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#zuenir ventura
amor-barato · 14 days
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Logo que chegou, Lacerda decidiu que faria alguma coisa contra aquela prisão. Carregando a culpa de ter sido um dos motores do golpe que acabou dando nesse golpe dentro do golpe, Lacerda se sentia na obrigação, mais do que qualquer um outro, de protestar. Descobrir a maneira não exigia muita imaginação, só coragem: greve de fome.
Durante os sete dias em que esteve preso, Lacerda não comeu, inaugurando no ano uma forma de protesto que iria ser comum nos tempos seguintes. Quando começou a sua, tudo indicava que seria uma inutilidade. O seu irmão Maurício o desestimulou com o convincente argumento de que os jornais não estavam noticiando a greve, o sol estava maravilhoso e as praias cheias de pessoas despreocupadas. Terminava com uma comparação que se tornaria famosa:
— Você vai morrer estupidamente. Você quer fazer Shakespeare na terra de Dercy Gonçalves.
Zuenir Ventura, in: 1968, O Ano que não terminou
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schoje · 2 months
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O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro deu início hoje (18) à série Depoimentos Cariocas. Mensalmente, uma entrevista com uma figura importante do jornalismo, urbanismo, cinema, da cultura, educação, música ou literatura será publicada na página do órgão no YouTube. De acordo com a presidente do Arquivo Geral da Cidade, Rosa Maria Araujo, a série quer destacar pessoas notáveis que moram no Rio e que produziram conteúdo sobre a cidade - sem necessariamente terem nascido na capital fluminense. “Escreveram livros, peças de teatro, músicas, filmes sobre a cidade.” No programa de estreia, a série traz o depoimento do jornalista, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Zuenir Ventura. “Ele completa 90 anos de uma forma muito ativa, com compromisso político, com uma visão do Brasil, com engajamento sobre todas as questões contemporâneas do mundo, como meio ambiente, Amazônia, denunciando o que está de ruim no Brasil e pregando a união das correntes progressistas no país”, afirmou Rosa Maria. Zuenir Ventura fará 90 anos no próximo dia 1º de junho e, segundo Rosa Maria, era desejo do prefeito Eduardo Paes homenageá-lo. O jornalista tem livros que a presidente do Arquivo Geral qualificou como “memoráveis”. Ela citou como exemplo Cidade Partida, obra na qual ele mostra como o Rio glamouroso abriga também uma cidade de desvalidos; e 1968, o Ano Que Não Terminou, em que conta o período da ditadura militar, no qual foi preso. Seu livro Minhas histórias dos outros, publicado em 2005 e agora relançado em uma versão revisada e ampliada, serviu de guia para participação do jornalista na série Depoimentos Cariocas. O depoimento foi dado ao coordenador de promoção cultural do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Malta. Zuenir Ventura nasceu em Além Paraíba (MG) e foi criado entre Ponte Nova (MG) e Nova Friburgo (RJ), tornando-se um dos grandes especialistas na história do Rio de Janeiro, onde reside. De família pobre, Ventura conta que ajudava o pai, pintor de paredes, quando chegou na capital fluminense. Já universitário, ele foi trabalhar no arquivo de um jornal, para fazer recortes de matérias. Em 1960, quando um desastre de automóvel matou o escritor francês existencialista Albert Camus, Prêmio Nobel de Literatura em 1957, o chefe da redação precisou de alguém que conhecesse a história e a literatura de Camus para fazer o obituário. A tarefa acabou sendo dada a Ventura que tinha Camus como seu autor preferido. Depois desse episódio, Zuenir Ventura acabou contratado para trabalhar no jornal como repórter. Outros depoimentos Para este ano, o projeto exibirá depoimentos de oito personalidades, gravados em vídeo e a distância. A partir de 2022, a expectativa é que as entrevistas possam ser feitas ao vivo, no auditório do Arquivo Geral, e transmitidas mensalmente, totalizando12 depoimentos. Para as próximas edições do Depoimentos Cariocas já estão confirmadas as participações do antropólogo Roberto DaMatta, 84 anos, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio); da professora Terezinha Saraiva, 95 anos; do jornalista e escritor Ruy Castro; do sambista Nei Lopes, 79 anos; do jornalista, pesquisador e crítico musical João Máximo, 85 anos. Entre as entrevistas que Rosa Maria pretende conseguir, ainda este ano, está a da atriz Fernanda Montenegro, 91 anos.
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brasilsa · 1 year
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zanela · 2 years
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O RASTRO EMPOEIRADO DO ESQUECIMENTO Tudo neste mundão veio do pó e ao pó voltará. Não tem lesco-lesco. Não adianta vir com essa lengalenga de “mamãe, a barriga me dói”. Ao fim e ao cabo, é isso que somos diante dos olhares oblíquos deste mundo. Tendo essa árida obviedade em vista, lembro-me de uma entrevista que foi concedida pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, para a revista Veja em novembro de 1980. Uma longa entrevista. Uma bela entrevista. Das inúmeras coisas que foram ditas pelo poeta, há algo que, como direi, é uma baita de uma pedra no meio do nosso torto caminho. Zuenir Ventura, em nome da revista Veja, perguntou: “A posteridade o preocupa?” Drummond, de forma direta, disse que não dava a mínima para essa tal de posteridade, pois, com o tempo, todos nós seremos esquecidos. Todos. Hoje podemos desfrutar de alguma evidência junto aos olhos midiáticos, ou à sombra dos senhores deste mundo, mas, com o tempo, todos seremos somente sombras do passado. O poeta de Itabira lembrou o caso do escritor Humberto de Campos – que eu amo - que, em vida, contava com boleiras de leitores. Tamanho era o apreço por ele que, quando adoeceu, praticamente todo o Brasil acompanhou o seu calvário até a sua morte. Os anos se passaram e, atualmente, não há um único editor que lembre-se de republicá-lo. Como diria Nelson Rodrigues, hoje, o falecido começa a ser esquecido no próprio velório. Aí, ele concluiu, com modéstia, que o seu destino não seria diferente, tendo em vista que o julgamento proferido pelos nossos contemporâneos é muito, muito falível. E falível é porque somos apenas pó diante da vastidão do mundo, porém, para além da amnésia que impera debaixo do sol, há o olhar de Deus, que nos acompanha atentamente desde a eternidade e, em Seu coração, jamais seremos esquecidos e, por isso, podemos dizer, com alegria, que do pó viemos e do pó seremos resgatados pelo amor Daquele que nos ensinou a amar. https://www.instagram.com/p/CpA4wXhpTDB/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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whileiamdying · 2 years
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Nélida Piñon, Provocative Brazilian Novelist, Is Dead at 85
Widely regarded as one of her country’s greatest contemporary writers, she was also the first woman elected president of the Brazilian Academy of Letters.
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The Brazilian author Nélida Piñon in Madrid in 2019. Although the global reach of her work never matched that of her better-known Latin American contemporaries, her writing found an enthusiastic public outside of Brazil and was translated into some 30 languages.Credit...Zipi/EPA, via Shutterstock
By Ana Ionova Dec. 27, 2022
Nélida Piñon, a trailblazing Brazilian author whose provocative writing won some of the world’s most prestigious prizes, and who made history when she became the first woman to preside over the country’s literary academy, died on Dec. 17 in Lisbon. She was 85.
Her secretary and longtime friend Karla Vasconcelos da Silva said the cause was complications of emergency surgery that she had undergone after battling stomach cancer.
Ms. Piñon is widely regarded as one of Brazil’s greatest contemporary writers, admired for her masterly use of Portuguese and her playful approach to literary form.
“Literature opened the doors of paradise and, at the same time, of hell to me,” Ms. Piñon told a
Her whimsical use of religious symbolism and her exploration of sexuality and eroticism were considered daring in deeply Catholic Brazil, which was ruled by a repressive military dictatorship until 1985. And her experimentation with the baroque and the surreal set her apart from most other Brazilian writers of her time.
Ms. Piñon wrote more than two dozen books, including the novels “The House of Passion” (1972) and her best-known work, “The Republic of Dreams” (1984), which was inspired by her family’s migration to Brazil from Galicia, an autonomous region of Spain. She also wrote short stories, memoirs, essays and speeches.
From 1996 to 1997, Ms. Piñon was the president of the Brazilian Academy of Letters, a cultural institution that acts as the country’s main authority on the Portuguese language. She was the first woman to hold that position.
“She was a pioneer in so many ways,” said Isabel Vincent, an author and investigative journalist whose friendship with Ms. Piñon spanned four decades. “And she was aware of the sort of trailblazing things that she was doing.”
Portuguese radio station in 2021, referring to the highs and lows of the writing process. “I always lived with intensity. I didn’t shy away from deeply loving the Portuguese language, which is my life’s great purpose.”
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Mr. Piñon with the filmmaker Carlos Diegues, center, and the journalist Zuenir Ventura in 2022 at a Brazilian Academy of Letters event. Ms. Piñon was president of the academy from 1996 to 1997.Credit...Mauro Pimentel/Agence France-Presse — Getty Images
Ms. Piñon’s work has won awards at home and abroad, including the prestigious Prince of Asturias Prize for Literature, considered Spain’s equivalent of the Nobel Prize. She is also a two-time winner of Brazil’s top literary award, the Jabuti Prize.
Her writing was first brought to English-speaking readers in the 1970s by Gregory Rabassa, a distinguished translator of Spanish and Portuguese literature who also worked with the likes of Gabriel García Márquez.
Although the global reach of Ms. Piñon’s work never equaled that of better-known Latin American contemporaries like García Márquez, Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa or Isabel Allende‌‌, her writing found an enthusiastic public outside Brazil and was translated into some 30 languages.
“A stupendous work, literature of a high order,” Publishers Weekly wrote about “The Republic of Dreams” in 1991. “The Amazonian plenitude of Piñon’s imagination puts her in the category of genius.”
Nélida Cuiñas Piñon was born on May 3, 1937, in the Vila Isabel neighborhood of Rio de Janeiro. Her father, Lino Piñón Muíños, a merchant, was a Galician immigrant; her mother, Olivia Carmen Cuíñas Piñón, a homemaker, was born in Brazil to Galician parents.
As a child, Ms. Piñon was a voracious reader, enchanted by the fantasy world of storytelling. She began to write early on, selling her handwritten stories to her father and other family members for a few dollars apiece.
“I wanted to be a writer,” she told the Brazilian newspaper Estadão in 2021. “I don’t know how or why, I just knew I loved the stories. Above all, the impossible narratives and, who knows, even the illogical ones. Because the absence of logic gave the story more power.”
When Ms. Piñon was 10, her family moved to the rural village in Galicia where her father had grown up. Living there for two years, she deepened her ties to her family heritage, which she would later make reference to in her work, frequently writing about the ideas of belonging and ancestry.
After the family returned to Brazil, Ms. Piñon went on to study at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro, where she earned a degree in journalism. She began her career writing for newspapers and magazines.
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“The Republic of Dreams,” published in 1984, was Ms. Piñon’s best-known novel.Credit...University of Texas Press
In 1961 she published her first book, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo,” a novel mimicking an extended dialogue between an archangel and a woman who wants to live outside the Christian faith. But it wasn’t until “The Republic of Dreams” more than two decades later that Ms. Piñon’s status in the Brazilian literary world was cemented.
Described by friends as dynamic and restless, Ms. Piñon traveled widely and spent time living in Europe and the United States, although Rio de Janeiro remained her base. She taught at the University of Miami from 1990 to 2003, and she was a visiting lecturer at Harvard, Columbia and Georgetown.
In recent years she spent stretches of time in Portugal, researching the last novel she published in her lifetime, “One Day I’ll Arrive in Sagres” (2020), which she wrote by hand because her eyesight was rapidly fading.
Ms. Piñon leaned on meticulous research as she crafted her novels. When writing “Voices of the Desert,” an erotic retelling of “One Thousand and One Nights,” she read the Quran twice, according to Ms. Vincent.
Her tastes in art were varied. A lover of westerns, she loved rewatching movies like “A Fistful of Dollars” and “The Good, the Bad and the Ugly.” When she wrote, it was often while listening to opera by Wagner.
Ms. Piñon struck up conversations with nearly everyone she met, forever in search of a deeper understanding of human nature, Ms. Vincent said in a phone interview.
“She was curious about people; everyone fascinated her,” she said. “That was sort of her mission, trying to understand how people thought, trying to understand the human psyche.”
Ms. Piñon leaves no immediate survivors. She never married or had children, choosing to focus on her writing, Ms. da Silva said. A popular figure in elite literary circles both at home and abroad, she counted Clarice Lispecter, Jorge Amado, Toni Morrison and Susan Sontag among her close friends over the years.
“She used to say, ‘Literature owes me nothing. I owe everything to literature,’” Ms. da Silva said.
Toward the end of her life, Ms. Piñon began to dictate her work into a recorder. Ms. da Silva transcribed her words and printed them in an oversize font, so Ms. Piñon could revise her prose.
Ms. Piñon wrote one final book before her death, which is expected to be published in the spring of 2023.
“She was saying goodbye with this book,” Ms. da Silva said. “It was her farewell to the world.”
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otraficantedesonhos · 4 years
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Esta concepção faz com que  no Acre o conceito de reforma agrária seja outro. Na verdade, explica o professor, nós não precisamos de uma reforma agrária, pelo menos no que diz respeito à propriedade da terra. Na Amazónia não é a terra que precisa ser dividida; a floresta é que não pode ser privatizada.
Chico Mendes, Zuenir Ventura p. 192
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“Manifestação popular em defesa da arte", ocorrida no dia 16/07/1978 no Museu de Arte Moderna. Fotógrafo: Celso Guimaraes. Acervo Instituto Rubens Gerchman. 
Após o incêndio no MAM-Rio em 1978, que queimou a maior parte de seu arquivo, Rubens Gerchman, juntos com Mário Pedrosa, Lygia Pape, Zuenir Ventura, Ziraldo, Bibi Ferreira, Roberto Pontual, Ferreira Gullar, Antonio Callado e outras personalidades cariocas, criaram o movimento “S.O.S. MAM”. O resultado foi uma manifestação popular em que se reuniram mais de três mil pessoas, desafiando as ameaças dos órgãos de repressão da ditadura. Foram lidos dois manifestos, um por Ziraldo e o outro pela atriz Bibi Ferreira. 
O movimento teve a participação das “baianas” das escolas de samba Beija-Flor e Portela, e dos alunos da Academia Capoeira Angola de Mestre Morais, centenas de pessoas que carregavam faixas, atravessaram a passarela do Parque do Aterro do Flamengo e concentraram-se na marquise do MAM Rio ao som de surdos e atabaques. Em seguidas as alunas e alunos da EAV Parque Lage, surgiam de vários pontos daquele espaço incinerado, com uma ação coletiva dirigido por Aurélio Michiles, chamado TEATRO UR-GENTE. As alunas e alunos chegaram cantando e carregando uma faixa com a palavra: "TRABALHOVIDA". Em seguida fez-se a dramatização da obra de Joaquín Torres García – O PEIXE (uma das obras perdidas no incêndio), onde lia-se: "ARTINDOAMERICA". 
Fonte: http://ceuvagemichiles.blogspot.com/2008/01/sos-mam-rubens-gerchman.html
Clipping - No MAM, em exposição amanhã grande ação popular pela reconstrução,  15/07/1978. Acervo Memória Lage.
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ifnow · 4 years
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Conaler 2020 - Livro e leitura em tempos de pandemia
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Terceira edição do evento, iniciado em 2016, traz grandes nomes da literatura no Brasil e Exterior.  Monja Coen, o historiador francês Roger Chartier e a moçambicana Tânia Tomé são destaques da programação
Já são mais de 4.500 inscritos para o Conaler 2020, o Congresso Nacional de Leitura online, que faz sua terceira edição, e reúne em sua programação lives com grandes nomes nacionais e estrangeiros com transmissão gratuita pela internet. As lives com apresentadores e convidados serão transmitidas ao vivo, de 03 a 09 de agosto, sempre às 19h. A abertura ficará por conta do historiador francês Roger Chartier, um dos mais maiores especialistas em leitura do mundo. Outro destaque internacional é a poetisa moçambicana Tânia Tomé.
Eles estarão na tela do computador, tablet ou celular, conversando sobre o papel dos livros e das leituras, especialmente nos dias atuais, em tempos de pandemia e isolamento social.  Como, afinal, os livros que escolhemos para ler podem nos ajudar? É um dos temas a serem debatidos, bem como as novas rodas de conversa, os novos formatos dos clubes de leitura e a preparação para aquilo que está sendo chamado de o ‘novo normal’ não só nessa área, como na vida.
As edições anteriores do Conaler, que já eram realizadas no modo online muito antes da pandemia do novo Coronavírus (a primeira delas foi em 2016), alcançaram enorme repercussão e tornaram acessível a muita gente a discussão de grandes temas e grandes nomes da área dos livros do Brasil e do mundo. Em 2020, diante da necessidade de isolamento social, com todo mundo em casa, esta é uma edição oportuna e imprescindível. Vale lembrar que o evento é 100% online e 100% gratuito.
Entre os palestrantes deste ano figuram nomes como Monja Coen, Pedro Bandeira, Cristóvão Tezza, Viviane Mosé, Zuenir Ventura, Ignácio de Loyola Brandão, Mary Del Priore, Florestan Fernandes Jr, Daniel Munduruku, Marina Colasanti, César Nunes, a ex-ministra Ana de Hollanda, os atores Paulo Betti e Sérgio Mamberti, entre outros, além da participação de Fernanda Takai. A iniciativa é da Fundação Observatório do Livro e da Leitura, com curadoria de Galeno Amorim, ex-presidente da Biblioteca Nacional, e conta com o apoio da ABM – Associação Brasileira de Municípios, Câmara Brasileira do Livro, Associação Nacional de Livrarias, Recode e Rede Nacional de Bibliotecas.
As vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas no site https://observatoriodolivro.org.br/conaler.
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ninaemsaopaulo · 5 years
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“Esta é uma das poucas canções em que o título se refere a uma pessoa real. Trata-se da estilista Zuzu Angel, cujo filho Stuart, militante do MR8, fora morto em 1971 por órgãos de segurança da Aeronáutica, com requintes de crueldade. Ataram-lhe a boca ao escapamento de um veículo posto depois em movimento. Seu corpo nunca foi encontrado, e a mãe dedicou o resto da vida à busca dos restos mortais do filho e a denunciar as torturas. Valendo-se do fato de que o pai de Stuart era americano, conseguiu contatos com diversos senadores dos Estados unidos e chegou a entregar, pessoalmente, um relatório ao chefe do Departamento de Estado, Henry Kissinger, quando de sua visita ao Brasil.
A estilista passava regularmente na casa de Chico para mantê-lo informado sobre sua luta, mostrando-lhe relatórios e notícias. Numa dessas vezes, deixou para o compositor um bilhete onde denunciava as torturas que seu filho fora submetido. Muitos anos depois, o escritor Zuenir Ventura revelaria que ele, Chico e Paulo Pontes produziram cópias do bilhete, que enviaram anonimamente para a imprensa e parlamentares.
Na manhã de 14 de abril de 1976, ela cumpriu a rotina e deixou para o compositor, além de documentos, três camisetas com anjinhos desenhados, uma para cada filha. No mesmo dia, morreu num atentado que a ditadura tentou fazer passar como acidente de carro.”
- HOMEM, Wagner. Histórias de Canções - Chico Buarque.
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joasinacio · 5 years
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Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é querer que o outro não tenha
Zuenir Ventura, nascido em 01 de junho de 1931
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love-for-maria · 6 years
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Gosto de quem gostar de gostar
Eu e você numa narrativa de frases curtas
Você me diz que o seu lugar no mundo é o Maracanã, e eu penso em me mudar pra lá. “Sou torcedor”, você me avisa, resignado e orgulhoso, como quem exibe o próprio manual de instruções. Fico em silêncio, aperto os lábios, tiro e coloco a jaqueta jeans, tento te ler. “Você gosta de futebol?”, você pergunta, e sinto que a resposta certa seria “sim”, mas como tô num relacionamento sério com esse lance de falar a verdade, digo “não exatamente”, mas “gosto de quem gosta”. “Hã?”, você fala, e eu percebo que “hã” é a interjeição mais linda do mundo (e como assim eu nunca tinha dado valor?). “De futebol”, eu sigo. “Como assim?”, você pergunta, não porque não entendeu, mas porque quer ver até onde eu vou com aquela narrativa de frases curtas.
“Gosto de quem gosta de futebol”, repito, simples, sentindo que embora você esperasse uma resposta mais longa, minha sinceridade também te surpreende. Aliás, repito, “gosto de quem gosta de gostar”, que nem o Gregório escreveu uma vez. “Gostar”, de uma maneira geral, insisto. Como princípio, mesmo. Como se fosse um Deus. Gostar. O Deus Gostar, com maiúscula. Independentemente do quê. “E o seu o quê, o que é?”, você compra a brincadeira, meio Arnaldo Antunes, Adriana Falcão ou livro de alfabetização. Ah, eu gosto de cinema, de série, de jornal, de Instagram, de Twitter, do Caco Barcellos, da empada do Jobi, do Zuenir Ventura, do João Gilberto, de abajur, do Selton Mello, de ser atriz, de usar isso pra mudar o cabelo, de chocolate, da Clarice Lispector, de estrada, de pastel de estrada, de Paraty, de ansiolítico, de penicilina, da Fernandona, da Anitta, do “Trem das cores”, de sapato, do Tom Zé, de aspas, de desobedecer, de mudar de ideia, de você.
“De mim?”, você pergunta, bem convencido, “mas você não me conhece...”. “Verdade”, respondo, e aqui tem aspas porque era uma fala de um diálogo que eu tava vivendo e pensando em escrever ao mesmo tempo. Verdade, digo, e agora digo só pra mim, e aqui não tem aspas,porque era — porque é — um pensamento íntimo. Mas será que a gente conhece mesmo conhecendo? Será que a gente não inventa sempre? E tudo isso eu falei sem som, narradora e personagem da minha própria vida.
“Mas eu te conheço, sim”, respondi, querendo ganhar no jogo das respostas rápidas e pseudointeligentinhas que muitas vezes não querem dizer absolutamente nada mas que são quase tudo nessa vida. “Eu te conheço porque já vi que você fica triste quando o seu time perde, e fica feliz quando o seu time ganha”. “E isso é suficiente?”, você me pergunta, a gente andando na Paulista às três horas da manhã.
“Acho que é”, e fico quieta por dez segundos. Penso no meu pai. Te digo que penso no meu pai. “E o que tem o seu pai a ver com tudo isso?”, você fala, com delicadeza. “Bom, primeiro, que eu gostava dele; segundo, que ele gostava de mim; terceiro que ele dizia que só quem ama o futebol sabe amar de verdade”. Sorrio. “Aliás, sabe qual foi a última coisa que ele disse antes de morrer?” Faço uma pausa. “Eu te amo”. Tempo. “Sabe pra quem?”. “Pra você, aposto”, você falou. Não, e dou uma risada. Pro Jorge Spitz. Que era médico dele, e que prometeu que não ia deixar ele sofrer muito.
Ah, fevereiro... Que o Deus Gostar nos permita continuar te afagando, e que a gente ponha no colo os pais e as mães dos meninos do Flamengo e do morro do Fallet.
https://oglobo.globo.com/cultura/gosto-de-quem-gosta-de-gostar-23464552
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salvomelhorjuizo · 6 years
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SMJ #78 – AI - 5
No dia 13 de dezembro de 1968, exatamente 50 anos atrás, foi baixado e publicado o Ato Institucional número cinco. Trata-se de um dos mais importantes documentos da história brasileira e o documento-chave para se entender a repressão no período do Regime Militar.
O AI-5 ampliou profundamente as competências e poderes do Executivo, facultando a ele a possibilidade de decretar o recesso do Legislativo em todas as esferas federativas. Além disso, o documento autoritário permitia que o Presidente da República cassasse os direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos, sem qualquer necessidade de justificativa. Não sendo o suficiente, o Ato ainda suspendeu o Habeas Corpus e as garantias aos juízes e funcionários públicos do Estado brasileiro.
Para entender as minúcias do AI-5 e o funcionamento da repressão política no Brasil, o Salvo Melhor Juízo trouxe para sua bancada duas especialistas no tema: Heloísa Câmara* e Vera Karam de Chueiri**.
Ouça já!
========= Indicado no programa: Livros: Coleção sobre a ditadura do Elio Gaspari Ditadura e Democracia no Brasil – Daniel Aarão Reis História do Regime Militar brasileiro – Marcos Napolitano 1968 o ano que não terminou – Zuenir Ventura 1964, a conquista do Estado – René Dreifuss Filmes e documentários: O ano que meus pais saíram de férias (2006) Verdade 12528 (2013) O dia que durou 21 anos (2012) Sites: Atlas histórico da FGV: atlas.fgv.br/ Site da Folha sobre o AI-5: bit.ly/2C4ntdR ========= Comentários, sugestões, críticas: [email protected] Twitter: @SMJPodcast Facebook: www.facebook.com/salvomelhorjuizo/ Instagram: @salvomelhorjuizo Assine o Feed: feeds.feedburner.com/salvomelhorjuizo Compartilhe, divulgue, ajude-nos nesse projeto! Agora o SMJ faz parte da rede de podcasts AntiCast! Acesse: www.anticast.com.br Acesse o PADRIM do SMJ e contribua: www.padrim.com.br/salvomelhorjuizo ========
*Heloísa Câmara é professora de direito constitucional e direitos humanos da UFPR e do UNICURITIBA. Mestra e doutora em Direito, pesquisa especialmente a atuação do Supremo Tribunal Federal durante o Regime Militar brasileiro. **Vera Karam de Chueiri é professora e diretora da Faculdade de Direito da UFPR. Mestra em Direito pela UFSC e doutora em Filosofia pela New School for Social Research de Nova Iorque. Atuou como amicus curiae no STF no caso da revisão da Lei de Anistia.
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owlofbooksblog · 2 years
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Tudo é Rio | Carla Madeira
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-> Nacional
🧠 Novela, Ficção - Classificação etária: +18
📖 Início: 9/Jul Termino: 6/Set
⚫️ Editora: Record
💛💛💛💛+❤
Esse livro merece uma novela das 11 de tão bom ler
Quando iniciei a leitura, eu já sabia que seria polêmico por causa de alguns assuntos sobre ab*s0 físico seguido de violência e incesto, tive que classificar como +18 anos, o que acho estranho é o “cancelamento” do livro (falo que é cancelamento, mas não é, pois teve bastante comentário negativo, sim, eu respeito muito a opinião das pessoas), sendo alguns livros clássicos tem esses assuntos delicados que pega o leitor de surpresa, no meu ver, o livro foi bom, tive que demorar ao terminar de ler por causa do meu estudo de personagem que fiz igual o livro Sagrada Família, de Zuenir Ventura, que tem o mesmo assunto.
Gente, quando você ou alguém próximo sofrer de agressão e/ou violência, denuncie
Avisando que gosto muito de analisar a leitura e os assuntos comentando sobre.
Gatilho: Abuso e Violência (Nesse caso, eu não saberia como descrever que tive que voltar na leitura para entender o que foi aquilo)
A partir daqui tem spoiler, se quiser ver, prossiga por sua conta e risco
Hoje em dia, temos vários assuntos que merecem serem debatidos no universo literário, não apenas de literatura clássica e atual, mas sim em geral.
O que me deixou mais chocada na leitura foi a backstories dos personagens, o “plot” do ocorrido do ciúme doentio de Venâncio com o próprio filho com a Dalva, mas pelo que interpretei, foi o medo dele ser como o pai que era abusivo com ele e com a mãe (?) que ele já tinha se tornado;
A briga nada a ver de Lucy contra a Dalva que estava bastante triste, traumatizada, mas de cabeça erguida.
A backstory de Lucy com o próprio tio, Brando, que acho que deviam ter aprofundado sobre o que aconteceu naquele meio-tempo quando a Lucy “fugiu” e quando engravidou de Venâncio;
(Esse assunto merece ser bastante debatido, pois esse tipo de coisa acontece há anos...)
Sobre o final, o final foi até bom, mas deveria mostrar a infância do João e do Vincent junto de seus pais e deveria ter algo mais, como reencontros, por exemplo.
Aprendi no livro que tudo é no tempo de Deus, fala e escrita da carta de Aurora, mãe de Dalva
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profleonardobastos · 2 years
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Hoje, segunda-feira, dia 29 de agosto, logo mais, a partir das 19h, pelo Instagram @profleonardobastos, faremos mais um bate-papo imperdível no "SEGUNDAS COM LEO BASTOS". A conversa será com o intérprete, DJ, compositor e empresário, DJ MARLBORO. Famoso nacionalmente, além de uma consolidada carreira internacional, classificado pela revista Rolling Stone como um dos cem maiores artistas da música brasileira, é o criador do estilo musical conhecido como "funk carioca". Apresenta o programa "Big Mix", líder de audiência no Brasil na "Rádio FM O Dia". Escreve, também, uma coluna no jornal "O Dia", e é editor de uma revista. Além disso, lança CDs de grandes nomes do funk por sua própria gravadora, com mais de 70 títulos já lançados. Promove eventos beneficentes com arrecadação voltada para instituições e pessoas carentes. Malboro já participou de filmes, videoclipes e minisséries. Sua trajetória está registrada nos livros de Zuenir Ventura, Hermano Vianna e Micael Herschmann. Além disso, ele também já lançou dois de sua própria autoria. Com esta vasta experiência, ele nos contará mais sobre sua trajetória pessoal, profissional e artística. Falaremos, também, sobre inúmeros aspectos relacionados aos movimentos do funk, do soul, do charme, do rap, do hip hop, do electro e outros; sobre suas importâncias no contexto da cultura nacional; sobre o papel que Marlboro cumpriu e cumpre na promoção, difusão e consolidação desses movimentos culturais; sobre o documentário "Funk.doc: popular e proibido" que está lançando amanhã na HBO e na HBOmax; sobre projetos futuros, entre muitos outros assuntos. Será um papo interessantissimo! Não perca esta conversa mais que especial! Para acompanhar o programa, acesse: https://www.instagram.com/profleonardobastos/ Contamos com a sua audiência! Esperamos você lá! Até logo! #SegundascomLeoBastos
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otraficantedesonhos · 4 years
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Para o seringueiro não é importante ter a propriedade da terra, mas sim ter acesso aos recursos da floresta, que é onde ele mora e de onde tira o seu sustento.
Chico Mendes, Zuenir Ventura p.191
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blogdojuanesteves · 6 years
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PARIS 1968 RIO > PEDRO DE MORAES>BRUNO BARBEY
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No final da primavera, enquanto usavam sobretudos de gabardine ou de lã em manifestações nas ruas do Quartier Latin em Paris, no Rio de Janeiro estávamos em meados do outono. As mini-saias ainda eram usadas pelas cariocas durante as passeatas na Cinelândia e os homens em manga de camisa, quando muito uma jaqueta para aqueles mais friorentos.  Todos caminhavam ou corriam com palavras de ordem durante o icônico mês de maio de 1968.
Jovens e trabalhadores iam às ruas lutar pela liberdade e por seus direitos. No poder, o tradicionalista político francês Charles de Gaulle (1890-1970) ex-general e herói da Segunda Guerra, na presidência desde 1959 e o general gaúcho Arthur da Costa e Silva (1889-1969), que ocupava o cargo de 27º Presidente da República há pouco mais de um ano,  em plena ditatura militar brasileira iniciada em 1964.
No hemisfério norte, o estudante de Sociologia da Universidade de Nanterre, Daniel Cohn-Bendit, conhecido como Le Rouge, ocupava a tribuna na Sorbonne. No do sul,  o alagoano Vladimir Palmeira, estudante da antiga Faculdade Nacional de Direito, atual UFRJ, presidente da então União Metropolitana dos Estudantes (UME) no Rio de Janeiro, um dos líderes das grandes manifestações estudantis, dava entrevista para imprensa em seu apartartamento já como clandestino. Detalhes de movimentos sociais simultâneos que pareciam sacudir o velho e o novo mundo de maneira indelével, registrados em notáveis imagens fotográficas.
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Em meio a essa convulsão global, dois jovens fotógrafos, o franco-suíço Bruno Barbey, de 27 anos, da prestigiosa cooperativa Magnum Photos e o carioca Pedro Moraes, de 26, fotógrafo de cinema que trabalhava para organizações políticas de  esquerda,  produziram as imagens históricas que fazem parte do livro Paris 1968 Rio (Bazar do Tempo, 2018) organizado pela carioca Ana Cecilia Impellizieri Martins, editora e diretora editorial da Bazar do Tempo e por Cristianne Rodrigues, paulistana radicada em Paris, curadora da Maison Européenne de la Photographie, com texto do escritor e jornalista carioca Paulo Antonio Paranaguá, que também vive na França.
"De um lado estava uma velha república, com uma democracia solidamente conquistada ao longo dos séculos e que via a insurgência da juventude como resposta a uma tradição conservadora" escreve Ana Cecilia Impellizieri, que inclusive já editou o excelente livro Evandro Teixeira- Retratos do Tempo, 50 anos de Jornalismo (Bazar do Tempo, 2015) do fotojornalista baiano que também registrou as passeatas cariocas no mesmo período [ veja review aqui em http://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/135854229486/retratos-do-tempo-50-anos-de-fotojornalismo ].
"De outro lado, um país em plena ditadura militar, instalada quatro anos antes numa frágil nação republicana do então chamado Terceiro Mundo, onde estudantes travavam uma guerra contra o regime, suas políticas antidemocráticas e violentas, às vésperas do período mais dramático da repressão." Portanto, dois fotógrafos em contextos bem diferentes diz ela.
Ainda podemos vislumbrar no livro muitas semelhanças no trabalho dos dois, não fosse a diferença das roupas marcadas pelas condições climáticas distintas ou pelos diferentes automóveis. O entorno da Cinelândia, composto por uma arquitetura de estilo Neo Clássico, Art Déco e Art Nouveau, poderia passar desapercebido ao leitor menos atento como europeu, bem como a individualidade que se perde na multidão em fotografias do gênero.
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Escreve Paranaguá que "Ninguém sabe direito quando começou 1968, o ano que não terminou [aqui uma referência ao livro do brilhante jornalista mineiro Zuenir Ventura, 1968: O ano que não terminou ( Ed.Nova Fronteira, 1988) cuja "história começa com o réveillon e termina com algo parecido com uma ressaca. Ressaca de uma geração e de uma época."]  Há quem diga que foi no mês de fevereiro, em Berlim, quando a Organização dos estudantes socialistas, a SDS, convocou uma passeata internacional contra a guerra do Vietnã.” O escritor prossegue elencando uma série de possíveis inícios,  escrevendo que "o ano foi cheio de espantos e curto-circuitos". De fato, o mundo estava fervendo, é a palavra. E política se misturava com o modo de vida influenciado pelos hippies, protestos e pancadaria andavam juntos onde pós graduados davam as mãos aos operários. Era um mundo que ainda acreditava existir esquerda, centro e direita.
A Paris e o Rio de Janeiro do final dos anos 1960 estão conectados para sempre, além dos motivos da luta, à uma sugestão explícita política e dialógica entre Barbey e Moraes. Para os editores, "As imagens, colocadas lado a lado 50 anos depois, destacam o protagonismo da juventude aproximando dois países diferentes em uma só argumentação." Sem dúvida as barricadas, o gás lacrimogênio, as correrias encontram-se na similitude de um mundo começando a ficar pequeno diante das objetivas dos grandes fotojornalistas, os que  acompanharam a ação como idealistas e os que se viram diante dela com isenção. Violência, sangramentos, braços dados, megafones nas bocas, bandeiras tremulando, o amor livre e o fogo ardendo, formaram a inexorável paisagem revolucionária capturada por estes profissionais.
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Entretanto, com grandes diferenças de resultado. De Gaulle conseguiu contornar a questão ainda ampliando sua maioria no Congresso, quando pareciam colocá-lo para fora do governo empurrado por comunistas e socialistas. E,  é preciso lembrar, que foi reeleito presidente pelo voto popular em 1965, depois de ter sido nomeado pela Assembleia Nacional Francesa em 1950. O general Costa e Silva dava prosseguimento a ditadura, cerceando a liberdade em um governo marcado pela tortura e atos institucionais violentos. A mesma violência que causaria a morte do estudante secundarista paraense Edson Luís de Lima Souto em março, durante um confronto no Restaurante Central dos Estudantes conhecido como Calabouço. Pedro Moraes fotografou o velório na Assembleia Legislativa e a missa de 7º dia,  na Igreja da Candelária. Sem maiores diferenças, em ambos hemisférios a violência corria solta contra a multidão.
Para o fotógrafo carioca, filho do consagrado compositor e diplomata Vinicius de Moraes (1913-1980), o ano de 1968 foi decisivo na sua vida como um jovem idealista. Conta ele em um franco depoimento para o livro, que se uniu a uma organização de luta e resistência que era uma dissidência do Partido Comunista. “A ideia é que as fotografias que eu fazia servissem como denúncia da situação que vivíamos no Brasil e que fossem enviadas para o exterior." A violência acirrada  e a brutalidade, lembra ele, ficou exposta no corpo do jovem estudante atingido aos 17* anos por um tiro à queima roupa, disparado por um tenente da polícia militar.
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Moraes descreve que durante a missa, o medo da reação dos militares tomava conta do ambiente. "Fotografei parte do culto e resolvi deixar o lugar antes do fim." diz ele. A sensação de insegurança se configurou quando a cavalaria da polícia cercou a catedral e agrediu ferozmente com cassetetes e sabres quem deixava o local. Algumas das imagens mais marcantes desse momento estão no livro de Evandro Teixeira, acima mencionado, que fotografou para o Jornal do Brasil toda cena de cima do prédio de uma multinacional inglesa em frente ao local. O fotógrafo conta também que a repressão era muito feroz, e que ir para rua era suicídio. Ele passou a trabalhar de outra maneira fazendo fotografias 3X4 para documentos falsos que ajudavam na proteção dos militantes da esquerda e continuando a enviar imagens para o exterior.
Em sua narrativa, Bruno Barbey, encontrou-se em cenas com policiais atordoados. Eles não atacavam apenas os manifestantes nas ruas ao longo do Jardim de Luxemburgo, mas também atiravam granadas de gás nas varandas dos apartamentos onde a burguesia assistia aos combates. "Mulheres grávidas apanhavam, professores inofensivos com suas pastas debaixo do braço eram imobilizados no chão." Mas, ressalta que os parisienses "naturalmente apoiavam os estudantes" protegendo-os quando entravam nos edifícios. Embora, uma das suas fotografias mais fortes é justamente uma enorme passeata a favor de De Gaulle na Avenida Champs Elysées.
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Barbey nasceu no Marrocos e entrou para a Magnum em 1964, trabalhou nos 5 continentes, cobrindo guerras do Vietnã à Irlanda do Norte entre tantas outras. Ele conta que nunca tinha testemunhado tanta violência em uma capital ocidental. "Você podia levar uma pedrada, um golpe de cassetete ou bolinhas de aço na sua cara. Vi um fotógrafo do meu lado ser atingido por uma peça de chaminé." Diante disto, ele e Henri Cartier-Bresson (1908-2004), um dos fundadores da Magnum, compraram capacetes em uma loja de motos."belos capacetes brancos que cobriam bem a nuca e as orelhas." mas em poucos minutos viram que não eram muito práticos, não ouvindo bem o que se passava ao redor e  a viseira atrapalhava.
"Eu não era militante, mas simpatizante da causa estudantil." conta Barbey. Para ele o que interessava era sobretudo registrar o momento histórico. Um dos principais momentos não foi a quebradeira mas sim o encontro entre operários e líderes dos estudantes: "Os sindicatos não queriam que os grupos estudantis se misturassem aos trabalhadores, temendo que estes militantes fossem contrários à sua linha política e se tornando incontroláveis." Muitos eram proibidos de entrar e ele se lembra de uma estudante que tentava conversar com os operários pela grade. "Havia um desejo meio louco de mudar o mundo", relembra. "Ainda hoje é o mesmo grupo restrito de líderes daquela época que fala sobre estes acontecimentos. Alguns se tornaram senadores, deputados ( como Daniel Cohn Bendit, que hoje, aos 73 anos é deputado europeu) e estão sempre em destaque, e pouco se lembra dos nove milhões de operários que fizeram as greves durante semanas na França, paralisando o país.”
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O depoimento de Barbey, talvez por certa modestia de um fotojornalista consagrado, traz elementos que podem interessar mais aos fotógrafos, como a política da cooperativa, as dificuldades do período analógico e no que concerne ao ato de fotografar e nem tanto  à ideologia. Há uma confissão de que não era tão esperto quanto seus colegas e que se sentia mais como amador do que como profissional. A reverência aos colegas Cartier-Bresson e Marc Riboud (1923-2016) mais velhos e mais experientes do que ele. Reconhece que perdeu boas fotos por não saber usar um flash, mas assume que mesmo meio desfocadas as fotos traduzem melhor a atmosfera das ruas. "De madrugada, alguns fotógrafos se aproximavam das cenas de confronto, disparavam o flash e saíam correndo. Arrependo-me de não ter feito esses registros, mas outros fizeram muito bem." Uma memória mais ampla pode ser encontrada na mais recente edição de seu livro 1968 (Fotograf Evi, Istanbul, 2008) de onde saíram a maioria das imagens usadas em Paris 1968 Rio.
* na maioria das informações disponíveis o estudante Edson Luís  tinha 18 anos quando morreu.
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Imagens © Pedro de Moraes e Bruno Barbey  Texto © Juan Esteves
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