e à abertura para aprender. Pessoas que entendem que nunca estão totalmente prontas, que enxergam o aprendizado como um processo constante, e que têm flexibilidade para se adaptar a novas situações e desafios, são as que mais crescem no longo prazo. Essas são as pessoas que, independentemente do ponto de partida, se tornarão verdadeiros ativos para a empresa.
No fim das contas, é preciso repensar nossa abordagem de contratação. Claro, competências técnicas são importantes e têm seu valor, mas elas são apenas uma parte do quebra-cabeça. Se colocarmos mais peso na busca por pessoas com caráter forte, vontade de desenvolvimento e capacidade de crescer, todo o resto se ajusta com o tempo. Habilidades se treinam, ferramentas se ensinam, mas é esse alicerce invisível que realmente faz a diferença a longo prazo.
Se começarmos a valorizar essas qualidades humanas na contratação, estaremos construindo times mais resilientes, criativos e adaptáveis. Mais do que contratar o profissional perfeito para o hoje, estaremos investindo em quem pode se tornar um agente de transformação para o amanhã.
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acronicaemcritica · 2 months ago
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A Ausência dos Camisas 10 no Futebol Brasileiro
O Brasil já não tem meias de verdade. Aquele jogador que desfilava pelo meio-campo, com a bola nos pés e a cabeça erguida, parece ter se tornado uma espécie em extinção. O último grande que tivemos? Talvez Ronaldinho Gaúcho, o bruxo que encantava multidões com a mágica que brotava dos pés, o sorriso no rosto, como quem jogava pela pura alegria de estar ali.
Mas não é só tática ou técnica. É uma questão mais profunda, que toca a essência de como o futebol brasileiro forma seus talentos. O caso do jovem Estavam é um exemplo clássico. Mesmo com habilidades promissoras de meia criativo na base, ele foi deslocado para jogar nas pontas. É assim que as promessas são moldadas: qualquer lampejo de talento criativo é rapidamente adaptado às exigências modernas, encaixado em um esquema que privilegia velocidade e força física em vez de visão de jogo e inteligência tática. O menino que poderia ser o próximo grande camisa 10 acaba virando mais um atacante de lado de campo.
Essa tendência reflete um problema maior. A busca por jogadores de qualidade tem se concentrado em regiões de maior visibilidade, enquanto posições que sempre foram vitais para nossa tradição, como a do meia clássico, acabam sendo negligenciadas. O futebol brasileiro, outrora rico em diversidade de talentos, precisa resgatar suas raízes. Formar jogadores vai além de criar bons atletas; trata-se de cultivar nossa identidade, respeitar nossa história e produzir não apenas peças para o tabuleiro tático, mas artistas que encantam o campo, que inspiram sonhos.
O futebol, como um espelho de nossa cultura, precisa valorizar o que o fez grande. Afinal, o Brasil não é só velocidade e força. É ginga, é improviso, é magia. E sem os camisas 10, sem os meias que fazem a bola rodar como se estivessem em um balé, perdemos parte dessa essência que um dia fez o mundo se curvar diante da beleza do nosso jogo.
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acronicaemcritica · 2 months ago
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O velho, novo e eterno amor!
Na era do amor “leve e livre”, onde as notificações de aplicativos de namoro piscam mais rápido que a luz de um semáforo, encontramos um paradoxo cruel. Pregamos o discurso de que devemos ser autossuficientes, de que o amor é algo que não deve sufocar, limitar, e muito menos exigir que renunciemos à nossa individualidade. No entanto, o que deveria ser liberdade se transformou em uma armadilha: relações marcadas pelo medo de responsabilidade, pelos limites rígidos e, ironicamente, pela superficialidade que pesa mais do que o compromisso.
Certa vez, Sartre disse que “o inferno são os outros”, e na vida moderna, parece que esse mantra foi levado a sério demais. Vivemos sob a crença de que qualquer concessão feita ao outro é um atentado à nossa liberdade. Ao entrar em um relacionamento, mais parece que assinamos um contrato invisível onde consta a cláusula “não me peça nada além do que eu estou disposto a dar, que é bem pouco, diga-se de passagem”. A modernidade nos trouxe muitas vitórias, mas criou também o fetiche da independência absoluta. Ninguém quer mais lidar com a bagagem emocional alheia, porque, afinal, estamos ocupados demais cuidando da nossa própria.
Simone de Beauvoir, que certamente nos ajudaria a sair desse labirinto, já alertava para o perigo de querer possuir o outro ou de ser possuído. No entanto, parece que levamos essa ideia de forma tão ao pé da letra que o pêndulo foi jogado longe demais. Agora, ao menor sinal de “dependência emocional” ou da tão temida cobrança, cortamos os laços e seguimos em frente, sem olhar para trás. Como se qualquer demonstração de vulnerabilidade fosse um crime contra o sagrado altar da independência pessoal. Beauvoir falava de libertação, mas também da reciprocidade – algo que parece ter se perdido no meio do caminho.
O que temos agora é uma geração que grita “me respeite” sem sequer saber respeitar o outro. Queremos parceiros que se adaptem perfeitamente aos nossos limites, mas que nunca nos peçam para flexibilizá-los. A suposta leveza dessas relações modernas muitas vezes carrega uma densidade cruel, pois o outro, na ânsia de não invadir o espaço sagrado da nossa autonomia, vai se tornando cada vez mais distante. A liberdade, sem empatia e sem o desejo de construir algo a dois, se transforma em uma espécie de solidão a dois.
A questão não é voltar ao passado, àquele tempo de opressão disfarçada de união. Muito pelo contrário, é criar um novo paradigma. Amar hoje não deveria ser uma questão de abrir mão de si mesmo, mas de construir um espaço onde as liberdades coexistem. Onde não estamos sempre em estado de alerta, prontos para fugir ao menor sinal de desconforto. A vida não é uma linha reta de conforto, e os relacionamentos tampouco deveriam ser.
Talvez o que falte hoje, mais do que nunca, seja uma dose generosa de empatia e dedicação. O medo de sermos cobrados, de sermos exigidos, nos leva a encurtar as relações antes mesmo de começá-las. E aí surge o grande paradoxo da vida moderna: somos tão livres que nos aprisionamos em nossa própria solidão. Afinal, ninguém quer ser o “pesado” da relação, mas é assim que todos acabam se sentindo.
O que resta, então? Talvez seja hora de revisitar o que é liberdade em um relacionamento. Não a liberdade de fugir, mas a de ficar. Não a liberdade de nunca ser cobrado, mas a de negociar, de ceder, de compartilhar. Porque, no final das contas, o amor sem dedicação e empatia pode até ser leve no início, mas se torna insustentavelmente pesado com o passar do tempo.
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