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Eu sou vazia
Será que nascemos mesmo como um quadro branco a ser preenchido? Essa foi uma reflexão que apareceu numa roda com amigos, e já vi alguns documentários a respeito. Teoricamente, não, não nascemos completamente vazios, somos determinados pela sequência do nosso DNA, mas o meio em que crescemos influencia muito quem somos.
A exemplo, posso citar uma menina que simplesmente começou a ter comportamentos de um cachorro por conviver com cachorros desde muito pequena, depois de ter sido abandonada (não vou inserir a imagem aqui, pesquisem). Ela latia, engatinhava e se lambia como um cachorro, mal tinha desenvolvimento da fala e só foi ter apoio psicológico lá pelos seus 15 anos. Wolfwalkers da vida real.
Posso dizer que tive apoio emocional na primeira infância (muito importante para o desenvolvimento das crianças, esses anos iniciais), mas teve algum momento da minha vida, talvez ali na pré-adolescência, que minha autoestima foi simplesmente dilacerada. Talvez o começo do entendimento da minha sexualidade, as espinhas no rosto, ter ouvido com bastante ênfase por outros meninos como eu era feia. Sendo que sou uma mulher bem padrão, talvez o desvio esteja apenas no meu comportamento.
Quando comecei a me sentir mais confortável com minha aparência, o que sempre me deixava para baixo era esse sentimento de ser vazia.
E confesso que ele voltou denovo, esse sentimento... Quando tudo parecia estável na minha vida, o sentimento de ser vazia voltou. Por uma série de motivos que podem ser falados depois.
E nessa tentativa de me encontrar denovo, eu voltei, depois de meses, a escutar música mais ativamente, a ler livros que eu queria há tanto tempo e filmes dos clássicos ao clichê, nessa tentativa de entender as paradas que gosto. Muito do que eu sou pode ser confundido com as pessoas que eu gosto, nossos gostos se conectam e é difícil construir um EU completamente isolado da ideia das pessoas em volta.
Tive crises existenciais desde muito cedo, nos diários que eu escrevia, costumava começar com meu nome completo, numa tentativa de me entender de alguma forma, minha concepção, consciência, gostos. Será que o ser humano num geral pode ser resumido numa lista pré-definida de coisas que gosta, traços de personalidade, características físicas? Mesmo nesses quesitos, acho que peco tanto, me sinto uma lista vazia, exceto pelo meu corpo externo.
Todos parecem tão certos e possuem uma ideia concreta de quem são, e eu me sinto essa concha fantasma. Tentando dar algum sentido nesses sussurros abstratos.
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