He’s lost in the woods and has dirt under his fingernails, exiled by the bitter and the old who looked into him like he was a mirror and could not stand the sight. His hair is long and curls beneath the sun like a crown. He sleeps the poison sleep and dreams of flying free. He loves, wholly and unashamed, so deeply that he thinks it might consume him.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ cute cow woman — 20 de junho.
LOCAL — Camlann. GATILHO(S) — Nenhum. PLOT DROP — Something Wicked This Way Comes. PARTICIPANTE(S) — Azir, Kyohei e Lime.
Kyohei cheirava tão bem… E tinha um gosto bom também, mas acho que isso era porque estávamos dividindo um algodão doce mais cedo e a boca dele ainda tinha gosto de açúcar.
De qualquer forma, andar agarrado no braço dele era como um sonho. Eu me sentia como uma garota de anime sortuda quando o crush finalmente responde suas declarações de amor. O único defeito dele era não ter uma mira muito boa e nunca acertar o alvo para ganhar os prêmios. Pelo menos nesse quesito eu poderia prover por nós dois; mesmo longe da arquearia, minha prática continuava boa.
Foi uma tarde muito boa, no final das contas, e comi tudo que eu podia e o que não podia também. Que os deuses derramassem suas bênçãos sobre o cartão do imperador! Ele certamente teria um rombo no orçamento, e eu pensava como Kyohei poderia justificar todos aqueles gastos no final do mês para os pais… Parecia que a economia japonesa ia muito bem para eles não se incomodarem em checar as contas dos filhos. Que inveja (mas meu marido continua rico pra caralho, rs).
Eu não estava muito animado para a noite. O fato é que geralmente não vou ao circo porque tenho medo de palhaços. Não sei exatamente o que temo neles, mas o fato de não conseguir divisar feições sob a maquiagem pesada me assusta… Ou talvez seja porque vi muito Palhaços Assassinos do Espaço Sideral quando não tinha idade para isso.
Mas Kyohei garantiu que iria me proteger e cobrir meus olhos se qualquer palhaço aparecesse, portanto confio nele. Eu confiaria nele em qualquer coisa, em qualquer situação, porque sei que meu Kyo-kun só quer meu bem. Além do mais, ele odiaria ficar viúvo tão jovem. Seria uma lástima.
Nós nos sentamos em nossos lugares… E então o show começou.
De repente, eu não estava mais no circo, mas em uma planície verdejante e bonita, entre árvores altas.
— Dahlia…? O que aconteceu? — Franzi o cenho, olhando ao redor. Minha daemon se limitou a se prostrar na minha frente em posição defensiva.
O fato é que um ratel é um anime bem feroz, sabe? Que é o motivo para eu não entender muito bem porque Dahlia se fixou nessa forma. Mas eles possuem a pele tão grossa que não consegue ser penetrada por ferrões de abelhas ou escorpiões e dentes de cobra. Estas últimas, inclusive, constam em sua dieta, já que são imunes ao veneno delas. Ainda nem citei que nem mesmo os maiores predadores — lobos, leões e leopardos — têm coragem de atacá-lo, já que seus dentes não conseguem passar pela barreira natural.
Isso é esquisito porque qualquer um em Avalon poderia me derrubar no soco.
Qualquer um mesmo.
Estou falando sério.
Mas daí eu acho que teriam que lidar com o Suho, e ninguém tem saco para lidar com o Suho. Eu amo meu irmão problemático que provavelmente ouve Simple Plan.
A queda também seria bem longa porque eu sou super alto…
Enfim! Onde eu estava? Ah, é. A Dahlia tem a forma de um animal bem feroz, mas não acredito que ela conseguiria peitar a mulher que estava diante de nós… Quer dizer, acho que era uma mulher… Ela tinha seios… Ou elu… Eu geralmente não assumo a identidade de gênero ou pronomes de pessoas baseado em suas características físicas, desculpe!
Mas existia essa… Pessoa… Com orelhas caídas e pele rosada que me lembrava uma… Vaquinha. Porém, ela também era bem alta — muito mais que eu, o que era bem legal porque eu não encontrava muitas pessoas com essa altura normalmente — e com um físico… Torneado.
Dahlia está me dizendo que eu preciso trabalhar nas minhas habilidades de descrição física… Mas eu estou tentando fazer com que não pareça muito ofensivo. Não gosto de magoar as pessoas, fico triste quando faço isso.
Ela era forte demais, ao ponto de arrancar e balançar uma árvore inteira no ar sem suar. E quando ela olhou para mim com uma expressão raivosa e começou a correr… Bom, eu comecei obviamente a correr para o lado oposto e escalar a primeira árvore que vi.
Então percebi que existiam duas pessoas ali. Reconheci os cabelos quase brancos de Lime na hora! Eu estava salvo. Não sabia quem era a outra pessoa, mas acho que era o cara que deixa a bissexualidade do Nando atacada… Como era mesmo o nome dele? Argh, não sei, só lembro do abdômen. E que incrível abdômen ele tinha… E braços… Provavelmente coxas se não pulasse os dias de perna na academia…
— DONGMIN! NÃO É HORA DE PENSAR EM GAROTOS BONITOS! — Era a voz da Dahlia. Como sempre, ela estava certa.
— AIGOO! DESCULPE!
Me sentei em um dos galhos que pareciam mais estáveis da árvore, observando a luta. Mas eu não gostava muito de violência, sabe? E aquela mulher-vaca (com todo respeito) não parecia ruim. Ela tinha aqueles grandes olhos castanhos e ternos tradicionais de bovinos (que eu também tinha, aliás)... Não poderiam ser os olhos de alguém ruim.
— Moça! Qual seu nome?
— Eu sou Kira, a mulher mais forte do mundo!
— Maneiro! Eu sou um apoiador da causa feminista! Nós realmente não queremos brigar com uma mulher tão admirável! Na verdade, não queremos brigar com nenhuma mulher, vocês merecem respeito e...
— Então por que me atacam, humanos?!
— Porque a senhora… Senhorita… Madame atacou a gente primeiro! Nós estamos apenas tentando nos defender. Você não estaria aberta a uma conversa?
— Vocês invadiram meu território!
— Nos jogaram aqui! Estávamos no circo… E, subitamente, estávamos aqui!
Então a mulher aparentemente parou de prestar atenção em mim, focando-se no combate.
Suspirei profundamente e pensando sobre o que poderia fazer para atrair a atenção dela sem atrair muita atenção dela… Não sei se você me entende. É que eu não a queria me atacando porque ela parecia definitivamente bem forte e eu sou… Bom. Eu sou o Dongmin.
Então meus olhos pousaram no pescoço dela e pude perceber que ela tinha uma espécie de coleira que não parecia exatamente confortável. Couro é o melhor material para coleiras, experiência própria… Quê? Que foi? EU NÃO SOU FURRY! Eu só gosto que Kyohei, às vezes, bem raramente, coloque uma coleira em mim no quarto. É UMA BRINCADEIRA INOCENTE! NÃO QUER DIZER NADA! NADA, OK?
Voltando ao assunto, Kira, Lime e Gostoso continuavam lutando, mas eu tentei chamar a atenção dela novamente.
— Kira! Nós podemos tirar essa coleira de você se quiser.
Isso pareceu ser o suficiente para atrair a atenção dela.
Bingo!
— E como faria isso, humano? Com esses seus bracinhos de grilo?
Own! Essa tinha doido. Eu não ia muito na academia, até tinha uma pequena barriguinha se ficasse relaxado, e definitivamente não era bombado como o Mr. Gostoso, mas não precisava ofender… Mas ignorei meu ego ferido pelo bem da negociação. Diplomacia em primeiro lugar!
— Lime é extremamente forte! Tenho certeza que ela pode dar um jeito nisso. Por favor, se pudermos apenas baixar as armas…
Foi o suficiente para convencê-la, fato que comemorei internamente com uma dancinha da Chun-Li ao descer da árvore. Diplomacia alcançada com sucesso! Toma essa, romanos.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ here we go to oz part ii — 05 de junho.
LOCAL — Gamangnara. GATILHO(S) — Nenhum. PLOT DROP — Soul Society. PARTICIPANTE(S) — Gaeul, Geneviève, Haneul, Haoran, Hyesu, Hyuna, Hyunjae, Junho, Leon, Lime, Minjun, Peach, Suho e Taeul.
— E agora? Por que está chorando dessa vez?
— E-eu… Eu comecei a lembrar… Ele estava tão real naquela visão.
— Dongmin!
— O que foi…? Eu não posso nem chorar agora, é?
— Você não percebe, Dongmin? Nós estamos em uma missão para salvar a Hyesu e você só sabe chorar pelo Kyohei.
— M-mas… Ele… Ele é minha outra metade.
— Não, não é. Ele é seu igual. Você não é metade, Dongmin, você é inteiro e não precisa de ninguém para reafirmar isso. Agora para de chorar!
— Mas…
— Mas nada, Dongmin. Por que não para de pensar em garotos só um minuto e presta atenção no que realmente importa, hein? Não é um garoto que vai te dar o diploma de História Oriental. Não é um garoto que vai te fazer ser uma pessoa bem sucedida. Um garoto não vai te fazer salvar sua irmã mais rápido se continuar chorando por ele como um cãozinho abandonado.
— D-Dahlia, mas… 48 filhos, 26 cachorros, 17 gatos e 3 periquitos… Kyohei na televisão como melhor pai da galáxia com sua terceira esposa, rei de Liechtenstein, Suécia e Finlândia...
— PARA COM ISSO AGORA! Cada vez que você fala isso aumenta um ponto, já estou de saco cheio. O que a Marzanna pensaria dessa situação?
— … Você tem razão.
— Sim, eu sempre tenho. Agora limpa o ranho, seu nojento, e continua caminhando ou eu vou morder seus calcanhares!
Estávamos andando há horas; ao menos, era o que parecia. Se tornava difícil contar o tempo em Gamangnara com a falta de astros celestes ou quaisquer outros fenômenos naturais que pudessem indicar passagem de tempo. Uma imensidão sem vida se estendia por todos os cantos, até o limite de onde a visão alcançava. Era desmotivador, especialmente para mim.
Tinha a sensação de que minhas reclamações haviam se tornado bastante inconvenientes, por isso parei de pontuá-las há algumas árvores secas atrás. Vou ficar devendo o número exato de quantas, já que todas pareciam iguais.
Ainda assim, eu estava cansado e o interior das minhas coxas ardia. Queria chorar de novo, mas o grupo só tinha me permitido uma pausa para isso e eu já tinha usado. Tínhamos de encontrar os outros, resgatar Hyesu e Gaeul, e voltar à Avalon o quanto antes… Ah, que droga. Eu só queria sentar.
O caminho que seguíamos me lembrava o Mágico de Oz, exceto que eu não tinha sapatos de rubi como os da Dorothy e a estrada era de terra escura e batida, sem tijolinhos amarelos. Ainda assim, imaginar me dava um bocado de alento.
Dei um personagem para cada membro do grupo: Hyunjae poderia ser o cachorrinho Totó, meu fiel escudeiro; Lime era o Leão Covarde, que encontrava sua coragem em algum lugar da história; Hyunjae era o Homem de Lata, buscando seu coração; Suho era o Espantalho porque ele não tinha cérebro, mas esse aí estava perdido mesmo, nem o mágico conseguiria resolver. Minjun poderia ser o Mágico. Peach era Glinda e Leon poderia ser a Elphaba porque precisávamos de alguém com experiência teatral para carregar o papel em Wicked.
Eu não achava que iríamos chegar a algum lugar daquele jeito. Estava quase levantando a voz para sugerir que alguém marcasse uma árvore como via fazerem nos filmes para não se perderem, quando percebi Lime cambaleando e caindo.
Imediatamente corri na direção dela. Gostava muito de Lime, fora que ela era uma das melhores lutadoras dali, quiçá de Avalon, e certamente nossa melhor chance de sair inteiros de Gamangnara.
Eu já conseguia identificar se alguém estava morto ou dormindo pela minha experiência com Kyohei. Quando finalmente adormecia — a rotina dele realmente me assustava às vezes —, costumava entrar em sono tão profundo que você poderia pensar no pior.
Felizmente, os roncos suaves indicaram que ela só estava muito cansada. Afaguei os cabelos platinados e me sentei ao seu lado, colocando a cabeça dela em meu colo para servir como travesseiro enquanto me distraía trançando seus cabelos.
Ficamos algum tempo ali, mas algumas horas depois já estávamos novamente em nosso caminho.
Não consegui dormir naquele dia, assim como no anterior e no posterior.
— Você não consegue dormir?
— Não.
— É por causa dele?
— Sim. Meu peito dói.
— Vai passar, menino. Eu prometo.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ here we go to oz part i — 04 de junho.
LOCAL — Gamangnara. GATILHO(S) — Nenhum. PLOT DROP — Soul Society. PARTICIPANTE(S) — Gaeul, Geneviève, Haneul, Haoran, Hyesu, Hyuna, Hyunjae, Junho, Leon, Lime, Minjun, Peach, Suho e Taeul.
Aquele era o pior dia da minha vida.
Chafurdando em miséria e solidão, eu vagava através do intermúndio incógnito, abstruso nas terras olvidadas por deuses e homens. Como companhia levo apenas minha própria insignificância e um espaço oco no peito preenchido pelo suplício de…
— Espera, espera… Se seu peito tem um espaço que é oco, como ele está preenchido por alguma coisa?
— Porque o que está preenchido é o restante do peito? Acompanha a narração!
— Primeiro: você é ridículo, Dongmin, espero que saiba. Está fazendo uma narração mental de uma situação aleatória por motivo nenhum além de se lamentar. Segundo: você descreve MUITO mal quando está triste. Não é só jogar palavras difíceis na esperança de construir alguma coisa que faça sentido. Quem usa incógnito e abstruso em sucessão em pleno século XXI?
— Escuta…
— Cala a boca, eu ainda não acabei!
— Tem um terceiro?!
— Tem quantos eu quiser, idiota! Terceiro: vírgulas existem. Use-as. Você deveria dizer algo nas linhas “levo minha própria insignificância, um espaço oco no peito, e o restante preenchido pelo suplício da falta do pau do Kyohei” ou qualquer coisa com a qual você iria completar. E tire o “apenas” porque ele denota poucas coisas, e você definitivamente não está levando pouco se está carregando tudo isso.
— E quarto…
— Isso não vai acabar nunca…
— QUARTO… Você é ridículo.
— Aigoo… Por que você é tão má?
— Talvez porque você seja mau…
— EU SOU MAU? Espera… Se minha própria alma está dizendo isso, então eu devo ser realmente mau… Faz sentido… É por isso que eu deixei o Kyohei lá, sozinho, quando ele me pediu em casamento. E agora ele vai pedir a princesa de Liechtenstein em casamento e eles vão ter 3 filhos e 1 cachorro…
— Esse lugar nem deve ter monarquia, Dongmin…
— 5 filhos e 2 cachorros em frente a uma casa com lareira e quintal…
— Cacete, Dongmin… O que eu estou dizendo é que você é mau consigo mesmo. Eu sou sua consciência e é meu papel te lembrar do que você quer ser lembrado.
— … Como o grilo falante?
— Dongmin…
— É? É como o grilo falante?
— Cacete…
— Hein…
— Ugh. Sim, Dongmin. Eu sou a porra do teu grilo falante.
— Pode ser um grilo rosa?
— Eu vou arrancar sua faringe enquanto você dorme, desgraçado.
Voltando ao início… Aquele era o pior dia da minha vida.
Começando pelo fato de que uma das minhas irmãs havia desaparecido. Como minha mãe, eu nunca admitiria em voz alta que tinha uma irmã favorita, mas era bastante óbvio de quem eu era mais próximo. Não era minha culpa, porém, se Hyesu parecia minha versão pocket com vestido — embora, pensando com meus botões… Eu provavelmente ficaria bem bonito de vestido também.
A questão não é essa. A questão é que eu não poderia conceber um mundo no qual teria de viver sem ela. Tenho certeza que eu teria ao menos algumas boas memórias do ensino médio se Hyesu estivesse lá comigo, mas o colégio para garotos não aceitaria que ela se disfarçasse como a Mulan. Além disso, eu realmente não a queria naquele ambiente… Tenho que admitir que garotos são escrotos e minha irmãzinha não merece ficar cercada deles.
Junto com ela havia sumido aquele garoto estranho da Coréia do Norte, Gaeul. Para ser bem sincero com ele eu não me importava. As únicas semelhanças que consegui encontrar com ele foram o fato de gostarmos de porco e o fato de gostarmos da Hyesu. Mas ele já não gostava mais da Hyesu, então é, só tínhamos uma coisa em comum mesmo. Embora ele pudesse gostar de Genshin Impact também, ou World of Warcraft, quem sabe Ark…
Nah, ele era um pé no saco mesmo.
De qualquer maneira, era minha missão ir atrás da minha irmã. Quando eu dizia que o nascimento dela foi o melhor dia da minha vida, eu não estava brincando. Se não fosse por Hyesu, eu estaria sozinho pela maior parte da minha vida. Agora eu tinha que retribuir o carinho dela de um jeito apropriado.
Taeul foi o responsável por juntar o grupo. Ah, Taeul… Às vezes minha irmã tinha um péssimo gosto, mas ao menos escolheu um bom namorado. Ele é gentil, inteligente, bonito, companheiro, bondoso, altruísta… Taeul é meu herói! Ele é sensível o suficiente para nunca pontuar quando eu digo algo burro e se mostra legitimamente interessado nos meus doces mesmo quando dão errado. Até a daemon dele é um amor. Mas… Olha… Eu não quero julgar, porque não é como se eu fosse a pessoa com a maior autoestima de Avalon (esse é o Salazar), mas ele realmente parece não se valorizar, o que é uma pena.
Fora ele, lá estavam meus outros irmãos. Hyuna noona é um exemplo para mim, e Suho, por favor, não contem para ele, mas é meu segundo irmão favorito. Eu nunca fui próximo do Hyunjae hyung, embora ele parecesse carregar uma espécie de tristeza às vezes, algo que eu me identifico em nível profundo… Ou talvez ele só fosse meio sonolento. Sabe como é, o patrono dele é deus do sono. Isso explicaria muito.
Eu pedi para Lime carregar minha mochila porque ela era tipo o Arnold Schwarzenegger kawaii. Fora que eu a tinha adotado como filha nos últimos tempos para navegar no mundo social. Não que eu me visse como alguém preparado para ter um filho — embora eu pedisse um bebê quase todo dia para o… Enfim, para o menino que eu gosto —, mas Lime era tão inocente que seria devorada se eu não fizesse alguma coisa. A corte era um lugar selvagem e você precisava de seus subterfúgios para sobreviver nela.
Haneul era uma das garotas mais talentosas que eu já tinha visto na vida. Seus desenhos contavam histórias muito bonitas e cheias de significado, mas eu tinha medo de me aproximar. Ela parecia uma daquelas garotas sobre as quais escreviam músicas sobre, tipo a Arabella do Arctic Monkeys. Mulheres assim — pessoas no geral, na verdade —, mas deixavam um pouco tímido. Não era medo. Era admiração.
Geneviève e Peach ocupavam a mesma categoria na minha mente. Vê-las me deixava muito feliz e me passava uma ótima sensação, como as primeiras flores a desabrochar na primavera, como me enrolar em um cobertor felpudo e encontrar a posição mais confortável na cama, como abraçar o… Ugh.
Enfim.
Elas eram incríveis. Pareciam ter uma aura de tranquilidade ao redor (acredito que Gen realmente tinha uma, não ironicamente). Ainda era um mistério como Gen não tinha várias pessoas interessadas correndo atrás dela e como Peach tinha ido parar logo com o Gaeul (trabalho voluntário para recuperação de indivíduos?), mas elas eram as duas mães de Avalon para quem eu certamente correria se ralasse o joelho.
Isso é, se eu não tivesse… Ele…
É, eu acho que não tenho mais.
Continuando (era um grupo bem grande), temos Junho e Haoran. Eu dei para o Junho uma waifu (husbando?) do Jason Momoa quando ele terminou com meu irmão e espero que ele tenha feito bom uso do presente. Não sei muito sobre ele, mas nós desenvolvemos um laço de sobrevivência ao passarmos por uma situação grave de vida ou morte: experimentar as aberrações gastronômicas geradas pelas mãos do professor Chico. Minha intoxicação alimentar está vindo à cavalo, eu sinto isso nas minhas entranhas… Literalmente.
Haoran tinha o cabelo mais bonito do time. Enquanto caminhávamos, eu estava atrás dele e só conseguia pensar se ele me deixaria tocar se eu pedisse ou se ficaria ofendido. Antes ele parecia muito acolhedor e gentil, mas desde o incidente com a polícia… Bom, eu me sentia um pouco intimidado. Ele usava uma máscara agora e diziam que ele tinha passado por muita coisa, como o Kaneki de Tokyo Ghoul depois daquele arco do Yamori. Eu não sabia o que aqueles caras tinham feito com ele, mas no fundo realmente não queria saber. Tenho certeza de que se fosse eu não teria aguentado. Ele deveria ser muito forte.
Minjun e Leon eram os que eu menos conhecia. Já deveria ter assistido alguma apresentação do curso de dança envolvendo Minjun, o que talvez explicasse o fato do rosto dele não me parecer estranho. Seu aspecto etéreo o fazia parecer um pouco inalcançável, portanto o coloquei em um pedestal e o deixei na área das pessoas que provavelmente nunca me dariam bola em minha mente. Já o professor Leon, o último, mas não menos importante, membro de nossa equipe, era alguém que eu admirava pelo simples fato de ter tido paciência para lidar com o Kahoni no meio de um ataque de estrelismo.
Eu realmente duvidaria da minha escolha de carreira se fosse ele e algo do tipo acontecesse…
A longa comitiva levava mochilas cheias, mesmo que não soubéssemos o que esperar encontrar naquele lugar. Eu estava particularmente triste. Rosto inchado, cabelo bagunçado, olhos vermelhos… Ao menos poderia mentir que havia sido pela Hyesu, mas eu estava chorando muito antes de saber sobre ela e recordar o motivo doía demais. Sabia que parecia um caco e não me orgulhava disso, mas não conseguia reunir forças para melhorar.
Éramos silenciosos. Geralmente, eu odiava o silêncio. O silêncio me deixava sozinho com meus pensamentos, que não eram tão felizes quanto deixava transparecer na maior parte do tempo. Eu queria desesperadamente preencher as lacunas tácitas com alguma piada, mas não conseguia pensar em nada engraçado o suficiente.
Levantei o olhar numa tentativa de avistar quanto tempo demoraria para atingirmos nosso objetivo, embora eu não soubesse exatamente qual era nosso objetivo além de vagar a esmo por uma terra desconhecida e possivelmente infestada de criaturas dispostas a tirar nosso couro.
Então eu o vi.
— Kyohei?
Ele estava ali. Imóvel, mas sorrindo aquele sorriso que fazia meu coração derreter no peito. Se você nunca viu o Kyohei sorrindo, provavelmente não sabe do que eu estou falando. Você nunca viu o jeito que a felicidade se espalha pelo rosto inteiro, tornando os olhos em pequenas fendas e formando as dobrinhas mais adoráveis nos cantos deles; a curva delicada do arco do Cupido; o gentil suspender dos pômulos. Ele é ainda mais bonito quando você sabe o que significa e o quanto deve ser valorizado porque os sorrisos de Kyohei são raros e sempre tem algo por trás.
Sei o que significa cada um deles. Aprendi a interpretar seus silêncios, definir seus sorrisos e entender cada gesto. Nós não precisamos de muitas palavras. Seja do que for que sejam feitas, minha alma e a dele são do mesmo material.
Lágrimas tornaram minha visão embaçada antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Eu queria correr para os braços dele, mas era covarde demais. Invés disso permaneci paralisado como um cervo sob os faróis de um carro, um aperto doloroso consumindo o peito e os lábios entreabertos em algo que eu nunca cheguei a dizer. Eu tinha muito para dizer para ele, mas não conseguia condensar em palavras. Queria pedir desculpas, assegurar que eu o amava, tentar ao menos conseguir sua amizade de volta…
O mundo pareceu entrar em modo de câmera lenta para mim, mas subitamente voltou ao normal quando percebi Suho correndo em direção à Kyohei com braços abertos. Confuso, estava pronto para gritar com ele, mas antes disso veio o poderoso estrondo do martelo de Lime.
Ok, eu não sabia o que estava acontecendo, mas era hora de fugir!
Limpei meus olhos com a manga do suéter enquanto explodia uma garrafinha d’água no chão. Poderiam chamar isso de desperdício, mas eu chamava de investimento. A partir dela era possível expandir e condensar para formar gelo, e eu era muito mais rápido no gelo… Rápido demais, eu diria.
Digamos que aquele era um dos meus novos poderes que eu não tinha conseguido controlar ainda. Até estava indo bem, mas peguei velocidade com muita facilidade, muito mais do que achava ser possível. Antes que pudesse entender, havia uma pedra no meu caminho. No meu caminho havia uma pedra.
Encontrei com o pedregulho na mesma velocidade que Nyan Cat poderia acabar com toda sanidade de uma pessoa ordinária e voei por alguns centímetros até me espatifar no chão como uma jaca podre. Dahlia gritou como o diabo enquanto eu tentava recuperar o fôlego com o impacto em minhas costelas, sem saber de onde aquela daemon amaldiçoada tinha tirado aquele aparente segundo par de pulmões se eu mesmo mal conseguia respirar.
O monstro cavalgava em minha direção como uma besta fera ensandecida. Dahlia ficou subitamente quieta, e com desespero percebi a razão: agora o grito saía da minha boca, fino como um pterodactyl em busca de acasalamento. Em outras instâncias ficaria orgulhoso do nível de poluição sonora atingido, mas naquele então consegui apenas fazer com que meus instintos de sobrevivência funcionassem o suficiente para erguer o pedregulho responsável pelo meu acidente de tráfego.
Seu destino foi, obviamente, o monstro que me perseguia. Oras, eu tenho meus princípios! Poderia até estar na beirada de ser considerado furry, mas nunca seria monster fucker. Tudo tem um limite.
Outras pedras seguiram a primeira, e qual não foi minha surpresa ao abrir os olhos e constatar que tinha conseguido acabar com aqueles malditos. Yay! Se os deuses odeiam os gays, então por que nós continuamos vencendo?
Percebi que o grupo no qual estávamos havia se separado. Merda. Pelo menos eu tinha Peach para admirar e me acalmar, ela era como um pêssego maduro que iluminava minha vida. Não sei se a metáfora fez sentido… Acho que bati a cabeça muito forte, ou estou com muito sono.
De qualquer maneira, com a revelação das criaturas sendo pessoas normais, me vi engolindo em seco e levando uma das mãos à têmpora esquerda. Meu cabelo escondia a marca do necromante santomense, um ponto com a aparência do que pareciam ser estrelas maculando minha pele. Miguel havia dito que eu não poderia utilizar nenhum poder necromântico ou mediúnico se quisesse que a maldição parasse de se alastrar, mas a situação parecia necessitar daquilo…
Bom, ninguém precisava saber que os espíritos costumam gostar muito de mim.
Eu sorri e acenei. Ótimo, Dongmin. Bom disfarce!
— Por que seu humano é tão estranho?
— Eu não sei, cara… Realmente não sei.
— Ele está… Acenando para quem?
— Já desisti de tentar entender… Deve ter dado tela azul. Vamos andando, uma hora ele sai do transe.
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· 𝐃𝐄𝐕𝐄𝐋𝐎𝐏𝐌𝐄𝐍𝐓 ≀ do or not? — 03 de junho
LOCAL — Templos, Avalon; GATILHO(S) — Nenhum. PLOT DROP — Nenhum. PARTICIPANTE(S) — Kyohei.
Pensava com seus botões se deveria pontuar em voz alta o fato da mão de Kyohei estar ligeiramente suada.
Não que o próprio Dongmin não ficasse nervoso na frente do namorado. Vez ou outra ainda se via extremamente sem graça defronte o japonês, corando pelo simples fato de tê-lo encarado e dado de cara com aquele sorriso bonito iluminando suas feições. O mais velho, porém, era de longe o mais “controlado” entre o casal, ainda que não deixasse faltar em suas demonstrações de afeto e adoráveis carícias.
Naturalmente, Dongmin era elétrico e agitado. Não conseguia ficar parado por muito tempo, falava pelos cotovelos, tinha o rosto mais expressivo da sala e em 9 a cada 10 vezes conseguia irritar alguém com suas intermináveis perguntas. Kyohei parecia inquieto naquele momento também, mas não por qualquer extroversão característica do namorado. O coreano conseguia identificar como uma energia nervosa, decifrando os humores do outro príncipe com a clareza de um empata. Seu único problema era, obviamente, divisar a razão do nervosismo.
Também não entendia o cenário proposto por Kyohei. Abandonaram a toalha de piquenique no Bosque Sagrado, oferecendo diligentemente algumas maçãs aos Entes mais próximos, e seguiram em direção aos novos templos.
Ocupado demais com seus próprios afazeres, Dongmin ainda não havia tido tempo de visitar o local para ofertar algo à patrona, preferindo continuar com seu pequeno altar no próprio quarto. Agora que conseguia identificar o novo templo do panteão eslavo, porém, sentia uma pequena pontada de orgulho no peito ao vê-lo. Anteriormente, por serem um panteão consideravelmente pequeno e quase desconhecido, o templo não passava de uma casa ligeiramente maior que o normal. Agora se levantava imponente como uma cabana rusticamente decorada no estilo tradicional do paganismo eslavo: padrões rústicos, telhados arredondados e totens dispondo os símbolos antigos dos deuses.
Não era o templo mais luxuoso e confortável, mas para Dongmin era como uma casa. Ao adentrá-lo sentia a mesma sensação de quando se sentava defronte a lareira após horas de andanças pela neve. Estar sua mão na de Kyohei fazia tudo mais especial e intenso, especialmente quando o japonês o guiou até a fronte da “estátua” que deveria ser o altar dedicado à Marzanna.
A estátua era nada mais do que um bloco maciço de madeira pesada e escura vulgarmente esculpido para exibir a imagem de uma mulher de longas vestes e cabelos, foice em uma mão e um copo de caveira em outra. Olhos fechados e feições levemente mais magras que o normal, Dongmin pensou consigo mesmo que aquela caricatura em nada parecia com o modo que Marzanna se apresentava para ele quando conversavam, e ela já havia exibido variadas formas para ele.
— Ele não é assim, sabe… — Riu, apontando a incongruência para Kyohei, sem largar a mão dele. — Parece tão circun… Circun… Ah, ela parece tão carrancuda aí!
Kyohei o respondeu com um sorriso.
— Tenho certeza que ela é incrível, Minnie. — Ele se virou devagar e Dongmin mimetizou seus movimentos com curiosidade. Agora ambas as suas mãos estavam nas dele, o calor do namorado inundando seu corpo naturalmente gélido.
Precisou esperar um minuto até que Kyohei tomasse coragem para dizer o que queria, mas enfim o Konno engoliu em seco e se ajoelhou.
O primeiro alerta vermelho soou na mente de Dongmin.
— Kyohei, o quê…
Ele ainda sorria enquanto formulava a pergunta, mas a expressão ternamente confusa transformou-se em crescente desespero quando o outro príncipe buscou algo em seu bolso e retirou uma caixinha. Ele sabia o que aquela maldita caixinha significava e sentia sua garganta fechar com a mera imagem.
O segundo alerta soou quando Kyohei começou a recitar um discurso sobre como o amava. Dongmin queria gritar. Aquilo era estúpido! Era claro que sabia o quanto Kyohei o amava, e Dongmin o amava também, mas não precisava daquilo…
As sobrancelhas do sul coreano se juntaram em sua testa quando franziu o cenho, dor cruzando sua expressão enquanto os olhos lacrimejavam. O japonês deveria ter interpretado aquilo como emoção ou algo do tipo, ele nunca havia sido muito bom com emoções e Dongmin sabia disso.
— Casa comigo?
Já tinha ouvido aquilo muitas vezes. Kyohei sempre dizia algo naquelas linhas em seu ouvido e Dongmin geralmente respondia com uma animada afirmativa. Sempre que o fazia, sabia profundamente que estava contando uma mentira para ele. Mas gostava de entreter a fantasia e brincar com a imaginação, mesmo que fosse algo quase impossível.
Fechou os olhos, querendo abafar a audição também. As palavras dele eram tão doces, mas apenas aumentavam o pânico dentro do príncipe. Sentiu a mão envolvendo a sua, e seu coração bateu mais rápido quando puxou a palma para si novamente, fechando-a em punho.
Quando olhou novamente para Kyohei, ele parecia confuso e perdido. Naquele momento lágrimas já manchavam o rosto de Dongmin, motivadas por puro medo ao recordar das coisas que havia presenciado fazerem com Donghan como punição, com as coisas que havia ouvido os guardas brincando sobre naquele dia… Havia muita repulsa em seu interior, mas não por Kyohei, por si mesmo ou pelos guardas, mas pelo profundo medo que seu pai havia conseguido enraizar em seu interior com apenas uma pequena demonstração.
— Não.
Foi uma sucinta e simples resposta, mas Dongmin não queria ficar para assistir como o coração de Kyohei se partiria por culpa de sua covardia. Então ele se afastou, com passos lentos no início, até o momento em que se virou e saiu em disparada sem rumo.
Ele não olhou para trás e apenas procurou seguir o caminho até Avalon novamente. Se tivesse, talvez pudesse ter visto as portas duplas do templo se forçando violentamente e prendendo Kyohei, ou escutado a voz de Marzanna que soava como brisa fria.
“Eu sempre soube que um dia você tentaria roubar o meu menino…”
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ groot — 23 de maio.
LOCAL — Avalon. GATILHO(S) — Fantasmas (?), morte. PLOT DROP — Forest Vengeance. PARTICIPANTE(S) — Ezequiel e Ana Maria.
Um rápido passeio com Kyohei assegurou que os Entes não queriam machucá-los; ao menos, não naquele momento. Dongmin havia até mesmo conseguido permissão para escalar um deles, retirando um ninho de pássaros de onde estava mal equilibrado em suas costas para realocar em outro lugar. De alguma maneira, o próprio ser pareceu satisfeito com a ação, permitindo que o sul coreano desse um passeio em seu ombro. Infelizmente, o medo de altura de Dongmin o impediu de ficar ali por muito tempo.
Acabou parando no hospital, com Zeke e Maria. Ele não sabia exatamente o que o argentino tinha, e nem ao menos tinha tido tempo de preparar algo para comer, mas fez um bilhete mental para visitá-lo de novo mais tarde. Já Maria parecia bastante abatida, o que Dongmin acreditou ser pela notícia de morte no início do dia.
Dongmin não era imune aos efeitos que um falecimento poderia causar aos entes queridos, mas com certeza possuía uma visão bastante diferenciada sobre o fato, sendo patronado por uma deusa da morte e podendo andar pelo mundo Além do Véu o tempo inteiro. Por isso não se abalava tanto ao receber uma notícia de morte, embora ainda reservasse algum momento para prestar seus respeitos àquela alma.
O príncipe estava envolvido em alguma discussão sobre desenho animado com Zeke, enquanto Maria revirava os olhos com a interação dos dois rapazes, quando a pequena televisão no quarto hospitalar passou a exibir um plantão. Os três ficaram um momento quietos, estranhando o barulho, até o momento em que imagens de plantações verdes subitamente assumindo tons doentios de amarelo começassem a aparecer na tela.
Ele não entendeu muito bem porque estavam mostrando clipes de jardins mortos e paisagens famosas completamente despidas de vegetação saudável, até o momento em que Maria leu a manchete alto o suficiente para que os três ouvissem. Dongmin não era o peixe mais inteligente do aquário, mas conseguia divisar uma crise global quando via uma.
Uma enfermeira em desespero anunciou o que deveria estar ocorrendo nos corredores, pedindo para que os pacientes permanecessem nos quartos até que a reitoria enviasse novas instruções. Zeke, é claro, parecia incapaz de fazer o que lhe era pedido.
Dongmin saiu atrás do amigo, mas acabou parando no meio do caminho ao ver um homem gritando sobre como “uma daquelas árvores gigantes” tinha lhe atacado. Posteriormente descobriram que não havia sido algo tão ruim: o homem bateu em um galho e o galho, elástico, voltou em sua face. Naquele momento, porém, o príncipe paralisou.
Ele puxou seu celular e voltou ao quarto, agora vazio, enviando uma mensagem à Kyohei de maneira automática. Ele tinha prometido protegê-lo, portanto constantemente se encontrava correndo para pedir ajuda ao mais velho, especialmente naquelas situações. Kyohei sabia lutar, Dongmin não.
Seu plano era se encolher no quarto e ter ataques de pânico consecutivos até que seu corpo estivesse cansado demais para continuar. Todavia, ele ouviu um choro.
E o choro não parou. Deuses, onde estavam as pessoas que não escutavam aquilo?!
Após alguns minutos que pareceram horas, Dongmin se levantou e foi atrás do som, seguindo-o por corredores vazios até um quarto aberto. Aquilo parecia muito com um filme de terror cheio de ableísmo com as paredes estéreis e vazias do hospital, mas ele resistiu firmemente, pedindo que Marzanna o protegesse. Ele tinha medo de muitas coisas, mas espíritos e morte não estavam entre elas.
A garotinha estava encolhida e chorando embaixo de uma mesa, exatamente como Dongmin há alguns minutos. Ele não sabia que existiam crianças em Avalon, não entendia quais seriam os papéis delas em uma instituição de ensino superior, mas se ajoelhou e tentou uma aproximação.
Não foi necessário muito convencimento para que a menina o seguisse, e então Dongmin se viu protegendo alguém. Não, não, não era apenas alguém. Era uma criança. Quando ele já havia sido responsável por alguém (ou por si mesmo) daquela maneira?
Tentou conter a tremedeira de seus membros e saiu andando com a menina, com único intuito de encontrar um local seguro. Quando ouviu o som da canção dos Entes muito próximo, se apressou em colocá-la no colo e partir em disparada para o outro lado.
Em algum momento topou com Zeke e Maria, os três batendo as cabeças em uma encruzilhada de corredores como três patetas. A garotinha não existia mais.
Ah, ótimo…
Dongmin evitou comentar sobre ela, mas percebeu que havia uma pequena figura os observando em uma das salas do ambulatório. Eles se aproximaram com calma, reconhecendo-a como um dos Entes, embora menor e certamente mais assustado.
— ITI! Eu sempre quis um bebê! — Comemorou, estendendo as mãos para pegá-lo. Zeke foi mais rápido, porém, erguendo o pequeno Ente como uma cena de O Rei Leão.
Ele sorriu e emitiu o que parecia ser uma risadinha.
Dongmin e Maria imediatamente derreteram um sobre o outro com a fofura do ato.
No final, Dongmin saiu do hospital encafifado com uma experiência sobrenatural e um novo filho adotivo. Quando tudo se restaurou, percebeu que a situação não tinha sido tão ruim, no final… Ao menos, era o que parecia.
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· 𝐃𝐄𝐕𝐄𝐋𝐎𝐏𝐌𝐄𝐍𝐓 ≀ sun goes down part i — 2018 (flashback).
LOCAL — Gibault High School for Boys; GATILHO(S) — Homofobia internalizada, pensamentos depressivos. PLOT DROP — Nenhum. PARTICIPANTE(S) — Marzanna.
Era uma tradição: todos os anos, os meninos da Gibault convidavam garotas da Ethel Walker para o baile de final dos veteranos. Praticamente um ritual de iniciação na vida adulta, a ocasião representava o momento no qual a maioria dos estudantes perdiam suas virgindades e deixavam de lado os antigos hábitos da adolescência para trilhar um caminho glorioso em sua vida adulta.
O ambiente escolar estava efervescente com garotos comemorando os pares desejados, grupos discutindo quais seriam as melhores escolhas para convidar e amigos tentando animar uns aos outros após uma rejeição. Dongmin encontrava-se na última categoria.
Fazia quanto tempo que Robert falava sobre aquela menina neozelandesa? Não conseguia lembrar, mas desde sempre seu amigo havia tido uma quedinha por ela. Infelizmente, ela parecia completamente desinteressada em desenvolver qualquer tipo de relacionamento, mesmo uma mísera amizade.
Era bom ter alguém para se distrair, considerando que o próprio Dongmin não planejava levar ninguém ao fatídico evento. Mesmo que conseguisse se interessar minimamente por uma das meninas, ainda teria de reunir coragem suficiente para falar sobre tal interesse, o que não lhe parecia nem um pouco viável. Ademais, quem gostaria de ser vista com um desgarrado?
Não era que as meninas não fossem bonitas. Garotas eram incríveis! O real problema era Dongmin e seus pensamentos que não conseguiam desviar do príncipe japonês desde que se conhecia por gente. Havia até mesmo cogitado chamar uma de suas irmãs, apenas para disfarçar, mas Hyuna estava velha demais para achar aquilo divertido e Hyesu era nova demais para estar em um local apropriado.
Desta maneira, restava ao sul coreano apenas o ostracismo social e vergonha de comparecer ao baile desacompanhado.
Na imaginação de Dongmin, as coisas pareciam bem mais fáceis.
Ele não havia conseguido figurar os tantos casais tirando fotos de momentos divertidos, dançando agarrados na pista, buscando bebidas uns para os outros e juntando-se em encontros duplos e triplos. Mesmo seus amigos haviam encontrado garotas para acompanhá-los.
Dongmin era o único sozinho.
Tentava convencer a si mesmo de que estava tudo bem. Poderia se isolar em um canto com um copo de refrigerante e ficar com Dahlia em seu colo, esperando o final da festa. Já tinha feito aquilo tantas outras vezes, apenas olhando para o focinho da daemon e tentando decifrar suas feições animalescas.
Mas então Dahlia começou a gritar e todos os olhares se voltaram à ele. Mesmo que pedisse para ela parar, era inútil: Dahlia parecia gritar com mais vigor diante dos pedidos desesperados, atraindo atenção e julgamentos para o solitário garoto em um dos cantos do salão.
Sem aguentar a humilhação que os olhares sobre si representavam, abraçou Dahlia e correu em direção ao banheiro masculino, trancando-se em uma das cabines.
Não adiantava falar com Dahlia. Ela não o entendia e ele não conseguia escutá-la. Sem um patrono e uma relíquia, a comunicação explícita com um daemon tornava-se impossível, e Dongmin não possuía nenhuma das duas.
É claro, porque além daqueles pensamentos e vontades que envergonhavam seu pai, ainda tinha de ser fracassado ao ponto de nunca ter conseguido atrair atenção de uma divindade. A pior sensação era que Dongmin sabia que tinha chances de virar um scion, apenas não havia conseguido. E ele não conseguia entender a razão, porque até mesmo sua irmã mais nova já havia recebido uma patronagem.
Aguentar os olhares de reprovação do pai era difícil, por isso agradecia pelo período integral passado nos Estados Unidos, bem longe de onde Sangwoo poderia fazê-lo se sentir mal pelo simples fato de existir e ser quem era.
O garoto abraçou os joelhos, chorando copiosamente contra as coxas, sentado nos azulejos frios. Soluços surdos deixavam sua garganta, não desejando chamar mais atenção do que sua daemon já tinha feito. Dahlia o escalou com destreza, equilibrando-se em um de seus ombros e usando as pequenas patinhas para abraçar seu pescoço em uma desajeitada tentativa de consolo.
Pensar nos casais felizes no salão e no que lhe esperava se saísse naquele momento era pior. Pensar em Kyohei, que geralmente aquecia seu peito e o fazia instantaneamente feliz, apenas doía demais. Nos poucos momentos em que se permitia sair de sua bolha de alienação e alegria forçada, conseguia enxergar o mundo da forma como realmente era e quebrava seu coração um pouco mais.
Kyohei nunca o corresponderia. Ele mal sabia que Dongmin existia. Toda aquela paixão cuidadosamente cultivada por anos, mantida através de seus sonhos acordados e imaginação fértil, era apenas isso: uma fantasia, impossível de ser realizada. Mesmo se fosse, seu pai nunca o deixaria ser feliz com quem escolhesse.
Mas seus irmãos não precisavam saber daquilo. Dongmin guardava todas as suas dores e desejos em si para que mais ninguém sofresse. Seus irmãos já tinham de lidar com tanto, não precisavam de mais aquele fardo para carregar.
No final, sempre terminava daquela mesma forma.
Sozinho.
Sentia-se completamente exaurido. Um cansaço que ia muito além do físico, que penetrava sua alma e ossos, se alastrando por anos de hostilização consigo mesmo. De ter que segurar seus instintos mais primários e não demonstrar o que não queriam reconhecer o que existia. Estava cansado de mentir.
Fitou o rosto vermelho e inchado no espelho do banheiro, limpando as lágrimas que ainda manchavam as bochechas. O que seu pai pensaria se o visse daquela maneira? Sendo tão fraco? Um completo maricas como ele mesmo o chamava.
Engolindo em seco, Dongmin preparou-se para enfrentar o salão novamente com Dahlia no colo. Não fazia sentido continuar em um lugar no qual não era bem-vindo, mas teria de passar por todas aquelas pessoas se quisesse ir embora.
Virou-se, enchendo-se de coragem, e soltou um grito assustado ao perceber que já não estava no banheiro iluminado por luzes caleidoscópicas de uma escola chique.
Ao invés dos azulejos brancos, montanhas altas e uma planície coberta pelo que reconheceu como neve ocupavam todo o espaço até onde a vista alcançava, por todos os lados. O céu albino replicava o tom monótono do terreno, em um suave tom cinzento, repleto de nuvens gordas e nenhum sol à vista.
Uma pequena e delicada mesa de chá com uma montanha de guloseimas branquíssimas era o único móvel naquela infinidade, e uma criatura humanoide com um manto incrustado com cristais de gelo ocupava uma das cadeiras.
Curiosamente, Dongmin não tinha frio ou medo.
— Olá, Dongmin. Meu nome é Marzanna. — A criatura se apresentou, com uma voz que ecoava por todos os cantos como uma imagem em uma casa de espelhos. Ela parecia humana, mas com alguma coisa muito errada sobre si, que ele ainda não conseguia classificar. — Sou sua nova patrona.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ of ice and awesome sisters — 16 de maio.
LOCAL — Avalon. GATILHO(S) — Nenhum. PLOT DROP — The Good, The Bad & The Ugly. PARTICIPANTE(S) — Leon, Hyesu, Angeline, Azir, Kanya, Khalan, Leon, Ludovica, Seul, Yohan, Yujin e Zhongli.
ERA INCRÍVEL A CAPACIDADE QUE DONGMIN TINHA DE SE ENFIAR NOS PIORES LUGARES, nos piores momentos possíveis. Se ele não estivesse tão perto daquela confusão, certamente poderia ter se esquivado e escondido como uma pessoa comum. Mas nãaaao, ele nem ao menos conseguia ser um membro da realeza covarde como via nos filmes antigos.
Com um beicinho, se juntou às pessoas reunidas sob a liderança do professor Leon: Angeline, Azir, Kanya, Khalan, Leon, Ludovica, Seul, Yohan, Yujin e Zhongli. Imediatamente viu a presença de sua irmã, correndo para o lado de Hyesu e pegando em sua mão para conforto. Parecia engraçado que um rapaz de 1,91 tivesse de se ancorar à pequena presença de 1,55 ao seu lado, mas era o que Dongmin fazia sem nenhuma vergonha. Mal prestou atenção às instruções, estava nervoso ao roer as unhas.
Quando se dispersaram para auxiliar em suas devidas áreas, a tarefa de Dongmin era bem simples. Por mais que não gostasse de treinar seus poderes, sabia ao menos como fazer aquilo. Esfregou as mãos por um momento e assoprou entre elas como teste, observando uma nuvem de vento frio se formar entre as palmas. Maravilha!
Seus olhos tornaram-se esbranquiçados conforme tocava os montantes de água, fazendo o líquido tornar-se sólido em questão de segundos. Com o poder, Dongmin conseguia transformar uma sala inteira em um ringue de patinação sem muito esforço, quebrando-o o elemento e livrando-se dele logo depois ou dando passagem para alguém a algum lugar. O real problema era que o poder necessitou de muito uso.
Marzanna já havia lhe falado diversas vezes sobre o que uso exacerbado de seus poderes poderia acarretar. Dongmin, entretanto, nunca havia tirado a prova real. Em fato, ele raramente utilizava seus poderes se não para deixar sua amada coquinha gelada novamente, sair de regata em temperatura negativa ou virar fantasma quando estava nervoso demais. Este último era bem comum quando estava apaixonado por Kyohei e não tinha coragem de contar, aliás.
Começou com uma leve tontura, então quando olhou para os próprios dedos conseguiu observar a pele usualmente pálida com uma leve camada azulada. Mesmo que não fosse muito bom em biologia, acreditava que aquele não era um bom sinal, decidindo por tomar um tempo de descanso enquanto outros membros de seu grupo faziam o trabalho duro. Ele se sentia um pouquinho mal por isso, mas conseguia ignorar a sensação ao pensar com mais força em seu pensamento favorito: Kyohei sem camisa.
Estava consideravelmente tranquilo (raramente ficava nervoso em situações de pressão, o que era irônico, já que ficava muito nervoso em qualquer coisa no resto do tempo), quando percebeu uma súbita agitação. Dois alunos pareciam lutar contra uma grande rocha, provavelmente entulho proveniente dos desabamentos, e o teto do prédio mais próximo ameaçava cair sobre eles. Com choque e horror, Dongmin observou enquanto sua irmã realizava o salvamento dos dois… E consequentemente ficava presa no mesmo lugar.
Quando Dongmin correu em direção à montanha de detritos, já era tarde demais. O príncipe chamou pela irmã, mas ela provavelmente não o ouviria. Seus poderes também eram inúteis contra aquele tipo de estrutura, e quanto à sua força… A despeito da altura, Dongmin era um grande fracote. Ele mal conseguia carregar Hyuna, e Hyuna era praticamente um anão de jardim.
Ele pensou em pedir ajuda, então, já que haveriam outras pessoas com melhores poderes naquela situação. Começou uma corrida confusa à esmo, tentando buscar alguém em meio ao caos, mas uma última olhada para trás garantiu que visse o exato momento no qual Hyesu conseguiu se livrar do obstáculo sozinha. Dongmin comemorou com pulinhos, batendo palmas, animado. Sua irmã era mesmo incrível! Isso é… Até ela parecer ficar mais fraca como um personagem de Mortal Kombat prestes a ser brutalmente assassinado após uma derrota.
Novamente, o príncipe correu, mas dessa vez em uma tentativa falha de apanhar Hyesu. Ela caiu, mas ele conseguiu evitar que se machucasse tanto. Para Dongmin, Hyesu parecia meio pesada, mas ele fez o seu melhor para colocá-la em suas costas e levá-la até a ala hospitalar.
Suas costas doíam naquele momento, mas provavelmente era uma boa forma de conseguir uma massagem de Kyohei. Ah, Kyohei…!
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· 𝐃𝐄𝐕𝐄𝐋𝐎𝐏𝐌𝐄𝐍𝐓 ≀ live, i am coming — 26 de abril.
LOCAL — São Tomé e Príncipe. GATILHO(S) — Citação de morte e ansiedade. PLOT DROP — Nenhum. PARTICIPANTE(S) — Kyohei.
Incrivelmente, Dongmin raramente tinha pesadelos. Apesar de sua bagunça mental, ele não era dado a alimentar pensamentos ruins, e a ajuda de Marzanna sempre vinha em boa hora quando porventura via algo chocante antes de dormir.
Na maior parte do tempo, seus sonhos eram cenários reservados para encontro com a patrona, inclusive, com quem conversava pelo que pareciam longas horas sem nunca se cansar. Curiosamente, Marzanna sempre sabia qual assunto puxar para interessar seu pupilo, mantendo-o entretido sem precisar de grandes esforços. Quando o assunto acabava, ela sempre tinha a opção de lhe contar alguma história interessante, brincar com a efemeridade dos sonhos, ou deixá-lo mergulhar em suas memórias favoritas.
Naquela noite, porém, ele acordou suado e assustado, sem saber onde estava. Se dedicou a perscrutar os arredores com cautela, o olhar nervoso acusando cada sombra mal feita de ser um novo inimigo antes que o cérebro registrasse suas formas. Finalmente, após constatar que o quarto jazia livre de ameaças, pôde relaxar.
Seu coração batia tão rápido que machucava seu peito. Respirou fundo, puxando da memória os exercícios de respiração aprendidos com o terapeuta, e tentou procurar qualquer coisa agradável para se focar naquele cômodo escuro. Automaticamente, as íris pousaram sobre a figura adormecida de Kyohei ao seu lado, imperturbável. Poderia acordá-lo, Kyohei certamente gostaria que o fizesse, mas Dongmin não queria preocupá-lo desnecessariamente. Além do mais, o outro rapaz havia passado o dia estudando e estava merecendo seu descanso.
O sul coreano decidiu que trocar de ambiente por algum tempo talvez fosse melhor. Jogou os cobertores para o lado e sentiu o vento fustigar o corpo desnudo, gelado o suficiente para lhe fornecer algum bálsamo naquela torrente desesperadora. Mesmo assim, abraçou o próprio corpo, insistindo mentalmente que era pela temperatura e não porque precisava de uma forma de consolo, e seguiu até o banheiro do quarto com passos cuidadosos.
Algo parecia errado, porém. Dongmin sentia medo. Muito medo. Era como se a cada passo seu medo aumentasse, e a brisa álgida que anteriormente lhe fornecia suporte agora parecia desconfortável. Há muitos anos Dongmin não sabia o que eram aquelas duas sensações: sentir frio e a usual paranóia proveniente de um sonho ruim. Agora sentia-se observado e o frio parecia um constante incômodo que arrepiava todos os pelos de seu corpo.
A inquietação não parecia ter fim, pelo contrário, apenas piorou quando alcançou o banheiro e sentiu-se observado. Todavia, não havia ninguém naquele quarto além de Kyohei e seu daemon, ambos adormecidos, e Dahlia o seguia como uma sombra, ligeiramente trêmula. Dongmin decidiu que era melhor tomar um banho quente e decidir o que fazer depois.
A água quente amainou seu humor, mas a sensação de taquicardia vez ou outra voltava. Conhecia o sentimento da ansiedade, como se estivesse esperando que algo ruim acontecesse, e fez um lembrete mental de tomar um calmante antes de deitar novamente. O remédio resolveria parte do problema, o abraço do namorado faria o restante. Dongmin tinha um plano, ótimo.
Estava de toalha quando olhou para o espelho e deslizou a palma aberta para limpar o material embaçado pelo vapor. Desejou nunca ter realizado a ação, pois atrás de si viu a figura soturna do necromante santomense que havia ajudado a desmascarar, prender e, eventualmente, assassinar. A única diferença era que o homem parecia mais macilento, mas seus olhos fixaram nos de Dongmin... E ele não fez nada, apenas permaneceu parado. O coreano, como se mimetizando suas ações, paralisou também. O frio voltou de maneira avassaladora, algo que não era causado por Dongmin ou seu nervosismo, assim como o aumento de sua ansiedade.
O que diabos ele estava fazendo ali? Estava ali mesmo como um espírito ou era apenas uma alucinação causada pelo cansaço? Era impossível, Dongmin nunca antes havia alucinado. Para os parâmetros atuais, era consideravelmente são mentalmente falando. Exceto pela ansiedade e o TDAH, controlados há tempos com terapia e medicamentos, não havia nada que o preocupasse muito. Então por que estava vendo um homem que mal conhecia, claramente morto, ali? Mais ainda: um homem que o amedrontava por suas capacidades.
"Viva," a voz do homem soou, etérea e difusa, mas ainda audível. Ele parecia falar em coreano, ainda que aquele não houvesse sido um idioma conhecido em vida. "Eu estou indo buscá-lo."
Um choque térmico poderoso apoderou-se do corpo de Dongmin e ele nunca sentiu-se tão frágil. O necromante tomou a forma de fumaça e desapareceu sem maior alarde, deixando para trás um Dongmin assustado e o gosto agridoce de suas palavras. Ele não fazia ideia do que poderiam significar, mas não pareciam nada bom.
Dongmin tentou não pensar na situação como algo sobrenatural. Agarrou as laterais da pia e fez o cérebro raciocinar, ou o mais próximo que conseguia naquele momento. A baixa temperatura subiu um pouco com o passar do tempo, até alcançar um nível confortável ao corpo do coreano, mas ele ainda estava suando frio pela situação. Teve medo, mas olhou novamente no espelho. Não havia nada além de seu reflexo. Nada além de seu próprio rosto, lábios ligeiramente separados e íris cor de ônix arregaladas pelo pavor que tomava raiz em seu peito.
Estava finalmente enlouquecendo?
Trêmulo pelo pensamento, Dongmin seguiu até a porta, mas sentiu-se subitamente fraco e apoiou-se no umbral. A escuridão do cômodo parecia demais para que ousasse desbravar sem companhia, e mesmo a fiel Dahlia não representava presença suficiente para auxiliá-lo em sua jornada. Engoliu em seco, apertando a madeira até que os nós de seus dedos se tornassem brancos como a primeira neve invernal.
"K-Kyohei...", chamou, com a voz embargada. Diferente do usual, o tom carregava legítima vergonha e não o prazeroso rubor que as palavras sujas do namorado ao pé do ouvido poderiam inspirar. Tudo que ele menos queria parecer era um covarde, mas ali estava, trêmulo diante da possibilidade de explorar um quarto escuro. O problema era que sentia a existência de alguma coisa indefinida naquela escuridão sepulcral, algo com uma bocarra escancarada, pronta para engoli-lo junto de tudo que era. Algo o esperava ali, algo que apenas iria embora com a presença de outra pessoa para espantá-lo.
"Kyohei, por favor...", a voz fraca soou novamente, mas Dongmin ainda não conseguia projetá-la suficientemente. Droga, por que Kyohei tinha de ter um sono tão profundo? Continuava respirando tranquilamente, enrolado nos cobertores, Akamaru na poltrona mais próxima em um descanso igualmente calmo e silencioso.
Fechou os olhos por um momento e pensou no que fazer. Então pousou o olhar sobre a daemon, uma desesperança pesando em sua expressão ao indicar o que ela deveria fazer. Odiava aquilo, mas era sua única saída, visto que a ideia de esperar até a madrugada não o agradava muito.
Dahlia começou a gritar descontroladamente, a plenos pulmões. O alvoroço foi suficiente para que o príncipe japonês na cama se colocasse de pé em um pulo, pronto para uma possível batalha, e uma enorme criatura parecida com um gato selvagem surgisse em seu encalço. A imagem amenizou o peso no coração de Dongmin, mas ainda não era o suficiente.
"Kyohei, e-eu," engoliu em seco. Era difícil admitir sua própria covardia. Tomou uma respiração funda antes de tentar verbalizar novamente. "Por favor, eu não consigo voltar para o quarto sozinho... Eu estou com medo do escuro."
Em outra instância, Kyohei provavelmente teria rido da situação. Todavia, uma rápida análise da situação permitiu que entendesse que não era momento de diminuir os temores alheios. Naquele momento, a usual seriedade com que Kyohei encarava certos assuntos veio a calhar.
Quando ele se aproximou, Dongmin envolveu os ombros largos em um abraço. Mesmo que fosse altíssimo, até mais que Kyohei, naquele momento parecia pequeno demais e completamente vulnerável. Apenas percebeu que estava tremendo quando Kyohei o envolveu com um abraço igualmente carinhoso, tentando espantar os demônios de sua mente com seus toques. Sempre funcionava melhor daquela maneira, Kyohei não era muito bom com palavras.
Pareceram ficar por horas naquele abraço, mas Dongmin sabia que não poderia ter passado de alguns segundos. Ele se afastou hesitante, sabendo que Kyohei permaneceria por mais tempo daquela forma se assim desejasse, mas ansiando mais do que nunca o descanso de sua cama. Estava mentalmente exausto, mesmo que seu terror não houvesse durado nem ao menos uma hora.
Não precisou pedir para que Kyohei o pegasse pela mão e o levasse até a cama, sabendo exatamente do que ele precisava. O japonês o cobriu com os cobertores carinhosamente e seguiu para ocupar o lado oposto da cama, puxando Dongmin para seus braços assim que se acomodou sob os lençóis.
Aos sussurros, Kyohei garantiu que estava tudo bem. Tudo ficaria bem. Dongmin fechou os olhos e respirou fundo, querendo acreditar em cada palavra que o namorado dizia. Se deixou embalar pelo calor confortável do corpo alheio e pelo perfume que havia se tornado seu favorito. Tudo parecia tão fácil e tão bobo agora, enquanto estava nos braços de Kyohei, seguro e distante de tudo que pudesse lhe fazer mal. E mesmo que se aproximassem, Kyohei o protegeria.
Pelo menos, ele tentava acreditar que poderia.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ ghostin' around — 25 de abril.
LOCAL — Igreja em São Tomé e Príncipe, mundo espiritual. GATILHO(S) — Citação de morte, palavreado xenofóbico, sangue. PLOT DROP — A Rainha Nunca Se Atrasa. PARTICIPANTE(S) — Kyohei, Taeul, Zhongli.
Não era arrogância, ou ao menos Dongmin lutava para não soar desta maneira. Todavia, sendo um dos poucos além de Suho cujo patrono responsabilizava-se pela orientação de almas desencarnadas, não era incomum que os espíritos de pessoas próximas recentemente falecidas possuíssem uma natural atração para o coreano.
Tinha perdido as contas de quantas almas foram guiadas com sucesso ao além por si, sempre que possível. Com o passar dos anos havia aprendido a calar sua mediunidade e controlar seu dom, ao menos para que as presenças invisíveis não interrompessem seu cotidiano. Os espíritos estavam em todos os lugares, ávidos por encontrar pessoas com quem pudessem interagir para atingir seus diferentes objetivos. Alguns precisavam apenas de um caminho, pois estavam perdidos; outros precisavam de tarefas maiores, fechamento de negócios, passar mensagens a entes queridos ou entregar objetos de valor emocional; ainda existiam os que, há muito tempo destoantes de seus caminhos originais, buscavam apenas espalhar o caos e disseminavam negatividade mesmo sem ter a intenção de fazê-lo. Com estes, Dongmin deixava que Marzanna assumisse o controle. Quando voltava, tudo estava feliz e agradável novamente.
De qualquer maneira, cultivava o costume de auxiliar almas necessitadas. Era quase ofensiva a passagem de dias sem que o espírito de Rosário o procurasse, por mais que não houvessem sido próximos. Ele poderia levá-la para a luz, que por sua vez a teletransportaria para o submundo referente ao seu patrono. Dongmin não poderia visitar aquelas áreas mais profundas — a bem da verdade, nem queria —, mas imaginava constantemente graças às histórias repletas de detalhes vívidos que Marzanna amava lhe contar quando não conseguia dormir. Às vezes, as mesmas histórias eram a razão para não conseguir pregar os olhos.
O fato era que Rosário não estava em nenhum lugar que Dongmin pudesse encontrá-la, ainda que houvesse enviado diversos espíritos à sua procura. Ele poderia não ser próximo da rainha de São Tomé e Príncipe, mas ela seria uma parte integrante de sua família no futuro e ele não abandonava a família. Além do mais, ansiava por assegurar alguma tranquilidade ao coração de Hyunjae, cujo luto doloroso ecoava como um maltrato ao próprio coração.
Sua desconfiança rapidamente se provou fundamentada. Uma rápida noite de exploração pelo palácio com Kyohei, que apesar de representar a paciência que faltava em Dongmin raramente conseguia contê-lo se o caçula coreano estivesse empenhado em alguma ideia mirabolante, fez com que chegassem à conclusão de que não havia espírito algum ali. E se não havia espírito, como poderiam existir mortos? A menos que Rosário fosse um robô (a teoria foi rapidamente descartada após um olhar estranho de Kyohei), ela tinha de ter uma alma.
Dongmin passou a noite acordado à base de quantidades ofensivas de café. Haveria mesmo alguém naquele caixão amanhã? Ele deveria descobrir a identidade da pessoa, não se importava com os custos. Apesar de ter melhor domínio sobre suas habilidades criocinéticas, visto que Marzanna constantemente falava sobre como a mediunidade e o mundo espiritual era difícil para alguém tão jovem, Dongmin iria utilizá-las para se comunicar com a pessoa no caixão. Já Kyohei poderia servir como médium enquanto o coreano estivesse fora do corpo. Já tinham feito aquilo mais de uma vez, sempre que o japonês o deixava nervoso demais e ele tentava escapar dos diálogos ao deixar a consciência escorregar para o etéreo.
Taeul e Zhongli foram adições inesperadas ao plano, mas não eram exatamente ruins. Eles precisavam de músculos se Kyohei fosse estar ocupado. A bem da verdade, Dongmin descobriria sobre a participação de Zhongli apenas depois da coisa já estar feita, mas não ficaria menos intrigado. A natureza de sua “ressurreição” também o intrigava bastante e ele guardou a informação em alguma parte profunda da mente para posterior análise. Já Taeul era parte dos Ryu, praticamente, considerando que estava sempre dependurado em Hyesu como um chaveiro. Dongmin não os culpava, ele sabia que era difícil ficar distante de um amor juvenil.
De qualquer maneira, no horário confirmado o príncipe coreano sentou-se na sacristia. Precisava de um local quieto e sem barulhos para meditação, visando a alteração da consciência por um modo menos agressivo. Seu problema com meditação geralmente residia na falta de foco provocada pelo TDAH, que o fazia desistir de seus intentos antes mesmo de iniciá-los. Todavia, Kyohei estava ali, e Dongmin era avesso à ideia de deixá-lo menos do que orgulhoso. Queria mostrar o que sabia e o que poderia fazer, o quão poderoso era. Gostava da ideia de ser admirado por Kyohei tanto quanto o admirava.
O processo foi mais rápido do que ele imaginou. Em um minuto estava no físico, no outro seu espírito projetou-se para fora do corpo. Para Dongmin o mundo se tornou monocromático, exceto pelo fino fio de prata amarrado ao redor da cintura de sua forma etérea e ligado ao umbigo de sua forma física, agora desacordada com a cabeça apoiada sobre as coxas de Kyohei. O japonês, aliás, o observava com curiosidade. Era o único que conseguia vê-lo daquela maneira.
— Certo, hum… Tenho que ir para o salão. Eu volto logo. — Anunciou, recebendo um aceno positivo em resposta e um aviso para tomar cuidado. — É claro que eu vou tomar cuidado! Quando que eu não tomei cuidado? Pergunta retórica!
Então se jogou contra as portas da sacristia.
O salão principal estava apinhado de gente, mas as conversas soavam abafadas e distantes. Os assuntos dos vivos não poderiam ser tocados pelos mortos, a menos que exercesse uma força acima do que conseguia. O que de fato lhe interessava repousava no centro da igreja, uma silhueta feminina de tom azul pálido. Ela chorava copiosamente sobre o caixão, mas não parecia ter a aparência de Rosário.
Dongmin se aproximou. A mulher aos poucos perdia suas feições. Aquele era um detalhe interessante sobre fantasmas de mortes traumáticas: quando morriam recentemente, permaneciam do mesmo modo que faleceram; conforme o tempo passava, as feições se apagavam. Era uma representação de como se deixava de ser humano, de como sua própria existência era apagada junto de suas memórias. Se não evoluísse, o espírito simplesmente virava uma mancha. Um espectro, um espírito ruim. Aquele espírito em questão deveria ter sofrido um bocado, pois não parecia estar em bom estado.
Mesmo assim, Dongmin não teve medo de se aproximar. Apenas uma pequena hesitação tomou seus músculos, temeroso das reações dela. Almas, especialmente as que rapidamente se livraram da humanidade, poderiam ser inconstantes e imprevisíveis. Já tinha lidado com um bom número delas para saber que era melhor ter cuidado.
— Senhorita…?
— Me ajude! — A mulher falava em português, com um sotaque carregado que tornava as coisas mais difíceis para Dongmin. Apesar de entender a língua, ele não conseguia falar. Limitou-se a acenar para que ela continuasse, aguardando que o espírito conseguisse entender sua forma rudimentar de comunicação. — Eu quero descansar. Preciso descansar. Procure o homem com a bengala, queime meus ossos. Por favor, eu não aguento mais.
E então ela voltou a afundar o rosto nas mãos, chorando copiosamente. Dongmin tentou chamá-la novamente, mas a mulher o ignorou. Eventualmente, sua face começou a se fundir com as palmas, e ele entendeu que deveria se apressar para ajudar aquela pobre coitada.
Seu espírito retornou à sacristia. Deveria fazer quanto tempo que estava fora do corpo? Vinte minutos? Não se recordava de já ter passado tanto tempo assim em projeção astral, mas logo voltaria. Kyohei estava a postos para ouvi-lo, e as instruções foram passadas à Taeul enquanto Dongmin assistia.
Agora ele tinha de voltar. Flutuando acima da cabeça de todos, o espírito do coreano cruzou as longas pernas em posição de lótus. Antes que pudesse fechar os olhos e se concentrar em sua própria forma, sentiu alguém envolvendo seu pulso com força.
A sensação era incomum. Dongmin sentia pouquíssimo quando estava fora de seu corpo, definitivamente nunca tinha sentido um toque tão intenso. Tentou puxar o pulso para livrá-lo, mas parecia apenas prender mais e o agarre começava a machucá-lo.
— Então o ratinho de olho puxado acha que pode vir nas minhas terras sem pagar por isso? Está mexendo com alguém bem mais poderoso do que sua diminuta compreensão alcança.
Era uma voz desconhecida, mas definitivamente vinda daquele mundo. Aquele mundo, onde não deveria existir mais ninguém além de Dongmin e outros espíritos vagantes. Quem era aquela figura…? A não ser que o responsável pela tentativa de enganação houvesse descoberto a presença indesejada de Dongmin em domínios espirituais…
— Me solta! — Demandou, rosnando. A imagem de Kyohei parecia difusa agora, o que lhe deixava desesperado. Estendeu a mão livre, tentando alcançar o japonês, mas não conseguia comunicar mais nada à ele.
No mundo físico, o corpo desacordado de Dongmin tremeu incontrolavelmente por alguns segundos, como se subitamente acometido por espasmos violentos. Quando parou, um fino fio de sangue escuro escorria de seu nariz e quem se arriscasse a ouvir suas batidas cardíacas perceberia a lentidão que elas haviam assumido.
No plano etéreo, Dongmin continuava preso, e o fio preso ao redor de sua cintura parecia um pouco mais frouxo, um pouco mais repuxado. Alguém parecia puxá-lo de maneira insistente de volta ao corpo, mas a mão fantasmagórica mantinha seu pulso bem preso. E então o fio rompeu.
Dongmin teve reflexos rápidos o suficiente para agarrar a ponta do maldito fio, sabendo que aquela era sua única chance de voltar para casa. Uma gargalhada ressoou ao redor, ao que o coreano indignado apenas respondeu com uma série de palavrões e ofensas em sua língua natal. O fio parecia escorregar de sua mão, cortando os dedos, mas ele se recusava a deixá-lo ir. Aquela representava sua morte ou algo bastante próximo dela, e qualquer pessoa que estivesse lhe mantendo ali estava muito errada ao pensar que Dongmin se deixaria ir com tanta facilidade.
— Марзанна, ваш сын просит помощи*!
Silêncio. O aperto em seu pulso afrouxou e Dongmin aproveitou a chance para puxar a mão para si, desvencilhando-se de quem quer que estivesse lhe prendendo. Uma litânia de negativas estendeu-se ao seu redor, mas estava mais preocupado em literalmente mergulhar para dentro do próprio corpo antes que pudessem prendê-lo ali novamente. Sua volta seria dolorosa e violenta, mas ao menos voltaria.
Dongmin abriu os olhos devagar. Kyohei estava acima de si, a adorável face que tanto amava. Um minúsculo sorriso converteu os cantos de seus lábios em suaves catenárias.
— Eu morri e fui pro céu? Acho que estou vendo um anjo… — Murmurou, sentindo a língua estranha dentro da boca. Parecia que não pertencia àquele corpo, provavelmente um dos efeitos colaterais chatos de um regresso agressivo do mundo espiritual. Todavia, ainda era um preço baixo a se pagar.
Kyohei riu e o bonito som preencheu seus sentidos. O sorriso aumentou mais. Isso é tudo que eu preciso, pensou consigo mesmo ao envolver os dedos do japonês com os seus, lento e exausto. Eu estou vivo.
… Eu estou vivo?
* Marzanna, vash syn prosit pomoshchi = Marzanna, seu filho implora por ajuda.
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· 𝐏𝐋𝐎𝐓 𝐃𝐑𝐎𝐏 ≀ avalon is falling down (and i am falling apart) — 04 de abril.
LOCAL — Comunal da Loraj. GATILHO(S) — Insinuação sexual, ataque de pânico. PLOT DROP — Avalon is Falling Down. PARTICIPANTE(S) — Kyohei.
Risos mal contidos ecoavam pelos corredores junto de passos apressados e ocasionais sons molhados de lábios se chocando. Graças à festa, o caminho para os dormitórios encontrava-se completamente vazio, e quem os visse poderia facilmente confundir Dongmin com alguém bêbado... Não que aquele já não fosse o modo de se portar natural do jovem. Dongmin tinha ingerido pouquíssima quantidade de álcool, mas encontrava-se completamente bêbado e perdido em seu desejo por Kyohei. Já tinha entrado naquele estado antes — era recorrente quase todas as vezes em que o japonês se disponibilizava a trocar toques mais íntimos com ele — e não sabia como controlar ou como Kyohei exercia tamanho poder sobre si sem intenção alguma.
Toda vez que pensava sobre o que fariam, se via sendo obrigado a puxar Kyohei pelos ombros contra alguma parede, conquistando seus lábios em beijos lascivos. Ele queria mais, seu corpo clamava pelo outro, e a possibilidade de serem pegos apenas aumentava o desconforto em suas calças.
Após mais um ósculo luxurioso, agarrou um dos pulsos do rapaz mais velho e o puxou em direção à Loraj. Já não se incomodava com o cenário escuro ou aquele maldito labirinto, detinha apenas um pensamento em mente: iria perder sua virgindade naquela noite e o cenário seria a comunal daquelas equidnas assustadoras. Estava farto daquela espera, daquele medo, por isso tinha bebido um pouquinho (algo que não era de seu feitio) para ganhar coragem. No final, tinha dado certo e ele mal esperava pelo momento em que se tornaria um só com Kyohei.
Era óbvio que o príncipe japonês também o desejava, se julgasse pela maneira com que se apressou em se livrar do próprio blazer e abrir a camisa do coreano. Dongmin falava livremente sobre todas as coisas depravadas que deixaria Kyohei fazer com seu corpo, uma longa lista de fantasias entre beijos e carícias. O futuro médico era dominador, mas também romântico, e fazia as coisas em seu próprio tempo; Dongmin queria aqui e agora, rápido e fácil, e não tinha muita paciência para o cuidado excessivo que o amado dispunha consigo vez ou outra. Haviam, porém, conseguido encontrar um consenso e estavam em processo de se livrar das calças de Dongmin quando ouviram aquele grito horrível.
Kyohei, mais sensível aos arredores, imediatamente parou o que fazia e se atentou ao redor. O coreano, porém, continuou brigando com o zíper e gemendo manhoso e desesperado abaixo do outro rapaz, como se não houvesse ouvido nada demais.
— Min-chan, o que foi isso? — Kyohei ignorou os sons necessitados de Dongmin, lentamente abandonando sua posição acima do mais novo.
Dongmin protestou, envolvendo a cintura do japonês com as coxas e o puxando para si em um abraço apertado.
— Nãao... Deve ser só alguém muito bêbado, Kyo-kun. — Praticamente ronronou ao esfregar o nariz contra o pescoço do menor. — Vem aqui, eu vou me ajoelhar e...
Os tremores não começaram simples ou fracos. Eles simplesmente começaram. Abalos interromperam a fala de Dongmin e Kyohei o abraçou com mais força enquanto tudo não passava. Protegido e seguro nos braços do rapaz que amava, Dongmin mal conseguia se importar com o que aconteceria aqui. Se morresse, ao menos seria nos braços dele.
Mas então lhe ocorreu: ele não queria morrer. Ao menos, não antes de dizer algumas coisas para Kyohei e sua família. Como nenhum dos irmãos encontrava-se ali, sua última opção era declarar-se ao nipônico, quase chorando enquanto segurava as laterais de seu rosto.
— EU AMO VOCÊ, KYOHEI-KUN!
Enquanto as lágrimas grossas escorriam por seu rosto ao assumir o pior em sua mente inebriada por tesão e bebida, Dongmin não se importou em olhar pelas janelas e ver o que ocorria do lado de fora do prédio. Novamente, foi Kyohei, a cabeça pensante do relacionamento, que se dispôs a levantar e checar o que diabos acontecia.
Como Dongmin não estava disposto a se desvencilhar daquele abraço, agarrando-se ao corpo do outro príncipe com pernas e braços tal qual um polvo, Kyohei foi obrigado a carregá-lo no colo como um bebê de 1,90 até a janela.
Em um rápido vislumbre, Dongmin percebeu o que acontecia. Ele viu, mas não entendeu. Havia fumaça demais acima da floresta e a visão trêmula do cenário não poderia ser real… Se fosse, os destroços que via rolando morro abaixo deveriam ser do templo eslavo, tinha quase certeza de que aquela era a cabeça da estátua de Czernobog, com chifres e olhos que cortavam como facas.
Ele abandonou o colo de Kyohei, mas continuou agarrado aos ombros do mais baixo, porque agora era seu corpo que tremia incontrolavelmente. Os dois garotos voltaram os rostos um para o outro, e Dongmin engoliu em seco, tentando controlar as lágrimas, que agora eram silenciosas.
Dahlia começou a gritar, emitindo todos os sons que seu parceiro de alma não conseguia naquele momento. A agonia crescia devagar no interior do coreano, e nem mesmo o apoio de Kyohei o impediu de cair ao chão no momento seguinte, escondendo o rosto entre as palmas enquanto tentava respirar.
O ar chegava aos pulmões dele como ácido e o coração batia contra sua caixa torácica em velocidade díspar. Naquele tempo todo, a mente de Dongmin brilhava em vermelho, emitindo um alerta claro a todo seu corpo: ele iria morrer. Ele iria morrer naquele momento sem ter realizado metade de seus objetivos… Mas quais eram seus objetivos, no final? Ele iria morrer naquele momento sem ao menos ter encontrado um caminho para seguir.
Mal conseguia registrar Kyohei ao seu lado ou a forma que Dahlia continuava gritando a plenos pulmões, mas conseguiu sentir quando a daemon buscou seu pulso e o mordeu com força.
Foi a vez de Dongmin gritar pela súbita dor, mas pelo menos a sensação o removeu do mar de pânico e lhe trouxe de volta à realidade. Olhou ao redor e tudo ainda tremia e parecia prestar a desmoronar. Parecia ter se passado horas, mas toda a crise durou apenas alguns minutos.
Os templos, porém, não haviam parado de cair, e aquela foi apenas a primeira crise da noite. Dongmin conseguiu ao menos ir até um dos sofás do dormitório com Kyohei, abraçando-o com força enquanto outra daquelas se aproximava e Dahlia promovia o tradicional escândalo. Pelo menos, a daemon não tentou mordê-lo novamente.
Não saberia saber quando dormiu, mas em algum momento o fez apenas pelo cansaço, desmaiando nos braços de Kyohei e desejando acordar em um cenário melhor.
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