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Acordou com um estalo na coluna.
A claridade do sol o cegou por um momento.
“Tenho que colocar uma cortina”, pensou se levantando e foi cambaleando até o banheiro, onde desprezou sua primeira urina do dia.
Como café da manhã comeu um pão reforçado: queijo, presunto, salame, alface; tudo que tinha direito. Aquele era um dia especial e ele precisava de energia.
Socou quatro colheres de achocolatado em uma xícara de leite gelado e foi até o sofá, onde se aconchegou e ligou uma das milhares de reprises que tinha salvo em um hd.
Na televisão, uma loira em um vestido minúsculo rebolou ao som de uma música enjoada, mas que marcou uma geração. Ethiene Saphire, musa e apresentadora de televisão. Já faziam vinte anos que ela era a número um dos domingos.
Terminou o sanduiche e engoliu o achocolatado. Não podia se atrasar. Não naquele dia.
Vestiu sua Tight Terry com sua melhor camisa Guess e bateu a porta. Era o dia que conheceria sua musa.
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Trabalho em uma loja de ferragens assistência técnica. Não sei porque disse isso. O chefe é um daqueles tipos que falam 'minha equipe', 'precisamos', mas nunca vai até lá e quando aparece é só para cobrar coisas que já faço.
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5/5
Quando fui verbalizar o primeiro, ela gritou:
"Não! Viverei na sua alma e saberei quais os verdadeiros desejos do teu coração".
Fiz cara de merda, pensei em não aceitar, mas não tinha escolha. Antes de falar qualquer coisa a criatura que não era uma mulher, virou fumaça e invadiu meu corpo.
Anos se passaram e não aconteceu porra nenhuma. Continuo pobre, sozinho e com um emprego merda. Nem sinal de desejo nenhum. Ou aquela coisa maldita me enganou ou eu não sei porra nenhuma dos assuntos do coração.
Que desgraça.
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4/5
Uma fumaça espessa me cegou. Quando baixou vi uma mulher na minha frente. Não era bem uma mulher, eu que inventei esse gênero para melhor contar a história.
Ela se apresentou. Agradeceu por a ter libertado e ofereceu três desejos em agradecimento.
Eu tinha os três desejos na ponta da língua desde os dez anos, quando vi pela primeira vez Aladim. Ao longo dos anos só fui refinando.
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3/5
Não sou de fugir a um desafio.
No início, não entendi porra nenhuma. Parecia apenas letras embaralhadas de forma aleatória. Aos poucos as palavras foram surgindo.
Vida.
Amargo
Virtude.
Sábio.
Mescalina.
Quando marquei a última palavra, um estrondo surgiu. Pulei arrepiado com o cu na mão.
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2/5
Tentei não rasgar o envelope em minha empolgação.
Abri o papel dobrado e vi apenas um grande círculo, com um monte de caqueado nas bordas. Um lance meio medieval. Meio senhor dos anéis.
Dentro tinha um caralhau de letras.
Era isso, uma propaganda de caça palavras.
Brochei, minha admiradora virou jogada de marketing.
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1/5
Chegou uma carta.
Fiquei animado.
Nunca recebi uma carta. Nem quando cartas eram cartas. Quero dizer, eram usadas.
2022. Quem diabos manda uma carta?
O envelope não tinha remetente. De um lado, meu nome escrito timidamente, em uma letra cursiva, bem desenhada, feminina.
Do outro apenas um branco.
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segunda-feira (13)
E eis que surge o disco voador. Não do céu, mas cavando embaixo da minha sala. O piso explode e um objeto metálico, com o formato de um charuto é cuspido das profundezas.
Design anatômico, ultra moderno.
Na TV, um careca anuncia que mais um político, roubador de dinheiro, foi absolvido.
No meio da minha sala, sem barulho algum, o objeto criou uma porta e de lá saiu uma criatura parecida com um porco. Ela me olhou, soltou um guincho enjoado e caiu dura no chão.
No lombo do porco tinha um papel pregado com durex. Nele li, em letras tremidas que parecia a caligrafia de uma criança, a palavra 'abra'.
Mais ao lado, vi uma faca.
Fiquei olhando, atônito, tentando entender que porra era aquela.
Desliguei a tv e fui dormir. Nada de bom pode vir de um porco morto no meio da sala.
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O mundo acabando e eu pensando na janta.
Não quero comer pizza pois pode me dar diarréia e amanhã tem o filme do homem aranha.
O mundo não tá acabando realmente, isso é coisa de algum político tentando a reeleição, vote em mim ou tás fodido.
Eu como legítimo cidadão anarquista, adepto do punk, sou a favor de rachar o crânio de políticos. Limpeza total.
Digo isso, mas sou cagão sujeito da paz, pratico boas ações doa a quem doer.
Foi o que tentei explicar para dois admentores que me abordaram enquanto comprava cuecas.
"Já matou mais de mil"
"Eu?"
"Com requintes de crueldade, demonstra a frieza de um psicopata"
"E onde foi isso?"
"Na sua cabeça"
"Mas pensar não é crime"
"Agora é, foi aprovado ontem"
"No congresso? Na câmara?"
"Questionar leva a pena de morte"
Depois disso dei um nome falso, eles fingiram surpresa, pediram desculpas e foram embora.
Ainda não é crime mentir.
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É fácil demais a roda do destino furar em um passeio de sábado a tarde.
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Você acredita no demônio?
Ela o encarou incrédula.
Mas ele acredita em você.
Tinha dado match no Tinder, a conversa foi para o whatsapp e descambou para os nudes, por incrível que pareça a atitude tinha partido dela. Enlouquecido, ele se entregou a paixão virtual. Só praticava o ato solitário pensando nela, com as fotos dela.
Se isso não fosse amor, não sabia o que mais era.
O primeiro encontro, na praça de alimentação de um shopping, estrategicamente posicionado próximo a um motel, veio.
Finalmente perderia sua virgindade. Tirou tudo da carteira e só deixou seu cartão, a identidade e uma porrada de camisinha.
E agora tinha soltado a fala de Keanu Reeves em Constantine. Que merda foi aquela?
Ela alegou o de costume. Tinha que levar a avó no médico.
Oito da noite?
Não tem tempo pra doença.
Ela foi embora. Ele foi no banheiro chorar. Mandou uma mensagem de desculpas, mas era tarde demais, já tinha sido bloqueado.
Pra puta que pariu. Ele bateu com a cabeça na parede do basculante.
Viu um buraco.
Lá de dentro saiu um pênis.
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O sono é uma figura que me persegue. Ele não me deixa um minuto sequer. Ele é mais fiel do que um cachorro, um resfriado ou qualquer força da natureza.
Durmo, durmo, durmo e ele está sempre do meu lado, como um guerreiro da virtude.
Eu o odeio, eu o desprezo. Por mim ele pode ir se danar, ainda assim ele não desiste de mim.
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Tenho uma fobia estranha, quando estou na fila do caixa, ou outra qualquer de pagamento, sinto um medo grotesco de algum ser poderoso parar o tempo e tirar meu cartão da carteira só pra me deixar em maus lençóis.
Em algum lugar no fundo do ônibus, um pequeno duende temporal rola de rir enquanto eu suo, procurando desesperado por uma migalha de dinheiro.
O pior é que já passei a roleta.
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Quando eu era criança tinha essa vizinha linda, que todos os garotos eram afim. Uma vez ela me disse, ' se você fosse parecido com seu primo (loiro de olhos azuis), eu namorava com você'.
Recentemente eu a encontrei na rua. Seu charme e beleza saíram para comprar cigarros e não voltaram.
Senti o gosto de vingança na língua.
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Esses pensamentos me assombram.
Na farmácia a atendente é o meu tipo. Linda que dá um nó no meio das pernas. Ela é simpática e faz um atendimento excelente. É o seu trabalho, eu sei, mesmo assim penso em matrimônio.
Preciso frequentar lugares com pessoas mal encaradas, que quando peço informação respondam com um 'se vira, você nasceu grudado?'.
Ao invés disso, ela dá um sorriso que tira meu ar e diz: volte sempre!
Claro. Eu vou voltar. Só preciso de um remédio pra comprar amanhã.
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No ônibus tento ser um homem decente.
Culpo minha solidão, mas não consigo deixar de olhar quando uma mulher bonita aparece.
Hoje uma dessas sentou na minha frente. Linda, com cabelos encaracolados. Nunca fui do tipo que prefere cabelo liso, gosto de ver os fios caindo em um balé giratório de beleza.
Quando percebi eu a estava encarando pelo vidro e tenho certeza que ela percebeu. Do seu ponto de vista, sou só mais um estranho, fétido, pervertido e vil. Tentei não encarar, mas ela exalava um magnetismo que atraia o meu olhar.
Desci do ônibus e não consigo tirá-la da cabeça.
Olhei no espelho e me vi, um estranho, fétido, pervertido e vil. Agora entendo o que ela sentiu: desprezo.
Nunca vou arrumar uma namorada.
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Eu vejo páginas aqui que só fazem repost, não tem um conteúdo próprio. A internet cagou o cérebro das pessoas, são poucos os que criam alguma coisa para uma maioria repostar.
Que grande coisa será o futuro quando essas pessoas estiverem lá fora em seus empregos.
E já não é assim? Todo atendimento é padronizado, nada mais que um repost de um manual. E quando é preciso fazer algo que foge o escopo, ninguém consegue fazer nada.
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