blossomflourish
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it doesn’t matter 𝐀𝐓 𝐀𝐋𝐋 how it all ends up — i simply want to 𝐃𝐀𝐍𝐂𝐄.
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ela poderia jurar que aquela coisa estava zombando dela. com certeza estava, antes que mesmo fosse tirado da caixinha com uma charmosa embalagem de corações. aquele era um monstro eletrônico apático em forma de bugiganga tecnológica de aspecto estranhamente moderno, anunciando o verdadeiro fim dos tempos e do romance como conheciam, prestes a fazer de blossom sua primeira vítima. em pensar que a carta de agradecimento que veio junto foi tão adorável, tão simpática de ler, dizendo a ela o quão felizes e gratos ficavam pela inscrição de bloom, por ela dar uma chance a eles, prometendo que não a decepcionariam… e as últimas linhas foram de arrancar o fôlego: diziam eles que encontraram seu verdadeiro amor. o destino de blossom! aquele que a completaria de um jeito que ninguém mais em todo o mundo conseguiria, que destroçaria todas as suas paixonites por meninas adoráveis em trens, e moços da padaria que a atendiam com uma voz particularmente gentil, e a faziam buscar mais pães e doces do que ela e a mãe provavelmente deveriam comer. ela deveria estar radiante. por mais que a envergonhasse admitir, fazia tempo de que ela queria, mais do que qualquer outra coisa, ter alguém que suspirasse apenas de pensar em seu nome, que passasse tanto tempo pensando, a imaginando e a desejando quanto como ela passava dias imaginando os outros. ela queria, por uma vez, não ter de devanear por romances imaginários. queria amor verdadeiro, poder sonhar com casamentos daqui a alguns anos, contar aos seus amigos que ela enfim tinha alguém que a amava!
como poderia ela, então, resistir à promessa de uma peculiar iniciativa romântica, que prometeu a ela que ela encontraria isto e muito mais? seus amigos apelidaram de “caça-alma-gêmea”, o que bloom achou grosseiro demais para seu gosto, pois ela não estava caçando ninguém. mas foi ainda pior ouvir sua mãe, com aquele ar de ceticismo cauteloso e preocupação, a chamar para conversar mais uma vez sobre amor, e proteger a si mesma, e não acreditar sempre nas boas intenções dos demais. particularmente quando estas vinham com afirmações sérias sobre a vida pessoal de bloom, e com um treco tecnológico um tanto que suspeito. bloom precisava concordar com este último detalhe, e a desconfiança as levou até uma amiga da mãe, com um longo histórico consertando os celulares de filha e mãe quando nenhuma delas sabia dizer o que estava errado (elas nunca sabiam dizer o que estava errado), arrumando a televisão e revivendo o computador quase pré-histórico da família, já que precisavam ter certeza de que não era nada perigoso. descobriram que era apenas um console de jogos, um que parecia avançado até demais, mas só um console.
e era o usando que esperavam que ela encontrasse a sua alma gêmea. ela imaginava que a encontraria na antiga cafeteria que os pais dela costumavam adorar, cantarolando a canção predileta deles (que, um dia, ela esperava, tornar-se-ia a canção que pertenceria a ela e a seu futuro amor, quem quer que fosse), ou quem sabe espiando o que o antiquário da cidadezinha tinha a oferecer a ela desta vez, e talvez em uma biblioteca! estariam prestes a agarrar o mesmo livro, os dedos se esbarrariam, e aí, neste momento, nasceria um senso de reencontro de vidas passadas, de inevitável familiaridade. mas um jogo? ela nem poderia considerar-se uma jogadora assim tão ávida (de jogos eletrônicos, entendia apenas do joguinho de restaurante que ela havia baixado em seu celular para passar as horas desocupadas, e não fazia ideia de como era um console até aquele treco esquisito chegar sua casa numa linda manhã), e, chamassem-na de brega ou qualquer outra ofensa mais criativa, não apreciava muito a dominação de máquinas sob mentes juvenis. era quando dizia isto que gostavam de lembrar a ela que ela era uma mente juvenil, o que bloom tomava como incentivo para dizer que por isso, justamente por isso, sabia o que era melhor para mentes jovens!
mas talvez fosse uma das suas únicas chances… e quem sabe não estivessem mentindo. e ela ficaria arrependida de não tentar, por mais apavorante que parecesse. era por isto que a bugiganga estava ligada agora, apenas esperando por blossom. ela mordeu o lábio avermelhado, batucou os dedos contra a cama… e cedeu.
bloom lembraria dos momentos que vieram como os instantes como uns dos mais aterrorizantes em seus dezenove anos de existência. em um momento, estava em sua cama. noutro, em lugar nenhum. e em mais em outro, estava… em uma cafeteria. estava claro, um sol gentil atravessando as cortinas cor-de-rosa, apesar de bloom ter certeza de que estava de noite. blossom tocou o próprio rosto, horrorizada com o quão vívido o toque parecia, e o que veio depois foram mais sustos: com o vestido delicado como uma flor que apareceu de repente em seu corpo, com como os seus cachos pareciam subitamente mais crescidos, com a sensação esquisita de coisas quebradiças se movendo em suas costas. ela acalmou-se ao ver que estava em uma confortável cadeira de rodas, mas entrou em pânico assim que virou para ver o que eram as coisinhas em seu corpo: asas. asas de fadas! como as fadas dos desenhos que ela gostava de assistir! por que ela tinha asas?! como se não bastasse, notou a presença de bichinhos coloridos equilibrando xícaras de café e pães entre as suas patas, assustadoramente parecidos com dragões. blossom reprimiu um grito, tapando a boca com a mão.
“o que está acontecendo?!”, ela sussurrou, prestes a ter uma crise nervosa e desmaiar ali mesmo. “é um sonho? eu dormi? quero acordar. eu quero acordar!” com o pavor, cresceu acidentalmente o tom da voz. era demais para uma jovem que nunca nem tinha visto propriamente um console de jogo até alguns dias atrás. em sua inscrição, havia respondido que um dos seus encontros ideais aconteceria em uma cafeteria, mas não era deste tipo de cafeteria que estava falando!
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