#POV; 𝙸'𝚕𝚕 𝚠𝚊𝚒𝚝 𝚏𝚘𝚛 𝚢𝚘𝚞 𝚝𝚑𝚎𝚛𝚎 𝚕𝚒𝚔𝚎 𝚊 𝚜𝚝𝚘𝚗𝚎.
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fly-musings · 5 months ago
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𝙸𝚗 𝚢𝚘𝚞𝚛 𝚑𝚘𝚞𝚜𝚎 𝙸 𝚕𝚘𝚗𝚐 𝚝𝚘 𝚋𝚎, 𝚛𝚘𝚘𝚖 𝚋𝚢 𝚛𝚘𝚘𝚖, 𝚙𝚊𝚝𝚒𝚎𝚗𝚝𝚕𝚢.
𝙸'𝚕𝚕 𝚠𝚊𝚒𝚝 𝚏𝚘𝚛 𝚢𝚘𝚞 𝚝𝚑𝚎𝚛𝚎 𝚕𝚒𝚔𝚎 𝚊 𝚜𝚝𝚘𝚗𝚎.
𝙸'𝚕𝚕 𝚠𝚊𝚒𝚝 𝚏𝚘𝚛 𝚢𝚘𝚞 𝚝𝚑𝚎𝚛𝚎, 𝚊𝚕𝚘𝚗𝚎.
Point of View - Uma semana antes do baile.
Há uma semana estava dentro daquele chalé, sem qualquer perspectiva de saída. Seu trajeto era do quarto para o banheiro e, vez ou outra, pela área comum do chalé escuro e gélido de Thanato. Há uma semana Bhaskara havia desaparecido, sem deixar rastros de seu paradeiro. Sem registros de missão, sem avisar os amigos mais próximos. Absolutamente nada.
E, por mais que tenha lidado com aquele término à sua maneira, por mais que tenham reatado aquele relacionamento de longa data dias antes do desaparecimento, sentia que algo estava errado e não era o mero dissabor daquele retorno. Tinha acordado algumas noites com sonhos vividos onde caminhava por um labirinto escuro e ouvia os chamados da filha de Zeus, como grunhidos dolorosos. A mente do semideus formulou para si que ela estava perdida e em sofrimento, mesmo que Quíron negasse veementemente aquela informação.
"Ela está bem." Ele repetia enquanto mantinha-se imutável olhando para o horizonte. "Você precisa retornar às suas atividades, Flynn. Você precisa cuidar dos mais novos."
Mas nada alterava seus pensamentos.
Uma semana que tentava se comunicar com seus espíritos. Cada invocação que realizava dentro de seu quarto parecia mais estranha que a anterior. Todos se recusavam a falar, permaneciam imóveis, com a cabeça baixa, olhando para o próprio círculo de invocação. Do lado de fora, os irmãos de Flynn o ouviam romper em gritos e ofensas, completamente tomado pela fúria. Estava desesperado por auxílio, temendo pelo pior, e aqueles que o acompanharam por tanto tempo pareciam estar de costas para suas preocupações.
Iria recorrer a ultima ratio.
Sentado no chão, tocava as ranhuras do círculo de invocação que entalhou ainda muito novo. A fotografia de sua mãe, uma mulher de fios negros como a noite e olhos cor de mel, posta no centro do círculo e, em cima dela, um colar prateado com um pingente de cruz que lhe pertencia. Aquilo nunca havia funcionado e, na última tentativa, havia se comprometido gravemente ao invocar coisas demais para o interior do chalé. Estava dividido entre a esperança de se reconectar com a energia do espírito da mãe e a descrença de obter sucesso com o trabalho.
Passou cerca de cinquenta minutos repetindo as palavras gregas que abriam as passagens para a manifestação dos espíritos e nada parecia mudar. O chalé vinte e dois mantinha seu uivo sombrio, a escuridão peculiar o trazia para um abraço cruel. Nada.
Flynn, que já estava despencando dentro de suas paranoias, capturou o livro de necromancia que o acompanhava por tanto tempo e o jogou contra a parede do quarto, rugindo como uma fera através de sua frustração. Nunca era o suficiente, não sentia-se útil para proteger quem amava e agora era inútil até mesmo para ofertar ajuda.
Foi assim com Sylas, o semideus resgatado e filho adotivo, que se desfez cerca de um ano antes. Foi assim com Ethan, Gracie e Elizabeth, seus amigos que morreram durante a missão e o guiaram de volta para o acampamento. Foi assim com sua mãe, assassinada quando Flynn ainda era uma criança, a mãe que retornava para casa como um espírito apenas para verificar a presença do filho na cama. Todos os seus fantasmas permaneciam ao redor de sua mente, com seus olhares opacos e uma culpa silenciosa que o cobria ao anoitecer. Debruçado sobre o perímetro mágico, Flynn inundou o chão com suas lágrimas.
"Mãe, por favor!" Suplicou entre as lágrimas que caíam pelo rosto. "Ela é a única família que tenho. Não me deixe perdê-la!"
Seus olhos se fecharam, deixando que as memórias o acertassem em cheio ao cruzarem seu peito. Recordava-se das inúmeras vezes que acordava ao lado de Kara, que levava pequenos presentes para manter a nuvem temperamental longe de suas cabeças, conduzia-a para danças na chuva, a carregava para dentro do chalé da morte e a via preencher cada espaço com vida. Chorou tanto que sequer reparou que o sono enfim chegou e, com ele, mais sonhos inquietantes.
Mas algo pareceu errado.
Ao invés do labirinto escuro, o sonho estava ambientado em sua casa de infância em New Orleans. Ouvia o som do sino dos ventos balançando na varanda, uma casa sem muitos móveis e nenhuma pessoa. Flynn se sentou em uma cadeira no centro da sala e aguardou por algo, assistindo a porta em sua frente permanecer fechada. Mas, estranhamente,ouviu uma voz que há muito tempo não ouvia.
"Acorde, meu filho." A voz pacífica de sua mãe foi ouvida unilateralmente, como se ela estivesse ali, fora do sonho.
Seus olhos se abriram com dificuldade e buscaram a mulher no escuro daquele chalé.
O círculo mágico emanava uma fumaça acinzentada, um odor peculiar que só sentiu quando visitou o pai há anos atrás. Uma iluminação fantasmagórica mostrou o espectro de sua mãe ali, parada, o aguardando despertar. Subitamente o semideus sentou-se, cobrindo a boca enquanto analisava a imagem que tanto aguardava. Lilibeth estava com um longo vestido preto e um chale sobre seus ombros, cabelos trançados para trás, deixando mais visível a marca em seu pescoço. Quando adolescente, Fly cogitava que sua mãe tivesse sido enforcada, mas agora, com a maturidade que adquiriu com seus anos como tanatopraxista no mundo mortal, conseguiu compreender que a grande marca em seu pescoço se tratava do corte fatal que a levou para os braços de seu pai grego.
"Mãe! Mãe!" Rapidamente se esticou no chão para abraçar os pés da mulher, que se materializou naquele circulo. Delicadamente ela se curvou, trazendo o semideus para o alto através de um puxão pelos braços, recusando-se a aceitar um mero abraço nas pernas.
Ele se levantou com dificuldade e a agarrou nos braços novamente, notando a diferença gritante entre a altura que agora possuía. A mãe encaixou a cabeça em seu peito, como se pudesse ouvir o som de coração pulsando em alegria e angústia. Por sua vez, Flynn a apertava cada vez mais, desesperado pelo abraço que demorou anos para sentir.
"Mãe eu tentei, tentei muito. Mas ele nunca deixou!" Referia-se ao pai, figura a qual acreditava impossibilitar o contato. Uma criança finalmente acolhida. "Eu sinto sua falta, mãe. Eu sempre senti." Reforçava entre um soluço e outro, sentindo a mão do espírito acariciando suas costas cuidadosamente.
"Eu sei querido, eu sei... Sh... Sh..." Apaziguava a mulher, levando a mão da escápula até a costela de Flynn, chorando copiosamente "Você está enorme, cresceu tanto! Está um homem formado, um coração formado. Se acalme, meu bem."
"Mãe, eu estou desesperado. Me ajude por favor." A súplica se repetiu enquanto ele arfava, já sem fôlego com o próprio choro.
Após obter o êxito em acalmar sua criança, limpando suas lágrimas, o conduzindo para fora daquela angústia momentaneamente, a mulher deu alguns passos até a barreira mágica, sentindo o bloqueio que não permitia que ela viesse a transitar pelo quarto. O semideus levou a cadeira de apoio para dentro do círculo e fez com a mãe sentasse ali enquanto ele, tal como uma criança, sentou-se no chão, inclinando sua cabeça sobre o colo da mulher e recebendo novas carícias, ignorando o toco gélido.
"Você precisa entender que tudo possui um tempo e ainda não era o tempo certo para a minha visita." Ela dizia com os dedos passeando pelos fios escuros, um afago materno que não sentia há muitos anos. "Somos ligados pelo laço mais resistente do mundo. Eu ouvia a sua voz me chamando no meio da escuridão, sentia o calor das suas memórias quando pensava em nós dois. E você fez isso com muita frequência, não é?" Ele concordou com um aceno, soltando um riso contido. "Pois enquanto você estava pensando no que se perdeu, perdeu tudo o que tinha." Lapada seca
"Mas mãe, eu não..."
"Flynn, você ganhou uma família. Eu sei. Por muito tempo você me esqueceu, teve paz em seus dias. Acha que não conheci o Sylas?" Lentamente Flynn ergueu sua cabeça na direção do rosto da mãe, tornando a derrubar lágrimas como antes, agora sem ruído. "Você não teve culpa, meu bem. Estava planejado."
Sylas, o filho de Érebo que Flynn e Bhaskara possuíam a obrigação de resgatar, foi adotado pelo casal e se manteve com eles durante sete meses. A criança foi cuidada como um filho, residiam na casa de Flynn em Long Island e viviam, na medida do possível, em paz. Mesmo com os recados de Quíron requerendo o retorno do casal, eles resistiram ao máximo até o natal. Estavam radiantes, é claro, comemorando o primeiro natal em família. Sylas havia adquirido como hiperfoco a música Vienna de Billy Joel. Repetia a frase do refrão e perguntava sobre tudo a cidade e sobre o artista, pedindo que viajassem em família para lá assim que possível e Flynn, como um grande pai, repetia que só iriam se ele se comportasse. Naquele evento natalino, Bhaskara segurava Sylas pela mão e a multidão cantarolava músicas natalinas sem fim, Flynn havia se afastado para comprar chocolate quente em uma barraca e, assim que ouviu o ruído assustador do Minotauro, correu na direção de Sylas, mas era tarde demais. A criança teve a vida ceifada e restou a Flynn, seu pai adotivo, cuidar dos preparativos fúnebres. Após aquilo, Kara tornou-se um corpo que caminhava.
"Você já o conheceu?" Questionou um tanto esperançoso, mas a mãe negou.
"Não tenho acesso ao Campo dos Elíseos, meu bem. Mas já vi vislumbres de suas feições. Ele amou você tão intensamente quanto eu o amo e quanto Bhaskara o amou."
O amou. A informação lentamente no subconsciente do semideus. Seu cenho se franziu, o coração palpitou enquanto tentava se levantar. Ela não o amava mais? Ela não o desejava mais?
"E-ela foi embora com outra pessoa?" Sua voz falhou impactado com aquela possibilidade "Nós tínhamos acertado tudo, estávamos bem. Ela não pode ter me abandonado."
"Filho... Você logo entenderá. Eu estou aqui apenas para te ver por uma última vez, não posso me prolongar com os detalhes."
"Não, não, não. Mãe!" Tentou cessar a fala do espírito e sentiu a mão do fantasma sendo posta sobre seus lábios, cessando suas falas.
"Ouça-me bem. Você logo entenderá. Eu me orgulho de você, eu te amo imensamente, meu bem. Bhaskara e Sylas também amam você e você logo poderá descobrir isso, mas preciso que permita-se viver um pouco nestes dias, tudo bem? Eu cuidarei de Bhaskara agora, ela ficará bem!" Flynn balançava a cabeça tentando se desvencilhar da imposição de mão, obrigando que Lilibeth falasse cada vez mais rápido. "Pare já! Você está instável, não vou conseguir ficar aqui! Pare agora Flynn!" A imagem de Lilibeth se tornou cada vez mais nebulosa, sua voz distanciando-se. A mãe optou por seu último ato perante o filho, um afago no rosto que se desfazia pouco a pouco. "Eu te amo, meu bem. Nós te amamos."
Por mais que Flynn gritasse por sua permanência, o corpo se desfez em neblina, fazendo com que o filho da morte se visse segurando o ar frio e escuro de seu quarto. Com lágrimas nos olhos, a sensibilidade em seu espírito o fez concluir que somente uma grande ocasião iria permitir aquela visita. Uma ocasião que mudaria sua vida por completo.
@silencehq Usei o fc antigo pq ficou muito perfeito com a Carla Gugino, vamos ignorar e fingir que é o fc atual do fantasminha, apenas pela proposta dramática.
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