#mulher também não violenta?
Explore tagged Tumblr posts
Text
Pequeno spoiler de " The very first time I was touched by a man..."
me deixem saber o que vocês acharam!
"Lou...posso te perguntar uma coisa?". "Claro, Haz"
"Você já sentiu tesão por alguém que não deveria?" Louis engole seco pela pergunta inesperada e uma chama se acende em seu peito com o pensamento de que Harry não era tão inocente quanto ele pensava, o quanto ele gostaria...
"Como assim? Tipo uma mulher mais velha?" "Não...alguém mais velho, sim, mas não uma mulher..." Harry olhava para suas mãos que se ocupavam com a taça de vinho que já intoxicava seu organismo o suficiente para o dar coragem de fazer tal pergunta.
"É...não seria alguém que você não deveria sentir tesão, Haz. Não pense assim, tá tudo bem se sentir atraído por homens." ."Eu sei disso Louis, tô perguntando se, você, já sentiu.". "Já...". "E por quem foi? Você tomou alguma atitude?". "Por que essa curiosidade do nada, Harry? Por acaso você está ficando com alguém, hein?..."
Harry se sentiu mais envergonhado que possível, ele não sabia o que responder ao mais velho, como falar sem falar, sem deixar claro que era ele o seu sonho percaminoso, sua violenta vontade.
"Não! Eu só estou curioso, você sabe...na minha idade provavelmente tinha ereções por qualquer garota que respirava, e eu também. Mas outro dia aconteceu por um garoto e eu só queria saber se eram só hormônios ou, não sei! outra coisa"
Louis também olhava para sua mão, não queria admitir, vai que deixava escapar que o mais novo o enchia de desejo, mas ele sabia que tinha que dizer algo, que deveria tranquilizar Harry de alguma forma, o deixar confortável e o fazer entender que poderia ser quem ele quisesse ser.
"Na sua idade não, pequeno, mas acho que a curiosidade acontece sabe, em qualquer idade e é normal. Não sei se foi atração ou algo assim, mas entendo o que você está falando, com certeza os hormônios ajudaram, mas acho que é outra coisa"
"Como eu faço para saber se é outra coisa, Lou, eu não quero ficar com estranho com ele...". "Que nem tava comigo? Foi por isso?" " Você também estava estranho comigo...foi isso?"
...
Com os olhos piedões e cheio de lágrimas pelo tamanho prazer, a boca inchada e aquela aura sexual que o cercava, ele mordeu os lábios inferiores deixando a mostra os dentinhos de coelho, e lambeu a boca de Louis antes de pedir: "Lou, me leva pro quarto! Eu quero que você me deixe molhadinho e pronto pra você."
86 notes
·
View notes
Note
vc pode fazer um hard hours com o doyoung bemmmmm after care????? Desculpa é que eu PRECISO DISSOO!!!
⠀ ⠀⠀ ⠀⠀[ doyoung - Hard Hours ]
| oi amor, obrigada por mandar esse pedido! Desculpa a demorinha pra responder, viu?! Espero que goste, não sei muito bem se conseguir escrever um cenário de aftercare digno, mas eu tentei! Boa leitura. Mwah! (Inclusive, os pedidos para Hard hours e headcanons estão abertos!) |
⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀★
⠀ ⠀
Seu corpinho treme, totalmente judiado, respira fundo, ronrona baixinho, lamuriando o nome do seu namorado junto com palavras desconexas. Definitivamente, não há jeito melhor de passar um final de semana seguido de um feriado como esse, onde você tem absoluta certeza que não conseguirá andar normalmente no outro dia.
Perdeu as contas de quantas vezes o ato libidinoso perdurou apenas naquele dia, isso porque você é tão insaciável quanto seu próprio namorado, fato esse que contribui bastante para você atingir seu limite das coisas, tipo, o limite do limite.
"Morango…" quase sussurra, relaxando o próprio corpo em cima do namorado.
Dito o comando Doyoung para de imediato, sai de dentro de você, a porra quentinha de outros orgasmos escorrega pelo seu canal, pinga na virilha dele. Os braços envolve em um abraço apertado, sente os dedos deslizarem pela suas costas desnudas em um carinho sem pressa alguma.
"Te machuquei, meu bem?" Pergunta preocupado, a voz saindo arrastada, com preguiça.
nega, se encolhe no corpo maior, deita a cabeça no peitoral que até então respirava ofegante igual você.
"Não Dodo, eu só preciso de um tempinho." Doyoung concorda, sobe os carinhos para seus cabelos e beija seu rosto.
A personalidade de agora contrasta muito com a que Kim Doyoung mostra entre quatro paredes, quem vê esse namorado carinhoso e prestativo jamais pensaria no quão sádico o Kim poderia ser na cama. Isso não era uma reclamação, gostava na verdade, eram iguais, se completavam.
Agora depois de uma sequência de foda violenta ele estava lá te dando todo suporte necessário, aquecia seu coração, deixava com borboletas no estômago, como da primeira vez que o viu.
"Vou te levar pro banho agora, o que acha, hm?" Selou seus lábios. "E depois te faço alguma coisa pra comer, você topa?"
Concorda, não fez força para se levantar porque sabia que Doyoung cuidaria disso, te carregou até o banheiro, pôs você dentro da banheira, sabe até qual sabonete colocar na água. O kim lava seu corpo, te segura entre os braços como se você fosse uma pedra preciosa, o que para ele você realmente é, sabe perfeitamente que é queridinha dele. Gosta de todo aquele carinho pós sadismo incomum e gosta ainda mais de ser tratada assim, sente que é a mulher mais sortuda do mundo e autossuficiente, Doyoung sempre te traz esse conforto.
Na hora de comer você também não move um dedinho sequer, apenas senta na cadeira e o observa cozinhar empenhado, faz seu prato preferido, macarrão com camarão a alho e óleo e um suco de laranja para completar. Garfada por garfada coloca o alimento na sua boca até que não reste mais nada no prato, ele sorri com aqueles dentinhos bem parecidos ao de um Coelho e diz que te ama, é verdade ele ama mesmo. Você sorri de volta, agraciada com todas as ações, mas ainda abusa um pouquinho, pede sobremesa, como quem não quer nada e adivinha? Consegue numa facilidade enorme.
Doyoung não cansa disso, de te encher de carinho, depois ou durante o aftercare, porque você é tão boa pra ele, é a mulher dos sonhos que um dia desejou quando era menor.
"Dodo…"
"Uhm?"
"Eu te amo."
"Eu te amo também, meu bem."
#nct#pt br#kpop#nct smut#nct imagines#kpop imagines#nct 127#nct hard hours#hard hours#kim doyoung#mistiskie hard hours
126 notes
·
View notes
Text
Charlie, Calista, Sawyer: The New Arc
ou o que muda agora nas crias de Atena, Afrodite Ártemis e Éolo
Charlie:
Entre a missão de Charlie e o baile, muita coisa aconteceu: a semideusa que antes era apenas instrutora de estratégia agora também faz parte da equipe de estratégia e é a conselheira de seu chalé. Mas sua mudança não se restringiu aos títulos que recebeu; o fato de seu poder - antes visto como inútil por ser passivo - ter sido de significativa diferença tanto na missão quanto no caos do baile fez com que ela percebesse que possui mais força do que imagina. Ainda assim, decidiu aprender a lutar com a lança para ter formas de se defender a curta distância também. Charlie permanece sendo a mulher doce e amável de sempre, mas ela está mais confiante, decidida e participativa.
Calista:
A morte de Flynn pegou Calista completamente desprevenida e com uma intensidade que ela mal foi capaz de suportar. Principalmente por ela estar tratando-o de forma grosseira desde que voltou ao Acampamento, Calista foi invadida por uma imensa onda de luto e culpa por não ter tido chance de se desculpar com ele antes que ele se fosse. Por causa disso, uma mudança radical de humor vai ser notada na filha de Afrodite: ela vai estar melancólica, triste, magoada e com forte desconfiança contra os Filhos da Magia.
Sawyer:
Se tem uma coisa que os últimos tempos vêm ensinando para Sawyer, é que a vida não é brincadeira, apesar da forma como ela a vem levando desde que se entende por gente. Desde que perdeu o olho, a filha de Éolo vem passando por uma montanha-russa de emoções; a revolta da perda com a queda violenta da autoestima, os episódios de negação que a faziam agir como se nada houvesse acontecido, o cargo de conselheira de chalé que a pegou completamente de surpresa e exigiu responsabilidade de si. Agora, com o ataque no baile de Afrodite, algo fica claro para Sawyer: está na hora de crescer. Sua personalidade alegre e amigável permanece, mas agora ela está mais calma, madura e responsável.
#sawyer: extras#calista: extras#charlie: extras#fiz isso aqui mais pra registrar o processo de desenvolvimento e evolução das meninas#e pra vocês entenderem as mudanças nas atitudes delas
15 notes
·
View notes
Text
INFERNO.
• tw: descrição violenta e sangrenta, pode vir a ser sensível. isso aqui é só tragédia sem fim, estejam prontos.
gente, purgatório é o meu xodó e eu vejo potencial nisso aqui. espero que gostem, de coração. caso tenha passado algum errinho mesmo depois da revisão, me perdoem. boa leitura ♡
oito meses antes.
Ouve o bip do sistema de segurança do apartamento apitar assim que passa pela porta. As luzes estão acesas e sente um cheiro de alho vindo da cozinha junto de um farfalhar do que deveriam ser folhas. Sorri. Jaemin chegou antes de você.
— Amor, estou em casa! — anuncia trocando os tênis pretos e pesados por um par de pantufas cinzas. Anda preguiçosamente até a cozinha e joga sua bolsa no sofá durante o percurso.
Assim que chega no cômodo é agraciada com a figura alta do seu namorado picando cebolinha na pia, de costas para você. Ele ainda está com o uniforme preto do trabalho abraçando os ombros largos e tem um boné também preto na cabeça. O garoto se vira para você e balança as sobrancelhas.
— Chegou tarde. Dia puxado? — ele pergunta e você concorda com a cabeça.
— É. Estagiar está sendo mais complicado do que eu pensei — responde com a voz cansada, sem revelar o real motivo por trás do seu atraso. Se coloca ao lado dele para lavar as mãos, bate seu quadril no dele para conseguir mais espaço. O ouve rir — O que foi? Precisa de ajuda aí?
Procura pelo pano de prato para secar as mãos e se apoia no mármore da pia. Vê o rosto bonito dele se contrair numa careta e o sorriso aumentar. Inconscientemente acaba sorrindo também. Bate com o pano branco no peito dele.
— Assim que eu saí da operação eu passei no mercado. Vamos comer yakisoba no jantar — ele diz e direciona os olhos da faca para você — 'Tô rindo porque estava com saudade. Só isso.
Agora é sua vez de rir. Tira o objeto cortante das mãos dele e se põe entre ele e a pia. Passa os braços pela cintura magra e descansa a cabeça no peito malhado. Ali, consegue ouvir os batimentos tranquilos do coração alheio. Encontra em Jaemin o descanso para todo o seu tormento do dia. Se aperta ainda mais nele. Sente os olhos ficando úmidos quando ele passa a acariciar seu cabelo. Droga.
— Senhorita? Está me ouvindo?
A voz da mulher a sua frente te tira do devaneio rápido, estava desassociando. Os olhos piscam alguns pares de vezes antes de voltar a enxergar as luzes fortes, as paredes brancas. Morde o lábio quando se recorda de onde está, é o consultório da sua médica. Está no hospital. Suspira.
— Sim, doutora Kim, estou ouvindo. — responde finalmente e dá um meio sorriso. Ou tenta sorrir, pelo menos.
Observa ela assentir e te entregar um amontoado de papéis sobre um envelope pardo. As mãos tremem na hora de receber e só sabe ficar atônita. Até mesmo respondê-la era uma missão difícil. Portanto, opta apenas por ouvir e acenar com a cabeça na esperança de que ela apenas termine logo a consulta.
— É uma notícia difícil de se digerir, meu bem, eu sei. Mas eu fico feliz de te dizer isso, te contar que estão saudáveis e vou ficar mais feliz ainda em acompanhar vocês daqui para a frente — ela diz com um sorriso acolhedor no rosto.
Você olha para os exames. Volta a olhar para ela.
— Quanto... É. Quanto tempo? — tenta perguntar.
— Quatro semanas e três dias.
— Nossa, ok. É tempo a beça, 'né? E o que eu faço agora?
— Vou te passar alguns exames importantes, te recomendar algumas maternidades e dietas. Vamos começar a preparar seu pré-natal e quem sabe até pensar no seu plano de parto, hein? Mas não se preocupe, terá tempo para... — a voz da doutora é interrompida pelo toque do telefone — Querida, me dá um instante? Estão ligando da recepção.
— Claro.
Mais tarde, você bate a porta do carro com tanta força que, em outras circunstâncias, se preocuparia em ter quebrado ou a estragado. Mas tudo que consegue fazer é repassar todas as palavras daquele maldito exame de sangue que fez horas mais cedo. Quase não consegue enxergar quando as lágrimas se acumulam no canto dos olhos. A respiração fica descompassada e o coração acelera.
O silêncio naquele estacionamento atormenta sua cabeça, deixa os papéis de lado e afunda no banco do motorista. Sente uma carga de emoções de apossando de todo seu corpo e, enfim, parece tomar consciência da notícia que acabou de receber. Está grávida.
Dá uma cotovelada na janela. Chuta os pedais e soca o volante. E é só quando sua cabeça bate na buzina, causando o tão familiar som estridente por todo o espaço, que se permite chorar copiosamente.
Funga forte e sente a fragrância reconfortante de Jaemin. Sua agonia o deixa momentaneamente agoniado também. O garoto pega seu rosto entre as mãos e te olha nos olhos. Ele carrega uma feição tão carinhosa, transbordando tanto afeto e preocupação que faz sua garganta fechar.
— Minha linda? — a voz aveludada dele ecoa — Que cansaço é esse que está te fazendo chorar? Certeza que é só trabalho demais?
Aperta os lábios numa linha reta. Bate a testa na clavícula dele.
— É tudo tão... Estressante naquele laboratório. — responde, resolve não contá-lo sobre a gravidez naquele momento — E ser só uma estagiária não ajuda muito em algumas situações.
Jaemin murmura para que você continue a falar. Ele adora ouvir você falando sobre seu dia, mesmo que, geralmente, não entenda um terço das coisas que diz sobre seu curso e seu trabalho. Está no último ano da faculdade e graças as boas recomendações da escola técnica, aos projetos de extensão bem sucedidos e as excelentes notas, conseguiu um estágio num dos laboratórios de controle agrícola do estado. É, sem dúvida alguma, o maior orgulho de Jaemin.
É colocada sobre o balcão que divide a cozinha da sala e o assiste voltar a cuidar do jantar de vocês. Com isso, continua contando.
— Parece que estão com um projeto de "fertilização" do solo de grandes áreas da agricultura. Alguma coisa sobre jogar agrotóxicos para as plantações de soja e açúcar. Só ouvi por cima.
Morde o lábio e pensa por alguns segundos.
— Aparentemente já começaram os testes para ver se isso tem algum dano a áreas de seca ou sei lá o que mais.
— Sabe que eu não entendo esses termos da sua engenharia ambiental, 'né, amor? — Jaemin diz quando passa por você para pegar um prato no armário ao seu lado — É tudo só um grupo de palavras desconexas. A única que eu conheço é a palavra plantação.
— Sei — você ri e suspira, olhando para seus pés pendurados na ilha da cozinha — O que me aborrece é que eles acharam uma ótima ideia fazer esses testes em terrenos de fazendas e lavouras de trabalhadores independentes — completa indignada — E o meio de convencer essa gente de que isso é uma boa ideia é compensando eles com um "auxílio por cooperação governamental". Isso é tão.. tão baixo. É baixo porque é claro que trabalhadores em condições de fome extrema e trabalho sub-humano vão aceitar um dinheiro "fácil" — faz aspas com as mãos.
Dá um suspiro profundo. Botar tudo isso para fora realmente tirou um peso de seus ombros. As vezes tudo que precisava era de alguém para ouvi-lá. Graças a Deus tem esse alguém em casa.
— Enfim, acho que vou tomar um banho, sabe, tirar as impurezas do corpo e tal — desceu do balcão.
— Claro, vai lá. A comida já vai estar pronta quando você voltar.
— Ok, chefe — deu um beijinho na bochecha do garoto antes sair do cômodo e dar um tapinha na bunda de seu namorado, que ri e te empurra para fora da cozinha.
❍
Assim que saiu do banheiro com a tolha em mãos e vestindo seu pijama quentinho e confortável, ouviu a campainha tocando um par de vezes. Olhou para o relógio do corredor e viu que já se passavam das oito da noite. Franziu as sobrancelhas e foi até a área de serviço colocar a roupa suja para lavar. Logo, ouve a campainha tocando outra vez.
Quando chega na cozinha vê Jaemin terminando de empratar o jantar.
— Está esperando alguém? — pergunta ele.
— Não. Vou ver quem é, já volto — você vai até a porta e olha pela câmera quem está ali.
Quando vê uma figura pequena do lado de fora, franze o cenho imediatamente, reconhecendo a moradora do andar abaixo do seu. Logo destranca e abre a porta, a encarando com confusão. Se agacha e fica de frente para a garotinha, que sorri para você e aperta o coelho de pelúcia que tem entre os braçinhos finos.
— Sae Bom? O que está fazendo fora de casa a essas horas? Está muito tarde — diz a ela, preocupada.
Vê a menina formar um bico rápido nos lábios antes de te responder.
— Oi, é que a minha mãe ainda não chegou do trabalho e eu tô sozinha em casa — ela suspira — Eu assisti desenho mas comecei a sentir fome, mas não alcanço os armários da cozinha.
Você se apressa a colocá-la para dentro do apartamento, a guiando em direção ao sofá e se sentando ao lado dela. Jaemin aparece no canto da sala e sorri para Sae Bom que acena em resposta. Ele te pergunta com os olhos o que aconteceu? e você dá de ombros, igualmente confusa.
— Faz quanto tempo que você está sozinha, meu bem? — volta sua atenção a ela e pergunta.
— Desde que cheguei da escola de van. Mamãe costuma chegar antes de mim, mas hoje a casa estava vazia — responde — Posso ficar aqui até ela chegar?
Sae Bom olha de você para o Na esperando uma resposta, essa que o rapaz não tarda a dar. Ele vai até onde vocês duas estão e se abaixando diante do sofá, sorri amistoso.
— Claro que sim. Avisou sua mãe? — a menina assente com a cabeça, a franjinha dela balança junto de seu rosto.
— Mandei uma mensagem, ela já deve ver.
— Então ótimo! Vem, vamos lavar as mãos e comer uma comida bem gostosa — Jaemin pega na mãozinha dela e a guia em direção a cozinha — Espero que goste de legumes, mocinha.
— Eu como tudo, tudinho! — respondeu entusiasmada.
Você, ainda sentada, assiste a interação dos dois e sente seu coração errar as batidas e quase pode jurar que está novamente com vontade de chorar. Passa as mãos pela barriga coberta pela blusa de pijama e sorri ao ouví-los rindo, não demorando a ir atrás dos dois e se juntar a eles na mesa.
O jantar ocorre de maneira leve. Conversam com a pequena Sae Bom e comem da comida gostosa de Jaemin, a garota não falhando em entreter vocês durante toda a refeição. Ela faz várias perguntas sobre os trabalhos de vocês e conta sobre o dia dela. Descobrem que ela fica sozinha em casa com frequência, uma vez que moram só ela e a mãe em casa, e a mais velha trabalha numa lavouraque fica a duas horas do bairro onde moram. Você e Jaemin se olham preocupados, pensando como pode uma garota de sete anos ficar tanto tempo sem a supervisão de um adulto. Quando sente uma angústia ainda desconhecida em seu peito, pensa saber de onde vem aquele sentimento tão novo, mas logo o afasta e volta a focar nos dois ali presentes.
Decidem deixar a menina dormir ali com vocês, onde ela está segura, alimentada e aquecida, e ajeitam um colchão para que ela durma no quarto de vocês naquela noite. Depois de assistirem um pouco de televisão juntos no sofá, ela logo diz estar com sono e começa a coçar os olhinhos. Você se prontifica a emprestá-la uma escova de dentes nova e deixa um selar singelo na testa dela, a desejando boa noite e avisando para ela que a luz do corredor está acesa. Minutos depois, quando você entra de fininho no quarto para pegar seu carregador, vê que Sae Bom dormiu com celular ligado no peito.
— Mandou mensagem para a mãe dela? — pergunta a Jaemin quando volta a se sentar ao lado dele no sofá — Acho que ela 'tá no grupo do prédio.
— Mandei. Chegou, mas ela ainda não viu — Jaemin diz e te olha — Tomara que ela apareça até de manhã, Sae Bom precisa ir para a escola.
— Ah, verdade — você morde o lábio, pensando — Caso ela não a busque, eu mesma deixo ela lá de carro. É caminho, de qualquer forma.
— Isso, boa ideia — ele concorda — Eu faço um café da manhã bem gostoso para ela. Acho que tem achocolatado na geladeira, criança gosta dessas coisas, 'né?
Você ri soprado, esticando a mão para mexer no cabelo liso e escuro dele. Vê seu garoto fechar os olhos e aproveitar do seu carinho. Ele vai se aconchegando em você feito um gatinho manhoso e quase ronrona quando se deita entre suas pernas. Seus dedos descem dos fios sedosos para o pescoço e se acomodam nos lóbulos das orelhas, onde acaricia de forma suave, do jeito que sabe que Jaemin gosta.
— Desde quando você tem tanto jeito com criança? — ele te pergunta, a voz mansinha de quem está pegando no sono.
— Ah, não sei. Tenho um carinho muito grande pela Sae Bom — o responde e deita a cabeça no encosto do sofá, melancólica — Quando viemos morar aqui ela era praticamente um bebê, mal sabia andar.
Jaemin ri e concorda.
— Verdade, eu bem que me lembro de quando a mãe dela convidou o bloco inteiro 'pra festa de dois anos dela — o garoto complementa — A gente meio que viu ela crescer.
— Pois é.
Alguns minutos de silêncio se instalam no ambiente, apenas o tictac do relógio digital da mesa de centro é ouvido. De repente, Jaemin volta a falar:
— Sabe o que seria muito legal? — você sinaliza para que ele continue — Ter uma nossa.
— Um nosso o que?
— Criança.
E ali que o mundo fica abafado e você sente seu corpo gelar. Diferentemente de mais cedo, quando chegou em casa, agora quem com certeza conseguia ouvir as batidas do seu coração era ele. E não estavam iguais as batidas calmas e reconfortantes que viam do peito dele, elas te socavam e eram tão rápidas que faziam parecer que você infantaria ali mesmo. E então percebe. Não tem porquê esconder dele. É o seu Jaemin, seu Nana ali, deitado em você, dizendo que gostaria de estender o amor imenso que sentem em uma outra pessoinha.
— E se... E se eu te disser que nós ja temos? — diz com a voz hesitante, embargada. Já sente os olhos umedecidos outra vez. E por incrível que pareça, sabe que não precisa temer a reação dele.
Jaemin imediatamente se apoia com as mãos no sofá, em volta do seu corpo. Ele vê seus olhos brilhantes e as bochechas já molhadas pelo choro que não conseguiu segura.
— Amor, 'tá falando sério? — se exaspera.
Você assente, dando uma pequena risada enquanto suas mãos sobem pela nuca do rapaz. O rosto dele fica alguns segundos estático mas o choque logo dá lugar a um sorriso. O sorriso mais lindo e iluminado de todos os sorrisos. É o sorriso dele. O sorriso.
Aceita todos os beijos, abraços e os agradecimentos dele por fazê-lo o homem mais feliz do mundo. A partir dali, conversam horas a fio, papeiam sobre a vida e a visão que ambos têm sobre família. Criam mais laços, fazem promessas e não se importam que já esteja de madrugada e precisariam acordar cedo, o despertador faria seu serviço.
E mesmo quando se deitam na cama de casal, entram na pontinha do pé para não atrapalhar o sono sossegado da menina deitada, se aconchegam embaixo das cobertas e se abraçam. Sente Jaemin afagar seu estômago e seus pelos se arrepiam com a respiração dele na sua nuca. Ele chega a boca bem pertinho do seu ouvido e sussurra:
— Eu amo você.
❍
As semanas se passaram depois daquela noite. Agora, estabeleceram um combinado com a mãe de Sae Bom de buscarem a menina na escola e ficarem com ela até que a mulher chegue em casa. Eufemismo é dizer que os dias vocês estão melhores. Ela ilumina vocês sempre que dá um sorriso banguela de boa tarde, quando vai em direção ao carro, saltitante com a pelúcia branca entre os braços e a mochila rosa nas costas. Sae Bom também já sabe da gravidez e tem se mostrado bastante empolgada. Você e ela conversam com a barriga por horas, a garotinha vive te perguntando quanto falta para o bebê nascer. Uma vez, enquanto trançava o cabelo dela, ela te disse que você daria a ela o irmãozinho ou irmãzinha que a mamãe dela não deu. Seu namorado precisou de algum tempo para acalmar seu choro na noite daquele dia.
E, como virou de costume nas tardes de vocês, Jaemin estava no banco do motorista enquanto você dirigia em direção a escola de Sae Bom. Tinha saído mais cedo do estágio e o buscou no batalhão onde ele trabalhava. O rapaz passou na lanchonete da rua minutos antes e comprou três donuts rosas, e estava lutando com você que não o deixava comer no momento.
— O que custa esperar, hein, homem? Eu que 'tô grávida e os desejos são seus...
— É que estão quentinhos! Minha boca não para de salivar e — foi interrompido por você que deu um tapa para que ele ficasse calado, aumentando o rádio. Jaemin fez bico e acariciou o próprio braço.
Ouviram a voz chiada que vinha do autofalante.
"Médicos e cientistas de todo o país estão expondo sua preocupação diante do que parece ser uma nova doença infecciosa. Os centros das cidades têm apresentado casos muito parecidos com os de raiva, onde uma pessoa ataca agressivamente com arranhões e mordidas qualquer que seja o indivíduo que estiver a sua frente. Os infectados são supervelozes e tem a pele descascada, similar ao estado de decomposição. Os primeiros casos foram identificados em zonas rurais e é possível que a contaminação seja..."
— Jaemin! — gritou quando ele desligou o rádio antes do fim da transmissão.
— Eu já estava ficando agoniado com a sua cara de aflição ouvindo isso — ele se defende.
Estava pronta para rebater quando percebeu que já estavam na frente da escola. Não demorou para conseguirem ver a figura pequenina de Sae Bom correndo na direção de vocês e acenando pela janela com um grande sorriso no rosto. Você sorri junto e sinaliza para que ela entre no carro.
— Oi, maninha. Oi, Nana!
O caminho até o condomínio é tranquilo, foi composto por Jaemin e Sae Bom cantando cantigas populares – essas que ela havia aprendido naquele mesmo dia e o Na se empolgou na missão de cantar – e na garota comendo o donut de morango que ganhou dele. E Jaemin muito feliz por final poder comer o seu também, claro.
Como naquele dia a mãe da menina avisou mais cedo que já estaria em casa, vocês apenas se despediram dela e a deixaram na porta do apartamento em que morava, subindo para o de vocês em seguida.
Mais tarde, quando estava estudando e se lembrou de ter esquecido sua pasta no carro, voltou no estacionamento para buscar e viu o coelhinho de pelúcia no banco de trás. Automaticamente um sorriso se abre.
— Ela esqueceu de novo — negou suavemente com a cabeça.
Você então pegou o elevador e foi até o andar da menina para que pudesse devolver. Sabe que ela não dorme se não estiver abraçada do seu peludinho, como o chamava, então não tarda a tocar a campainha da casa. Uma, duas, três vezes. Até bate na porta. E nada.
Estranha a falta de resposta e chega o ouvido perto da fechadura, também não consegue ouvir nada. Pensa que talvez elas já pudessem estar dormindo, afinal, os dias são cheios para ambas as moradoras da casa. Até que, apenas por desencargo de consciência, você gira a maçaneta da porta e se surpreende ao ver que estava destrancada. Franze o cenho. Decide, então bater outra vez e abrir de mansinho, colocando a cabeça para dentro.
— Ei, desculpa a intromissão! A Bomie esqueceu o peludinho no carro outra vez e...
E é quando você adentra a sala do apartamento que se vê diante da cena mais traumática que já presenciou em toda a sua vida. Seus olhos se arregalam e os dedos apertam o coelho no próprio peito.
Seus reflexos trabalharam muito, muito rápido. O estômago embrulha.
E você precisou de toda sua agilidade para virar as costas e bater a porta quando, depois de te perceber, a mulher completamente ensanguentada parou de comer os órgãos do estômago aberto da filha – que tinha o corpinho flácido, estirado no chão, o pescoço mordido e o rosto coberto de sangue – de maneira animal e te olhou no exato momento em que te ouviu, com os olhos completamente brancos e a boca cheia de carne da própria primogênita.
42 notes
·
View notes
Text
Coraline nunca pensou que um dia se casaria com alguém...
Mas se casar com Henry parecia tão certo quanto respirar. Ele a entendia, apoiava e transmitia segurança. Era estranho como um homem mais velho, e ainda inglês, parecia entender como ela se sentia em relação à tudo, desde seus gostos pelos esportes à sua insegurança quanto seguir a carreira que sempre quis. Henry a apoiava com todas as letras, e ainda era carinhoso e parecia ignorar o fato de que Coraline havia passado os últimos anos de cama em cama, satisfazendo os próprios desejos. Ele não ligava, realmente só se importava com a ideia de estarem juntos. Henry sempre lhe dizia que não se incomodava com o seu passado, queria apenas ser o seu presente e futuro. Então, quando o britânico se ajoelhou após a primeira exibição de Batman vs Superman, Coraline não pensou duas vezes antes de dizer um "sim!".
the prophecy
Ser mãe nunca foi o desejo de Coraline...
Mas desde o casamento realmente havia mudado sua percepção de vida. De repente se pegava imaginando uma criança com os olhos de Henry, talvez seus cabelos cabelos louros e com os cachos do pai... Um verdadeiro anjinho na face da terra. O atraso de sua menstruação veio com muita alegria, mesmo que isso pudesse significar abrir mão da sua carreira olímpica. Cora Cavill não se importava com isso, ela só queria viver em sua bolha, acompanhada do marido e do tão sonhado filho. Sentia em suas entranhas que a criança era uma menina, e até mesmo sonhou com a melhor amiga segurando a bebê, que ria em seu colo enquanto tentava pegar flores brancas que Cora não reconheceu. Então era óbvio que ela iria dar o nome da criança de Guinevere. Sim. Era um bom nome. Ela não seria outra Gwen, mas sim sua pequena Ginny, que traria ainda mais felicidade para seu casamento e sua vida.
Coraline nunca duvidou da sua memória corporal...
Mas aquela vez, aquela discussão... Talvez estivesse louca, talvez fosse os sentimentos à flor da pele por conta da gravidez, mas jurava que havia sentido que Henry a empurrou pela escada depois dela ter lhe dado um tapa na cara. Não... Ele jamais lhe faria mal algum. Havia prometido para seu pai que a protegeria, que cuidaria de Cora. Ele jamais faria algo assim... Faria?
Coraline tinha certeza que era uma mulher forte...
Jamais iria permitir que um homem batesse nela. Após perder o bebê com a queda na escada, Cora arrumou suas coisas, pronta para voltar para a casa dos pais. Não iria viver uma vida miserável, não merecia isso de jeito nenhum! Mas quando Henry se ajoelhou na sua frente, abraçou suas pernas, chorou e implorou para que ficasse, lhe dizendo que mudaria, que não poderia viver sem ela e que foi um erro, Cora o perdoou. Acreditou nos olhos azuis marejados, ignorando os gritos de alerta que sua mente lhe davam. Ela o perdoou também depois de todas as discussões.
Coraline não se considerava uma pessoa violenta...
Mas depois de meia década sofrendo diversas agressões do homem que prometeu a proteger, era claro que iria buscar um jeito de sobreviver aquele inferno. Ela passou a retribuir os tapas, os chutes, os socos, os empurrões. Não importava que ele já havia quebrado seu nariz, suas costelas e seu braço, ela revidava. Perdeu as contas de quantos vasos jogou em direção à ele, quebrando em sua cabeça. Mas até então ela apenas fazia isso: revidava, nunca achou que seu comportamento agressivo iria reverberar em outra pessoa. Não até sua última "enfermeira" dizer que Henry iria conseguir alguém melhor do que ela, e que ele já havia sorrido de modo diferente para a enfermeira. Cora não pensou, seu corpo respondeu aquela ofensa por conta própria. Sua visão ficou completamente vermelha e o sabor de sangue envolveu sua garganta tão fortemente, que um apagão a envolveu. Quando Coraline acordou, estava em cima da enfermeira desacordada, com os olhos vermelhos e inchados, a boca sangrando e o nariz quebrado. Piscou, sem entender como havia chego naquele lugar, com todos os empregados à sua volta, tentando a acalmar e socorrendo a garota. Sentiu os dedos doloridos e, quando olhou para suas próprias mãos, viu o sangue em suas juntas retorcidas.
Coraline nunca imaginou que correria em direção ao mar...
Mas depois do marido a internar em uma clínica de reabilitação que ficava em uma ilha isolada, ela não tinha para onde fugir. Por três meses, se sentiu isolada, enjaulada como um passarinho, rodeada pelo seu próprio medo e sem poder fazer nada. Por semanas apenas ficou trancada em seu quarto, com as cortinas fechadas — já que a vista era para o mar –, pintando mais e mais quadros sobre os flashes que sua própria mente pintava em seu subconsciente. Quando leu aquele papel, com a assinatura do esposo, não se deu conta que havia corrido pela praia, até sentir a água do mar batendo em seus joelhos.
Coraline não era do tipo que implorava...
Mas se viu totalmente perdida, farta pela tragédia que sua vida tomou na última década. Não falava mais com sua família, não praticava o esporte que tanto amava, perdeu o contato com a melhor amiga e agora lhe era roubado a última coisa que lutará nos últimos tempos. Henry havia conseguido um laudo e um médico que aceitasse fazer tal atrocidade. Segundo os dizeres, Cora Cavill era completamente desestabilizada e apresentava riscos para qualquer criança que poderia vir à colocar no mundo. Uma laqueadura seria o ideal, mas o cirurgião maluco havia autorizado uma histerectomia completa.
Coraline ergueu o rosto para o céu, observando a lua iluminando a água gelada do mar. Ela finalmente entendeu a profecia que lhe foi contada quando mais nova. Naquele momento, sentia que estava se afogando de dentro para fora, com todas as mágoas, medos e anseios vindo à tona, molhando seu rosto com mais e mais lágrimas. Sem qualquer outra opção, juntou as mãos e, ainda olhando para a lua, finalmente abriu a boca.
"Eu... Eu peço Perdão. Não foi a melhor filha que já teve, ainda duvidei da Tua Existência. Perdão. Eu sinto muito, muito mesmo. Espero que toda a Sua Grandeza possa me perdoar por ser uma cria rebelde. Me perdoa. Já sofri tudo o que tinha para sofrer... Por favor... Por favor..."
Em meio às lágrimas, a artista fechou os olhos e respirou fundo, trazendo à tona tudo o que havia aprendido quando pequena.
"Pai Nosso que Estás no Céu, Santificado seja o Vosso Nome..."
informações importantes:
ᜊ coraline e henry se casaram em dezembro de 2016;
ᜊ coraline seguiu a carreira de jogadora de vôlei de 2015 à 2021, se aposentando nas olimpíadas de tóquio;
ᜊ sofreu ao menos seis abortos nos últimos anos;
ᜊ a mansão cavill tem um jardim de rosas brancas onde coraline enterrou todos os filhos que não vingaram;
ᜊ teve uma colega que contou sobre a violência que sofreu, e a colega escreveu um livro que ganhou uma adaptação. cora odeia o livro e se sente atacada pela estreia do filme ser em seu aniversário;
ᜊ atualmente coraline apenas pinta;
ᜊ ficou internada por seis meses e saiu recentemente da reabilitação;
ᜊ está se recuperando da cirurgia, por conta disso está sempre ao lado de sloan;
ᜊ gatilho: coraline apenas se lembrará dos eventos sobre a viagem no tempo se jjh a tocar.
#˖ ࣪ . ࿐ ᜊ ˚ . 𝑡𝘩𝑒 𝑚𝑒𝑎𝑛 𝑜𝑛𝑒 __ pov#˖ ࣪ . ࿐ ᜊ ˚ . 𝑡𝘩𝑒 𝑚𝑒𝑎𝑛 𝑜𝑛𝑒 __ development#tw: violence#tw: violencia doméstica#insp: icarus
6 notes
·
View notes
Text
UM GRAMA DE RADIUM — MINEIRINHO
É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: «O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu». Respondi-lhe que «mais do que muita gente que não matou». Por que? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo-primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo-segundo chamo meu irmão. O décimo-terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais.
Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais — vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu — que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva.
Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. Como não amá-lo, se ele viveu até o décimo-terceiro tiro o que eu dormia? Sua assustada violência. Sua violência inocente — não nas conseqüências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta.
Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça.
A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. Só depois que um homem é encontrado inerte no chão, sem o gorro e sem os sapatos, vejo que esqueci de lhe ter dito: também eu.
Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho — essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar “feito doido” de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador — em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição.
A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem.
E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma.
Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer.
Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender.
Porque quem entende desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo — uma coisa que entende. Essa coisa que fica muda diante do homem sem o gorro e sem os sapatos, e para tê-los ele roubou e matou; e fica muda diante do São Jorge de ouro e diamantes. Essa alguma coisa muito séria em mim fica ainda mais séria diante do homem metralhado. Essa alguma coisa é o assassino em mim? Não, é desespero em nós. Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. É como doido que entro pela vida que tantas vezes não tem porta, e como doido compreendo o que é perigoso compreender, e só como doido é que sinto o amor profundo, aquele que se confirma quando vejo que o radium se irradiará de qualquer modo, se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. Se eu não fosse doido, eu seria oitocentos policiais com oitocentas metralhadoras, e esta seria a minha honorabilidade.
Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização.
Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.
Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso — nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranquila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato.
O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.
Clarice Lispector, Revista 'Senhor', Junho de 1962.
5 notes
·
View notes
Text
conheço os meandros como conheço os mirtilos
no nome e no azedo distante da prova, nunca no mergulho
não existe rio limpo em são paulo como não existem mirtilos no atacadão do ipiranga
por isso não afundo os pés, mas sonho
sonhar é sempre descalço
a poesia me pede mais do que vocabulários e gramáticas para que algum valor lhe seja emprestado e
na segunda-feira a minha amiga isabella me disse que eu não preciso terminar um livro porque
o amor às vezes acaba no meio de uma frase
ela também me disse que às vezes sente vontade de segurar as palavras na boca de sua amante,
mas sente que nem assim a entenderia
e eu não sei se a isabella se escuta, mas eu escutei nas palavras dela que mesmo se
eu me agarrasse aos ditos do meu amante nas costas da língua dele eu não seria capaz de
entender o que ele diz antes de ele dizer ou mesmo depois porque
o entender não cabe no amor
o primeiro homem que me amou decidiu que não me amava mais depois de haver me entendido
e eu senti tanta tanta tanta raiva dele
não por deixar de me amar porque os destinos do amor não me cabem,
mas pela prepotência de achar que havia me entendido
por se recusar a buscar o que havia atrás de mim
ah, mas sejamos sinceros, eu senti raiva sim porque queria que o destino do amor me coubesse
porque queria controlar o amor dele por mim de frente, queria segurar o carinho nos olhos dele
mas o amor é areia, água, essas matérias livres todas
depois dele eu decidi que amaria nas costas, sempre nas costas
hoje eu vejo o meu amor cozinhando e eu o abraço pelas costas e quando
ele me ama na cama eu peço que antes ele me abrace as costas
para que assim o beijo dele chegue primeiro pelo pescoço, pelos ombros, pela nuca
e eu não consiga nunca saber por onde ele vai me amar depois
não quero cair descalça na crença de que entendi tudo sobre como ou quando você me ama
quero entender que medir o seu mistério com o meu é fantasia violenta
e antes de meandros e mirtilos eu espero que a gente se ame no dorso, entende,
eu espero que a gente brinque e se desconheça a todo o tempo, para que as piadas sejam sempre novas
principalmente porque o amor para mim precisa ser de graça e eu gosto muito de rir
se entender de todo é dominar e eu não quero te dominar,
sei que entender o seu amor não me cabe, visto que o seu amor pertence a você como
o meu amor por você pertence a mim
não há amor perfeito como não há encaixe perfeito de ordem nenhuma
não há amor se o amor for roteirizado por meio do encaixe
está bem, lacan? eu entendi que o sexo não existe só enquanto a nossa fantasia grudenta de se fundir ao outro
e se eu te entendi errado eu peço perdão, pois ainda estou nas costas desse poema
deus me livre de me fundir a você, amor, eu gosto de você, mas eu gosto de ser eu
não afunde os pés em mim, amor, não compre cinco caixas de mirtilo na xepa da feira porque
ainda sairá caro e você ficará sem cebolas para o arroz
sentirá fome em questão de duas horas e irá me culpar
não afunde os pés em mim, amor, o rio mais próximo fede a esgoto
e eu não quero ser um rio fundo, eu prefiro mais ser uma poça rasa e limpinha,
entende, eu prefiro que você sequer consiga encaixar a sola de um pé aqui
você aí e eu aqui, amor, e quem sabe sem fome um do outro a gente possa sentir fome
de mais da vida além do amor porque é um cansaço buscar o amor até quando já se ama
é um cansaço não dar repouso ao amor
é um cansaço que a vida de uma mulher seja sempre o amar
e a vida do homem seja despertar o amor
antes que o amor me faça juras muito sérias eu prefiro que o amor me faça piadas muito bobas
para que então eu sinta desejo
e não obrigação
de estar ali segurando sua mão
[poema por nina camargo // obra de arte: Dorso de mulher, Eliseu Visconti, 1895]
5 notes
·
View notes
Text
Vamos voltar a velha estrada e ouvir sobre a parte mais violenta,onde dois seres malefícios ocupavam a mesma encruzilhada,um era chamado de hippie,uma figura cabeluda,suja e barbuda que sempre empunhava um facão,se usasse uma máscara poderia ser até o Jason,ele ficava a espreita de moças sozinhas e saltava de um barranco de mais ou menos cinco metros,o estranho é que a lenda dizia que ele sempre quebrava o tornozelo e não conseguia pegar suas presas,assim elas fugiam e assim lhe davam fama,muitas meninas voltavam aos gritos gritando, socorro é o hippie,os homens iam tentar pegá-lo,mas muitas vezes não encontravam nada,e as vezes eram moradores caçando ou com um facão limpando a estrada,e as moças distraídas ficavam assustadas,mas por precaução íamos a escola sempre em pequenos grupos, até que um dia disseram que ele tinha sido preso,mas nunca mostraram nenhuma foto nos jornais, depois veio a notícia que ele tinha morrido na prisão quatorze anos depois,como a lenda surgiu também desapareceu, não teve nenhuma vítima foi o que o povo falava,mas se lembram do outro ser que dividia essa curva,era Virgínia uma moça loira que era de boa família, quando desapareceu vestia um vestido branco e quando foi abordada acabou desmaiando e foi esquartejada pelo homem manco, diziam que os pedaços serviam de alimento enquanto sarava seu ferimento,por isso nunca encontraram nem os ossos,eram só suposições,mas foi engraçado um dia que eu voltava do trampo,a minha rua ainda não tinha iluminação, quando contornei a curva da escola notei uma pessoa toda de branco vindo em minha direção,quase parei,mas fui adiante, chegando mais perto comecei a notar,era uma mulher, coração acelerava, quando nos cruzamos,ela me cumprimentou,que alívio era uma vizinha que estava indo para o culto,vim rindo sozinho o resto da rua por ter tanto medo de dona Maria,as vezes nossa imaginação pode nos pregar tantas peças, devemos acreditar só no que vemos e não no que se ouviu falar.morar no meu bairro antigamente,era uma adrenalina só.
Jonas R Cezar
8 notes
·
View notes
Text
HEFESTO, ELE/DELE, HOMEM CIS. / você já escutou THE NARCISSIST do BLUR? bem, ela descreve perfeitamente THEODORE FLOYD , a cópia de PAUL MESCAL que apagou VINTE E CINCO velas em seu último aniversário. na ilha, lhe conhecem por ser SOLITÁRIO, mas o DONO DA FORJA’S prefere destacar a sua COMPETÊNCIA. ter nascido em LONDONDERRY é apenas um fato interessante sobre TED, uma vez que também ERA CEO DE UMA STARTUP DE PATROCÍNIO DE INVENTORES E ARTISTAS NA IRLANDA MAS, APÓS PASSAR AS FÉRIAS EM WHITE LOTUS, DECIDIU SE MUDAR PARA A ILHA DE FORMA PERMANENTE; FORMOU-SE COM HONRAS NO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO DA TRINITY COLLEGE; FOI VÍTIMA DE UM ACIDENTE QUE AFETOU O LADO ESQUERDO DO SEU CORPO - COMO RESULTADO, TEM DIFICULDADE DE OUVIR COM O OUVIDO ESQUERDO E UM JOELHO RUIM.
moodboard * playlist * conexões
I'll be shining light in your eyes (In your eyes) You'll probably shine it back on me But I won't fall this time With Godspeed I'll heed the signs
Nascido em Londonderry, na Irlanda do Norte, Theodore Floyd sempre foi alguém solitário e preso em seu próprio mundinho. Não tendo uma boa relação com os pais - em especial, com sua mãe -, era comum vê-lo trancado na garagem da casa da família mexendo com computadores antigos que encontrava no ferro-velho, tentando consertá-los ou montar novas máquinas com estes. Esse gosto levou ele a se graduar em ciência da computação e mecânica na Trinity College, em Dublin. Ainda durante a Universidade, começou a se envolver com a criação do Forja's, uma plataforma para unir artistas e inventores com patrocinadores e pessoas de poder aquisitivo que desejavam realizar filantropias. Rapidamente, adquiriu um leque de membros e um sucesso relativamente grande para conseguir expandir os negócios pelo resto da Europa e, posteriormente, para as Américas. O recém-adquirido status social não lhe tornou menos fechado ao mundo e extremamente discreto com sua vida pessoal. Após a graduação, seguiu dedicando-se ao Forja's, adquirindo um espaço físico em Londres que funcionava como um centro comunitário para aqueles vinculados ao programa. Durante uma viagem de trabalho em Nova Iorque, os caminhos de Theodore se cruzaram com os de Phillip em uma boate. Embora aquele não fosse um ambiente que agradasse Floyd, estava ali como acompanhante de uma das DJs que estava patrocinando em sua primeira apresentação fora da Europa. Phillip, por sua vez, já alterado, tentou se aproximar de Grace, sendo recebido com uma reação violenta por parte da mulher. Indo em partido para defender a amiga, envolveu-se em uma briga física com Phillip que acabou causando os problemas de saúde que hoje afetam a vida de Theodore. Ao saber da morte do rapaz, não pode dizer exatamente que se sentiu triste com o ocorrido - ainda que não emita opiniões sobre em voz alta.
My heart it quickened (It quickened) I could not tear myself away (Myself away) Became addiction (Addiction) If you see darkness look away (Look away)
Durante seu período de recuperação física e emocional, fez retiro em White Lotus - com um certo contragosto, sabendo da relação do local com a família de Phillip -, mas acabou se apaixonando pela ilha e, em uma decisão impulsiva, decidiu estabelecer residência em Kalokairi, movendo a administração do Forja's consigo para a ilha.
11 notes
·
View notes
Text
Awan, the First Child | Awan, a Primeira Criança
Awan is a Sim from the Original Age - Genesis in the Legacy History Challenge. She is the daughter of Adamah and Hawah and the twin sister of Cain. She was the first woman born into the world. Her name means "vice", "potency" and "iniquity". Inspiration for her character comes from the combination of Luluwa from Islamic tradition and Awan from the Book of Jubilees. Seen in Aclima. Awan's hair turned red probably due to an error that occurred because of Hawah's hair is a cc and I kept it that way because I thought it suited what the character represents.
Awan é uma Sim da Era Original - Genesis no Desafio do Legado Histórico. Ela é filha de Adamah e Hawah e irmã gêmea de Cain e foi a primeira mulher a nascer no mundo. Seu nome significa "vício", "potência" e "iniquidade". A inspiração para sua personagem vem da combinação de Luluva da tradição islâmica e de Avan do Livro dos Jubileus. O cabelo de Awan ficou vermelho provavelmente devido a um erro que ocorreu por causa do cabelo de Hawah ser um cp e eu mantive assim porque achei que combinava com o que a personagem representa.
Tag: 3S-2F
Trait: Sunny.
Etiqueta: 3S-2F
Traço: Vibrante.
Infant | Bebê de Colo
Being the first child born into the world, Awan didn't give her parents much trouble. She was a cheerful baby who liked to wake up early and soothe herself. She had a faster motor development than her twin brother Cain, but her word skills were slower.
Sendo a primeira criança a nascer no mundo, Awan não deu muito trabalho aos seus pais. Foi uma bebê alegre que gostava de acordar cedo e acalmava-se sozinha. Ela teve um desenvolvimento motor mais rápido do que o de seu irmão gêmeo Cain, porém sua habilidade com as palavras foi mais lenta.
Toddler | Bebê
Awan had a vibrant and charming personality, but she was also an aggressive baby with other children, enjoying rough play.
Awan tinha uma personalidade vibrante e encantadora, mas também foi uma bebê agressiva com as outras crianças, gostando de brincadeiras violentas.
#the sims 4#sims 4#ts4 legacy history challenge#ts4 legacy#ts4 history challenge#the sims legacy#history challenge#the sims 4 character#legacy history challenge#desafio do legado histórico#desafio do legado
8 notes
·
View notes
Note
prompts?
Olá, cinza! Prompts são coisas que não nos faltam, mas já peço desculpas porque nós nos animamos bastante. Lembrando que o gênero das divindades pode ser alterado livremente, sim? Abaixo do Read More estão 12 prompts para Pítia, Bia, Dolos, Queres, Ariadne, Sirenas, Éris, Arke, Bóreas, Hedonê, Hebe e Macária. Esperamos que te ajudem, mas se quiser mais é só pedir!
PYTHIA. Originalmente uma alta sacerdotisa no Templo de Apollo em Delphi, Pythia servia como Oráculo, sendo reconhecida como uma das mulheres mais poderosas do mundo clássico. A reputação e prestígio da figura permaneceu em suas reencarnações, assim como a vida sóbria e o caráter digno. Pythia costuma assumir seu papel com vigor, abdicando de suas responsabilidades familiares, interesses românticos e até mesmo de sua individualidade em favor de suas ambições. Sua história de vida, assim como as mulheres escolhidas para ocuparem tal papel na antiguidade, sempre foram aos extremos: pode ser advinda de uma família nobre, dotada de educação superior, como também ter origens humildes e dificuldades para entrar no meio acadêmico. Seu passado não é relevante: o mais importante é o direcionamento de sua carreira e sua ascensão, ainda que custe sua saúde. Na Universidade Jewangeum, é conhecida por seus amplos talentos e dedicação extensiva ao que se propõe, frequentemente rondando pelos corredores como um fantasma, desprovida de horas de sono e sobrecarregada pelas enormes responsabilidades que decidiu tomar para si. Mais adequada à Sophrosyne, quiçá Tyche.
BIA. A personificação da força é uma estrela do esporte nos tempos modernos. Proveniente de uma família expansiva, Bia está acostumada a um ambiente competitivo, não hesitando em correr atrás do que deseja. Ainda assim, não costuma ter muitos amigos, não se rendendo aos luxos suntuosos ou aos prazeres mais superficiais que a fama desportiva lhe oferece. Suas atitudes costumam bastar, visto que Bia é uma figura introvertida: apenas faz, sem precisar falar ou receber láureas de terceiros para tal. Mais adequada à Soteria.
DOLOS. O espírito da malandragem é também um mestre em enganação, astúcia e traição, sendo companheiro das mentiras. Capaz de enganar até mesmo os deuses durante seu reinado original, sua lábia ainda é característica em destaque durante suas encarnações. Apesar de sua aparência nada disso indicar, Dolos é falso e não deve carregar responsabilidade alguma: confiar nele é o mesmo que esperar retidão moral de um animal selvagem. Proveniente de um passado conturbado, Dolos ganhou a vida por meio da venda de produtos falsificados e outros pequenos crimes, conseguindo safar-se das consequências graças a sua língua afiada. Não deixe seu cartão de crédito por perto, ou pode acabar com ele clonado! Mais adequado à Momus.
KERES. Personificações de mortes violentas, as Keres são atraídas por sanguinolência. Apesar de não serem fortes o suficiente para assassinato, essas garotas não possuem escrúpulos quando se trata de agressividade. Em suas encarnações, costumam andar em grupos pequenos, sempre protegendo uma à outra: apesar de não aparentarem, frequentemente herdando as estaturas pequenas e a agilidade de suas formas originais, são como Cavaleiras do Apocalipse quando unidas. Mais adequadas à Charis ou Momus.
ARIADNE. Anteriormente a princesa de Creta e esposa deificada de Dionísio, em sua atual reencarnação Ariadne fundiu-se ao artefato que anteriormente utilizou para guiar Teseu através do labirinto do Minotauro. O fio tornou-se sua mente, a bússola que a orienta por enigmas, quebra-cabeças e cubos mágicos. A mente de Ariadne é simplesmente genial quando se trata de charadas e problemas, e em tenra idade descobriram seu talento para resolver o impossível. Explorando a habilidade de sua filha, seus pais decidiram levá-la para concursos, torneios e até mesmo programas de televisão. Poderia não ser especialmente boa em nada além de suas cifras, e até mesmo um pouco tímida em frente às câmeras, mas garantiu um bom dinheiro aos adultos, que passaram a agenciá-la como seu principal ganha pão. É claro que começar a trabalhar — e lucrar — tão cedo garantiu um punhado de traumas para Ariadne. Aparentemente, ela sabe resolver os problemas de todo mundo, menos os próprios. Mais adequada à Sophrosyne.
SIRENAS. Em suas vidas anteriores, as sirenas encantavam marinheiros com suas vozes hipnotizantes e melodias irresistíveis. Agora, como estudantes universitárias, trazem consigo a mesma paixão pela música e um talento vocal inigualável. Com suas vozes únicas, criaram uma banda de heavy metal e rock industrial para expressar essa paixão, atraindo pessoas com seus arranjos pesados, guturais incomparáveis e presenças magnéticas no palco. Fora ou dentro da banda, elas continuam leais umas às outras, mas ainda têm de lidar com os estereótipos e conquistar suas independências da imagem sensual geralmente atribuída às suas imagens. Mais adequadas à Momus ou Tyche.
ÉRIS. Como sua contraparte mitológica, foi abandonada pelos genitores ao nascer, e acabou criada em uma casa russa, adotada por um importante traficante de armas internacional. Cresceu em ambiente hostil, repleto de segredos e perigos. Um passado turbulento, polvilhado por violência, tornou-a uma pessoa desconfiada e astuta, dominante da arte da manipulação, com uma mente afiada e feroz. A fortuna recolhida por seu pai possibilitou que conseguisse um lugar de honra em uma fraternidade respeitada de Jewangeum, para onde foi em busca de recuperar e entrar novamente em contato com suas raízes asiáticas. Mesmo que possua um talento inato para despertar o pior das pessoas e iniciar conflitos, ela está disposta a encontrar formas de melhorar seus relacionamentos humanos na universidade, mesmo que enfrentar sua natureza caótica seja um paradoxo. Mais adequada à Charis ou Sophrosyne.
ARKE. Apaixonada pela velocidade, em sua reencarnação atual Arke trocou suas asas quebradas pela escuridão noturna das corridas ilegais da cidade e as luzes cegantes dos semáforos ignorados. Para ela, correr é uma forma de liberdade e auto descoberta, um ensaio para seu verdadeiro sonho de se tornar uma corredora de Fórmula 1 no futuro. Seu instinto de competição e sua habilidade de levar qualquer veículo ao limite fizeram dela uma das corredoras mais promissoras no submundo das corridas ilegais, mas Arke ainda enfrenta a rejeição de sua própria família em relação a seus sonhos. Ela deseja se formar em Engenharia Mecânica, mas se vê obrigada a mentir para a família e cursar algo mais adequado para “mulheres”. Mais adequada à Charis, Soteria ou Tyche.
BÓREAS. Primeiro deus dos ventos invernais do norte frio, então ex-patinador artístico no gelo, e agora na vida universitária. Carregando a nostalgia de apresentações encantadoras e a dor constante de uma lesão que o obrigou a abandonar a carreira, Bóreas busca um novo propósito. Com sua presença magnética, cria coreografias memoráveis para eventos estudantis, inspirando outros a perseguirem seus sonhos. Ainda que tenha deixado os saltos triplos, sua graciosidade e habilidade de encantar o público permanecem. Bóreas mostra que, mesmo diante das mudanças, a paixão e a determinação podem levar a novas formas de brilhar. Mais adequado à Soteria ou Sophrosyne.
HEDONÊ. Determinada a alcançar seus sonhos acadêmicos, Hedonê conseguiu uma vaga como bolsista em Jewangeum com certa dificuldade. Para conseguir se sustentar enquanto estuda, assumiu um trabalho como modelo em uma plataforma online chamada Only Fans. Apesar do estigma social e dos desafios enfrentados, ela encara essa oportunidade como uma forma de empoderamento e independência financeira. Com seu espírito empreendedor e habilidades de autogerenciamento, tenta equilibrar seus estudos exigentes com a demanda de sua presença virtual. Tentar equilibrar suas duas vidas se torna difícil com o passar do tempo, mas ela está disposta a não abandonar sua qualidade de vida e nem seu sonho de formar-se em uma universidade renomada. Mais adequada à Soteria ou Tyche.
HEBE. Com uma paixão por cosméticos naturais, Hebe tornou-se estudante de Farmácia em Jewangeum com intuito de aprender mais sobre o negócio da família que irá herdar futuramente. Ela adora experimentar e criar suas próprias formulações de máscaras, cremes e pomadas, tudo sempre utilizando ingredientes naturais e sustentáveis. Detém o costume de compartilhar suas criações com os amigos, promovendo uma abordagem consciente e saudável para cuidar da pele e corpo. Ela acredita no poder de se sentir bem consigo mesmo, tanto por dentro quanto por fora, e busca inspirar outras pessoas a adotarem uma abordagem holística para a beleza e o autocuidado. Mais adequada à Charis.
MACÁRIA. Cansada, mas sempre com uma expressão amigável, Macária é uma das veteranas de enfermagem mais gentis do campus. Após um punhado de tragédias pessoais e anos de terapia, interessou-se pelo luto e decidiu seguir por uma carreira na emergência hospitalar, onde a adrenalina nunca a deixariam dormir e onde suas palavras, a dor que compartilhava com as famílias, poderiam ser bem recebidas. Receber um abraço de Macária é uma experiência única, recomendada especialmente antes ou depois de uma prova difícil. A maioria das pessoas que a veem cuidando de seus pacientes ficam chocadas pela seriedade que a moça é capaz de assumir de uma hora para outra, como um interruptor, a fim de executar seu trabalho corretamente e salvar vidas que anteriormente guiou a mortes tranquilas e relaxadas. Mais adequado à Soteria ou Sophrosyne.
7 notes
·
View notes
Text
Menina de recado
Na sitiada Zona Norte de Recife, Pernambuco, lá pelas beiras de 1798, uma movimentação noturna clareava as ruas e chamava a atenção dos transeuntes. Prostituição, rebeldia, gritaria, baderna, álcool em excesso. Quanto mais se andava, mais se perdia. Pessoas em condição de rua se misturavam com quem passava, fosse homem ou mulher de família, ou não. Enquanto a Inconfidência Baiana soltava seus primeiros gritos, o povo recifense padecia em meio à boemia noturna, nas extremidades da Sinagoga Kahal Zur, em torno à antiga Rua dos Judeus. Mulheres com seus vestidos longos e adornados passeavam bêbadas, agarradas a homens, cujos ternos eram carregados nos ombros. O cheiro fétido de urina, fezes e animais mortos impregnava o lugar, enquanto ratos zanzavam na beirada da calçada e mulheres pariam nos cantos escuros entre as esquinas. Assim eram as extremidades do Recife Colonial, uma verdadeira luta diária pela sobrevivência. Antes de amanhecer, e do Acendedor de Lampiões apagar as lamparinas feitas à base de óleo de baleia, acesas durante a noite, a carrocinha do lixo iniciava seu trabalho, passando pelas ruas e recolhendo entulho de ratadas, fetos em decomposição, corpos de mulheres violentadas e homens que caíam mortos de tanto beber. Ao som do galo da manhã, Recife acordava e retomava suas atividades, e nesta deixa, um dos primeiros personagens a apontar a rua era a menina de recado. Um trabalho digno à época, sonho de todo pai e mãe vítimas da miséria que assolava a região. A função “menina de recado” era oferecida apenas para meninas entre 12 e 17 anos, com característica obediente, personalidade mansa, confiáveis e de boa aparência – com a maioria dos dentes na boca, sem bolhas de varíola na pele e cabelos alinhados. Mas o oposto também acontecia: havia a chance de reeducar meninas rebeldes demais, a ponto de os pais não darem conta; quando tinham oportunidade, mandavam para as casas responsáveis por educar para recado. Muitas meninas passavam anos em Casas de Educação para Recado, recebendo instrução apropriada para a função e para reagirem com etiqueta à condição de filhas e participantes ativas da comunidade recifense. Eram meninas cuja sorte não as alcançara, filhas de pais pobres, irmãs de muitos outros irmãos. Quando a rebeldia as atingia, seus pais, com medo de perdê-las para a prostituição, enviavam-nas para as casas de Educação para Recado, com a esperança de um futuro menos sofrido. Se a filha fosse boa e obediente, não precisaria passar o ano nas ditas Casas, ia direto para as ruas, trabalhar como menina de recado, e ainda recebia por isso. Uma parte desse dinheiro era diariamente entregue para os pais, possibilitando, assim, uma ajuda de custo, um pagamento por deixar suas filhas trabalharem para as Casas de Educação para Recado. As meninas podiam visitar seus pais aos domingos e nas segundas-feiras deveriam estar de volta à sua referida Casa, onde as lições eram passadas de forma rígida, ministradas por mulheres que atendiam à etiqueta da alta sociedade da época. Uma das primeiras dessas Casas de Educação para Recado do Recife, e a mais famosa, era a casa de Madame Blanchet, uma francesa refugiada no Brasil, fugida da miséria que os rastros da Guerra dos Sete Anos levaram para a Europa, e da prostituição violenta que as mulheres pobres da França da década de 1760 estavam fadadas a viver. Três anos após sua chegada ao Brasil, fez fortuna atendendo a nata de homens ricos do Recife Colonial e levantou quantia suficiente para comprar o casarão, que mais tarde ficou conhecido como Casa de Educação Para Recado Madame Blanchet. Especializou-se na área, contratou mulheres, sempre as vítimas de violência e da prostituição, reeducou-as com informações sobre pedagogia, língua francesa e etiqueta, formou-as e as qualificou para se tornarem professoras na Casa de Educação para Recado e serem seus braços direito e esquerdo. Ao final dos anos 1700, a casa de Madame Blanchet iluminava a Rua da Cruz, as folhas de jornal, com reportagens faustosas, e os sonhos de mães e pais de meninas, vítimas da miséria e do desmazelo.
Casarão de Madame Blanchet
- Bonjour[1], meninas!
Dizia Madame Blanchet, com sotaque carregado, durante a primeira reunião do dia na grande sala principal da Casa de Educação para Recado.
- Quero que todas prestem muita atenção ao sair na rua. Aqui, na Rua da Cruz, está acontecendo muitos assaltos na parte da manhã; na quadra debaixo, na Rua dos Judeus, uma menina foi encontrada morta ontem à noite, então evitem passar por lá. Andem com seus embornais a tiracolo, na transversal, e só voltem com 35% dos valores que estipulamos para o dia em mãos. Podem ir!
- Não se esqueçam dos cadernos e pontas de tinta, meninas! Vão precisar anotar os detalhes.
Retrucava Professora Izabel, uma das responsáveis pelas meninas.
27 quartos, 30 mictórios, 10 salas, entre elas, uma bem grande, considerada a principal, e uma cozinha também grande, mas nunca organizada, assim podia ser descrito o Casarão de Madame Blanchet. Uma mulher alta, magra, pele alva, dedos compridos, adornados com muitos anéis, envoltos por luvas de renda branca. Seus vestidos aparentavam sempre muita pompa: grande protuberância na parte traseira, sedas e cetins importados, do mais alto padrão, cores vibrantes de tecido, amarelo ouro, vermelho sangue, sapatos, que ao andar, faziam um barulho peculiar, “Ploc, Ploc, Ploc”, maçãs do rosto muito avermelhadas, mescladas com pó-de-arroz, os cabelos altos e castanhos com penteados complexos e emaranhados – por vezes usava peruca, principalmente no verão, quando a época era de infestação de piolho, com o detalhe dos diferentes chapéus, para disfarçar -, camadas e mais camadas de tecidos por debaixo do saiote, meias-calças brancas, enfim, uma fanca de tecidos, com moldura exata, e muito bem pensada, para disfarçar o cheiro fétido que saía de suas partes íntimas, sua personalidade forte, os berros diários que dava, o semblante rancoroso e as inúmeras mágoas que ainda guardava. As literaturas de cordéis considerariam Madame Blanchet como uma ode à salvação do povo recifense desse tempo, como foi a Dona Juca, de Gonçalo Ferreira da Silva, que oferecia seu 'tabaco' pra curar os homens dos males do corpo e da alma. Madame Blanchet ia além: tirava as meninas da rua, oferecendo educação e emprego. Se sua oferta era um modelo de exploração? E isso interessava (?). O que interessava à época era saber que, mesmo diante do machismo coronelista pernambucano, comportamento que imperava no sistema social do colonialismo do século XVII, quando apenas meninos podiam usufruir das grandes oportunidades empregatícias, meninas brilhavam nas ruas com seus vestidos coloridos, sua voz doce, sua educação encomendada e a vontade de se movimentar para ganhar dinheiro. Ao final do dia, 35% de todo esforço realizado eram enviados para os seus pais, que recebiam cada conto com muita exultação. Oportunista ou santa? O importante é entender que, para o povo pernambucano miserável do final da década de 1790, de uma forma ou de outra, ser menina de recado era um trabalho digno e remunerado, o responsável por diminuir o número agravante de meninas entregues à prostituição das ruas de Recife. Pois bem, Madame Blanchet conseguiu o impossível: contratar meninas entre 12 e 17 anos. Seu casarão era recheado delas. Tinha ao menos uma em cada canto das dezenas de cômodos. Meninas tomando lição, meninas cozinhando, meninas se trocando, meninas saindo e meninas entrando. 24 horas de movimentação de muitas meninas, tirando apenas o domingo para descansar.
Era fevereiro de 1798, e Madame Blanchet contava com o total de 10 professoras, 47 meninas e 18 serviçais. As professoras eram responsáveis por ensinar o que já tinham aprendido, lições referentes a como andar sem ser notada, como sentar e levantar com graça, como falar com a voz terna e doce, ensinavam lições sobre a geografia da cidade, a ler e a escrever em português e em francês e a memorizar frases. Educação comum à alta elite francesa e que Madame Blanchet fazia questão de reproduzir.
- Eu quero educar meninas para atender [...] – dizia, com o seu sotaque francês carregado.
O foco era entregar recados, fosse por escrito ou verbalizado, cada recado tinha um valor: 15 conto de réis, se por escrito, e 20 contos de réis, se verbalizados, quando a menina precisava decorar as frases e repeti-las ao receptor. “As meninas são mais atentas que os meninos, que são naturalmente distraídos”, repetia Madame Blanchet, e vendia essa ideia como um projeto lucrativo.
Menina Elizabeth
Segunda-feira, 4 de fevereiro de 1798. Eram 6h30 da manhã e nada de Elizabeth, Augusta e Cristina aparecerem na grande sala de reuniões para o primeiro contato. Madame Blanchet, professora Izabel, professora Aparecida, professora Anunciação e professora Odete já estavam a postos com a lista dos primeiros clientes do dia. Havia o Conde de Monteserrat logo pela manhã, que estava de passagem pela cidade e precisava fechar alguns acordos; o Duque pernambucano Otaviano Abreu, com sua típica pressa e falta de paciência – gostava de ser sempre o primeiro do dia a ser atendido -; Madame Margot, também francesa, grande amiga de Madame Blanchet – esta pedia que apenas as mais velhas, experientes e que já tinham certa afinidade com a língua francesa a atendessem, porque seus recados eram passados sempre em francês –; e o saudoso General Morgado, português rígido da elite militar e que precisava que seus atendimentos acontecessem sempre pela manhã e com urgência.
- Cristina! – gritou Augusta, apressando a amiga. – Ande logo, Madame nos quer à sala agora, sem mais um minuto de atraso. Hoje, temos os “clientes da pressa” nos primeiros horários da manhã.
As meninas costumavam chamar clientes, como Duque Otaviano e General Morgado, de “clientes da pressa”, quando não tinham paciência e nem tempo.
- Já vou, Augusta! Que coisa! Não me apresse, que a coisa não anda, hein? Estava escrevendo uma carta para os meus pais, para Lígia levar até eles hoje, pela noite, porque não conseguirei sair para visita-los. Tenho os clientes da tarde e à noite, professora Odete preparou umas lições de francês pra mim, porque ainda estou com dificuldades... – respondeu Cristina.
- Huuumm... está certo...! Sem o seu francês, como poderá me ajudar com Madame Margot? – retrucou Augusta.
Ambas levavam a função de recado muito a sério. Sabiam que fora dali, jamais conseguiriam aproveitar outra chance parecida, ainda mais sendo tão pobres. A presença diária no casarão e o trabalho na rua eram o necessário para manter a família de muitas meninas, e ambas, Augusta e Cristina, tinham total consciência disso. As classes mais abastadas da sociedade, principalmente as que batiam ponto na corte, participando dos momentos de licitações, pregões, dos eventos luxuosos que aconteciam todos os meses, requisitavam seus serviços constantemente. Ao aportarem à rua, os donos dos estabelecimentos que ficavam nos arredores do casarão diziam “e lá vão as meninas de Madame Blanchet entregar recado”. Todas as famílias da região inscreviam suas filhas no que podia ser considerado como um típico processo seletivo: elas iam até o casarão, deixavam seus nomes, respondiam algumas perguntas e esperavam uma das meninas irem até suas casas com a resposta quanto à seleção de suas filhas. Após isso, os pais assinavam um contrato acordando que 65% dos valores arrecadados seriam retidos por Madame Blanchet, sobrando apenas 35% para a filha e seus familiares. 20% a família gastava com a estadia das meninas no casarão e o restante era reservado para abastecer as necessidades do lar.
- Desculpe a demora, Madame Blanchet! Esperamos que as primeiras funções do dia não tenham sofrido atraso, - disse Augusta, ao lado de Cristina.
- E Elizabeth, onde ela está? – perguntou Madame Blanchet, já sentada em sua poltrona, enquanto esbaforia a fumaça de seu papelete acoplado à cigarreira de prata que importara de Paris.
- Huumm... Nós não sabemos sobre Elizabeth, Madame... Aliás, pensávamos que ela tivesse passado o domingo trabalhando e depois tivesse ido para a casa dos pais... Será que ela não está lá até agora...? – respondeu Cristina, com expressão de susto.
- Quelle absurdité[2]! Onde está a menina? Procurem-na! Ela não me avisou que iria para a casa dos pais! É dela e das duas as obrigações desta manhã! Preparem-se, porque deverão encontrá-la e estarem prontas para sair antes mesmo de 30 minutos! Imaginem, que disparate...! – rebateu Madame, aos berros, saindo da sala nervosa, ressoando o “Ploc, Ploc” de seu salto no assoalho, com o rosto vermelho e a veia da testa saltada.
- Ô, meu padim padim ciço...! – disse Augusta, chorando – Onde estará essa menina? Se ela não aparecer vamos apanhar no lugar dela de novo!
Elizabeth era a grande dor de cabeça da casa. Causava alvoroços numerosos e os fazia de propósito sempre que podia. Odiava estar na casa, ter de trabalhar para custear a vida dura que a família levava e, o que é pior, ser obrigada a andar por toda Recife em troca de centavos. Era uma menina morena, que vivia com seus trajes em farrapos, sempre suja e descabelada. Certa feita, enquanto tomava recados nos arredores da antiga Rua dos Judeus, fora raptada, trancafiada em um calabouço, amordaçada, violentada por horas e devolvida com o pagamento de 12% do valor que deveria ganhar em um dia trabalhado. Como se não bastasse, ao voltar para o casarão, ainda foi culpada por Madame Blanchet aos berros pelo ocorrido, apanhou de vara de bambu, foi dormir e ainda teve que acordar no primeiro horário do dia seguinte para atender os “clientes da pressa”, mesmo com as feridas todas abertas, o corpo dolorido e a febre alta.
- Meu padim ciço, acolha minha dor... – chorava Elizabeth na rua. – Acalme minha alma e serene meu coração, eu lhe imploro... não tenho mais alternativas, que não seja continuar fugindo até conseguir sair de vez desta vida... – rezava, antes de chegar aos primeiros clientes. A semana do sequestro fora a pior semana de toda sua vida. Com febre alta, todas as noites daquela semana Elizabeth delirava em sua cama, antes de dormir. Mas não contava nada a ninguém, porque sabia que se contasse, a chance de apanhar seria ainda maior do que a de compreensão sobre as suas dores e feridas. Já não aguentava mais.
Foi no domingo, dia 3 de fevereiro de 1798, a data exata de sua decisão de fuga. Avisou para uma das meninas de recado que iria à Grande Tabacaria, um café onde a alta elite de Recife se reunia. Justificou sua ida dizendo que precisava atender um cliente muito importante, mesmo sendo domingo, porque estava juntando dinheiro para a sua mãe poder comprar uma máquina de costura, pegar encomenda pra fora e, quem sabe, permitir que saísse da casa de recado de Madame Blanchet e trabalhasse como sua auxiliar, em casa. Disse, ainda, que após o trabalho, daria uma passada na casa de seus pais. Elizabeth até tentara colocar esse plano em prática, fazendo horas extras durante as manhãs de domingo; fez isso por 3 meses e todo o valor que conseguiu juntar não supriu nem as necessidades da semana. Ela não tinha saída, precisava mentir, para tentar a fuga. Tomou o caminho do café no domingo, dia anterior, para que não houvesse desconfiança. Chegou a entrar no café, mas como era pequena, conseguiu passar por entre os clientes, entrar na cozinha e sair pela porta dos fundos. O plano era aproveitar o domingo, enquanto a maioria das meninas ou estava voltando para a casa de seus pais ou estava passando o dia brincando na rua, o que eliminaria qualquer desconfiança e a deixaria tranquila. E deixou! Elizabeth executou seu plano com toda tranquilidade possível. Disfarçada com um gorro e um avental que roubara no café, ninguém desconfiou que ela era uma menina de recado, tampouco que era uma das pupilas de Madame Blanchet. Passou despercebida pela Rua do Contorno, atravessou todo o centro, desceu ao cais, subiu em um dos navios aportados e esperou agachada em um canto, em silêncio e escondida, pela próxima viagem.
A falsária Madame Blanchet
- Madam, Madam! – gritaram as meninas, em coro, em francês e na direção de Madame Blanchet. – Não conseguimos encontrar Elizabeth! Ela não está em lugar nenhum! – responderam, com as mãos unidas em gesto de piedade, enquanto choravam e fungavam, com muito medo de serem as próximas vítimas da vara de bambu.
- J’y crois pas[3]! – respondeu Madame, furiosa. – São duas imprestáveis, mesmo! O que eu faço com vocês? – berrava, com raiva, com as professoras ao lado, tentando acalmá-la. Sentou em sua poltrona, enquanto as serviçais a abanavam com um grande leque de mão, ao mesmo tempo em que apontava o dedo para as duas e entoava, aos berros:
- Vocês vão me pagar por esse sumiço! Se ela não aparecer até hoje a noite, vocês sentirão uma dor que irá além da vara de bambu! Eu vou acabar com a raça de vocês! Je te tue[4]! – contrapôs, já muito vermelha e quase tendo um piripaque.
- Desse jeito a senhora vai infartar, Madam! – disse Professora Eduarda, enquanto fazia um leque imaginário com as mãos e gestos de abano em direção à Madame Blanchet. – Seu coração não vai aguentar!
Madame Blanchet era exultada na comunidade recifense da época. Sua imagem fazia bem aos negócios. Ela era convidada de honra de todos os eventos da região. A grande elite do estado a presenteava sempre com muitas joias, caríssimas, por sinal, vestidos, sapatos, cigarreiras de ouro e prata, que vinham de inúmeras viagens a diferentes países do mundo, e oportunidades de entrevistas para jornais de todo canto do Estado de Pernambuco. Madame Blanchet era considerada um achado pela elite da época, um personagem peculiar que tinha total capacidade de elevar ainda mais seu prestígio, poder e influência diante da corte e da comunidade colonialista. Era requisitada em absolutamente todos os eventos, porque travava acordos, tinha influência com a comunidade menos abastada, graças ao seu projeto social de acolhimento e treinamento e, principalmente, por conhecer a fundo, e intimamente – até demais -, todos os grandes duques, condes e coronéis da sociedade recifense e de muitas outras cidades pernambucana. Apenas a sua presença era capaz de convencer, quiçá um conversa bem elaborada. Suas meninas faziam o trabalho duro e ela ficava com os louros da vitória.
Ao mesmo tempo em que digladiava com Augusta e Cristina, era abanada por um grande leque pelas serviçais do casarão, e pelo leque imaginário formado pelas mãos de Professora Eduarda, Madame Blanchet respirava alto, ficava cada vez mais vermelha, esbravejava xingamentos em francês, enquanto sua veia permanecia saltada à pele da testa.
- Vocês vão me arruinar desse jeito... Se essa menina não for encontrada, ela pode dar com a língua nos dentes e contar como tudo tem acontecido... – dizia Madame Blanchet, chorando, enquanto imaginava Elizabeth abrindo a boca para falar sobre os inúmeros trambiques, desfalques, mentiras, extorsões e atitudes ilegais praticados por ela nos últimos anos. Elizabeth já tinha 17 anos. Os pais a entregaram para a vida no casarão aos 12. Nesses 5 anos, Elizabeth aprendeu muita coisa, entre ações positivas, que certamente a elevariam quando pudesse sair de lá, como ter aprendido a falar francês e as inúmeras aulas de etiqueta que reteve. Da mesma maneira, também aprendeu todos os segredos que podia, a exemplo dos manejos para tirar valores além dos que a elite já lhe pagava pelos serviços de menina de recado ou o melhor jeito de passar a mão por debaixo dos paletós dos duques, condes e coronéis, e das fancas de tecido das saias das madames, para roubar-lhes as moedas de ouro, guardadas nos fundos falsos de suas vestimentas. Tudo isso era passado por escrito e ensinado por Madame Blanchet. Elizabeth guardava os cadernos com anotações e assinaturas da matriarca, o que poderia, e muito bem, constar como uma grande prova contrária às suas ações sociais reconhecidas pela sociedade recifense. Esta era apenas uma das centenas de provas que Elizabeth, a menina de recado mais antiga do casarão, retinha.
Já se passavam das 15h30, quando uma menina de recado, de uma outra casa de recados, aportou em frente ao casarão de Madame Blanchet, trazida por uma carruagem e acompanhada por outra madame.
- Ô, de casa! – gritou a menina do portão. – Venho trazer notícias de uma de suas meninas!
Eram notícias de Elizabeth, encontrada junto a um navio de carga. Ao chegar à embarcação, a menina decidiu ficar agachada, em silêncio, ao lado de cargas de madeira, encomendadas pela corte do Rio de Janeiro, que deveria sair no mesmo dia, para desembarcar na corte carioca em, no máximo, 3 dias. Seu plano estava dando certo. Após algumas horas de espera, ouviu o barulho da buzina, avisando que o navio de carga estava pronto para zarpar. De um cantinho da Praça de Máquinas, lugar do navio onde fica instalado o compartimento a vapor, responsável por fazer o navio zarpar. Assustada, cansada, sem entender onde estava e onde deveria ficar, Elizabeth pegou no sono e se deitou bem ao lado do compartimento à vapor. No dia seguinte, e por uma grande coincidência, encontraram-na, já gelada e com o corpo endurecido. Elizabeth morrera de inanição, mas antes de sucumbir ao descanso imposto, a grande vítima do azar de uma vida miserável, escreveu, em português, algumas linhas de confissões. Redigiu seu cansaço, seus aprendizados, todos os momentos ilegais que vivenciou a mando de Madame Blanchet, seus momentos de dor, de abusos, especificando os estupros que havia sofrido nas ruas dentro de seus 5 anos de servidão, os valores ínfimos que sua família recebia em troca, o que a tornara escrava de Madame Blanchet, escreveu sobre os dias de febre alta e o quanto apanhou sob a acusação de preguiça e indolência. Foi encontrada com a carta na mão. Estupefata, Madame Blanchet chegou ao cais em frangalhos, respirando alto, ao lado das professoras Eduarda e Izabel, e as meninas Augusta e Cristina, que vieram correndo logo em seguida. Madame Blanchet não teve nem tempo para justificativas, foi presa no momento em que subiu ao navio. A Casa de Educação Para Recado Madame Blanchet chegara ao fim.
[1] Palavra em francês. Tradução: bom dia.
[2] Frase em francês. Tradução: Que absurdo!
[3] Frase em francês. Tradução: Não acredito!
[4] Frase em francês. Tradução: Eu mato vocês!
5 notes
·
View notes
Text
Aproveitando o fim da minha Haizaki fever...
(Quer dizer, eu acho que está no fim...)
Depois de duas longas semanas com uma obsessão absurda - que eu resolvi chamar carinhosamente de Haizaki fever ou febre do Haizaki - nesse personagem eu resolvi escrever sobre ele, por que? Bom, depois de consumir todo o pouco conteúdo sobre ele de todas as formas possíveis, eu só pensei, porque não?
Esse personagem, assim como a maioria nesse anime, tem um desenvolvimento podre de ruim, considerando que o autor nunca se interessou em falar sobre a história dos personagens fora do basquete, - salvo o Akashi que foi o único personagem fora da Seirin cuja membros da família foram mostrados - mas algo que me chama atenção é que mesmo ele não sendo planejado pra ser usado por mais do que um jogo, ele tem muito mais desenvolvimento que antagonistas como o Hanamiya por exemplo.
O Hanamiya é um personagem que só foi mostrado em quadra, sabemos que ele joga sujo, não gosta do basquete e sente prazer em machucar seus adversários. É só isso que pode ser explorado dentro de um partida, então é só isso que o autor nos mostra, só que com o Haizaki foi diferente: Ele teve um desenvolvimento fora do jogo.
O fato de ele ser mulherengo, de lidar com as coisas de forma violenta e não ter o mínimo de respeito por praticamente ninguém, mesmo por mulheres ou outros jogadores de basquete e o rancor que ele sente pela Geração dos Milagres ter se formado logo depois que ele foi trocado pelo Kise, tudo isso é um desenvolvimento que a maioria dos antagonistas não teve, com direto a flashback e auto-reflexão do personagem.
E não vamos esquecer que o autor focou tanto nesse personagem que o resto do time da Fukuda ficou em segundo plano, eles simplesmente estiveram ali pra apanhar e serem menosprezados pelo Haizaki.
Eu sinto que o autor se empolgou pra criar um personagem "sombra do passado" pro Kise, um que também esteve na Teiko e que tivesse uma personalidade desprezível, que acabou esquecendo que ele não explora as histórias dos personagens na obra dele e acabou dando muito potencial a um personagem que ele prática não usou.
Dito isso, eu simplesmente tenho um apego especial com esse tipo de personagem: antagonistas/vilões com potencial e totalmente esquecidos em suas obras (lembro de ter sido obcecada pelo Kaigaku de Kimetsu no Yaiba quando li o mangá em 2020). E eu não vou mentir que o design e a voz dele também foram importantes pra eu me encantar no personagem, eu simplesmente amo o design dos olhos e sempre quis saber como teria sido se eles tivessem deixado ele com o cabelo do mesmo estilo que ele tinha na Teiko.
Também me deixa curioso o fato de que o anime traz duas cenas extras dele, que são o flashback da interação entre ele e o Kuroko e a cena dele não jogando os sapatos fora - algo como um tipo de redenção ou mensagem de que ele é um babaca mas ele realmente ama o basquete, o que é bem controverso considerando que ele não é capaz de respeitar seu próprio time. - e o fato de que a cena termina com o Kuroko olhando pra trás, como se ele usasse o sentido aranha de protagonista pra perceber que no fim das contas, ele estava certo e o Haizaki realmente gostava de basquete é realmente engraçado pra mim.
Gosto de interpretar isso como uma esperança de redenção pro personagem que nunca foi mostrada, mesmo que não faça muito sentido. (Mas é interessante o suficiente para me fazer querer talvez escrever uma fanfic sobre).
#haizaki shougo#Shogo Haizaki#kuroko no basuke#kuroko no basket#KnB#kuroko no basquet#anime br#Brazilian fandom
5 notes
·
View notes
Text
O homem do vale
Caykar vive cercado por montanhas. Para um homem de meia idade ele é forte e vigoroso, possui braços musculosos devido ao esforço de cortar lenha diariamente, além de todos os anos que passou empurrando as carroças cheias de cereais. Trabalhar, mesmo quando não há retorno, é normal para ele, e pouco importam o clima e as intempéries. Nos dias de sol ele sua, nos dias de chuva ele se molha, e não há feriados ou dias santos nos quais possa descansar.
A região dos vales de Cárcaras é inóspita até para os mais experientes, e mesmo assim ele decidiu habitá-la com sua família. Eles devem ser os únicos moradores em um raio de 50 quilômetros, pois ninguém mais deseja viver cercado de tantos animais selvagens e criaturas pouco conhecidas. Além disso, todo ano os vales são assombrados por tempestades violentas que varrem a região, por isso é preciso muito conhecimento e coragem aos homens que pretendem viver por ali.
No entanto, há também algumas vantagens para quem é esperto. Uma vez que se esteja longe das cidades, não é necessário lidar com assaltantes e toda sorte de criminosos da pior estirpe. Enquanto o vale de Cárcaras possui natureza hostil, a cidade de Athas é assolada por estupros diários, roubos de cavalos, brigas em bares e uma série indescritível de doenças venéreas que nem os médicos podem curar ou explicar. Os covardes, aqueles que atacam mulheres nas ruas escuras das metrópoles, jamais teriam coragem para cavalgar até a floresta, especialmente porque a maioria deles não sabe cavalgar. Caykar considera mais fácil enfrentar animais selvagens do que lidar com a espécie humana, e está certo. Quando necessário, ele e seu filho cavalgam até Athas ou Mina e trocam seus recursos, trazendo sempre algum presente para casa.
Caykar possui traços marcantes. É um homem alto, tem cabelo escuro e uma pele de aparência muito saudável. Seus olhos são tão pretos que chamam atenção de qualquer um, mas o que realmente não pode passar despercebido em seu corpo são as cicatrizes. Uma linha atravessa seu peito na vertical, desde o topo até a barriga, e outra passa por todo o antebraço, como uma queimadura feita por um chicote em chamas. É possível ver também três marcas de perfuração no abdomen, como se ele tivesse sido golpeado por facas, e sua perna direita tem uma suave marca avermelhada na altura da coxa. No inverno tudo isso fica oculto atrás das roupas, mas durante o verão, quando sua pele bronzeada cintila à luz do sol, as marcas de seu passado contam uma história. Ele transmite aquela força bruta que não se vê todos os dias.
Teri, sua esposa, é também uma mulher admirável. Não se trata de uma beldade com traços delicados e cabelos perfeitos como as moças nobres da região, mas é dona de uma beleza bastante incomum. Seus longos cabelos ruivos e crespos são chamativos, embora o que realmente se destaque em sua aparência seja o corpo esguio e longilíneo. Teri é uma mulher alta para os padrões desta sociedade, e o fato de ser muito perspicaz, quando somado aos seus inúmeros conhecimentos sobre a natureza, faz com que muitos a considerem uma feiticeira.
O mais provável é que sejam boatos de fazendeiros ignorantes e mulheres que a idolatram em segredo, mas houve um episódio no qual dizem que Teri curou a irmã mais nova do governador de uma doença terminal, e para isso teria usado apenas as próprias mãos e uma folha. É importante dizer que suas mãos vivem carregadas de anéis, cada um com uma coloração específica por serem feitos de pedras preciosas cuja origem é desconhecida pelo povo. Além disso, Teri é uma forasteira que veio para o Leste ainda na infância, e pouco se sabe sobre seu passado. É um prato cheio para teorias conspiratórias e toda sorte de maluquices que se possa imaginar. Apesar de tudo isso, é respeitada por onde passa e suas habilidades fizeram com que sua família caísse nas graças de algumas pessoas muito poderosas e influentes.
Teri e Caykar têm três filhos, mas tiveram apenas duas gestações. Na primeira vez chegou o primogênito do casal, um rapaz de nome Anazogh. A segunda gestação trouxe as gêmeas Nikita e Deon. Hoje, o filho mais velho está quase na idade adulta e já auxilia o pai no trabalho pesado, enquanto as gêmeas ainda estudam com a mãe e trabalham apenas nas tarefas domésticas.
2 notes
·
View notes
Text
Perseguição a homossexuais e transexuais veio com europeus durante a colonização do Brasil
"Índias há que não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão ainda que por isso as matem. Estas deixam todo o exercício de mulheres e imitam os homens e seguem seus ofícios, como se não fossem fêmeas. Trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos e vão à guerra e à caça com seus arcos e flechas, perseverando sempre na companhia dos homens, e cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada, e assim se comunicam e conversam como marido e mulher". O relato do português Pero de Magalhães Gândavo, de 1576, é um dos mais eloquentes registros da diversidade de gênero que havia nas terras que hoje são o Brasil, e também do choque cultural imposto pela colonização europeia e católica. Os portugueses também trouxeram em suas caravelas as normas de gênero e sexualidade vigentes na Europa, inclusive por meio do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, que previa pena de morte para o "pecado da sodomia", equiparado aos mais graves crimes contra a Coroa. Em entrevista à Agência Brasil para marcar o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, celebrado nesta quarta-feira (17), pesquisadores apontam raízes coloniais nos crimes cometidos ainda hoje contra essa parcela da população brasileira. O trecho de Gândavo é destacado do livro histórico Tratado da Terra do Brasil pelo antropólogo Luiz Mott, no artigo História Cronológica da Homofobia no Brasil: Das Capitanias Hereditárias ao fim da Inquisição (1532-1821). Mott é pesquisador e ativista, professor da Universidade Federal da Bahia, fundador do Grupo Gay da Bahia, pioneiro na contabilização de crimes homofóbicos no Brasil e também responsável pelo resgate da história do indígena “Tibira do Maranhão", classificado pelo antropólogo como a primeira vítima de LGBTfobia de que se tem registro no Brasil.
Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Desenho de indígena tupinambá feito pelo francês Jean de Léry. Os tupinambás foram considerados luxuriosos por franceses e portugueses. Gravura de livro de Jean de Léry/Biblioteca Nacional "Tão generalizada era a homossexualidade na Terra Brasilis, que os Tupinambá tinham nomes específicos para designar e identificar osas praticantes dessa performance homoerótica: aos homossexuais masculinos chamavam de Tibira e às lésbicas de Çacoaimbeguira. Condutas radicalmente opostas ao ensinamento oficial da cristandade", escreve Mott em seu estudo.
Raiz violenta
O antropólogo descreve que o cenário demográfico da colônia, em que os homens brancos são minoria absoluta se comparados aos indígenas e, depois, aos africanos escravizados, fez com que o controle social, incluídas aí as normas de gênero e sexualidade, precisasse ser ainda mais violento do que na Europa. O resultado disso foi uma “hipervirilidade”, que via qualquer atitude considerada não masculina partindo de um homem como ameaça odiosa a uma sociedade dominada por poucos homens brancos e cristãos. Para Mott, essa é a raiz das formas brasileiras que tomaram o machismo e a homofobia. "Um grupo tão diminuto, para manter subjugados todas as mulheres e todos os machos não brancos, tinha que ser muito violento, muito truculento. Tinha que saber usar o chicote, a bengala, a espingarda, para se defender dos oprimidos. O machismo aqui foi muito mais forte do que nas metrópoles, e a homofobia era um elemento fundamental da hegemonia do macho branco. O machismo, a misoginia e a homofobia são irmãs trigêmeas nessa sociedade marcada pela escravidão". A violência dos europeus contra os nativos da América do Sul fica bem marcada no assassinato do indígena Tibira do Maranhão pelos franceses em 1614, ano em que ainda ocupavam uma parte do Norte e Nordeste do Brasil. Tibira era a forma como esse indígena era chamado pelos outros tupinambás, por seus trejeitos vistos como efeminados e por se relacionar com outros homens. Esse comportamento era normalizado entre os tupinambás, como narra de forma preconceituosa o empresário Gabriel Soares de Souza, em 1587, em Tratado descriptivo do Brasil: “são muito afeiçoados ao pecado nefando , entre os quais não se tem por afronta; e o que se serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas”.
Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Em 1637, padre solicita o envio de portuguesas ao Pará, para evitar que nascesse "um grande mal" entre 200 soldados sem mulheres. Crédito: Memorial sobre as terras e gentes do Maranhão e Grão-Pará e rio das Amazonas/IHGB Já os capuchinhos franceses viram esses “pecados” como extrema ameaça, diz Mott, porque a missão francesa era composta apenas por homens. "Os capuchinhos eram os grandes líderes dessa expedição com 400 homens, e a tentação da sodomia era muito forte. E eles tinham a ideia de que a sodomia era um pecado tão forte que Deus mandaria castigos, e, por isso, queriam limpar a terra da sujeira da sodomia. Eles chamam o Tibira de cavalo, de lodo. E essa foi uma forma de evitar que a sodomia se alastrasse por uma sociedade que não tinha mulheres brancas". A história da execução foi narrada pelo frei capuchinho Yves D’Évreux, que escreve: "levaram-no para junto da peça montada na muralha do forte de São Luís, junto ao mar, amarraram-no pela cintura à boca da peça, e o Cardo Vermelho lançou fogo à escova, em presença de todos os principais, dos selvagens e dos franceses, e imediatamente a bala dividiu o corpo em duas porções, caindo uma ao pé da muralha, e outra no mar, onde nunca mais foi encontrada".
Inquisição
Luiz Mott explica que o método brutal e a execução pública tinham função de expurgar o pecado e avisar aos demais pecadores do destino que poderiam ter. Outro episódio catálogado pelo antropólogo, em Sergipe, se deu contra um jovem negro escravizado, açoitado até a morte, em 1678, pela suposição de que havia se relacionado com um homem conhecido como sodomita, que havia lhe presenteado com ceroulas. A execução foi determinada por seu “dono”. “A vergonha e a honra eram valores fundamentais no antigo regime. E um escravizado que apareceu em casa com uma ceroula, que foi presente de um sodomita escandaloso, era uma afronta ao proprietário e à família. Era como se tivesse maculado gravemente a honra da família. Ele preferiu perder o capital de um escravizado jovem do que carregar a desonra de ter uma propriedade sua suja pelo abominável pecado da sodomia”.
Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Desenho do missionário capuchinho francês Claude Abbeville, que participou da invasão à colônia portuguesa que executou Tibira do Maranhão. Crédito: Gravura de livro de Claude Abbeville/Biblioteca Nacional O papel da Igreja Católica na linha do tempo traçada pelo antropólogo vai além de disseminar o julgamento de que a homossexualidade e a transexualidade eram pecados - inclui a averiguação de denúncias, a detenção de suspeitos e a determinação das punições, seja por meio de visitas periódicas realizadas pela inquisição portuguesa à colônia, seja pelo envio de denunciados para serem julgados em Portugal. Ao todo, ele contabiliza em sua pesquisa que a inquisição portuguesa julgou 4 mil denunciados de sodomia na metrópole e em suas colônias, determinando 400 prisões e levando 30 pessoas à pena máxima - a fogueira. Entre os 30 acusados de sodomia executados pela inquisição portuguesa, nenhum era brasileiro ou vivia no Brasil. As 20 vítimas brasileiras do Tribunal do Santo Ofício responderam por heresia, afirma Mott, e 18 eram judias. O antropólogo considera que, apesar do rigor moral, a inquisição não levou a punição máxima a mais casos, porque essa era reservada apenas aos que provocavam maior escândalo ou envolviam o conhecimento de múltiplos parceiros, por exemplo. Mesmo assim, o antropólogo descreve que havia uma pedagogia do medo contra os LGBTQIA+, em que os padres cobravam a confissão da sodomia, e os fiéis eram compelidos também a denunciar casos conhecidos. "Quando Luiz Delgado, o sodomita que era mais famoso na Bahia, foi preso para ser mandado para Lisboa com seu companheiro, que era bem efeminado, o bispo comunica seu envio à inquisição e escreve que não poderia mantê-los presos na cadeia da Câmara de Salvador porque seriam apedrejados”.
Punição às famílias
A escritora, pesquisadora e ativista transexual Amara Moira foi curadora de uma exposição no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo, sobre a dissidência de gênero e sexualidade no período colonial da história do Brasil. Ela ressalta que as ordenações que tratavam desses crimes/pecados desde o início da colonização incluiam punições contra o indivíduo e sua família, com confisco dos bens do denunciado e perda de direitos para filhos e netos. “Quando você começa a punir a família do indivíduo, você vai criando toda uma tradição cultural de repulsa e aversão dentro do seio familiar. Hoje, uma fala muito comum é preferir ter um filho morto a um filho homossexual, e é uma fala que tem a ver com essa história toda, com esse momento em que, se você tivesse alguém na família que fosse LGBT, a família toda pagaria por isso. É um sentimento que vai sendo construído. Não se deve apenas à legislação, mas é um ponto para fortalecer esse sentimento, que permanece, passando de geração em geração”. Para a pesquisadora, a crueldade prevista pelas legislações contra a sodomia indicava que aquele era um pecado grave, entendido como erro que mancharia não somente a vida dessa figura condenada, mas de toda a localidade se ela não fosse punida com rigor. “A gente vê isso acontecendo hoje em dia também. Sou de Campinas e me lembro do caso de uma travesti da cidade que foi assassinada por um homem que dormiu com ela, teve um surto durante a noite e arrancou o coração dela. E, quando ele é preso, vai rindo para a delegacia e dizendo que ela era o demônio. A gente percebe ainda hoje um monte de discursos muito fortes na sociedade que recuperam essa associação entre o demônio e a pessoa LGBTQIA+, criando terreno para que a violência continue a ser perpetrada com requintes de crueldade. Se essa pessoa é o demônio, cabe a quem é contra o demônio eliminar os vestígios dessa pessoa”. Apesar dos relatos de maior diversidade de gênero entre indígenas como os tupinambás e entre africanos escravizados, a dominação colonial e a própria catequização fazem com que esses preconceitos também se entranhem naqueles que não eram descendentes dos europeus, explica Amara. Ela cita o exemplo do Tibira do Maranhão, em que quem acende o canhão para a execução é outro membro de sua aldeia. “Essa é uma morte brutal produzida pelos franceses. E, se a gente vai ver, quem pede para fazer o disparo do canhão é uma liderança indígena do local que está querendo mostrar serviço para os franceses, está querendo mostrar para os franceses que estão comprometidos com esses valores sendo trazidos da Europa. Isso não era visto como um problema pelas tradições locais, e passa a ser visto a partir do momento em que os europeus chegam para impor suas culturas. E acontece um momento em que essas culturas tentam assumir a perspectiva europeia”, afirma ela. “Hoje, vemos ativistas e lideranças indígenas que se identificam como LGBT, denunciando essa perseguição nas culturas em que vivem, nos espaços em que vivem. Quando a gente recua para antes da imposição da moralidade cristã, havia outra forma de definição do que era válido ou não”.
Sodomia e transfobia
A escritora defende que o que era chamado de sodomia não era apenas a relação homossexual, mas a dissidência de gênero e sexualidade de forma geral, incluindo a transexualidade. Ao discursar antes de executar seu conterrâneo, o indígena que acende o canhão diz que Tupã poderia fazer com que o tibira renascesse no céu como mulher, porque era o que ele queria. “A gente vê essa confusão entre gênero e sexualidade. Não se fala de sexualidade nesse relato, mas há menção explícita de que talvez esse indivíduo condenado gostaria de existir como pessoa de outro gênero”, diz Amara Moira, que explica que desde o século 16 também passam a existir dispositivos legais que se aplicavam às colônias portuguesas, que puniam quem se vestisse com roupas consideradas do sexo oposto, e isso também era tratado como sodomia. Amara Moira cita uma carta de 1551, do jesuíta português Pero Correa, que descreve haver entre os indígenas "mulheres que, assim nas armas como em todas as outras coisas, seguem ofício de homens e têm outras mulheres com quem são casadas. A maior injúria que lhes podem fazer é chamá-las mulheres”, escreve ele, que buscava receber mais detalhes dos “sodomitas mouros”, para saber como lidar com essas indígenas. “Existe uma questão de gênero muito marcada aí. O jesuíta está chamando essas pessoas de mulheres, mas elas não se identificam por essa palavra. A gente não sabe, nessa cultura, como elas se identificam, como eram entendidas. Mas está sendo percebido como sodomia”.
Herança colonial
O pesquisador da história LGBTQIA+ Luiz Morando vê a marginalização dessa população como um valor disseminado por metrópoles coloniais cristãs e culturas monoteístas não cristãs e patriarcais, como a islâmica. Assim como as ordenações portuguesas que interferiram no Brasil, nas colônias espanholas a base foi a Lei de Las Siete Partidas, que introduziu o crime de sodomia. Para a maior parte dessas ex-colônias, esses dispositivos foram derrubados conforme os países estabeleceram os próprios códigos penais. Já para as colônias da Inglaterra, que só descriminalizaram a homossexualidade na década de 60, há leis antissodomia que chegaram ao século 21. No Belize, por exemplo, ela só foi julgada inconstitucional em 2016. Uma parte considerável dos mais de 60 países que criminalizam relações sexuais até hoje tem penas fundamentadas na Lei Islâmica Sharia. A Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais (ILGA) argumenta que muitas dessas leis funcionavam apenas como códigos morais antes da colonização, mas foram fortalecidas por legislações coloniais de metrópoles como a Inglaterra, ganhando interpretações literais. Luiz Morando ressalta que os colonizadores britânicos estenderam a legislação homofóbica até o século 20 e deixaram uma herança LGBTfóbica para suas colônias. Por outro lado, na América do Norte, em grande parte colonizada pela Inglaterra, já havia registros de culturas indígenas que reconheciam gênero neutro e transexualidade antes da chegada dos europeus. “Dependendo do país que colonizou, tanto nas Américas quanto na África, a tendência é essa herança permanecer”, afirma. “Com a chegada dos ingleses, na América do Norte, e dos portugueses e espanhóis, nas Américas do Sul e Central, a tendência é de criminalizar, marginalizar e reprimir. Tanto o anglicanismo quanto o catolicismo vão trazer uma visão conflituosa contra essas dissidências que já eram percebidas nessas populações indígenas nas Américas. À medida que a catequização foi ocorrendo, a tendência era não aceitar mais essas formas divergentes”, descreve ele, que fala em dissidência e divergência porque não existiam os termos homossexualidade e transexualidade na época. Com o fim das legislações que previam penas mais severas contra dissidências de gênero e sexualidade no Brasil e em grande parte do Ocidente, outras pressões sociais se mantiveram como fonte dessa marginalização. Especialmente nas culturas ocidentais, ele aponta uma aliança entre discurso religioso, discurso policial, discurso jurídico e discurso médico para defender um único conceito de família. “Isso vai se tornar tão forte que, quando se elege, no século 19, o conceito de família como união entre homem e mulher heterossexuais para a procriação, esses quatro discursos fecham o cerco em uma espécie de parceria para perseguir e condenar formas de sexualidade dissidentes”.
Acúmulo de exclusões
Morando é autor do livro Enverga, mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte, que biografa a travesti cearense Cintura Fina, figura icônica da boemia de Belo Horizonte entre as décadas de 50 e 80. Empurrada para a prostituição pela exclusão social, a travesti teve passagens frequentes pela delegacia por episódios em que reagiu a agressões físicas e verbais, lidando com uma sociedade conservadora e violenta.
Rio de Janeitro (RJ) - LGBTfobia que chegou nas caravelas se enraizou com colonização. - Em vermelho, países que criminalizavam a homossexualidade em 2020. Arte:Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA)/ Divulgação Para o autor, o acúmulo de exclusões de raça, classe e gênero une o tibira do Maranhão e Cintura Fina, dois personagens vistos como indesejados pelas forças dominantes das sociedades em que viveram. "A gente pode traçar pelo menos uma linha de permanência da discriminação por meio da exclusão, repressão e censura àqueles que portam determinado desvio a partir de uma conduta padrão, uma diretriz padrão e de valores morais", afirma. Morando descreve que, do ponto de vista dos colonizadores europeus do século 16, o tibira era uma pessoa indígena, não branca, não civilizada nessa perspectiva e um ser considerado primitivo, além de um sodomita. Já Cintura Fina foi uma pessoa negra, pobre, parcialmente alfabetizada, trabalhadora do sexo e travesti. "A gente pode perceber o quanto de discriminação tem entre cintura fina e tibira se pensar na linha de tempo em que esses elementos são usados para identificar pessoas que não correspondem a um ideal de civilização e cidadania". No Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, as deputadas federais Célia Xakriabá e Erika Hilton protocolaram um projeto de lei para incluir Tibira no livro de Heróis da Pátria. Para as parlamentares, se faz necessário reconhecer o heroísmo de Tibira do Maranhão, ao ousar ser quem ele era e por defender seu território contra os invasores franceses. Fonte: Agência Brasil Read the full article
3 notes
·
View notes
Text
* ✕ 。 • — você não ficou sabendo? cygnus orion sage acabou de chegar em sg, vamos ser sinceros, ele se parece muito com max irons. você sabe, aquele que tem trinta e três anos e é conhecido por ser piloto náutico? eu fiquei sabendo que ele pode ser leal, mas também impulsivo. só me pergunto o que o futuro reserva para ele.
tw.: suicício, abuso físico, psicológico e verbal, violência patrimonial.
Cygnus nasceu em Annecy, na França, filho de uma francesa com um irlandês. A vida não era ruim, de verdade. Seu pai, Gael, era um empresário, embora não um bem-sucedido, que lutava para ascender socialmente em uma das maiores corporativas da pequena cidade. Já sua mãe, Andromeda, era uma mulher sonhadora, que aspirava um dia ser uma grande escritora. O nascimento de Cyg em si fez com que sua mãe tivesse que escolher entre o emprego e o seu filho (enquanto nem foi um questionamento para Gael), abandonando os progressos em seus livros e o trabalho numa pequena editora local. Você nem ganha tanto dinheiro, falava Gael, em discussões que eles tinham quando o menino ainda era pequeno demais para se lembrar. Sua mãe sempre ressentiu a escolha, e talvez isso tivesse se traduzido na criação fria que dera ao menino loiro. As coisas pioraram quando chegaram Caelum e Auriga, quando Andromeda resolveu entregar-se de vez ao etilismo. Seu pai tentava segurar as pontas, mas sustentar três filhos não era a mesma coisa que quando apenas era Cygnus. Os dias andando de barco com seu pai pelos canais de Annecy foram diminuindo até tornarem-se inexistentes, assim como qualquer evento em que seu pai fosse remotamente presente.
De certa maneira, como sua mãe estava bêbada demais pra poder administrar algo e seu pai estava sempre trabalhando, desde que se entende por gente ele ocupou o papel de criador de seus irmãos. Antes mesmo de propriamente conseguir fazer coisas de um adolescente normal, sabia trocar fraldas, cuidar de crianças, do sobrado que tinham, e até do pobre cachorro. Pode entender o porquê era tão dificil para ele de prestar atenção nas aulas, ou até sequer atendê-las. A situação piorou após a morte do seu pai, que apesar de deixar uma herança significativa e outras quantias associadas, não era o suficiente para sustentar a família por muito tempo. Então ainda aos seus 15 anos, começou a trabalhar em qualquer lugar que aceitasse um rapaz naquela idade, alternando entre os mais diversos subempregos. Foi mais ou menos nessa época que, secretamente, começou a juntar uma quantia para tentar de volta o barco do pai, que sua mãe vendera meses após a morte dele para poder pagar dívidas em bares.
Apesar da bebedeira constante, do mau humor absurdo e do péssimo auto-cuidado, um ano após a morte de Gael, ela conseguiu se casar novamente, com um francês que namorara durante a adolescência. Tinha bastante dinheiro, mas, como um clássico padrasto, era um completo idiota. Também abusava de álcool, e se antes Cygnus precisava se policiar por conta de um bêbado na casa, a dose dupla apenas fazia com que sua vida caminhasse para cada vez mais se tornar o mais verdadeiro inferno. Já aos dezessete anos, começara a fumar absurdamente, tanto cigarro quanto maconha, o que lhe rendia maus bocados na escola. A diretora já não estava muito satisfeita com seu comportamento, brigava demais, fumava demais, e provavelmente só não bebia por medo de se tornar igual àqueles que reprovava. As reclamações na escola fizeram com que Pierre se sentisse no direito de “tomar suas medidas”, e em sua melhor demonstração da “educação francesa”, começou a agredir fisicamente o rapaz sempre que ele transgredia alguma das infinitas regras que passou a criar em sua cabeça. Andromeda não ligava, de maneira que assim ele também começou a se comportar com Caelum e Auriga, o que sempre culminava em discussões acaloradas e brigas violentas entre o loiro e Pierre. Ele nem esperou que Cygnus completasse seus dezoito anos para colocá-lo para fora de casa, e sua mãe nada teve a falar.
Tinha juntado o suficiente para conseguir comprar seu barco e conseguir se virar entre empregos e escola, e com a raiva que sentia, esperou apenas que completasse seu ensino médio para poder ir embora. E, obviamente, se arrependeu amargamente. Caelum, como mais velho, poucos anos depois conseguiu sair daquela casa de horrores, deixando Auriga para trás. Nessa época, Cygnus morava algumas cidades de distância, e estava tentando retomar sua vida. Sem irmãos para criar ou outras responsabilidades em seu colo, poderia florescer socialmente, finalmente atender de verdade às festas e ter amigos que não eram os seus irmãos. Ele nunca se desculpou por não ter pensado em Auriga. Mandava mensagens semanalmente para ela, mas aos poucos, o que era semanal virou mensal, e não era o suficiente para afastá-la da depressão em que se afundava. A notícia de que ela havia se suicidado fez com que o rapaz nunca se recuperasse daquilo.
De certa maneira, a morte dela atingiu Cygnus como atingiria a um pai ou tutor. Tinha mais memórias de criá-la quase que intactas, por já ser mais velho quando ela nasceu. Era impossível que não se culpasse ou culpasse os pais, que pouco tinham a falar sobre. Desculparam-se muito, mas também não afastaram-se dos vícios ou mudaram muito nos anos que se sucederam. O mesmo não se pode dizer para o rapaz. A tristeza em seu olhar é verdadeira, carrega o luto e a amargura que os anos torturantes de sua vida geraram. Sua paixão pelos barcos fez com que se tornasse um piloto náutico, e mudou-se dali uma vez que teve certeza que Caelum estava bem. Não queria mais estar na França, e com uma oferta de emprego na Suíça, na região dos Alpes Suiços, ele apenas agarrou a oportunidade e mudou-se. Agora podia dirigir grandes barcos para pessoas ricas de verdade, e morar não mais em seu barco, mas em um apartamento perto do cais. E um menino que saíra de subempregos para conseguir conquistar segurança financeira (e até conforto financeiro) provavelmente deveria estar feliz, mas não estava.Nos últimos dez anos em que morou em Alpes, Cygnus é conhecido por ser o homem triste, com humor sarcástico ou irônico, que anda sempre com raiva, e ainda sim, consegue entregar surpreendentes gentilezas. A vida não poupou o rapaz, e ele decidiu descontar a raiva em si mesmo: hoje bebe (não muito), fuma absurdamente (qualquer coisa) e passa longas horas em seu barco ou em sua moto. Ah, isso quando não está se comportando como uma perfeita galinha (calma, com responsabilidade emocional, afinal, criou uma menina).
#( 🐝 ) ⸻ the crepehanger : ABOUT.#“AAAH todos seus chars são tristes???” SIM#espero ter ajudado#namastê
5 notes
·
View notes